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Sobre a paixão (por alguém)

Recentemente, me peguei pensando de novo nesse tema que nunca se esgota! Impressionante. À medida que as primaveras passam, é possível trazer novos entendimentos em um mesmo assunto. E por se tratar de um tema caro para mim — os relacionamentos humanos — eu também sempre busco aprofundar, aprender algo, ampliar o meu conhecimento. Eu já discorri sobre esse tema anteriormente como você pode ler clicando aquiAssim, não vou retomar o que disse em alguns posts antigos. Vou tentar delinear brevemente o que eu entendo agora sobre a paixão que uma pessoa sente por outra.

Etimologicamente, a origem da palavra está ligada aos termos "sofrimento" e "doença". E é curioso constatar que, mesmo sem ter feito essa pequena pesquisa, eu sempre afirmei que a "paixão é uma forma de loucura".

E por que eu digo isso? Não precisamos refletir muito para chegarmos às mesmas conclusões. A paixão é um ato não programado de súbita conexão com alguém que suscita em nós sentimentos mistos de alegria, furor, prazer, ansiedade, posse e muita, mas MUITA intensidade.

É como se destravássemos uma chave no cérebro. Quem não quer estar apaixonado? Quem não quer se apaixonar? E se for correspondido?

O ato de estar apaixonado diminui a nossa capacidade crítica praticamente a levando a zero. O ato de estar apaixonado aciona nosso modo instintivo, involuntário e irracional. 

Defeitos do outro? Não existem! 
Incompatibilidades? O amor (a paixão) vence tudo! 
Um único (talvez dois ou três) ponto em comum constrói castelos gigantes de possibilidades, obviamente embasadas em um terreno frágil que passou longe de conseguir analisar prós e contras.
Não existem contras quando a gente está apaixonado!
"Juntos vamos vencer o mundo" dizem os apaixonados e eles se esquecem de pensar que mal conseguirão vencer a si mesmos nessa empreitada.

Apaixonar-se é sair do lugar comum. A sociedade nos enfia goela abaixo a ideia do amor romântico que começa numa paixão e termina em final feliz com os dois velhos sentados juntos compartilhando sonhos e boas lembranças. 

Quando a gente se apaixona, a gente quer se apaixonar. A gente quer estar apaixonado. A gente quer viver esse sentimento com alguém. É um desejo visceral que não tem paciência alguma e quer ser saciado com urgência. Nisso, as pessoas se conhecem, se encontram, fazem juras eternas no dia seguinte, se casam no mês seguinte (ou fazem união estável...) como se uma assinatura num papel fosse o suficiente para confirmar que o sentimento ali é sólido. Usar aliança. Fotos de casal em todos os perfis virtuais. A dissolução do um em dois, pois não há mais individualidades e sim "o casal".

Eu já vi essa história tantas e tantas vezes... e em todas as vezes o final foi o mesmo. 

Estudos dizem que uma paixão dura cerca de seis meses. Se o casal se estabelece, dura cerca de dois a três anos. Quantos casais que ficaram juntos por dois anos você não conhece por aí?

A gente bem que gostaria, mas o calor da paixão — (in)felizmente — tem prazo de validade. E quando as pessoas voltam a si, se dão conta de que quando não há mais tesão sexual, o relacionamento começa a escancarar todos os defeitos que, na verdade, sempre estiveram ali. Porque, afinal, desejar sexualmente a mesma pessoa ano após ano é um detalhe que as novelas românticas nem os comerciais de dia dos namorados ensinam.

Então, me vem a pergunta: por que a gente se apaixona?

Eu acredito que, basicamente, a gente se apaixona porque a gente não está apaixonado por si mesmo.

E de onde eu tiro essa ideia?

A resposta pode tomar alguns direcionamentos, mas em suma me parece simples: quem não pratica autoconhecimento e autocuidado de verdade (sem usar a terapia como muleta) sabe o preço que é curar um coração partido — seja essa dor causada por uma decepção amorosa ou outra qualquer (mas, em especial, a amorosa). 

O ato de se autocurar exige muitas atitudes. E a gente sempre acaba pulando uma ou várias delas. Por impaciência, por incapacidade, por ingenuidade... é apenas nas experiências dolorosas que nos lapidamos — ou, pelo menos, é isso que deveria acontecer.

Creio que a autoestima é uma das etapas da autocura onde mais precisamos do outro como elemento externo para nos validar. E isso é extremamente ardiloso, ambíguo e tênue. porque ao nos abrirmos à opinião alheia, saberemos como filtrar o que é importante ouvir e o que deve ser descartado?

Porque sabemos que não será de qualquer pessoa que virá aquela palavra que acionará a faísca em uma brasa quase se extinguindo dentro de nós.

E quando, inesperadamente ou não, surge o tal alguém que acende essa brasa sem que pedíssemos, nos permitindo voltar a ver um mundo com cores (que sempre estiveram ali mas que você era incapaz de ver), fazendo a gente voltar a acreditar naquelas qualidades que você até sabe que tinha mas nem se lembrava mais. Você volta a respirar. Você sente seu coração bater com força.

E eu acho que deveria parar aí! 
Porque se a pessoa que te causou isso for alguém por quem você facilmente se sentiria atraído fisicamente, mentalmente (ou nada disso), você cairá, sem perceber, na armadilha de ser picado pela doença da paixão.

Aí surgem os "encontros fatais" e as paixões fulminantes. Ou, na mesma medida, quando um apenas se apaixona e o outro usa esse pedestal em que se encontra para se aproveitar do apaixonado tirando todo tipo de vantagem pessoal — a pior delas, alimentar o próprio ego com a devoção cega de alguém. Ou quando simplesmente o que não está apaixonado diz "vamos ser amigos?".

Acredito que no dia em que conseguirmos entender só um pouquinho mais do mecanismo que diferencia radicalmente amor e paixão, poderemos ser mais felizes em nossos relacionamentos amorosos e em nosso relacionamentos, de modo geral. Porque, sim, a imensa e esmagadora maioria confunde amor e paixão.

Não estou negando que elas possam começar juntas!
Acho que todo mundo aqui conhece ao menos uma história de duas pessoas que trocaram um olhar, algumas palavras, se apaixonaram, se casaram e, mais de trinta anos depois, continuam juntas até hoje.

Porém, essa NÃO É a regra!

E como faz?

Aí volto ao começo deste post sobre autocura e autoestima.

Quem não consegue se amar, como conseguirá amar alguém?
Quem não está encantado por si próprio como saberá se encantar por alguém sem estar sob os efeitos da loucura?
Quem não se autoconhece bem saberá reconhecer o outro além da superficialidade cada vez mais leviana estimulada hoje em dia?
Quem não tiver o controle do tempo nas mãos saberá usar esse mesmo tempo para construir um descobrir, um despertar que caminhe para a criação do conjunto de duas pessoas que estão se conhecendo?

Amar alguém não é tapar o buraco de uma ausência com a presença de uma pessoa nova ali.

Amar é estar constantemente encantado (não apaixonado).

Amar não é estar imune a oscilações e desequilíbrios e, sim, saber, junto com o outro, a comunicar os sentimentos e juntos buscarem uma solução que seja boa para ambos.

Amar é saber comunicar com empatia, sinceridade e acolhimento.


Então, apenas me responda: uma paixão que está praticamente sendo guiada e alimentada pelos instintos e pelo irracional é capaz de agir dessa forma? Ilusoriamente até que sim. Até passar... o véu cair. E a realidade assustadora queimar os olhos das pessoas sem possibilidade de desqueimar.

O que é um relacionamento? E um relacionamento próspero?

Eu sempre fui uma criança quieta e observadora. Pelos mais variados motivos, cresci com essas características que -- atualmente -- se não me fizeram uma mulher antissocial, apuraram meus sentidos e minhas percepções.

Algumas das coisas que mais observava eram os casais. Eu sempre procurei por um casal perfeito -- pois que não tive a sorte de ver um na minha casa (por motivos que não precisam ser explicados aqui) -- eu sempre busquei algo que se encaixasse num determinado padrão de relacionamento perfeito, a saber: alegre, equilibrado, justo e feliz.

Antes era um desejo ingênuo e idealista de encontrar. Mas, nunca cansei de buscar o modelo que se encaixasse na minha descrição. E passei quase vinte anos nessa busca. Em vários momentos, achei que estava próximo de dizer que sim. Em outros momentos, ficava pessimista afirmando que essas coisas não existem.

Com toda essa observação, que fui apurando com o passar dos anos, percebi algumas coisas que são imutáveis, quase como leis de funcionamento básico e intrínseco

O grau de paixão determina muita coisa, principalmente quanto vai durar o relacionamento. Percebo que quanto maior o grau de paixão, menor dura o relacionamento. E sempre termina com ambos os lados muito feridos.

A idade também é fator determinante. Os mais jovens -- e com mais paixão -- têm mais abertura, mais tolerância, mais necessidades, mais ciúmes. O que é tudo muito lindo, mas que sabemos que não é obrigatoriamente a receita do sucesso. O grude-grude, toquinhos no celular, ciuminhos bobos são demonstrações deliciosas de paixão juvenil. A menos que vc não se importe em viver e deixar viver, siga por esse caminho.

