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O desafio da humanidade

Faz algum tempo que estou com vontade de escrever sobre algo que vira e mexe é um assunto que perpassa meus textos aqui no blogue. Hoje eu queria falar brevemente sobre ele: o egoísmo humano.

Acho que a humanidade nunca esteve diante de tantas catástrofes como agora. Se dermos observarmos brevemente, tsunamis, terremotos, vulcões, furacões (isso para lembrar as catástrofes naturais) e incêndios, queimadas, atentados, guerras civis (ou não). Não costumam dizer que é nas horas difíceis é que vemos a real personalidade de cada um? Muita gente acha ruim o princípio de colocar dez neguinhos presos dentro de um espaço mínimo e colocá-los sob pressão absoluta numa questão de vida ou morte (estou me referindo a uma das premissas de Jogos Mortais) ou outras pessoas acham ruim a canalhice de uns participantes desses reality shows da vida. Mas, convenhamos, fato é que o ser humano é egoísta. Seja no cinema, seja na televisão, seja na vida real.

Numa tentativa muito humilde da minha parte, vou tentar esmiuçar o egoísmo humano o mais simples possível: somos egoístas porque a nossa vida é miserável e vazia. Não importa classe social, econômica, credo, origem, nada. Estamos todos no mesmo balaio. A nossa vida mecanicista e capitalista nos obrigou a um ritmo de vida cujo único propósito é apenas o de ganhar dinheiro, uns mais outros menos. O que importa, hoje em dia, é ter dinheiro. Sem dinheiro não compramos nossos sonhos, não sonhamos outros desejos, não temos o último aparelho tecnológico da moda, não estamos mais ou menos parecidos uns com os outros seja na roupa, seja no cabelo. Sem dinheiro, não estamos inseridos na sociedade e, portanto, não somos ninguém.

Claro que (ainda bem!) nem todos pensam assim. Mas a imensa e gigantesca maioria (que não pensa para refletir e chegar a essa conclusão) sim. Somos esmagados pela necessidade de ter dinheiro e fazemos o que for preciso para ter essa moeda que compra tudo que puder ser comprado. Nessa onda, somado ao caos diário de cidades superpopulosas, vivemos um verdadeiro pandemônio (para não dizer inferno) na Terra.

Cidades lotadas, com pessoas focadas apenas em ganhar dinheiro, trabalhando em empregos que não gostariam de estar trabalhando, negando seus talentos pessoais em empregos que apenas forneçam o básico, hipnotizados por música ruim, comida ruim. Vida encurralada, sem saída. Os ricos se escondem por detrás de um suposto glamour que preencheria suas vidas. Os pobres exibem sua pobreza com agressividade, justificando inúmeras atitudes por isso.

As pessoas se esqueceram do seu universo interno. Se esqueceram da comunhão com a Natureza. Pensam mecânica e racionalmente acreditando ter o controle das perguntas e das respostas. Destroem tudo ao seu redor, porque a sua riqueza interior está praticamente extinta. Dentro de cada um de nós há uma centelha que nunca se extinguirá... mas tenham certeza de que apenas ela por si só nunca resolverá a situação em que nos encontramos agora.

Por isso, mesmo assim, tenho fé de que a humanidade aprenderá primeiro a se aceitar, a se valorizar, a derrubar leis e barreiras que nos prendem a atitudes que não servem mais para o atual movimento da vida. Este desafio é imenso mas não é impossível de ser vencido. O egoísmo é a principal prova que precisaremos vencer, pois enquanto não aprendermos a ver apenas o nosso próprio umbigo como o mais importante e que se danem os outros, nunca aprenderemos a pratica o real sentido do amor universal.

Palmirinha Onofre - um exemplo de vida

Ganhei de presente de aniversário da minha querida irmã aquele tão aguardando (por mim) livro da Palmirinha Onofre: A receita da minha vida. Fiquei muito feliz!!!

Nas primeiras linhas, percebi que é um livro para ler e reler. Percebi que foi um livro escrito com o coração e percebi que a jornalista que o escreveu foi muito perspicaz em tentar manter o estilo Palmirinha de ser o mais fidedigno possível. Somente pontos a acrescentar! O livro ainda traz receitas especiais e fotos da Palmirinha. Impresso em fonte grande (imaginei que seria bom para as "amiguinhas" que apreciem um livro "fácil de ler".

