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As máscaras do grotesco

O que é necessário acontecer para o grotesco existente em cada um de nós saltar para fora?

Para alguns, é zombar dos "menos favorecidos", seja por raça, cor, credo, classe social, orientação sexual. Para outros, como vi esses dias, não vale apenas torcer o jornal e sair sangue. É necessário dissimular essa atitude com piadas de cunho supostamente humorístico.

O humor, por definição, é expressar o cômico para fazer riso. O cômico, em geral, só é engraçado quando faz zombaria de alguém. E o humor negro é a meia mistura disso tudo. O humor negro traz à tona a expressão de todos os pensamentos disfarçados de piadinha para "suavizar e amenizar o clima".

Nunca fui de humor negro e sempre olho de esguelha quem o faz. Para mim, quem faz humor negro é uma pessoa que tem algum tipo de distorção mental porque precisa chamar a atenção para si, afinal, quem faz esse tipo de humor não quer mais apenas zombar uma situação, quer chamar a atenção para si própria numa atitude: "eu não sou sentimentaloide sobre isso, eu tiro sarro disso!".

Mas voltando à questão, o que me assustou é sempre as pessoas fazerem humor negro na desgraça alheia. E o que mais me surpreende é ver outras pessoas rindo disso com uma naturalidade assustadora. Na minha opinião, esses são os verdadeiros psicopatas do cotidiano, disfarçados de pessoas comuns. Me diz como alguém pode rir de uma pessoa que é morta em um crime passional, esquartejada e descartada como lixo? Ao mesmo tempo, repito: MESMO TEMPO, li outra matéria similar e ninguém falava sobre isso. Entendo que a mídia, a polícia e a sociedade dão importância e relevância pelo fato de não ser uma pessoa comum. Isso não é justo para todas as outras pessoas que também têm o direito à investigação policial e à justiça. No entanto, daí a usar isso como justificativa para fazer humor negro sobre uma situação que -- a despeito de considerarmos justa ou injusta -- para mim, já é falta de humanidade.

O que defendo, aqui, não é sentarmos, chorarmos, lamentarmos e lamuriarmos sobre essa situação. O que defendo é compadecermos no sentido mais puro dessa palavra. Empatia é característica de poucos. E quando mais precisamos exercitá-la, simplesmente esquecemos desse detalhe que é o que nos torna humanos.

É repetitivo dizer que nós, seres humanos, estamos cada vez menos humanos. Não nos alimentamos direito, não nos cuidamos direito. Vivemos no tempo do relógio, na vontade da sociedade, na demanda do dinheiro. Rir da miséria e dor alheia em forma de "humor negro" é mostrar o quão vazio estamos. E disfarçados de humoristas do cotidiano. E sendo "moderninhos" porque é cool fazer humor negro, já que temos supostos humoristas ganhando fortunas por aí em cima da miséria alheia. Damos valor a esses valores, repetindo atitudes sem um mínimo de reflexão.

Apesar de tudo, creio e tenho muita esperança no ser humano, mesmo vendo esse lado grotesco e tão rudimentar que muitos insistem em disfarçar de "humor moderninho". 

Melhor cover musical de todos os tempos

Ainda não vi uma que me fizesse ter aquele pensamento de 'wow, como esse cara (ou mina) canta!' mas acho que posso selecionar dois dentre duas músicas de difícil execução vocal: "Always" - Bon Jovi e "I will always love you" - Whitney Houston.

Na minha opinião, essas são as duas músicas com mais covers de todos os tempos, especialmente a segunda. O programa do Raul Gil que o diga... inclusive há uma cover famosa de um carinha que cantou "Always" do Bon Jovi para todo o Brasil. Não é a minha preferida, principalmente pelos erros grotescos de inglês, mas tá muito boa! Veja aqui.

Agora, elejo o Lin Yu Chun como o melhor cover de "I will always love you". Pena que o menino é adolescente e pode perder a amplitude vocal. De qualquer maneira, ele deixaria Whitney orgulhosa bem como toda a famosa tradição da ópera chinesa com seus garotos de vozes únicas.




Para o também dificílimo cover de "Always" do Bon Jovi, escolhi um carinha gringo, porque nenhum brasileiro me convenceu. JBJ estava com sua voz na potência máxima na década de 90 e ninguém consegue imitá-lo, nem ele mesmo.




Um assunto trivial... para esta semana cheia de chuva (ainda bem!) em São Paulo.