Já os mais vividos, em geral, sofreram muito. Levaram foras, deram foras. Trazem muitas cicatrizes, coisas que não aceitam, coisas que exigem. A menos que vc se depare com uma solteirão convicto (vale para mulheres, não temos adjetivo neutro em português), que leva a vida no estilo Don Juan -- ninguém me prende, ninguém me tem -- pode ser um bocado triste pular de namoro em namoro ou mesmo ter medo de sequer começar um.

Bem, chegando aos exemplos reais, conheço alguns casais que se aproximam muito daquilo que considero ideal em um relacionamento. E eu sempre fiz questão de conviver proximamente a eles, para pegar nas sutilezas os detalhes que as etiquetas sociais sempre escondem.

Primeira regra de ouro: um casal "legal" é resultado de muito trabalho árduo. Não importa se estamos falando de casais gays, lésbicos ou heteros. Essa ideia difundida de somos muito parecidos gera casais semi-alienados, muitas vezes desagradáveis de convívio. Já a ideia difundida de os semelhantes se atraem geram sempre brigas homéricas no estilo "entre tapas e beijos".

Para variar, precisa-se de equilíbrio. Entre os extremos opostos, acha-se o equilíbrio. Este é o segredo do funcionamento do Universo e de todas as coisas intrínsecas a ele. Quando vc entende isso, vc para de fazer muitas perguntas e até para de sofrer um pouco.

A segunda regra de ouro é: não espere que o outro seja os seus sonhos pessoais realizados. Individualidade (que não deixa de ser um sinônimo direto de autoestima). Você é um ser humano único, assim como seu parceiro também é um ser humano único. Vocês juntos devem ser uma equipe que soma forças, mas cada unidade deve ser mantida centralmente trabalhando em conjunto com seu parceiro.

Última regra: objetivos e expectativas em comum sobre o relacionamento. Respeito. Se um quiser um relacionamento aberto, vc não deve perder tempo correndo atrás dessa pessoa. Tendo equilíbrio e autoestima, respeite a individualidade sua e a de seu parceiro e deseje algo em comum.

Essas são minhas ideias que, necessariamente, não são regras gerais e graças a deus existem as exceções. Por cima, arriscaria dizer que namoros gays são muito mais tranquilos que namoros lésbicos, cuja característica é DR todos os dias (dependendo do casal). Casais hetero vivem eterno e conflitante dilema marte-vênus, mas dentro os casais mais próximos à perfeição, me vêm à mente apenas casais heteros. Alguém tem histórias diferentes?

O que é maturidade emocional num relacionamento amoroso?

Pensei em muitas formas de escrever este post. Nenhuma delas deu certo. Talvez falte liga, ou talvez falte até “mais experiências”. Não dá para esperar o ‘momento certo’ de escrever. Talvez alguma coisa esteja me bloqueando e impedindo a fluidez dos pensamentos. Nessas horas... eu penso na poesia. Somente a poesia com suas imagens, semitons e rimas consegue dar forma ao abstrato sem palavras.

Mas não vou escrever um poema, nem conseguiria... Ao contrário disso, vamos dizer que vou compartilhar um pensamento em voz alta.

Lembrei do post (que recentemente foi muito visualizado e muito comentado) As pessoas são estranhas. Na ocasião, me foi perguntado de como é difícil se sentir assim. Não diria que é difícil. Acho que esse é apenas um dos modos como eu vejo e — especialmente — sinto as coisas. Como sempre afirmo: não é mais ou menos certo. É o meu jeito.

Recentemente, me vi diante de um cenário com repertório conhecido. Aquelas mesmas dicas que te apontam para aquelas conclusões que você não quer ter, mas sabe que elas chegarão em breve.

Acredito que todos temos aquele segundo de pensamento quando está diante de uma situação já vivida várias vezes. Você pode escolher seguir, mesmo sabendo como será o final; ou você pode tentar um caminho diferente e crer que, sim, é possível que o final mude.

Mas o final não muda...

Qual é a maturidade emocional das pessoas? Como definir algo tão amplo dentro dos caminhos obscuros da psique humana? E diante de um relacionamento amoroso: como as pessoas se comportam? O que falta? O que sobra?

Já fiz muitas classificações. Conseguia razoavelmente criar listas que indicava mais aqui menos ali. Falando especificamente de casais, eu conseguia prever quanto tempo um casal ficaria junto apenas analisando o comportamento deles. Quanto mais paixão, mais efêmero. Claro, não é uma regra... mas funciona bastante.

Conversando com algumas pessoas e lendo alguns textos, dizem por aí que quanto mais vivemos, mais deveríamos ter autoconhecimento de si mesmo, autoconsciência e empatia pelo outro. Acho que, nesse caso, a regra real nem é o que acabei de dizer mas o contrário.

Conheci pessoas incríveis, altamente humanizadas, cultas, inteligentes... mas quando se trata de relacionamentos amorosos são um verdadeiro fiasco. Lembrei do Walter Riso, autor fantástico que preciso reler. E não são um fiasco porque querem sê-lo! Muito pelo contrário. A pessoa não tem consciência porque acha que está agindo como deveria agir.

Bem, a pessoa de fato está agindo da melhor forma como deve agir. Não devemos julgá-la por isso. No entanto, a partir do momento em que o espaço pessoal for invadido, você tem o direito — ao menos — de decidir se quer continuar com aquela experiência ou educadamente decliná-la. No meu caso, tive de declinar.

Enfim... esta matéria ainda será de muita reflexão para mim, não porque quero chegar a algum lugar, porque sei que não chegarei a lugar nenhum, mas porque penso que é possível dar pistas para um caminho mais claro e mais leve. Acredito que todas as pessoas que te procuram — em qualquer nível que seja — elas precisam de algo de você e, você, delas. Então, se algum caro leitor do blogue quiser comentar algo...

E, para finalizar por ora, o que vocês acham daquelas pessoas que dizem que "gostam de ouvir a verdade"?




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POST EDITADO
Me lembrei de algo que norteou meu pensamentos ao escrever o post acima e que acabei nem comentando. Só fui lembrar graças à frase postada pela Claudia Bertrani: "Amor sem verdade é mera paixão e verdade sem amor é crueldade. (Bion)"

Acho que o nível "maturidade emocional" pode ser claramente medido pelo fogo que vc tem no meio das suas pernas. Isso mesmo, fogo sexual. Acredito que, enquanto isso for a prioridade número 1 para começar um novo relacionamento, vc — de fato — quer estar constantemente apaixonado. Quer sexo a toda prova, quer brigar e reconciliar na cama, quer sexo em todos os lugares e a qualquer hora do dia. Há algo de errado nisso? NÃO! NUNCA!

Mas vc, honestamente, não deve esperar mais do que "9 and half weeks". Maybe less, maybe more. Um relacionamento baseado em paixão dura cerca de 2 a 3 anos no máximo. Eu diria 2. E tem as pesquisas que falam sobre o "hormônio do amor", do quanto somos dependentes dele e de quanto tempo somos capazes de produzi-lo continuamente.

Temos parâmetros muito tortuosos em relação ao amor, hoje em dia, na minha modesta opinião. E aí, não importa vivência, experiência, espiritualidade ou educação. Queremos tudo para ontem, no máximo hoje;  queremos um amor de televisão ou de filme, com tudo perfeito; queremos que o outro seja o que nós sonhamos no nosso mais profundo id maluco. Queremos uma ficção esquizoide em forma de amor romântico cheio de sexo como nos filmes pornôs. E o que somos? E o que temos para oferecer?

Acho que achei o norte deste tema espinhoso. As minhas experiências relatadas foram apenas para mostrar que não sou melhor nem pior. Sou um alguém como vc, em constante mutação e aprendizado. Já vivi a paixão e a irracionalidade. Muito. Demais. Meu conceito de amor nunca vinha dissociado de dor. E, olha, não faz tanto tempo assim, viu?...

Provavelmente escreverei mais. Num próximo post.


A coragem do amor que dura

Saiu hoje na Folha. Outro excelente texto!!! Escrevi um email ao Contardo Calligaris. Se ele me responder, junto com meus pensamentos e vira post aqui. Adoro esse tema. O que vcs acham?

