Em agosto do ano passado, me foi perguntado se eu sabia como encontrar pessoas legais nos apps de relacionamentos. A Cris daquela época ainda não tinha ideia do que iria viver. Hoje, dez meses depois, já começo a tocar o significado dessa experiência.
E lá vem história...
Primeiro, foi uma mulher quase vinte anos mais velha que eu e que não me deu a oportunidade de me conhecer de verdade e concluiu que eu era uma "garota irresponsável emocionalmente" que "brinca" com os sentimentos alheios.
Depois, veio uma astróloga paulistana, e eu achei que tantas e tantas coisas em comum levariam à construção de algo sólido e duradouro.
E, nessa estrada, uma recém-moradora da capital paulistana da área de TI foi o primeiro exemplo (dos muitos que eu conheceria) sobre qual é o nível da falta de coesão e coerência eu suportaria ao conversar com alguém.
Até esse momento, eu ainda tinha me colocado aberta a relacionamentos amorosos e amizades. Então, cadastrada em três apps, mudei meus objetivos: apenas amizade.
Conheci então uma terapeuta holística e, mais uma vez, minhas esperanças de conexão maior — para amizade, apenas (da minha parte) — tiveram de aprender algo muito cruel que me parecia inconcebível à época: como uma terapeuta pode ter certas atitudes incompatíveis com a profissão?
Nisso, eu já conversava e tinha me encontrado com uma mulher que, a princípio, queria apenas me conhecer para manter um relacionamento aberto com ela (que é casada). Essa novidade (para mim, porque é extremamente comum em nossa sociedade) me causou um misto de susto com realidade. Amizade apenas. Claro. Até então, ela foi a única pessoa que conheci pessoalmente — algo que ainda quero muito (mas hoje menos).
Também conheci uma moça do RS que estava traumatizada pelo fim de um relacionamento tóxico vivido, o que a tornou uma cética a respeito do caráter das lésbicas.
Claro que nesse ínterim, muitos contatos superficiais que não foram adiante, tornando-se fantasmas na lista de pessoas que não vingam e que a gente dá unmatch ou simplesmente bloqueia.
No último mês do ano passado, conheci mais duas mulheres.
A primeira foi a advogada. Após estar ciente de que eu queria apenas amizade, trocamos muitas mensagens. Nos encontramos. No primeiro encontro tudo parecia caminhar fluidamente e embora eu tenha notado certas red flags (nunca as ignore!), o segundo encontrou mostrou ao que ela tinha vindo fazer em minha vida: me mostrar como é viver o pior date da vida.
Também conheci outra terapeuta holística que apesar de se mostrar espiritualizada e mais coerente, não estava preparada para o mínimo da troca necessária e educada que precisa existir em pessoas que estão se conhecendo.
Ainda nesse ínterim, conheci algumas moças recém-saídas de relacionamento que iam direto pro Instagram e lá ficavam, como um lembrete de que um dia houve uma conexão que se apagou tão rápido quanto acender um fósforo.
A segunda foi uma mulher incomum que conseguiu reconectar neurônios desativados em meu cérebro. Até aquele momento, crente na ciência de que eu saberia conduzir a amizade, fiz tudo que achei que deveria ter feito.
Já em 2024, conheci uma segunda advogada com quem tinha algumas semelhanças. Porém, as red flags balançaram até, umas duas semanas depois, ela finalizar o contato — algo que eu acabaria fazendo.
Também conheci uma estudante de Psicologia que tinha viajado pelo Brasil inteiro (o que agora me parece óbvio que ela estava mentindo!), trabalhava em três empregos e que começou a me dar aulas de Jung quando foi contrariada.
Conheci uma outra astróloga e terapeuta que parecia super empolgada para trocar ideias mas que desapareceu no limbo das mensagens não respondidas dias depois.
O cenário me fez cada vez mais restringir o meu já restrito perfil: descrição longa, filtros específicos. O resultado não foi melhor nem pior. Ele apenas mudou as caras.
Recentemente tive contato com uma mulher também saída de um relacionamento longo. E eis que me vi diante de um novo (mas não tão novo assim...) cenário: o de ser terapeuta apenas.
E, no meio disso tudo, algumas mulheres hetero começaram a me adicionar. Acreditei que seria uma alternativa interessante, afinal, a maior parte das minhas amigas é hetero.
Resultado?
Aparentemente, uma delas queria apenas sexo casual comigo.
As outras duas se encontram em situação de "ponto de interrogação" em curso.
E não posso esquecer de citar o caso de uma garota hetero muito gentil mas de quem sequer sei o nome completo. Apesar de conversar há longos meses, a sensação de ter falado muito de mim e saber quase nada dela pode ser o retrato de quantas anda os relacionamentos sociais de amizade.
