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A humanidade e seu egoísmo intrínseco

Parece ironia, exagero meu ou será que -- para mim -- as pessoas andam mais egoístas do que nunca? 

Nesse período de extremo silêncio e solidão vivida (e, de certa forma, ainda vivendo...) o que mais reparei foram as pessoas que, com seus motivos variados, dizem sempre a mesma coisa:

"Tô super atolada de trabalho."
"Tô mudando de emprego."
"Tô fazendo horas extras, estamos com a programação atrasada."
"Tô começando um emprego novo."
"Tô cheia de frilas."
"Tô mudando de apartamento."
"Tô com problemas na família."
"Tô com muitas contas pra pagar e pouco dinheiro pra receber."
"Tô estressada e precisando de férias."
"Tô com problemas no trabalho, por causa de colegas invejosos."
"Tô com problemas no trabalho, por causa de chefe ruim."
"Tô cuidando da casa, dos gatos, da família, ando total sem tempo."

Eu não me excluo da lista e já usei muitas dessas respostas. Se era verdade ou mentira, cabe à minha consciência responder. Podem ter certeza de que tenho uma consciência bastante criteriosa e chata...

Por isso, em parte, eu entendo quando alguém me fala isso. Não vejo apenas como uma resposta social básica à pergunta "Quando vamos nos ver?". Acredito, de verdade, que seja uma realidade dura de conciliar, viver neste mundo que vivemos, tão corrido, tão estressado, tão apressado de Deus.

Mas em todas as vezes, todas, todas, eu penso em algo que minha mãe me dizia desde criança e, ainda, às vezes, a escuto dizer: "Você é quem faz seu tempo. Se você está sem tempo, é você que não sabe organizá-lo."

Lembro que quando era criança, não entendia muito bem, mas guardava as lições de minha mãe como o melhor guia que eu poderia ter na época. E já me peguei repetindo essa frase como boa discípula de Dona Leila que eu sou...

Porém, a questão que quero dizer aqui é mais simples do que falar sobre a amplitude do tempo. É falar que precisamos pensar, justamente em tempos como os nossos, em sermos menos egoístas. A calçada da rua precisa ser toda nossa. O semáforo estar aberto apenas para nós. A fila não existir para quem estiver nela há tempos, nos dando direitos eternos de furá-la quando quisermos. Buzinar e buzinar (como esse povo niteroiense) apenas com o abrir do semáforo, sem esperar um "atraso" de fato acontecer. Conheço gente que tem prazer em buzinar, como tem prazer em buzinar nas orelhas dos outros, em monólogos infinitos, pensando que tudo que tem pra dizer é a coisa mais deliciosa de se ouvir na face da Terra.

Este meu tempo de solidão tem me mostrado a verdadeira faceta de vários amigos meus. No entanto, claro, não deixo de entendê-los. É tão triste como entendemos o silêncio do outro como uma ofensa pessoal... quase nunca entendemos o silêncio do outro como pedido surdo e mudo de um abraço. Culpa nossa de achar que o tempo é o bem mais precioso de todos. A culpa não é da nossa falta de tempo -- e sim -- da nossa quase total incapacidade de saber usá-lo.

Como não sabemos usá-lo, parece lógico usarmos para nós mesmos apenas. Bem, como disse, entendo e compreendo todas as justificativas do mundo. Apenas não me desce o egoísmo humano que ultimamente anda muito fora do controle demais.

Pequeno agradecimento ao trio inabalável que continua acompanhando minha vida de forma inenarrável: Yumi, Filha e Sharlene. Vocês, à sua maneira, sempre serão indispensáveis na minha vida.

Novo morador

O tempo de silêncio é sempre necessário quando a mente anda "falante" demais. Claro, nem sempre os falantes sabem o que falam e mesmo os silenciosos também.

Quero compartilhar com vocês o mais novo morador aqui no apartamento: Floriano. Sua história é aquela velha conhecida: abandonado, perdido em um lugar público e recolhido por uma verdadeira protetora dos animais, Cristina Kok.

Fazia algum tempo que queria adotar um gatinho e ontem, quando vi esse gatinho lindo, não resisti. Agora, eu e meu amor temos um novo companheiro aqui em casa, que será cuidado com muito carinho e amor.




Zélia Duncan no Teatro de Niterói - um show de cores e talento

Para encerrar esta semana cheia de shows (foi algo inédito assistir a três shows), hoje fui ver Zélia Duncan no Teatro de Niterói (aqui pertinho de casa...) para gravação do seu DVD "Pelo sabor do gesto" e para comemorar TRINTA anos de carreira! Como assim, trinta?! Pois é. Nem acreditei quando ela disse isso...

Primeiro: eu não conhecia o teatro e achei-o lindo, soberbo.  Decidi que quero ver peças e mais eventos lá, ainda mais para aproveitar que fica a 10 minutos de casa! ;-) Segundo, o cenário: aquarela pura, seguindo a própria concepção do encarte do cd. Se você, por acaso, baixou o cd e não sabe do que tô falando, vai lá prestigiar a Zélia e compre.

O cenário em aquarela, combinando com o vestido balonê de ZD, com as roupas também coloridas dos músicos da banda, com o canhão de luzes... foi apenas parte do que o show reservava. A abertura foi assim, com "Boas Razões" e Fernanda Takai e John Ulhoa no palco com ZD. Direto, uma surpresa! Aquilo seria apenas o indício de como o show seria...

O setlist foi baseado no último cd dela "Pelo sabor do gesto" mostrou uma Zélia confortável, humilde e talento mais do que sobra. Outro destaque e surpresa que me emocionou foi que ela cantou o refrão de "Todos os verbos do mundo" em libras (linguagem dos surdos e mudos) após contar uma bela história que, não saberei reproduzir em nomes completos agora.

Confesso: foi o primeiro show oficial de ZD que assisti. Vi um show gratuito uma vez, há zilhões de anos atrás. Estou determinada a assisti-la mais vezes, porque enquanto a via no palco, entendi porque ela está onde ela merece estar: como uma de nossas melhores representantes da atual MPB. Sua humildade é tão inacreditável quanto a cena que vi do lado de fora, enquanto esperava para entrar: a mãe de Zélia estava na fila (junto aos mortais) para entrar no teatro. Na fila? Sim. Ela estava lá, sorridente, com a camiseta da gravação do dvd, como qualquer fã, esperando a vez de entrar. E não ficou na primeira fila! Para mim, isso demonstra claramente como o caráter da mãe selou o caráter da filha. E isso me fez admirar Zélia ainda mais. Ela tem a simplicidade -- e talento estratosférico -- que muitas cantoras e cantores da mesma geração (cheia de estrelismo pop) não têm. O movimento é de dentro para fora.

As surpresas de Christiaan Oyens, Marcelo Jeneci, Paulinho Moska (doido e simpático!) encheram o show com mais cores. Ainda foi lindo vê-la cantar "I love you" de Roberto Carlos. Ao final, todos os convidados subiram ao palco outra vez. Ficou uma sensação de alegria inefável... a alegria de uma artista feliz com os trinta anos e, como ela mesma disse, os próximos anos que a vida permitir. Ah, como assim?! A vida vai lhe permitir muitos e muitos e eternos anos!