A coragem do amor que dura

Quando amo, consigo olhar o mundo por duas janelas que não se confundem, a minha e a do ser amado

PROLONGANDO MINHAS observações da semana passada sobre "Quincas Berro d'Água", vários leitores e leitoras observaram que a literatura e o cinema, em geral, glorificam a coragem de quem, um belo dia, chuta o balde e vai embora.
E como ficam os que passam a vida inteira deslocando o balde para estancar as goteiras? Será que eles são todos covardes e acomodados?
É inegável: nossa cultura idealiza a ruptura, a aventura, a saída para o mar aberto. Em matéria amorosa, o momento que preferimos contar é a hora do apaixonamento.
Depois disso, gostamos de imaginar que "eles viveram felizes para sempre", mas sem entrar em detalhes que poderiam transformar a história numa farsa.
Uma boa solução, aliás, é que os amantes morram logo. O sumiço (de ambos ou de um dos dois) evita que a comédia da vida que levariam juntos contamine a apoteose do encontro inicial. Os amantes ideais são os que não duraram no tempo: Romeu e Julieta, o jovem Werther e Charlotte, Tristão e Isolda.
Concluir o quê? Que a coragem é sempre a de quem deixa a mornidão de seu conforto para se queimar num instante de paixão? Será que não pode haver coragem nos esforços para que o amor dure?
É óbvio que a duração não é um valor em si: uma relação pode durar a vida inteira e ser uma longa e insulsa experiência repetitiva, sem amor algum. Mas, inversamente, será que as paixões-relâmpago são amores? Enfim, seria útil dispor de uma definição do amor.
Justamente, li nestes dias um livro que me tocou, "Éloge de l'Amour" (elogio do amor, Flammarion 2009, ainda não traduzido para o português), de Alain Badiou; é a transcrição de uma breve entrevista do filósofo francês.
Nela, inevitavelmente, Badiou constata que, em nossa cultura, a visão dominante do amor é a de uma espécie de "heroísmo da fusão" dos amantes, que, uma vez consumidos por sua paixão, podem sair de cena (para não se tornar ridículos) ou sair do mundo e morrer (para se tornar sublimes).
Contra essa visão, Badiou define o amor mais como um percurso do que como um acontecimento: segundo ele, o amor precisa durar um tempo porque é "uma construção".
Confesso que fiquei com medo de que o filósofo nos propusesse amores tagarelas, em que os amantes não parariam de discutir a relação (claro, para construí-la). Por sorte, não se trata disso. Então, o que constroem os amantes?
Geralmente, explica Badiou, minha experiência do mundo é organizada por minha vontade de sobreviver e por meu interesse particular: vejo o mundo só de minha janela.
Certo, ao redor de mim, há muitos outros de quem gosto e aos quais reconheço o direito de também sobreviver e promover seus interesses.
Mas o fato de eu respeitar esses meus semelhantes não muda em nada meu ângulo de visão. É só quando amo que consigo olhar, ao mesmo tempo, por duas janelas que não se confundem, a minha e a de meu amado. A estranha experiência ótica faz com que os amantes reconstruam o mundo, enxergando coisas que ficam escondidas para quem só sabe olhar por uma janela.
Entende-se que o amor assim definido exija tempo. Quanto tempo? Um mês, um ano, uma vida, tanto faz. Consumir-se na paixão pode ser rápido, mas reinventar o mundo a dois é uma tarefa de fôlego.
O amor segundo Badiou, em suma, é uma aventura, mas que precisa ser obstinada: "Abandonar a empreitada ao primeiro obstáculo, à primeira divergência séria ou aos primeiros problemas é uma desfiguração do amor. Um amor verdadeiro é o que triunfa duravelmente, às vezes duramente, dos obstáculos que o espaço, o mundo e o tempo lhe propõem".
Você aprecia a definição, mas a acha um pouco abstrata? Gostaria da história de um amor que dura e se obstina sem se tornar pesadelo ou farsa? Pois bem, acabo de ler um texto comovedor, bonito e capaz de ilustrar e explicar perfeitamente as palavras de Badiou.
Em "Amar o Que É: Um Casamento Transformado" (Objetiva), Alix Kates Shulman conta como ela e Scott, o marido, reinventaram o mundo, a dois, obstinadamente, depois de um acidente que precipitou Scott numa forma de demência.
Há momentos difíceis, sacrifícios e durezas, mas, curiosamente, o relato não chega nunca a ser triste porque se trata de uma extraordinária história de amor.

La vie d'Adèle -- o azul é a cor mais quente: minhas notas

Esperei uns dias para poder escrever este post que, certamente, não será o melhor, não será o mais completo e não será o mais curtido. É apenas a minha opinião.

Fiz uma boa pesquisa pelo google e li várias críticas, gringas e brasileiras. Das brasileiras, gostei especialmente do blogue Blogueiras Feministas. Contém spoiler mas o considerei o texto mais completo e mais justo. Para quem se interessar, vale a leitura.

Também li Omelete e Rolling Stone que cito como sugestão de leitura. Ademais, digita o nome do filme em francês e vá procurar o que puder encontrar. Além do trailer, claro.

Bom, este post também tem spoiler. Então, se você preferir, veja o filme antes de ler meu post! ;)

***
Eu saí extasiada da sala de cinema, ao fim das três horas de filme (que nem pareceram três horas, afinal). A primeira impressão que ficou foi a de "wow, o 'cinema lésbico' precisava de um filme assim!". Não há peripécias nem tramas complexas no filme. E isso me chamou a atenção, pois tudo é retratado sem a pretensão de se autoexplicar. Por outro lado, é quase um documentário, os primeiros planos, a narrativa quase em primeira pessoa (mas sem narrador), todos os detalhes que captamos na personagem principal, Adèle, que narram os "dois capítulos" da vida dela.

Indubitavelmente, as famigeradas cenas de sexo são fortes. São explícitas. São cruas. Não tem trilha sonora ao fundo. Você ouve os sons. Você vê vários ângulos. Algumas críticas foram justamente sobre a verossimilhança. Bom, pense. Pode fazer sentido. Em uns momentos, parece que a cartilha do kama-sutra para lésbicas está sendo encenado. Mas, me diga, também, onde há regras no sexo? Cada um faz como acha melhor, como gosta mais. E aí quem poderia dizer se o que é mostrado é a realidade? Pode não ser a sua, mas pode ser a de alguém.

Outro ponto levantado é a questão do uso do corpo. Uma das atrizes (a dos cabelos azuis) disse que se sentiu uma prostituta. A outra (Adèle) também chegou a afirmar o mesmo mas depois parece ter voltado atrás. Elas afirmaram que foram dez dias apenas gravando cenas de sexo. Bem... não sou cineasta, não entendo desse mundo, nem poderia me atrever a querer assumir que poderia estar falando a verdade. Pode ter havido exagero? Pode. Pode ser marketing pessoal? Pode. Pode ter sido abusivo? Pode. Tudo pode.

Mas, creio eu que uma atriz ao afirmar que se sentiu uma "prostituta" parece ser meio contraditório em algum momento da interpretação, estou errada? Sei lá, se parece ter havido exagero, e o diretor estava se deleitando com duas mulheres encenando sexo, ao invés de filmar seu longa, é meio esquisito. Eu acho. Uma coisa não exclui a outra, porque acredito que um ator ao fazer uma cena sexual deva sentir algum tipo de prazer. 

Aí a pergunta que faço é: esses movimentos feministas estão errados nas suas críticas? Acho simplesmente que é complicado você querer criticar um filme por causa de cenas isoladas. Acho injusto. Em algum lugar, li uma lista de filmes com cenas de sexo (quase) explícito e de forte apelo visual. Cinema é uma arte. Você cria algo com um propósito que pode ser, também, causar esse incômodo. Tirar as pessoas de seu conforto.

O filme narra dois capítulos da vida de Adèle, conforme diz o próprio título. É uma adolescente se descobrindo sexualmente. "Me falta alguma coisa que eu não sei o que é". E ela parece se sentir completa quando se apaixona pela menina de cabelos azuis. É paixão à primeira vista, fulminante. Alguém se lembra da primeira paixão fulminante que teve? O que você fez? O que as pessoas costumam ser/fazer quando se apaixonam fulminantemente?

A proposta do diretor é mostrar um retrato real de uma menina que se apaixonou, viveu sua paixão, errou e ainda não sabe o que fazer com o sentimento que carrega dentro de si. Nesse ponto, compartilho a crítica que li e mais gostei, a do Inácio Araújo (FSP). Um trecho de seu texto diz: "A relação do cinema com a realidade, desde os anos 80 do século passado, tornou-se progressivamente mais tênue. Parece que cada vez menos os cineastas conseguem captar o óbvio: o corpo humano, seus sorrisos, sua batalha para descobrir sua própria medida, sua estatura. O que há de fascinante neste Azul-Kechiche é a veemência com que o autor, mais uma vez, afirma sua modéstia diante de suas personagens, como lhes permite, e ao mundo que habitam, se manifestarem na tela e irradiarem no espírito dos espectadores."

Altamente indicado. Para ser visto e revisto e revisto. E a atriz principal, a sagitariana Adèle Exarchopoulos, além de ser linda, tem o olhar mais pisciano que já consegui ver em um ator. Afirmo categoricamente que a personagem que ela interpreta é uma pisciana... meio irresponsável, ingênua e livre. Livre para testar, descobrir, aprender, se perder e se reencontrar.

Talvez, o que seja mais desconcertante para a maioria dos espectadores, é ver muito de nós na personagem de Adèle, mas não termos consciência o suficiente para admitir e compreender. Okay, observação minha! Mas... vá ver o filme. Só não faça como o funcionário do Espaço Itaú (Augusta) que entrou na sala só para ver a cena de sexo. Shame on you! É uma ofensa para o filme e para dos deuses do cinema. ;D

"O amor e a vida" - Isabella Taviani e Mário Lago

Os dias andam rápidos, cansativos... mas cheios de uma emoção única. Alegrias infindáveis ocorrendo em minha vida. Cair a ilusão que eu mesma criei. Terminar o ano encarando -- mais uma vez -- meus próprios defeitos, tentar consertá-los. Ver algumas pessoas como elas realmente são, aceitá-las com o que elas têm para oferecer, simplesmente. Errar... acertar. Viver... sempre!

Esta citação do Mário Lago que achei fazendo outras pesquisas agora é meu lema de vida:
"Fiz o que quis e fiz com paixão. Se a paixão estava errada, paciência. Não fiquei vendo a vida passar, sempre acompanhei o desfile."