Daria para escrever um livro abordando todas as nuances que gostaria de abordar. Mesmo um post, talvez eu escreva "uma série de posts" rs. Talvez.
O que vou escrever agora é o que aprendi pessoalmente com tudo isso que vivi e ainda estou vivendo.
1) Somos apressados em julgar ou ser julgados.
O nível de desconfiança entre os seres humanos só aumenta. E essa neurose coletiva não permite que as pessoas consigam ter discernimento. Qualquer mínimo detalhe que desagrade já é motivo para excluir e bloquear uma pessoa. Obviamente, o nível de tolerância é muito pessoal e também não dá para usar a própria medida para outra pessoa.
2) Maturidade emocional não tem nada a ver com idade.
Quando eu tinha 20 anos, tinha a crença de que pessoas mais velhas são mais sábias. Isso é uma imposição da sociedade que faz a gente respeitar os idosos pelos motivos errados. Pessoas "de idade" podem ser mais sábias? Claro. Mas essa é uma afirmação que exige muitas exceções. Uma coisa não deveria estar associada a outra. Nessa linha de raciocínio, muitas mulheres "só se relacionam" com outras mulheres mais velhas por causa disso. Maturidade emocional tem a ver com a capacidade pessoal e intrínseca de cada de um de se desnudar, ser humilde, aprender e transformar-se.
3) Profissões consideradas chiques pela sociedade (advogado, psicológo, terapeuta) não são indicativo de que a pessoa é de confiança. Bem como o grau de espiritualidade dela.
4) Compatibilidade astrológica, no caso dos apps, não é indicativo de que um contato será frutífero. Mas sempre pode ser levado em consideração.
5) Trocar Instagram ou número de whatsapp após algumas mensagens não quer dizer nada. Absolutamente nada. Nem se vai dar certo, nem se não vai dar. Essa associação é totalmente equivocada.
6) O grau de ansiedade das pessoas já passou do tolerável. É uma doença generalizada, não tratada e pior: as pessoas nem tem consciência de que estão doentes.
Eu não me excluo desse rol. No entanto, a ansiedade por saber como será o futuro daqui a dois dias impede as pessoas de aproveitarem o presente e construírem o alicerce. Bases sólidas não são conseguidas com atração explosiva na primeira frase. E isso vale para paixões avassaladoras.
7) As mulheres acreditam que uma dor de amor se cura com outro amor.
As pessoas deveriam dedicar um mínimo de tempo sabático após um evento traumático em suas vidas. Seja fazendo terapia, seja entendendo o que é a dor de uma solidão pós-término. Existem inúmeros recursos para isso o que deveria ser menos escolhido é se cadastrar em um app de relacionamentos achando que para curar uma dor de amor, basta outro. Isso é letra de música sertaneja.
8) Tenha consciência do seu nível pessoal de expectativas.
Uma coisa é ter parâmetros, outra é esperar que alguém se encaixe em sua vida como uma luva só porque você gosta da cor da luva. Embora vivamos numa sociedade descartável, as pessoas não são itens descartáveis. Ghosting é o suprassumo da imaturidade emocional. Aprecie quem responde mensagens que mostram algum nível de reflexão. Como você deve desconfiar de quem está 24 horas do dia disponível para responder mensagens e respondendo-as na hora que elas chegam.
9) Coesão e coerência não servem apenas para estudante de Letras.
As pessoas dizem uma coisa e fazem outra e nem se dão conta disso. Trata-se do inconsciente lutando ferozmente para trazer lucidez. Mas quem, do lado de fora, prestar atenção a isso, terá em suas mãos uma poderosa ferramenta. Isso vale para qualquer setor da vida pessoal, e nos mostra não apenas o nível de autoconhecimento como pode até indicar desvios de caráter.
10) Não ignore as red flags. Elas existem por um motivo.
Eu tenho a resposta de tudo? Não.
Tanto por não ter, que ainda não consegui construir uma relação que considere a ideal para mim. No entanto, ao começar a aprofundar amizade com uma moça (temos uma amiga em comum), eu comecei a ter o contraponto necessário para conseguir compreender profundamente os apps, afinal, eu e ela não nos conhecemos por eles.
Eu já afirmei, erroneamente, que a culpa dessas experiências que eu vivi é o app. Na verdade, não há culpados. A escolha desse meio me permitiu viver uma série de situações que ampliaram minha consciência. Depurei ainda mais as sujeiras que estavam incorporadas em minha forma de pensar. Entendi ainda mais o que é o "ser humano" e, por consequência, me autoconheci ainda mais.
Embora para quem leia, a linha do tempo descrevendo a breve história que vivi com as mulheres que eu conheci não seja óbvia, mas para mim está mais do que claro, tão claro quanto água pura: estou aprendendo — muito. Me burilando, me lapidando. Aonde chegarei com isso? Não sei. Mas estou confiando no processo.
E até um próximo post!