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Temporário

Como uma lufada de ar morno em uma tarde de primavera: meus olhos semiabertos querem capturar uma certeza. Qualquer certeza. A gota de chuva que rapidamente evapora sobre o asfalto quente. O toque humano que esfria mais rápido do que deveria. Um sorriso que me faz sentir viva por alguns minutos, enquanto o ocre vampiro da depressão me lembra que nunca estarei sozinha neste mundo.

Temporário é o meu desejo. Desejo carnal por uma realidade despida e sem adornos ou perfumes. Desejo carnal por uma pessoa que já fui e nunca mais serei. Desejo carnal para sentir meu sangue em minhas veias. Desejo do não desejo, Sem desejo.

Eu sorrio e me perco em meu próprio sorriso. Me abraço desejando um abraço que não posso sentir. Busco sem desespero o desespero outra vez e minha insanidade  compactua com minha paz. A esquizofrenia em mim que não posso traduzir em palavras. Talvez minha maior loucura. Talvez minha maior lucidez.

Temporária é a minha vida em meio aos transeuntes. Eu sou eles, eles são eu. Se eu tivesse seu abraço por mais de 30 segundos eu sei que seria mais feliz. Mas por sobre meus ombros está a constante lembrança de que a felicidade é uma ilusão que alimentamos com a ração da vaidade e da falsidade. Cacete, só quero ser feliz.

Eu olho para o espelho e vejo uma pele menos vistosa, linhas que se tornam rugas -- mas pelo menos não tenho cabelo branco. Eu olho e fecho os olhos: se não posso ter felicidade, poderia ao menos sentir paz? É a única pergunta que de tanto ser temporária, está ficando permanente.

Como o meu antigo desejo por sentir a paixão correndo em minha veias, animais selvagens retumbando em meu coração pueril: sou jovem ainda? Quanto de mim ainda é meu e o que nunca mais será? Queria menos perguntas e menos respostas, não queria nada.

A vida pode ser temporária mas as perguntas são sempre eternas. Os desejos também. As histórias continuam sendo as mesmas, mudando apenas os personagens. Eu tenho tanta vontade de conversar com alguém mas não tenho ninguém aqui. Quantas vezes (temporárias) tive? Eu queria tanto conversar com alguém e até o reflexo no espelho tem fugido de mim. 

Eu queria tanto conversar com alguém que parei de sentir saudades das melhores conversas que tive. Minhas mãos firmes e meus pensamentos incertos me conduzem durante o silêncio que me cala em mim mesma. Me abraço sozinha no escuro e durmo, esperando que os sonhos tragam qualquer certeza.

Temporária é a minha vida. Um beijo na boca da depressão e outro no rosto da sobriedade. Dois lados ocultos e abertos de mim mesma. Eu e minhas cicatrizes recentes. Eu e meu otimismo insano mesmo à beira da morte iminente. Eu... e eu.

"A teardrop to the sea" - Bon Jovi

Apenas compartilhando a música que, atualmente, tenho escutado no repeat one: "A teardrop to the sea" faixa do novo álbum "Burning Bridges".

Essa canção é uma obra-prima da banda... como há muito não ouvia.

https://www.youtube.com/watch?v=cDwia5nMXBY

A palavra de ordem do momento: humildade

Lá se vão quase seis meses desde a última postagem decente deste blogue. Em mais de um ano, poucas postagens: e, na maior parte delas, textos tristes. Até surgiu um leitor anônimo me dando esporro me mandando voltar à vida! (ou algo do gênero) rs

Mas não vou aqui escrever sobre o passado. Nem vou comentar sobre as grandes mudanças no cenário político nacional e mundial. Tampouco falarei das desgraças mundo agora, de maior ou menor tamanho, que devastam, matam e transformam cenários naturais.

Também não vou falar das pessoas e das relações humanas! Ah! Este sempre o maior ingrediente de minhas maiores reflexões.

Em fevereiro deste ano eu tive um sonho. Bizarro: sonhava que estava em um local aberto, na cidade. Estava caminhando quando de repente olhei para o alto e vi um avião em queda em minha direção. Não daria tempo de correr, eu senti a morte iminente. Mas corri, como todos fazem em seu último movimento de salvação. Corri. E adiante havia uma ponte. Fui para debaixo dela e, miraculosamente, ela amorteceu a queda do avião. Foi feio mas eu me salvei. Lembro que foi um sonho muito forte, nítido.

Postei esse sonho no facebook e algumas pessoas comentaram. Uma delas fez um comentário interessante que, na época, não teve a importância reconhecida que teve quando reli ontem. Foi impactante. Porque parecia prever algo que aconteceria com a minha vida nos meses subsequentes.

Reviravolta, guinada: eis a síntese do sonho. E, apesar do caos, eu me reergueria porque eu sobrevivi.

Os últimos meses têm sido de profundas reflexões. Um mergulho no meu silêncio solitário e vazio. Apenas pouquíssimas pessoas presentes. Desta vez, escolhi fazer diferente. Quer dizer, acho estar fazendo diferente. E espero, honestamente, resultados diferentes.