Uma frase cheia de impacto que coroa com louvor minha atual fase. Fase de autorreconhecimento de quem sempre fui e sempre serei. Coisas que posso -- e devo mudar. Coisas que NUNCA mudarei. Como disse uma amiga "Crisantemus Volcanus... é você, esqueceu?" Não, não esqueci. Eu tentei mudar o que não posso mudar. Este foi um dos maiores erros cometidos, recentemente. O outro foi viajar na maionese das minhas paixões... mas isso é capítulo para outro dia!

Aí, vem Isabella Taviani compartilhar a parceria dela com Mário Lago, feita especialmente para o show da UERJ (que eu não pude comparecer! grrr...). O poema lido solitariamente tem uma energia. Mas... ao musicá-lo... ah! aaaaah! Fiquei sem respirar. A verdadeira emoção IT foi acoplada ao poema de maneira vigorosa... e rendeu uma música.. que só ouvindo para compreender. Se é que dá para compreender!

Claro, tudo é momento. Acho que, talvez, eu e IT tenhamos um fio mútuo de momento parecido. Para muitas pessoas, a música é apenas outra música de amor. Para mim? A canção já começa dizendo a que veio. Depois, no piano... intimista. Depois, bateria crescente. Entra guitarra, entra as emoções fundidas à letra, à interpretação tão Isabella... e observem o vídeo, ela canta de olhos fechados. Não é uma viagem interna nos sentimentos conturbados, sem explicações?

Eu já vi IT cantando e ter diversas emoções. Já a vi chorar ao vivo, sentir raiva, alívio, alegria... mas, como ela mesma disse, esta foi diferente. E, ao final, quando ela olha pra banda... a gente entende um pouco isso que ela quis dizer.

Fique com a letra e o vídeo. Lindo, não apenas para fãs, tenha certeza.





Mais de um amor numa vida
É muito fácil de ter
A dor de amor é esquecida
Talvez nem chegue a doer
Mesmo se o fim é tristeza
Vazio no coração
No fim só fica a beleza
De uma bonita paixão
E embora o amor destruído
E o tanto que se sofreu
O tempo não foi perdido
A gente é que se perdeu

Assunto: depressão

Confesso que esses últimos dias venho pensando no projeto que acabei abandonando no ano passado: uma série de posts sobre depressão. De repente, nem preciso de uma "série de posts" mas apenas de um post com alguns tópicos relevantes. Arrisco aqui umas considerações muito pessoais sobre o assunto, já que nem de perto tenho qualquer embasamento técnico para versar. 

1) Depressão é como lepra.
Há, de fato, uma espécie de sentimento generalizado quando alguém assume estar com depressão. As pessoas sentem pena, dó e, preferencialmente, se distanciam de você, porque depressão parece ser algo extremamente contagioso, transmitido pelo ar e por qualquer espécie de contato físico: sim, depressão é o vírus da pior espécie possível.

2) Depressão é frescura.
Também é fato que a maioria de nós vê um depressivo como alguém que "precisa levar uns tapas" para se encaixar na realidade. Falta do que fazer, falta do que pensar. Mal-agradecido. Mimado. Uma pessoa que tem saúde, tem dinheiro, tem de tudo e não deveria estar "depressivo" porque não sabe reconhecer tudo que tem. Assim, as pessoas acabam julgando o depressivo como alguém que está com tempo de sobra e, como não tem o que fazer, quer chamar a atenção.

Muitos especialistas afirmam que a depressão é o grande mal do século 20. É uma doença silenciosa, diretamente não apresenta sintomas físicos e ela começa pequena, quase imperceptível. Um diagnóstico tardio e grave só poderá ser percebido quando a pessoa decidir terminar com a própria vida.

Eu acredito que todos nós temos algum nível de depressão. Uns lidam melhor com ela. Outros a combatem com tamanha maestria que ela vem e passa longe. Já a grande maioria acaba perdendo essa batalha e, creio eu, uma vez que você tenha tido depressão, é como se ela instalasse um acesso eterno dentro de você e, caso você não saiba fechar essa porta corretamente, ela poderá entrar a hora que quiser e com a força que quiser.

Penso que uma vez que você tenha tido depressão é como você tivesse de conviver eternamente com ela dentro de você. Uma espécie de cicatriz que sempre alcançará aquele estágio final de cicatrização mas que nunca cura completamente. Então, dependendo do que você estiver vivendo, a depressão pode encontrar o acesso que queria para voltar e se instalar com fúria total.

Qual a solução? Não sei. Existem diversos tipos de saída disponíveis, mas não creio em cura total. Digo que deve haver uma eterna e constante vigilância sobre si mesmo. E nunca, nunca, nunca desdenhar da depressão. Não importa que amigos, familiares ou pessoas próximas tratem dela com desdém, você nunca deve subestimar a força da depressão. Creio que, talvez, precise aprender a conviver com ela, como uma outra persona sua dentro de você mesmo. Esquizofrênico? É a melhor resposta que eu encontro para mim mesma.

Pois a depressão é a ausência total de sentido na vida. Ausência total de sentimentos pela vida, seja amor seja ódio. É olhar para tudo e ficar se perguntando onde está o sentido e não ter nenhuma resposta. Nenhuma resposta. E você não precisa estar solteiro, não precisa estar morando na rua ou ser uma pessoa sem um bicho de estimação. Por isso as pessoas dizem o que eu citei acima quando veem alguém que parece estar depressivo. Depressão é a ausência total de qualquer tipo de paixão pela vida. É a vontade de apagar as luzes de um quarto já escuro, sem janelas, sem portas e sem iluminação.

Bem, voltando a pensar em solução, remédios, psiquiatras e psicólogos ajudam. Mas, talvez, a melhor solução para o primeiro passo para lidar com isso seja tentar reacender a maior paixão, algo que a pessoa ame (ou tenha amado) muito: um estudo, um lugar, um animal de estimação, um hobbie, um filme... qualquer coisa. A falta de sentido ainda existirá mas poderá ser amenizada aos poucos em troca de um sentimento que não irá substituir muito menos entrar em competição com a depressão: coexistirá com ela.

Considerações finais: bom, talvez tenha dito muita besteira, mas o que disse foi baseado em minhas observações pessoais comigo mesma, na minha depressão e na convivência -- perto ou distante -- com outras pessoas com depressão. Espero voltar em breve a falar sobre o assunto. E meu pedido: um depressivo não é alguém que está pedindo por sua ajuda mas é alguém que precisa da sua ajuda.

O amor e o fanatismo

Estes dias tava lá tuitando quando a querida (e sempre sumida) Cláudia Bertrani veio me incentivar a falar sobre o amor fanático. Eu disse a ela que poderia levar pedradas como a Geni. E ela apenas me disse: "Cachorro late e a caravana passa!". Bastante motivador, não?

Já que tenho twitter e facebook como ferramentas para acompanhar meus artistas favoritos, invariavelmente acabo acompanhando os seus respectivos fãs. E invariavelmente tenho me surpreendido (deveria?) com as coisas vistas nas últimas semanas!!!

Ok, vamos à informação básica de tudo: internet e globalização mudaram a cara de tudo em todos os setores da nossa vida. Ainda me surpreeendo que em 1991 eu mandava cartas. Nessa mesma época, fiz curso de datilografia. Em 1998 mandei meu primeiro email no Bol e agora a minha caligrafia anda ficando cada vez mais preguiçosa porque apenas digito. As pessoas pararam de comprar no supermercado, as crianças só fazem trabalho pesquisando na internet. Tudo tem sua versão virtual e cada um de nós tem seu avatar.

Tudo é rápido demais, fácil demais e sem limites. Nessas horas não há firewall nem etiqueta para internet. A chamada "inclusão digital" me dá arrepios porque as pessoas não sabem ler nem escrever e caem aos borbotões na frente de um pc. As pessoas deveriam aprender a ler, escrever, visitar bibliotecas públicas (como fiz minha vida toda), não reclamar que não tem dinheiro pra ler, porque isso não é desculpa na hora de comprar Diário de S.Paulo, Lance ou Sou mais eu.

Assim, me assusta quando os fanáticos caem na rede diante de seus artistas. Quer dizer, artista que é artista precisa estar preparado para tudo! Faz parte da profissão. Esses fanáticos podem vir de todos os lugares, da inclusão digital ou da sua faculdade mas têm uma característica em comum: não admiram seu artista, louvam, colocam ele num pedestal em que certo e errado não existem, ele se torna norte e sul, alimento da alma.

O Merovíngio (do filme Matrix Revolutions) tem uma frase que adoro de ouvir toda vez que revejo esse filme: "Incrível como a paixão tem uma semelhança com a loucura". Coisas que apenas nós, "Os seres humanos", podemos ter.

Nesse caso, esse amor fanático se assemelha e muito com o amor religioso. Ops, pisei no calo de alguém? Desculpe, piso em ovos. Mas que tem muita semelhança, tem sim!

Assim vejo o fã diante de seu artista. Ali tão fácil e tão disponível, pela internet. Uns se atrevem a falar obscenidades, outros assumem o papel de zelador, outros querem ser amigos íntimos, outros são apenas fãs. Ocorre um verdadeiro mix de admiração, paixão, idolatração. O artista? Depende. Uns aceitam, outros recusam, outros administram bem.