A escolha de agora

Para alguns que me conhecem apenas virtualmente, pode ser difícil de acreditar que eu seja uma pessoa silenciosa. Ou mesmo tímida. Para aqueles que me conhecem pessoalmente -- mas não muito --, é ainda mais interessante constatar que sou mais de ouvir do que falar. Essa sempre foi uma característica minha.

Enquanto as pessoas adoram tagarelar, eu sempre medi as palavras. Escolha. Por várias pessoas, fui chamada de arrogante e até mesmo orgulhosa. O ponto não é que eu me considere superior... mas eu tenho um lance sério em desperdiçar palavras. Ou ficar fazendo disputa para ver quem sabe mais, quem tem o melhor argumento. Acho isso tudo uma imensa perda de tempo e energia.

Todos temos os direitos de termos as opiniões que quisermos. Mas sempre pensei que aquele que fala muito carece de algo. Um déficit. Opinião minha, óbvio.

A escolha de agora é pelo silêncio. Interessante que tenho sido exposta a situações de quase constrangimento. Porque as pessoas estão vociferando suas opiniões e mal sabem que eu, ali, sou um exemplo dessa opinião. E são inúmeros os motivos. Seria melhor se eu desse minha opinião? Talvez... mas, confesso: prefiro ficar calada. Entrar em um debate para dizer o porquê das coisas tem me mostrado algo: as pessoas não se importam muito em saber o real motivo de ter sua opinião contrariada. Elas não querem ser contrariadas, simplesmente. Ou, não conseguem a empatia necessária para se colocar no seu lugar. Nem é egoísmo, é incapacidade, mesmo.

Por isso, neste primeiro post de junho, apenas digo: tem sido um exercício muito bom ficar observando sem contra-argumentar. Observando em silêncio, sem julgar. Observando em silêncio e percebendo os argumentos tão factíveis. Observando e percebendo que, não somos melhores nem piores do que ninguém. Não há diferença entre um psicopata e uma pessoa comum: todos usam máscaras. Todos, a seu modo, são egoístas. Há diferença, sim, entre pessoas com consciência da vida e sem a consciência dela.

Agora, então, apenas destilo meu conglomerado infinito de palavras no silêncio.

Um passeio por aí...

O dia está lindo. Céu azul, puro. Nenhuma nuvem no céu. Ameno na sombra, calor ao sol. Você está caminhando e vê folhas secas voando ao vento... aí, passa um cidadão com um cigarro importado do Paraguai e baforeja na sua cara. Cinco minutos depois, você percebe que está andando atrás de outro fumante. De repente, alguém mais apressado corta a sua frente e faz questão de ficar a 5 cm de você, numa vontade estupidamente gratuita de te fazer tropeçar.

Você segue caminhando. Pensando naquelas pessoas que não deveria pensar, mas que por causa de outras pessoas, ecoam na sua mente como os reflexos repetidos de um sonho, como em Minority Report. A gente deveria saber filtrar e guardar apenas o que é bom. Mas, somos seres humanos. E não vivemos sem passado. Bom, qual ser racional vive sem passado?

Você poderia fazer uma dieta, mas não consegue deixar de comer aquelas gulodices de fim de semana. Você poderia deixar de fumar mas o vício de sentir a ação da nicotina associada as outras mil substâncias cancerígenas te impede de parar de gastar pelo menos 5 reais por dia. O que são cinco reais? Em um dia, quase nada. 365 dias depois.. E eu sempre me lembro daquele cara que parou de fumar e fez poupancinha com o dinheiro que gastaria com o cigarro: comprou (e ainda compra) cada coisa...

Você poderia acreditar que a hipocrisia não é virtude das redes sociais, onde todos somos bonitos, saímos bem na foto, comemos bem, só fazemos coisas legais. Esse "politicamente incorreto" que prolifera como praga de autoajuda é a mais nova sensação. Porque tudo pode ter duplo sentido, mesmo aquilo que você diz da forma mais simples possível. Agora, se você estiver num péssimo dia e sem vontade de cumprir a lei do silêncio, ai de você se resolver se manifestar nas redes sociais. E isso não é privilégio dos que têm ou não hormônios femininos, diga-se de passagem.

Confesso que essa onda do "bom, bonzinho, legal" manifestado da forma virtual me enoja. Recentemente, li um texto que dizia que todos deveríamos nos mudar para o facebook porque a vida lá é perfeita. A vida é perfeita, assim, para muitas pessoas. Devemos escolher proliferar o bem? Sempre! Mas, como já tenho dito: quem muito quer ajuda é porque desesperadamente precisa de ajuda. E fica entupindo as páginas alheias com frases repetidas de autoajuda. Essas pessoas poderiam ao menos exercitar a criatividade. Mas, criatividade é item de luxo para muita gente.