Conheço muita gente que não aprecia a Vovozinha. Muita gente que se irrita com a simplicidade dela. Para mim isso apenas quer dizer uma coisa: se você não é capaz de gostar da Palmirinha, sinto muito, mas acho que você ainda tem muita coisa a aprender. Conhecemos trocentas histórias de vida por aí, e poderíamos até dizer que a dela é mais "outra história". Conhecemos história de pessoas carismáticas que dão sorte na vida e conseguem o que querem. Mas ninguém tem a história única que cada um tem, e ninguém pode menosprezar os feitos dessa senhorinha qua alcançou os 80 anos com saúde e lucidez invejáveis.

Eu tenho orgulho e saudades de vê-la na TV Gazeta. Sempre que podia, corria para ligar a televisão às 13h15. A despeito do excesso de merchandising, era cativante vê-la cozinhar com tanto amor (e confusão às vezes... risos). Marcou época e deixou saudades. Muitas querem imitá-la ou tentar ocupar seu lugar. Vai demorar para alguém conseguir isso. Eu diria que ela ocupou um lugar deixado pela saudosa Ofélia.

Obrigada, Palmirinha, pelo seu exemplo de vida, cheia de coragem, perseverança, força e determinação. Um excelente estímulo a uma geração tão mimada, como a de hoje. Um exemplo, aliás, a qualquer pessoa que admire o caráter idôneo de alguém.

Por uma militância gay

Quem me conhece sabe que não sou militante. De causa nenhuma. Mas isso não significa que eu tenha minhas opiniões e faça minhas propagandas e defesas das coisas em que acredito. Meu blogue, meu twitter e meu facebook falam por mim.

Porém, uma coisa é fazer desses mecanismos virtuais a sua trincheira militante. Sim, porque no caso da militância a analogia à guerra ainda é a que traz os melhores adjetivos comparativos, embora, de verdade, não devesse.

Eu nunca escrevi nada em nenhum desses mundos virtuais algo que ofendesse a ninguém em específico. Uma das lições que aprendi desde a tenra idade é a de quando mais cedo você julga, mais cedo ainda você estará no lugar do julgado. Com pior sentença, tenha certeza!

A militância que trago aqui é a gay. A do homossexual que, de alguns vários anos para cá, tem estado cada vez mais em destaque na mídia. Sim, a “perfídia mídia”. O cúmulo a que chegamos foi a incompreensível criação do dia do “Orgulho Hetero”. Digo incompreensível porque dias de orgulho comemorativo costumam ser criados para as minorias ou para aqueles que sofrem preconceitos.

Eu acho que a criação de uma data dessa reflete exatamente a que andas a nossa sociedade: num limite perigoso de aceitação e repudia. Quem vive no meio termo hermético dessa existência pode entrar em parafuso por não saber que lado estar, mesmo que a gente saiba que não existe lado para ficar. O único lado que todos deveriam estar é o do amor e fraternidade.

Esta longa introdução é para contar o que aconteceu comigo, hoje, aqui em Niterói, estado do Rio de Janeiro. Mal-informada como sou, não sabia que hoje teria Parada Gay. Saímos, eu e minha namorada, para comemorar o aniversário do namorado da amiga dela, no bairro de Icaraí. Antes disso, passamos no shopping para comprar um presente para ele. Na saída, pegamos um táxi para irmos até o restaurante onde seria comemorado o aniversário.

No primeiro minuto, logo ao sair do shopping, o táxi é fechado na contramão por dois negões montados numa moto. Dando uma de carioca gente boa, não se alterou, apenas disse que os caras não deveriam fazer aquilo. Tudo de boa.

Menos de cinco minutos depois, o táxi entra numa rua ligeiramente congestionada. Num ímpeto, com a voz totalmente agressiva e alterada, fala em alto e bom tom: “Eu acho um puta absurdo fecharem a única avenida principal da cidade para deixar um monte de viado, travesti e sapatão ficaram fazendo putaria no meio da rua.” Repetiu a mesma frase, com certa variação, logo em seguida, mas mantendo o tom agressivo da voz.