HUMILDADE tem sido a palavra e o mantra. Humildade para aprender a conviver com o seu velho e o seu novo eu. O velho que ainda reside firme e presente, com suas cicatrizes e seus defeitos. O novo cheio de ímpeto e ansiedade. Humildade para aceitar o que pode ser mudado e humildade para conviver com o que nunca deixará de ser seu.

Ando pensando em tanta coisa... mas tenho focado meus pensamentos nessa simples palavra: humildade. A consciência da própria limitação. Essa consciência não quer dizer que não há reconhecimento das virtudes, ao contrário. 

Quero me despir do velho em todos os sentidos. Aprender. E recomeçar outra vez, evitando cometer os erros do passado. Penso que esta é a melhor forma de honrar o título de "ser humano". Não ser seduzida pelas ilusões ao ego. Ser sempre guiada, com equilíbrio, pelo seu santuário interno.

Espero voltar a escrever com mais frequência, porque escrever é, de fato, uma das coisas mais importantes para mim.

2014: um ano para (quase) esquecer...

Estou bem temerosa em escrever este post, sentenciando o fim de um ano, sabendo que ainda existem 30 dias para isso acontecer.

Mas creio -- e fé é tudo o que me resta -- que este ano tão ruim em tantos aspectos está para terminar. Lavar tudo que precisava ir. Extirpar. Finalizar. Transmutar. E... recomeçar.

Tudo que poderia ter acontecido comigo, aconteceu. Exceto minha saúde (que graças aos bons Deuses) anda bem, todo o resto foi posto a teste. A um duro e quase cruel teste.

Nunca, em toda a minha vida, fui agredida gratuitamente. A vida te dá uma pancada... você sacode a poeira, ri de si mesmo e volta a caminhar. Aprende o que acredita que precisa ser aprendido. Segue. Aí vem alguém e te dá outra pancada no mesmo lugar. Você é pego totalmente de surpresa, se questiona os motivos (existem motivos para agressão gratuita? Enfim...), se levanta e continua. Aí, passa mais um tempo, você toma outra pancada no mesmo lugar, com muito mais força! Por alguém que sequer sonhava que faria isso.

O que você faz?

É difícil manter a fé -- seja ela qual for -- quando acontece isso. O meu exemplo (que nem disse exatamente o que era ou quem fez) pode ser aplicado a qualquer circunstância na nossa vida. Talvez não seja assim que os psicopatas sejam formados? Ou aqueles que justificam sua maldade para o mundo a partir de todas as maldades que sofreu.

Mas não nasci para ser psicopata, embora tenha o meu estranho fascínio por essas mentes tortuosas (quem me conhece, sabe disso). Então, o que fiz? Me recolhi. Me ressenti. Me calei. E chorei muito.

Pessoas que eu confiava. Parentes. Pessoas com quem não falava muito mas tinha em alta confiança. Pessoas que nem me conhecem mas tem por base que me conhecem. Semiestranhos. Semiconhecidos.

Alguma coisa acontece. Alguma lição precisa ser aprendida. Aí você se pergunta -- num raro lampejo de autoestima diante de tanta brutalidade gratuita: tô pagando meus pecados. Atirei o pau no gato, pedra da cruz. Só pode ser. Só resta fazer piada diante de tanta coisa esdrúxula que acontece.

Aí fui rebobinando a fita da minha mente e relembrando das coisas que nem levei muito em consideração quando aconteceram, mas que me mesmo assim tiveram um sentido que eu negligenciei na época. 

Pessoas que sequer falam comigo e me cobram, me agridem. Eu respondo. Elas somem.

Pessoas que sequer perguntam como você está, mas te criticam em público porque você expôs sua opinião e elas são contrárias a essa opinião. Você argumenta. Em público as cristas se emplumam. Quando você chama para um particular, elas somem.

Pessoas que, do nada, resolvem estourar com você, com argumentos que não se sustentam. Você resolve tentar conversar. Nenhuma resposta.

Pessoas que você tenta se preocupar, porque são seus parentes -- afinal, sangue do sangue --, e você recebe uma silenciosa e ausente resposta. Tipo "não se intrometa, obrigado".

Não sou orgulhosa em pedir ajuda. E mesmo nesse momento mais delicado de se sujeitar a pedir ajuda a alguém, você ainda se ressente porque as pessoas deliberadamente te ironizam e riem da sua cara.

Sério: não sei o que a vida/destino/carma está/estão querendo comigo. Mas espero que eu tenha me entregue de coração a tudo neste ano de 2014 porque em 2015 eu quero tudo diferente!

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A amizade sempre foi um dos maiores bens para mim. Durante muito tempo, a elevei acima do próprio amor. Uma das coisas que aprendi este ano, é que com o passar dos anos, nossa capacidade de amizade -- que eu sempre julguei mais "fácil" que a nossa capacidade de amor --, está cada vez mais comprometida. 

Os nossos tempos estão cada vez mais insanos. Eu quero paz.