A amor devocional vem sempre pintado de pureza, porque traz uma "falsa lealdade" consigo. Então, como costuma acontecer com as pessoas que amam demais, o fanático -- na minha humilde opinião -- precisa de um foco para direcionar a própria vida. Claro, ele dirá, eu faço o que quiser da minha vida. No entanto, se analisarmos bem, veremos que não é bem assim. Pois penso que quando colocamos algo no pedestal (que não seja a nossa honestidade, crescimento e aprendizado) tudo se perde. Vivemos uma vida que não é nossa. Vivemos uma realidade que pode até parecer, mas não nos pertence.

Agora, vamos às pedras ou ver apenas os cães ladrarem.

Que sentimento você sente por si mesmo?

Já não é mais novidade há um bom tempo: quanto mais possibilidade temos de estarmos conectados uns aos outros, menos estamos conectados às pessoas e, principalmente, conosco mesmos.

E essa informação já está tão repetida que se tornou apenas mais uma daquelas que as pessoas veem e passam adiante. Estamos tão hiperestimulados que acabamos nos dopando inconscientemente para conseguir sobreviver sem enlouquecer.

Acabei de ler uma matéria da BBC dizendo que o zolpidem se tornou a droga hype do momento. Oi? Além da insônia (outra doença subproduto do caos que é viver hoje em dia), o zolpidem está se tornando saída para pessoas que precisam sentir alegria.

E quem não precisa de uma boa noite de sono?
E quem não precisa sentir alegria?

Estimulada pelas conversas com uma querida leonina, comecei a refletir nesse tema que, também, já falei bastante por aqui. Mas me veio a oportunidade de trazer uma nova reflexão à luz deste ano de 2023 tão estranho que estamos todos vivenciando.

A pandemia deveria ter servido para nos aproximar uns dos outros como seres humanos. Fomos todos obrigados a nos isolar de pessoas queridas, do convívio em sociedade. Tivemos de reaprender questões básicas de higiene e limpeza. O pensamento coletivo antes do individual. Priorizar idosos, crianças e imunossuprimidos.

Mas a pandemia veio e foi e nem parece que milhões de pessoas morreram no mundo todo por causa de um vírus letal que ainda (e sempre) circulará entre nós. O ser humano tem esse péssimo hábito de ter memória curta, imediatista, materialista e superficial. 

Alguns tiveram de encarar os próprios demônios com a força de todos os trânsitos astrológicos acumulados. Casamentos terminaram porque as pessoas perceberam que "estar casado" não é apenas uma aliança e um papel assinado. A maioria percebeu que todas as narrativas de fim de mundo exibidas em filmes de ficção de científica quando vividas na realidade não têm nada de aventuroso ou divertido.

O planeta está mais populoso. O sistema econômico está ainda mais cruel. Se você não for capaz de fazer seu prmeiro milhão em um ano, você é simplesmente um derrotado incapaz de servir para nada além de ser mais uma mera geringonça escravizada em um esquema que vende a ilusão de estarmos todos felizes desde que estejamos endividados e vendendo nossos serviços a preço de banana.

Aí voltamos ao começo deste post.

Hoje comecei a ver uma live de Halu Gamashi chamada "Como canalizar a energia da cura". Eu tinha visto só um recorte e decidi ver o vídeo integral. O que me chamou a atenção foi a pergunta que ela fez logo no começo do vídeo: "Que sentimento você sente por si mesmo?".

E eu faço essa pergunta para você, leitor: que sentimento você sente por si mesmo?

E o que a Halu responde? Veja o vídeo! rs

Mas dou uma dica: recentemente escrevi um post intitulado "Sobre a paixão (por alguém)" e lá eu dei a minha resposta. E aqui continuarei com ela.

As pessoas vivem uma ilusão de que amam a si mesmas. A verdade é que a imensa e esmagadora maioria apenas se mantém com o mínimo necessário para a sobrevivência — seja do corpo, da mente ou da alma. Pior ainda: a pessoa não faz ideia de que vive à beira do abismo fazendo malabares com facas afiadas e fogo ao mesmo tempo. Ela acredita que isso mostra o quanto ela é capaz de ser corajosa, multitarefas, indomável.

Ilusão.

Assim como Instagram é o suprassumo da ilusão. Claro, tem pessoas que usam as redes sociais com utilidade. Mas não é o caso dos que estão lá criando uma imagem que pode ser real ou não. Quem saberá dizer a diferença?

Olhe para as pessoas na rua. Se a gente pudesse ler mentes, certamente ficaríamos loucos. Por vezes, sabemos o que se passa na cabeça de alguém quando testemunhamos uma conversa entre duas pessoas conhecidas em alguma condução pública: falando mal de alguém. Falando mal do trabalho. Reclamando de alguma coisa porque, afinal, é por causa daquilo que a pessoa está ali sofrendo. Quantas vezes você ouviu uma conversa alheia e testemunhou algo edificante? (sem teor religioso, porque isso não é ser edificante)

Olhe para as pessoas ao seu redor. Elas não sabem viver sem celular. Elas reclamam do superestímulo (sem consciência) e estão ali, viciadas em não perder nada do que se passa no mundo virtual. Estamos tão sufocados por uma vida que não queríamos ter que não sabemos mais qual vida gostaríamos de ter. E para conseguir sobreviver a isso tudo nos enchemos de distrações. Rolar o dedo pra cima e pro lado se tornou o exercício que as pessoas mais gostam de fazer. Simples, rápido e sem precisar pensar ou refletir.

Olhe para as pessoas: elas não sabem mais interagir umas com as outras. Se não for regado a muito álcool, não há conexão. Se não tiver selfies e fotos infinitas, não há conexão. Se não tiver a beleza física pasteurizada, não há conexão. Se não houver um post de atualização com infinitas hashtags, você não está conectado com o que você estiver fazendo.

Ao final do dia, o que você acha que essas pessoas sentem por si mesmas?

Ao final do seu dia, o que você sente por si mesmo?

O sinal dos tempos já começou neste ano de 2023. E é meio unanimidade entre diversas fontes que teremos anos difíceis pela frente. Dê uma chance a si mesmo e saia da manada ignorante que sobrevive acreditando que está dando o exemplo. Faça-se esse ato de autoamor.

Ame-se. De verdade. 
Cuide de sua espiritualidade. Seu corpo e sua mente automaticamente serão beneficiados.
Porque, afinal, ao final, só o amor importa.

O sem-parâmetro como parâmetro

Como tinha postado anteriormente, deixei um gancho para falar da ausência de parâmetros como parâmetro. Vou explicar onde tenho visto essa regra imperar e, como consequência, presentear seus afiliados com a mais ampla gama de experiências. Falo de relacionamentos amorosos.

Há quem defenda a liberdade total nessa delicada área da vida de qualquer um. Não deixo de entender os motivos. Veja: se você for um franco atirador, amar é um definitivamente um ato livre! Você pode amar em todos os níveis -- da paixão absoluta ao amor menor (existe isso? Eu acho que sim!), e experimentar as mais diferentes sensações. Conheço -- E MUITA -- gente adepta dessa prática.

Por outro lado, há quem defenda o critério meticuloso como maneira de se relacionar com alguém. Conheço pessoas que decidem que detalhes pequenos servem para decidir a inviabilidade de uma experiência a dois. Também conheço MUITA gente adepta desse estilo. Dificuldades com o português, uma certa higiene aqui e ali, um tic nervoso: tudo isso pode vir a ser motivo para o total descarte de um pretendente. Também entendo esse pensamento porque, durante muitos anos, foi o meu fio-condutor para a minha vida amorosa.

Mas, vejamos a simplicidade da coisa: extremismos não servem nem mais no Oriente Médio, quem dirá na vida amorosa do ser humano? Sou contra a liberdade total -- caiu na rede é peixe; e também sou contra excluir alguém porque a pessoa esqueceu de colocar crase num verbo bitransitivo e troca uns 's' às vezes. Isso tudo parece hilário, mas acontece demais na vida real!

O que me fez pensar no texto desse post foi que, em um período curtíssimo de tempo, presenciei -- em diversos meios de comunicação -- a defesa quase nervosa do sem-parâmetro como parâmetro. É quase neguinho apontando o dedo na sua cara porque você pode ser meio indeciso ou meio seletivo demais. Ou é neguinho dando conselho sem ninguém ter pedido. As pessoas gostam demais de se meter na vida das outras... o que me fez pensar o seguinte: não está fazendo mal, então não pode ser tão ruim assim, né?

Não. Não acho. Não gosto de ninguém apontando dedo na cara de ninguém, principalmente um defensor do sem-parâmetro querendo fazer descer goela abaixo um parâmetro. É quase um silogismo? Não sei, também. Só sei que vou compartilhar o seguinte (numa tênue defesa dos criteriosos em relação ao franco-atiradores): até o momento, não conheço UM EXEMPLO sequer de uma pessoa REALIZADA que pegava ou amava o primeiro que aparecia na frente. Por um tempo, até parece excitante a aventura do sem-limites. Mas, longe de moralismos (quem me conhece, sabe bem disso), o qeu vejo é um coração esburacado pelo tempo.