Primeiro, alguém que fala isso, sabendo que tem dois passagerios dentro do carro é porque sabe que não está falando sozinho. Se fez pensando isso e usar isso como argumento (como ele fez) é muita falsa ingenuidade. Numa fração de segundo eu pensei que nunca tinha passado por aquilo em toda a minha vida. Numa fração de segundo, eu pensei em todos os homossexuais assassinados diariamente em todo o Brasil justamente por causa desse ódio injustificado e desmedido. Numa fração de segundo, eu pensei que aquele era o momento de, pela primeira vez na minha vida, militar pela causa, levantar armas e falar. Eu não podia simplesmente me calar, não podia!

E não me calei. Com a voz alta e muito séria disse que todas as pessoas têm direito a liberdade de expressão e era muita falta de educação falar desse jeito dessas pessoas. Óbvio que isso apenas jogou mais lenha na fogueira ignorante do taxista. Se alguém pensou que era tarde para voltar atrás, eu fui até o fim.

Os argumentos que ele usou eram os óbvios de qualquer intolerante preconceituoso. Eles não querem argumentar, eles apenas falam da putaria ao ar livre. Eu virei para ele e disse: “E se eu disser ao senhor que sou lésbica e acho que o senhor não deve falar isso porque são todos seres humanos?”. Um ligeiro e brevíssimo segundo de silêncio. Ele começou a discorrer ainda mais sobre a putaria diante de crianças etc. Eu apenas voltei a insistir, com a voz tão alta quanto a dele, mas firme, que ele deveria respeitar as diferenças, as liberdades de expressão das pessoas. Óbvio que a essa altura ele apenas queria falar da putaria. Aumentei ainda mais minha voz e finalizei: “O senhor disse o seu ponto de vista. Eu disse o meu ponto de vista. Acho melhor pararmos aqui a conversa.”

Silêncio nos minutos finais do trajeto, que graças ao bom Senhor, era curto. Lembrei de tudo que sempre acreditei e que sempre digo aqui sobre sentir amor para as pessoas. Eu nunca tinha passado por uma situação semelhante. Eu senti o ódio dele atravessando cada célula do meu corpo, esse ódio que imagino que seja o veículo que causa tanta tristeza e injustiça no mundo. Pensei que não adianta discutir com ele, mas ele estava diante de Cristiane Maruyama e ele não podia simplesmente falar daquela forma. Porque se ele queria, como disse, que pensou alto, que não queria ofender, mentira. Quem fala assim sempre espera uma resposta. Que no caso dele, não foi a que ele esperava.

Decidi que não queria mais falar do assunto, mas queria ter dito muito claramente minha opinião. Meu amor ficou em silêncio o tempo todo e apenas pousou a mão na minha. Mas, ao sair, o motorista virou para trás e inventou uma desculpa apenas para justificar que o que ele não gosta não é de homossexuais, mas da putaria. Arram. Meu amor finalizou da melhor maneira possível: “O senhor precisa tomar cuidado, porque lida com público e não pode ficar falando sobre nada com tom pejorativo. Se não gosta, não diga nada, mas não faça isso que fez.”

Eu fiquei bastante mal com aquela carga negativa. Passou pela minha cabeça todas as coisas que todos os gays passam todos os dias. Tanta coisa passou pela minha cabeça... aquilo parecia ter sido escrito especialmente para mim. Um capítulo inesperado na minha vida. Uma dose real de intolerância humana. O que aconteceu comigo pode ser até ínfimo para a maior parte de vocês, leitores, mas para mim foi um fato. Eu diria que até um marco. Algo que sempre me fará lembrar dos motivos de eu estar viva, de eu ser quem sou, de eu ter orgulho de quem sou. De dizer a você, leitor, gay ou lésbica, que não devemos nos calar. Não devemos responder à violência com violência, mas não podemos simplesmente nos calar porque ele é um ignóbil brutamontes. Ele é, mas mesmo assim devemos erguer nossa voz, defender o que sempre fomos: seres humanos dotados de amor. Uma guerra de ódio deve ser enfrentada com muita coragem, força e amor.