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Não significa nada

Agora, ao meio-dia, caminhei pelas ruas da região onde trabalho. Nada demais. Dia quente, sem sol, mas abafado, um prenúncio qualquer de chuva. O mesmo cenário.

No entanto, meus olhos estavam vendo as coisas diferentes e eu gosto muito quando tenho esses momentos. Momentos de olhar o cenário diante de seus olhos como um quebra-cabeça, pronto, que tinha 5 mil peças um tempo atrás. Tudo encaixado, mesmo sem fazer sentido. A sombra da árvore que parece uma dádiva divina. O sol, mesmo quente, que parece um bálsamo. As pessoas, mesmo mal-educadas. Cada uma na sua loucura, com seu problemas... ainda são seres humanos.

Esses momentos de compreensão pura e sentimento de plenitude são tão raros... porque é como se você fosse banhado por uma intensa luz dourada que fizesse você enxergar que a despeito de toda a maldade e loucura do mundo, ainda somos iguais. Ainda estamos perdidos, cada qual tentando encontrar o seu próprio caminho. Eu queria ter abraçado cada um que passou por mim. Eu mentalizei coisas positivas para todas as pessoas que passaram por mim. Não significa nada... mas era aquilo que eu queria fazer naquela hora. E esse meu amor não podia ser roubado nem julgado por ninguém.

Espero que todos tenham os próximos dias com um pouco desse sentimento que senti hoje. E que a gente possa melhorar uma milimétrica gota que seja. Parece que não significa nada... mas é muito!

[trilha de sonora de hoje, banda indicada pela querida Gabitchs, a quem sempre agradeço]

Os verdadeiros sentimentos

Hoje tive acesso a uma imensa torrente de sentimentos novos. E no meio de tanta coisa sublime, bela e pura, pensei no meu dia a dia. E, confesso, que tive muita vergonha das coisas que senti e que acabavam me entristecendo. Estamos presos a um círculo vicioso de ilusão de ganho e perda, de regojizo e desdém que nos deixa simplesmente cegos para a percepção das coisas mais simples.

Percebi que as perdas imensas que tive este ano, na verdade, foram ganhos. As pessoas que se foram, se foram porque era hora de ir, porque o adeus não é sinônimo de derrota, mas, sim, de um delicado equilíbrio que nem sempre é possível de ser compreendido na hora. Às vezes, perder é ganhar.

Percebi que há ainda algumas pessoas que eu não sei o que estão exatamente fazendo na minha vida. E eu percebi que não posso determinar quem fica e quem vai, eu simplesmente não tenho esse poder, mesmo em se tratando de minha vida. Eu percebi que -- nunca em toda a minha vida -- eu tenho escutado "não" de determinadas pessoas. E eu percebi que a vida -- pulsante, rica, pura, viva -- me diz "sim" o tempo todo! Me agracia o tempo todo com dádivas, algumas imperceptíveis, outras gigantes... me dizendo sim, sim, sim, o tempo todo! E aí, queridos leitores, eu me pergunto: a quem devo ouvir? Aos nãos dos seres humanos ou ao sim da vida?

A escolha parece fácil e óbvia, mas já caí nessa cilada várias vezes. Não há escolha a ser feita, nesse caso. Porque eu hoje eu percebi que -- de fato -- as coisas apenas acontecem com quem está preparado para vivê-las. E, se eu vivi tudo o que eu vivi este ano (e, de certa forma, ainda estou vivendo) é porque sou capaz de enfrentar cada um desses desafios com maturidade, transparência, coragem, esperança, sabedoria.

Pois não é fácil viver... não é facil encarar o caos diário. E é mais difícil ainda se estivermos acompanhados de solidão, desconfiança e tristeza. No entanto, HOJE eu descobri que por mais que esteja fisicamente sós, nunca estamos solitários de verdade.  E aquelas pessoas que mais te dizem "não" são as que mais esperam aceitação. Dizer "não" para outrem é uma forma de suposto poder e controle de si mesmas que estão longe de ter.

E a vida que apenas diz "sim" para mim... eu apenas a abraço sem medo nenhum de aceitar o que tiver por vir. Quero viver! Quero aprender! Não quero NUNCA ter medo de ser quem eu sou. Não quero NUNCA me arrepender das coisas que fiz porque acreditei que eram as coisas que deveriam ser feitas naquele momento. Não quero NUNCA ter medo de tentar. Não quero NUNCA dizer que nunca tentei. Eu digo sim para a vida que me diz sim o tempo todo!

A mulher do metrô

Metrô é um dos cenários caóticos para quem anda de condução em São Paulo. Isso todo mundo já sabe. Mas, o que as pessoas às vezes não percebem, é que é possível criar poesia mesmo em meio ao contexto mais inimaginável. Pois é.

Metrô Barra Funda, quase oito horas da manhã. Enquanto esperava o próximo trem chegar, reparei numa oriental (que obviamente não sei dizer se era japa, chinesa ou coreana...). Muito bonita, muito atípica... que chamou a minha atenção. Ela era linda e eu simplesmente não conseguia parar de olhar para ela.

Ela, por sua vez, tinha um olhar distraído. Fiquei imaginando no que ela estaria pensando. Mas a sua beleza, que não sei porquê, era a única coisa que sobressaía... E isso porque nem acho as orientais bonitas. E ela também não é o meu modelo de beleza feminina. Mas, ali, ela me encantou.

Todos entraram, ela ficou mais perto da porta e eu fiquei num local estratégico em que poderia observá-la, sem ela perceber. Trocamos um breve olhar. Eu continuei a observando e ela continuou distraída. Ela realmente era muito bonita, imaginei que fosse mestiça, pela "constituição física"... e eu não conseguia parar de olhar para ela.

Um pouco antes de chegar na estação Anhangabaú, eu sentei. Fiquei com a visão mais privilegiada ainda e continuei observando-a. Ela desceu. E eu não parei de observá-la sair, colocar a blusa (ela estava apenas com uma camisetinha, mesmo no frio...) e subir as escadas rolantes. O metrô fecha as portas e parte. E ela, da escada rolante, olhar para a minha direção. Para mim? Não sei... mas esse último olhar trocado e essa suposta cumplicidade me deixaram sorrindo até a estação seguinte, onde desci.

Tenho algumas historinhas assim, retiradas desse cotidiano caótico que é viver em São Paulo. Esta será uma daquelas que eu nunca mais esquecerei...