Esses que amam indiscriminadamente são carentes disfarçados. Porque disfarçam sua carência na ampla abertura de amar quem estiver disponível. Porque disfarçam sua sensibilidade em sua agressividade. E porque, com o tempo, vão espalhando aos quatro ventos que não restam esperanças, depois de uma vida inteira tentando, tentando... e nada conseguindo. Porque, sim, a pessoa mesmo atirando pra todos os lados, continua sozinha e solitária. Com sorte, não estará muito amarga.

Assim, basicamente o que quis dizer com o post de anteontem foi: os sem-parâmetros querendo comprovar seu parâmetro (e ponto de vista) pra mim, é totalmente furada. Desconfio demais e não ouço conselhos mesmo! Por outro lado, como disse antes, sem extremismos. Ou dá tudo ou não dá nada, não dá. E, somente cá entre nós, eu confesso que gosto de certas regras, certos requisitos, ainda mais no campo amoroso. Para uns, o coração é uma estrada livre e perdida. Para você?...

O sorriso em tempos de máscaras faciais

Muito já se falou em como esta pandemia transformou completamente a nossa vida. Hoje, especificamente, quero falar do sorriso - esse movimento dos músculos faciais que fazemos para demonstrar alegria, contentamento, felicidade - e que quase nunca mais compartlhamos, por ficar escondido atrás de máscaras que nos protegem do vírus e também  de uma de nossas formas mais complexas e diretas de comunicação.

Lembro do primeiro episódio da quarta temporada de The Good Doctor em que os médicos colam uma foto de si mesmos sorrindo em seus crachás para mostrar quem são. Uma tentativa de trazer um pouco de calor em um momento tão frio e duro na existência humana.

Não vemos mais as pessoas sorrindo, mas não que elas não sorriem! Dizem que as pessoas sorriem com os olhos, vocês têm visto pessoas sorrirem assim?

Hoje, ao almoçar em uma lanchonete e já me preparando para sair, vi uma moça se sentar quase de frente para mim. Jovem, longos cabelos claros e lisos. Estava mexendo no celular com um imenso sorriso no rosto, mostrando não só dentes mas uma felicidade especial. Enquanto ela olhava no aparelho, eu tentava desvendar o que aquele belo sorriso queria dizer: uma notícia feliz? Um amor correspondido? Algo me diz que era essa opção.

Naquele breve instante, eu me apaixonei por ela e seu sorriso. 

Porque parecia tão franco, tão honesto, tão simples - quase ingênuo. O amor (ou a paixão) em todo seu início sempre tem disso, não é? E eu confesso que perdi um muito disso, dessa doçura humana. Estamos sempre escondidos atrás de medos, inseguranças, desconfianças... ver um sorriso como o dela atingiu algo dentro de mim naqueles milésimos de segundos.

Naquele breve instante, eu desejei ser o objeto e a razão de seu sorriso.

Porque eu simplesmente queria viver um sentimento livre do peso dos traumas, das acusações, das condenações. 

A lembrança de seu rosto já se mistura com tantas outras e nem saberia mais dizer como ela é. Mas o seu sorriso... Um breve sorriso que me aqueceu e que me fez sorrir junto com ela - eu, escondida atrás de minha máscara, protegida contra qualquer argumento alheio. Um breve sorriso que me fez teleportar momentaneamente para aquele porto feliz que todos nós merecemos eternamente estar.

Moça, sei que a felicidade é um instante, que se constrói e descontrói, que se faz e desfaz num piscar de olhos. Moça, sei que a felicidade não é eterna e nem o nosso objetivo, mas desejo que sua felicidade lhe seja boa e eterna enquanto dure. Agradeço por ter compartilhado esse lindo sorriso comigo, eu me apaixonei e me encantei com ele e nunca mais o esquecerei!

Diversos

Quase fim de abril! Tanta coisa acontecendo! 

Eu fiquei com essa ideia de escrever sobre "como ser do contra nos dias de hoje". Mas o post veio e foi. Não deu tempo de sentar, desenvolver o pensamento. Parecia quase uma poesia em forma de narrativa. Bom... deixa pra lá. Não estou chateada, ao contrário!

Sexta-feira passada me encontrei com a Nilce -- uma garota maravilhosa. Nossa amizade já está quase indo para dez anos! Como assim? Foi outro dia que ela foi minha estagiária, primeiro emprego em editora, Crisão aqui que era uma outra pessoa quase impossível de reconhecer hoje em dia. Pois é. Nilce, este post é dedicado para você.

Conversamos mais sobre mim do que sobre as duas. Um próximo encontro será marcado em breve para corrigir isso. Enquanto isso, ela trouxe duas reflexões muito interessantes sobre o que está acontecendo comigo. Sua visão é ainda mais especial porque ela está totalmente de fora de tudo que está acontecendo e seu olhar está bem isento de julgamento.

Primeiro: ela disse que as coisas na minha vida estão acontecendo apenas para ver a que ponto de minha maturidade profissional eu cheguei. É como uma "coroação" de tudo que já experimentei e que, hoje em dia, posso me dar "ao luxo" de dizer: "ah. Isso? Não é nada. Já vivi situações bem mais extremas." 

Segundo: fica quem tem que ficar, vai quem precisa ir, entra quem merece entrar. A respeito de quê? Amores, amigos, colegas. Sim... ela está certíssima. 

Ao longo deste anos, quanta gente conheci. Adoro conhecer pessoas novas, é sempre uma oportunidade de compartilhar um mundo inteiro e complexo. Isso pode ser engrandecedor ou não, mas sempre é uma experiência! Somos seres em constante necessidade de experimentação, certo? Pelo menos, eu acho.

Confesso que andei -- e ainda ando! -- bastante cansada de tudo que andei vivendo nos últimos dois, três anos de minha vida. As experiências foram frustrantes, amargas. Tirar lições de tanta dor não foi fácil. Pessoas indecisas, pessoas ingratas, pessoas traidoras, pessoas falsas. Ainda estou meio que no olho desse furacão, quase saindo dele, mas ainda nele... Mas não estou com ódio. Não estou com raiva. Ele apenas indo embora.

Por isso, decidi retomar -- aos poucos -- contato com pessoas que deixaram saudade. E as que apenas estão por estar... essas sairão. E eu não precisarei me esforçar. Este é o movimento agora: conhecer pessoas novas, retomar contato com algumas pouquíssimas que deixaram saudade e deixar o que PRECISA IR, simplesmente ir embora.

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Neste último finde, assisti ao meu novo dvd adquirido: "White Palace" ou "Loucos de Paixão" com a belíssima Susan Sarandon e James Spader. Lembro que esse foi um filme que marcou a minha adolescência. Nunca mais tive a oportunidade de rever o filme. Revi. Meu Deus... estou encantada em grau máximo com a libriana da Susan Sarandon!!!

Não tenho palavras para descrever o que foi ver a sua atuação. Lembrei dos outros filmes que vi dela: Thelma e Louise, Fome de Viver, Anjo de Vidro. Nem 1% de toda a filmografia. Nunca me chamou a atenção. Só sei que, agora, quero poder ver todos os filmes que conseguir assistir. Vou comprar o filme que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz "Os últimos passos de um homem".

Susan Sarandon é um libriana (com todo o resto do mapa em capricórnio e escorpião, medo!). Belíssimos olhos grandes. E eu me pego pensando que preciso escrever um post sobre as atrizes do signo de ar. Impressionante como as admiro!

Uma ode ao amor

Faz algum tempo que queria fazer um (novo) post sobre o amor. Ao mesmo tempo que sentia falta dele -- como o belo sentimento que parece estarmos esquecendo --, eu sentia essa agonia intrínseca que não consegue ser dissociada desse sentimento. Minha pergunta: desde quando amor é sofrimento? Minha outra pergunta: por que apenas amamos alguém sexualmente? Então... o que é amor?

Já imagino milhões de ecos de resposta que já ouvi ao longo da minha vida. O que me pareceria meio óbvio torna-se uma incógnita: se todos já sabem disso, por que a permuta de amor e dor ainda continua? Por que somos seres humanos tão dependentes do sofrimento para sentir que há vida pulsando? Por que insistimos no paradoxo, mesmo sabendo que ele não existe? Por que criamos o paradoxo para ratificar a vida que existe por si só?

As pessoas acham e pensam muita coisa, mas se esquecem do principal: quem somos no mais íntimo recôndito de nossa alma. E essa digital virtual apenas nós mesmos a conhecemos. Essa marca que não precisa ser exibida para que outros acreditem que ela existe. Pois existem algumas pessoas por aí que exibem suas cicatrizes como troféus de uma vida amarga da qual não se extraiu nada além de rugas, conta bancária vazia e sonhos destroçados.

Pois apenas penso que somos os seres humanos que deturparam o verdadeiro sentido do amor. Não deveríamos associá-lo a dor, mas o fazemos. Colocamos ele na mesma balança do ódio, com pesos e medidas iguais. Confundimos ele com paixão. Achamos que ele precisa ser eterno com uma pessoa específica, mas ele é eterno com todos. O amor não é herói nem bandido, é apenas o sentimento que une a todos, com a maior pureza que ainda nem conhecemos. O amor não é instrumento de compra e venda, pois seu real sentido perpassa além da tosca semântica que conhecemos.

