Eu sempre tive uma relação estranha com o Natal. Minha família nunca o comemorou além de um almoço no dia seguinte, sempre na casa de minha avó, juntando parentes, comida e amigo secreto. Todas as minhas lembranças de Natal são essas. Ah, tem também quando lembro o presente que o "Papai Noel" me deu quando eu devia ter uns 6 anos: um relógio digital (mega chique na década de 80) que acendia luzinha e tudo. O cartão do Papai Noel vinha com uma letra tão parecida com a da minha mãe... lembro que depois daquele ano nada seria como antes. rs
Depois disso, sempre veio uma sensação de falta de reconhecimento e pertencimento a um mundo supostamente cristão que vira o total centro das atenções. Lembro que, no Japão, nunca houve fogos de artifício à meia noite e eu lembro que nunca entendi porque as pessoas insistem em gastar toneladas de dinheiro com fogos de artifício para comemorar sentimentos que tão pouco colocam em prática.
Eu sei, sou uma pessoa chata e questionadora que ao longo destes 33 anos nunca entendeu muita coisa nem viu sentido em tantas outras. Mas estamos nesta sociedade e mesmo com essas coisas passando pela minha cabeça, a vida segue, com alegria, esperança e amor, não é assim que deve ser?
Ontem à noite, eu e meu amor preparamos a nossa ceia a dois. O Rio de Janeiro deu um milagroso tempo do calor e pudemos aproveitar melhor as "baixas" temperaturas de 24ºC que fizeram por aqui.
Foi uma noite agradável regada a "O Mágico de Oz" que meu amor ganhou numa belíssima edição especial de 70 anos. Assim (sem as coisas costumeiras que passam na televisão) dá pra reavivar a magia de um mundo tão tolhido de magia e repleto de ilusões. Sim, porque magia é totalmente diferente de ilusões.
Agora estou em mãos com o "Anjo de Vidro" que é um dos meus filmes natalinos favoritos, porque sempre me faz entender o tal do espírito natalino. Algo que não seja apenas encontros familiares vazios, dinheiro gasto, comida saindo pelas orelhas e palavras perdidas no ar e no vento.
Este ano, pelo fato de estar no Rio, foi o ano que meus amigos menos se lembraram de mim para o Natal. Talvez porque eu sempre fui a pessoa que mandava cartões à mão, torpedos e emails. Sinto muito se você, algum amigo meu que caiu neste blogue, leu isto. Eu não mandei essas coisas não porque não tenho sentimentos por você, e nem retribuí seu agradecimento porque sou mal-educada. Não mandei porque preferi fazê-lo aqui, eu e meu coração e minha orações. E não respondi porque tava sem créditos no celular até para receber ligações de SP.
Mas os amigos de verdade são a nossa verdadeira e única família. Não dá para se sentir sozinho. Cansei de ler relatos no Facebook e Twitter agora pela manhã de pessoas se sentindo solitárias. É assim, a ressaca de uma festa pseudocristã cheia de hipocrisia. Tanto amor que as pessoas não conseguem deixar de sentir sozinhas. O primeiro amor está em se amar e se aceitar. O real amor que apenas existe por existir e independente de palavras fáceis e vazias, lembranças oportunas e presentes falsos.
Amanhã postarei fotos e receitinha da ceia que eu e meu amor fizemos por aqui. Por hoje, fica essa reflexão, num país tão cheio de pluralidades, onde neopagãos e cristãos e evangélicos e judeus convivem...espero que uma única gota do real sentido de tudo tenha -- verdadeiramente -- sido plantada no coração de cada um dos seres humanos.