E a onda do oba-oba? (Para quem joga The Sims, aqui não estou me referindo a aquilo...rs) A onda do oba-oba é todo mundo ficar cool com todo mundo, o tempo todo. Estou cool com você, broder. Há uma necessidade incipiente agora de formar grupos, de falar igual, de repetir as mesmas e de, consequentemente, errar as mesmas coisas. Sempre fui intolerante com isso ... admito que me surpreendi comigo mesma. Mas sempre espero o inusitado, o radical, o especial... e esses... ah!

Então, sei que mais tarde, quando voltar às ruas, estarei novamente diante dos hálitos horrorosos, do metrô quente e abafado e -- ainda assim -- repleto de paulistanos com blusas, casacos e cachecóis como se estivessem no frio do Alaska. Eu quase confundo a falta de educação paulistana -- que deveria ser interpretada como "a pressa dos trabalhadores honestos" -- como um hábito arraigado. Não deveria ser hábito ser mal-educado, mas gentileza aqui é suicídio, broder.

Mas nem tudo está perdido! Ah nunca está. Mas o dia de hoje está é assim.

Isabella Taviani e o primeiro raio X: CitibankHall/RJ

Vinte de cinco de maio de 2012. O primeiro show da turnê para lançamento do cd EU RAIO X de Isabella Taviani. Local: Citibank Hall, Rio de Janeiro.

Ansiedade imensa de tantos lugares do Brasil inteiro. Um show independente originado de um cd independente. Uma Isabella nova, desnudada, expurgando o passado e se abrindo inteira para um futuro inteiro. Um show para comemorar o amor, a coragem, a esperança e a vida.

1.230 radiografias dispostas em uma imensa cortina que era cortada por canhões de luz de diversas cores. Uma cantora que trocou de figurino três vezes ao longo do show. Uma intensidade mediada por aquela experiência de vinte anos de estrada. 

O show foi inteiramente focado nas músicas do novo cd EU RAIO X. Para minha IMENSA tristeza, ela cantou todas menos a que eu mais esperava ouvir: "E se eu fosse te esperar?". Por quê? Não sei... mas sei que será um pedido que farei a ela assim que puder!

A casa estava lotada... com um pouquinho de atraso, o show começou... mas o que se seguiu foram quase duas horas que passaram voando. Além de quase todas as músicas do último cd, várias releituras dos clássicos... com uma roupagem mais rock que me agradou e tenho certeza de que agradou a todos ali!

Eu estava vislumbrada com a energia dos fãs mais antigos, dos fãs novos, dos presentes, dos que não puderam estar ali, dos que vieram de longe -- de vários estados do país: Manaus, BH, Salvador, Porto Alegre, São Paulo... a banda nova (não me recordo do nome do novo guitarrista e do baterista) tinham uma química nova... que sei que ainda vai explodir muito! O baixo de André Vasconcellos maravilha. E a participação especialíssima de Pedro Braga foi um ponto lindo do show.

A voz de Isabella tão clara e límpida... pura e branca... mais do que sempre já foi. Suas habilidades vocais ecoaram pelos corredores do Citibank não em gritos, simplesmente, mas com interpretações viscerais... não me canso em dizer que a voz de Isabella é uma das mais belas da MPB. Mesmo! E em todas as vezes que a ouço ao vivo, eu mais me certifico disso!

A queridíssima Myllena assinou os textos que foram lidos pela Leilane Neubarth em alguns trechos do show. Uma pequena "mistura poética" (se me permitem dizer...) de pequenos trechos de músicas da própria IT abriram o show. E, antes de A Imperatriz e a Princesa, outro belíssimo texto deu o tom do que estaria por vir e que, na minha modesta opinião foi o cume do show: IT e Myllena, Imperatriz e Princesa Amarilis, respectivamente, presentearam aos que ali estiveram, com uma interpretação da música homônima. Havia lágrimas... havia alegria, havia amor. Fiz um vídeo dessa canção que está ao final deste post e pode dizer tudo que não consigo dizer com palavras...

A distância e a frieza do palco do Citibank foram esquecidos totalmente quando o show ia acabando nos primeiros acordes de "Mulher Sábia". Era o fim daquele show... mas o início de muita história que será escrita. E que venha! Isabella, você -- que sempre ouviu seu coração -- já sabe que está no caminho certo. E, nunca se esqueça: eu sempre estarei contigo, onde quer que seja.

Aos que perderam, dia 16 de junho, HSBC Brasil em São Paulo, segundo show da turnê. Imperdível.