Acredito que todos nós, sem exceção, já fomos tocados por esse amor puro, digno e infinito. Mas o nosso problema é querer sempre possuir, dominar e controlar tudo, por sermos inseguros com tudo aquilo que é exterior a nós. E perdemos a magia desse sentimento... e perdemos o seu real significado... e ficamos dando voltas e voltas, vivendo de uma felicidade feita de ilusão para voltar ao ponto inicial.

Não sou melhor nem pior do que ninguém que leu este post até aqui. No entanto, estou tentando o diferente, escapar das armadilhas ilusórias que nos prendem a nós mesmos. E, acredito, que o verdadeiro amor apenas seja a única chave real de libertação. Apenas o verdadeiro amor.

s2016e01

E começamos mais um ano: season 2016, episode 01.

Na última semana, tive o privilégio de viver cem milhões de sentimentos em um dia, em dois dias, em três dias. Como aquele game que você tanto joga e você não consegue mais ficar no nível fácil, você precisa ir pro mais difícil, só pra saber se vai conseguir ir até o fim.

A vida é meio assim. Não para todos, mas apenas para aqueles corações corajosos. Não podemos dar reset na vida e começar tudo de novo na hora que quisermos. Não podemos amassar o rascunho e começar uma folha nova. Mas podemos -- e devemos -- aproveitar cada situação: boa ou ruim, se esta é a vida que se apresenta diante de nós, de quê adianta fugir, deixar para depois ou mesmo fingir?

Creio que, pela primeira vez em muitos, muitos, muitos anos, eu me perdoei de verdade. Me perdoei pelas expectativas que criei de mim para mim mesma. Me perdoei pela perfeição que exigi de mim mesma. Me perdoei por errar e errar e continuar errando as mesmas coisas, sem saber os motivos, sem saber se havia objetivo, apenas tocando o barco adiante porque esse é o único movimento que as pessoas esperam, mesmo que estejamos nadando de um poço fundo e escuro.

Creio que, pela primeira vez, em muitos e muitos e muitos anos... eu entendi mais e julguei menos. Eu me deixei machucar sem revidar, eu me machuquei a ponto de quase não querer mais viver, eu joguei a toalha por não ter mais forças para lutar contra o meu próprio demônio -- eu mesma. A espiral para o fundo do poço é tão infinita quanto a espiral para sair dele. Os dois caminhos estão sempre diante de você, à sua disposição para você fazer o que quiser.

Não sei do meu futuro e não estou mais preocupada com aquilo que não posso nem nunca pude controlar. Não me preocupo se terei mais amigos que inimigos. Não me preocupo com que esperam de mim. Nada disso... a vida é um eterno jogo de liga pontos. E eu quero apenas continuar unindo pontinhos aparentemente sem conexão alguma e criar algo. Criação. A vida é criação!

A todos os meus leitores deste blogue, antigos ou novos, apenas desejo um ano de 2016 com mudança, reestruturação e coragem... muita coragem, muita ação, muita paixão em suas atitudes, muita força e objetivos concretos. 

Quero estar mais presente aqui, não importa o que esteja escrevendo. Estarei aqui. Firme, forte, feliz, positiva e cheia de ideias e ideais: o que sempre fui e sempre serei!

beijos a todos. Até breve!

O ser humano (versão 2024) em pleno Apocalipse

 Queridos leitores deste blogue: sumi, eu sei.

Janeiro, fevereiro, março... foram meses intensos. Vivi mais uma vida inteira em três meses. Purguei o passado e coisas velhas e tão antigas. Um constante novo eu surge a cada dia, eis a beleza inenarrável de minha vida.

Comecei a escrever um tuíte e durante a criação do quarto fio do novelo me dei conta de que o tema deveria ser devidamente registrado aqui, no meu blogue. Então, cá estou para compartilhar esse pensamento que me surgiu.

Essas reflexões costumam ser construídas depois que tenho conversas boas. Fazia tempo que não tinha uma conversa que atingisse esses níveis profundos da minha mente. Afinal, a cada dia que passa, é mais difícil encontrar alguém que se disponha a ter esse tipo de conversa, a maioria prefere ficar na superfície — e eu não julgo! Pois a superfície está bastante complexa e difícil. Mas me parece muito desperdício gastarmos nossos neurônios só para sobreviver apenas com a cara para fora, lutando apenas para não morrer afogado.

Eu sempre tive um fascínio enorme em conhecer pessoas novas. Apesar de ter um lado antissocial muito acentuado que associado à minha timidez me impele a ficar quieta na minha ao invés de interagir com as pessoas, por vezes, me sinto disposta e com desejo de conhecer pessoas. Ao longo dos anos de minha vida, fui aprendendo a moldar meu desejo de espaço e solidão que existe quase que na mesma medida com minha vontade de conhecer pessoas novas.

E o que mais me fascina ao conhecer alguém novo é ouvir as histórias que elas têm pra contar. Podem ser histórias engraçadas, tristes, de seuperação, de aprendizados. Nada supera uma história bem contada.

Mas o ato de contar uma história não é apenas uma repetição lamuriosa. Ela envolve reflexão, tempo de maturação, acrescentar coisas novas, excluir outras, o dom do lúdico e o de prender a atenção de quem ouve, usando entonação, escolha de palavras, construção com início meio e fim. Sacou, né? Contar uma história é como voltar às tradições antigas quando livro era algo raro e só tínhamos a voz e a memória para repassar algo adiante (guardadas as devidas proporções atualizadas para 2024).

E eu confesso aqui para vocês: que hora decidi conhecer novas pessoas — em pleno Apocalipse!

As pessoas estão completamente saturadas sob o caos.

As que já não tinham condições de sobrevivência estão loucas. 

As que sobreviviam com alguma decência estão cedendo à loucura. 

E tem aquelas que parecem alheias a tudo e odeiam ouvir falar de desgraça: vivem no mundo de Alice.

Sobreviver, desde a pandemia, é uma habilidade que, definitivamente, já fez sua seleção natural.

Hoje não temos mais histórias sendo contadas. Hoje as pessoas ou são verborrágicas ou são monossilábicas. O que narram são o caos em que vivem, sem perspectiva de saída. E no silêncio doloroso de todos seus traumas não resolvidos, de dores que sequer ainda foram identificadas, elas acabam também se tornando portadores e transmissoras do caos. No fim, é tudo uma legião sem rostos identificados de pessoas agindo instintivamente e irracionalmente. Buscando ser felizes porque é um objetivo que foi implantado em seu cérebro. E a felicidade essa que perdeu todo seu significado original, sendo relegada a um puro materialismo, consumismo, status e poder.

O apocalipse é vivermos nesse caos de extremos com sanidade e equilíbrio.

(gargalhada) 

Mas aqui e ali eu ainda consigo ouvir uma boa história. Eu ainda vejo luz. A sabedoria da vida é que ela é cíclica e por mais que nem consigamos ver o quadro maior, a volta inteira de uma volta, nada dura para sempre.

Mas aqui e ali eu ainda conheço alguém incrível que parece ativar todos os neurônios que eu nem sabia que existiam meu cérebro. Ou outra pessoa que ilumina os cantos mais escuros de minha consciência que imploravam por luz. Já confundi isso com paixão e já aprendi essa lição também. Há um amor maior, muito maior que tudo que nem sonhamos existir, que eu aprendi a prestar atenção. O verdadeiro amor.

E cá também estou escrevendo e registrando minhas histórias. Comecei a compor um livro desde o final do ano passado. Enquanto novos estímulos ainda não surgem para eu retomar a faísca da escrita criativa, vivo.

Até o próximo post!

Retrospectiva 2 - Isabella Taviani

Quem acompanha este blogue, sabe da minha paixão por essa cantora carioca. Dispensa mais comentários, certo?

Este foi um ano especial. Mais do que especial: único. Único para a fã que eu sou e me propus a ser. Como sempre disse por aqui, desde quando a conheci, eu sabia que queria estar próxima, ir a todos os shows, saber todas as músicas de cor, ter as minhas favoritas, prestigiar, divulgar, defender.

Este foi o ano das lágrimas nos shows... lágrimas compartilhadas de alegria, de tristeza, de intensa emoção. De "Pontos Cardeais", de show em Niterói, de show em BSB... ah!

Mas uma coisa que não previ era como essa dinâmica iria ser desenvolvida e como cresceria. Então, fiz apenas o que achei que estava ao meu alcance: tirar fotos, ir aos shows e escrever relatos neste blogue -- que se não é um blogue exclusivo sobre ela -- acabou se tornando um assunto sempre presente! E isso tomou proporções tão boas! Porque é muito bom compartilhar essa energia boa com pessoas que conseguiram reconhecê-la. Eu não faço nada para causar inveja alheia (mesmo sabendo que a inveja é inevitável nesses casos) nem faço para mostrar que sou especial ou exclusiva para a Isabella. Eu faço com o coração e faço porque acho que é o que eu posso fazer.

Às vezes me pego pensando se eu queria ter uma toalha suada de fim de show... rs ou uma mera palheta (tantas fãs delas têm coleções infinitas! rs). Um setlist arrancado do palco. Sei lá... para mim isso é tão importante quanto ser reconhecida por ela lá do palco, o abraço carinhoso no camarim -- que ela sempre atende a cada um dos seus fãs com o mesmo amor e respeito, mesmo em um dia ruim, mesmo sem infraestrutura, mesmo cansada --, os presentes que eu dou para ela, cada um deles com um significado específico, para o momento específico. Isso é importante para mim.

