Começo este post lembrando de mim mesma há uns vinte anos atrás. Havia uma frase que todos usavam para me descrever: "aquela que adora regar a plantinha da amizade!".
O que isso queria dizer, naquela época, em que internet ainda era um vislumbre de filmes de ficção científica? Queria dizer que as pessoas, para começar, escreviam cartas umas às outras. À mão. Folha com pauta e caneta. As pessoas usavam o telefone fixo, não havia celular. As pessoas se presenteavam com fitas K7 depois de fazer aquela coletânea especial.
Eu sempre escrevi muitas cartas. E gostava de me fazer presente na vida das pessoas de uma forma delicada e constante. Ouvia quando precisava. Mais ouvia do que falava. Quando reencontrava alguém, sempre tinha um fio para um assunto ou relembrar coisas agradáveis.
Hoje em dia?
Hoje em dia é assim: as coisas são forçadas, impostas e não há muito respeito mútuo. Ou você é amigo desde sempre ou sequer é lembrado. As pessoas têm pressa na resposta. As pessoas têm ansiedade. As pessoas têm uma necessidade de se autoafirmarem nos seus exageros. Todos parecem fazer questão de exibir uma vida como no show de Truman.
As pessoas não valorizam o tempo. Elas querem sua atenção: e quando você a dá, elas simplesmente fingem que não estão vendo. Elas têm pressa. A amizade é quase uma oportunidade para qualquer coisa que possa ser útil. Ter um "amigo" aqui, ter outro "amigo" ali.
As pessoas gostam de manter a superficialidade e os assuntos frugais que não nos toquem no nosso âmago. Todos somos felizes e vamos compartilhar essa felicidade. Todos brindam o sorriso leve e a caixa de Pandora dentro de si.
Não estou dizendo que não devemos ser assim. Longe estou de achar que tenho a verdade de alguma coisa, porque, eu já fiz isso. E me fodo geral quando ajo achando que posso ser um norte ou qualquer coisa. Não sou exemplo nem dito as regras. Não sei verdades e continuo buscando a verdade, em todas as lições, todos os dias.
O que me incomoda, atualmente, nas pessoas é essa coisa do querer beber sua essência pura, criticar, julgar, condenar. Elas fazem isso por e para si mesmas, não fazem por você. Talvez, por isso, eu ache que estejamos vivendo os tempos mais cruéis e egoístas mascarados por rostinhos doces e meigos, cheios de auras angelicais. Isso é maquiavélico...
Apesar de tudo, ainda creio na Humanidade. Mas prefiro não querer imaginar como será o futuro daqui uns anos...
Um comentário:
Ótimo tema e excelente texto. Me vi na parte das cartas, do telefone fixo e das fitas K7. Talvez por isso lembramos dessa época com tanta nostalgia: a atenção e o cuidado mútuo eram intrínsecos à amizade. Hoje é só interesse. Na verdade, a impressão que tenho é que esses "vampiros" sempre estiveram aí, com esses mesmos "rostinhos doces e meigos". Nós é que perdemos um pouco a inocência, e assim pudemos ver quem eles realmente são. Também quero pensar positivamente sobre a humanidade. Mas confesso que lá no fundo, MEDO é uma palavra bem sutil para o que sinto em relação ao futuro que nos aguarda...
Postar um comentário