Acho que o mais importante é respeitar o artista e separá-lo -- na medida do possível -- da pessoa particular. Respeitar a sua privacidade, o seu momento pessoal. Compartilhar de sua alegria, quando tiver de ser. Ter as histórias pessoais com o artista e não fazer fofoca ou autopropaganda disso. E isso não é egoísmo, é apenas preservar. E é assim que eu me sinto com essa artista que admiro muito: respeito, amor e preservação. Acho que ela já sabe disso tudo, mas se não souber, fique sabendo agora: que esse "fio imaginário" que une você a cada um de seus fãs e que une você a mim se fortaleça nesse respeito, amor e preservação que eu tenho por você.

Porque mesmo que eu não seja a fã que ficará no batidão e 'no desce ao chão' no fim do show (risadas boas aqui...) eu estarei ali no meu cantinho. Te filmando e escrevendo mais uma página no meu livro (e quem sabe seu, também? rs) livro de memórias. Que venha 2012, "Eu, raio-x" e todas as alegrias desse seu coração que nunca quis viver batendo devagar. Eu (e falo por todas as fãs, também) estarei eternamente com você.

Isabella Taviani e Melissa Etheridge

Uma coisa que esqueci de escrever no post sobre o show de Isabella Taviani foi que a o visual careca mais a energia irradiante me lembraram Melissa Etheridge cantando "Piece of my heart" na cerimônia do Grammy em 2005. Para quem não conhece, essa performance é... uma reencarnação de Janis Joplin sob o olhar de Melissa Etheridge: lindo, intenso, perfeito, perfeito, perfeito!

A careca de Melissa foi porque ela se curava de um câncer de mama. Li várias entrevistas dela contando como foi superar a doença. Ela engordou e ficou careca e adorou o novo look. Vi algumas apresentações desse período e parecia que ela estava com uma felicidade (mais do que ela já demonstra em shows) acima da média. Era a vida pulsante que transbordava dela...

Claro, guardamos as devidas proporções das comparações, porque são contextos totalmente opostos. Mas tem as semelhanças... primeiro que eu conheci -- de verdade -- Melissa Etheridge por causa da Isabella Taviani. Ainda não consegui ouvir toda a gigante discografia da ME, mas é clara a inspiração que IT buscou. Pelas letras tão de amor e de perda tão contundentes. Pelo jeito intenso e passional de cantar...

Então, eis que IT sobe no palco em Rio das Ostras, cantando, pulando, gritando... com aquela mesma vida pulsante transbordando de alegria e energia e eu via porque eu gosto TANTO dessas duas cantoras! E eu via porque escutar as músicas das duas me faz tão bem. E porque eu quero sempre me inspirar nelas para manter -- também -- essa vida pulsante de alegria e paixão dentro de mim!




Meu amor por David Lynch

Eu tenho uma admiração por este cineasta que traspassa fronteiras. O que temos em comum? O gosto pelo não-convencional.

Mas, claro, ele é David Lynch, capricorniano maluco, cheio de curtas nada convencionais e longas menos convencionais em grau mais elevado.

Muitos dizem não entendê-lo. Outros apenas o classificam como insano. Enquanto outros riem desistindo de qualquer tentativa de tentar entender, eu apenas penso que ele não deixa de ser um cineasta como todos os outros. Tudo é ponto de vista e visão. A matéria bruta é sempre a mesma. Veja, por exemplo, em Mulholland dr., meu filme favorito: é uma história de amor. Ele mesmo tinha dito isso em entrevistas. O que pode parecer simplório, na verdade, é a primeira compreensão que devemos ter dele.

Agora, o modo como ele vai mostrar uma simples história de amor é que o torna David Lynch. E eu adoro o modo como ele brinca com o onírico, o esotérico, o fantástico e o inconsciente. Farpas que todo mundo costuma fugir. Não somos quase aqueles que gostam da superfície? Como ele mesmo diz em seu livro, você pode pegar peixes em qualquer profundidade, mas será apenas aqueles pescados nas águas mais profundas é que surpreenderão você.

Fora isso, Mr. Lynch é adepto da Meditação Transcendental, motivo que o fez visitar o Brasil no fim do ano passado. Fiquei um dia inteiro para assistir aos 40 minutos de um homem de cabelos grisalhos que tinha feito o meu filme número 1. Parecia surreal. Mas é exatamente nessa hora que você compreende que ele continua sendo apenas um homem como outro qualquer, que fez as escolhas que fez.

Quando fui assistir a Inland Empire na Mostra Internacional de 2007, repleta de expectativas de um filme que demorou a chegar no Brasil, não sabia mesmo o que esperar. Apenas sabia que ele tinha rompido com todas as regras do cinema, ao "destruir" o roteiro.  Peguei fila. Aguentei os falsos intelectuais lotando a sala. Sentei na minha sagrada primeira fila. Assisti com delírio as pessoas se levantando e saindo da sala após os primeiros 40 minutos de filme. David Lynch não é para todos.

E não digo isso com a alegria de ser elitista, muito pelo contrário. Digo isso, porque como sempre afirmo a quem me conhece: estamos em níveis, querendo ou não. Os que saíram da sala naquele dia queriam pegar peixes na superfície rasa. E David Lynch requer coragem para olhar bem mais além.

Dos clássicos de Lynch, nunca vi o Eraserhead e o Lost Highway. Que vergonha. Eu até tenho trilha sonora do Lost highway, mas nunca vi o filme. Bem, decidi que escreverei uns posts falando sobre alguns dos principais filmes de David Lynch.

Estes dias revi (pela vigésima vez, por aí) Mulholland dr. com a paixão da primeira vez. E cada vez que vejo este filme vejo a perfeição materializada. É um fillme perfeito, com timing perfeito, atores perfeitos, roteiro perfeito.

O amor



Vira e mexe eu escuto uma bela história de amor. Ontem, conversando com a Elaine (secretária da editora onde trabalho), ela me contou uma das mais belas histórias de amor que já pude testemunhar pessoalmente. Se existe um caso de almas destinadas a se encontrar e ter o privilégio de compartilhar uma existência inteira, é o caso dela e do Marco, seu marido.

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Já escutei muitas histórias lindas. O cinema produziu também obras primas nesse sentido. A última e mais bela que vi foi Diario de uma paixão (The noteboook, 2004). Eu vi este filme em uma época difícil na minha vida. Enquanto as pessoas do cinema saíam em prantos, eu estava uma pedra de gelo. Apenas achando uma bela história contada, nada mais.

Era uma outra época de minha vida.

Outro filme de amor inesquecível é Em algum lugar do passado (Somewhere in time, 1980). Existem inúmeros e inúmeros outros que poderiam ser citados. Eu fico com esses dois.


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Recentemente, li um livro chamado Amar ou depender? de Walter Riso. Ele focou um dos meus temas preferidos para os quais, para mim, valeria fazer um curso de Psicologia: pessoas doentias em seus relacionamentos.

http://www.lpm-editores.com.br/v3/artigosnoticias/user_exibir.asp?ID=616619

Como no post de ontem, sempre observei os casais de convívio próximo, buscando um casal "perfeito". Começando em casa e indo para todas as pessoas próximas.

Percebi que uma relação duradoura depende de fatores básicos. Relação de amor, existe bem pouco. As coisas se misturam com o tempo. Sei que é praticamente impossível manter o clima de romance ao longo dos anos de convívio, mas o encanto e a admiração nunca devem desaparecer.

O que eu mais vejo é relação de dependência. E ela pode se manifestar em diversos níveis. Pode ser desde o sentimento de dominação, à dependência afetiva, à dependência financeira, ao simples uso do companheiro como muleta de vida.

Eu devo confessar que a dominação é algo que me fascina. E já sofri muito por isso. Quase perdi tudo. Após diversas duras penas, percebi -- como tem de ser -- que amar alguém é compartilhar o prazer de estar ao lado dessa pessoa, por ela ser sua companheira e sua amante. São dois polos independentes que decidem estar juntos para fazerem companhia um ao outro.

Por outro lado, já vi casos tristes e lamentáveis de pessoas que num convívio social cotidiano, você jamais diria ou pensaria que ela iria ao fundo do poço -- e mais fundo ainda -- por um suposto amor. Isso não é amor!!! Muito menos amor passional, verdadeiro como costumam classificar essas pessoas. Isso é doença.

E disso -- dentre outras coisas -- de que trata o livro de Walter Riso. Ele é dos meus preferidos: incisivo, sincero e direto. Nada de rodeios. Nada de passar a mão na cabeça. Identifica o problema, diagnostica e propõe a solução, cabendo apenas ao paciente decidir o que fazer.


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Vira e mexe eu me lembro de algumas pessoas significativas que passaram pela minha vida. Como boa canceriana, sinto prazer em fazer isso. No entanto, é com tristeza que lembro que antes de amar alguém, você precisa se amar. Este é o cúmulo de uma frase brega, mas é a mais pura verdade. Você nunca será capaz de amar alguém plenamente, se não se amar.


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Dois videozinhos bem nada a ver um com o outro, mas que me vieram à cabeça sobre este assunto.

Bryan Ferry: eu amo este cara. Suas músicas são sempre muito belíssimas!
http://www.youtube.com/watch?v=iIUrLpvE3Rk

http://www.youtube.com/watch?v=TQQ6SfPZggw