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Feliz ano velho

 E, num bater de asas de uma borboleta, este ano praticamente se foi.

Como sempre faço (não apenas na retrospectiva, mas como hábito que seguirá comigo até o último suspiro de minha vida), estou reflexiva. Pensativa. Pesando prós e contras. Vendo onde valeu a pena. Vendo onde eu errei, de novo. Me lembrando das promessas de começo de ano e o quanto eu consegui cumprir e o quanto eu falhei.

O balanço?

Bem, a gente planeja as coisas como se tudo seguisse um fluxo de raciocínio comum. É impossível prever as surpresas, nem mapa de previsões ou tarô são capazes de fazer isso. Nessas horas, estamos suscetíveis ao acaso, ao destino... ao que você quiser dar nome.

Com o tempo, percebemos que quanto mais nos acostumamos às surpresas da vida, quanto mais aprendemos a ter jogo de cintura, a relevar, a perdoar, a aceitar, a entender e a brigar onde é preciso... podemos dizer que alguém alcançou mais um nível de maturidade.

Pois acredito que maturidade seja isso: ter as rédeas da vida na mão, saber conduzir nossos cavalos, e saber continuar tocando a vida mesmo que não tenhamos mais as rédeas, uma roda se soltou, sua bunda tá cheia de calos pelos buracos da estrada.

Este ano não foi fácil. Não me recordo de um "ano simples" há mais de uma década em minha vida. Tenho bons momentos, mas esta longa estrada da vida (acompanhando meus trânsitos astrológicos) é um constante teste para saber se a minha fé em mim mesma continua firme e indiscutível. E, neste ano, eu tive provas de que sim, acho que cresci e amadureci mais um pouco. Larguei para trás os fardos da culpa e da mágoa.

No entanto, vivi mais um desafio único e inédito. E entendo que tudo que vivi até hoje me preparou para poder vivê-lo. Pois, precisei de foco, coragem, fé, humildade, resiliência e bons amigos.

Essa situação me mostrou algo muito claro: quanto menos resistência você faz com as coisas que você não quer em sua vida, mais rápido elas vão embora e menos você vai sofrer. Mas para aprender uma lição aparentemente "simples" como essa, eu tive de viver por mais de dez anos (citados acima) com dores iguais, mágoas iguais. Caso contrário, certamente, eu teria mais um carma para cumprir nesta vida. 

Não há receita mágica nem secreta para isso além disto: autoconhecer-se.

O autoconhecimento, além de matéria-prima para todos os livros de autoajuda, é uma das verdades mais imutáveis de nossa existência. Quanto mais nos conhecemos, nossas qualidades e nossos defeitos, mais podemos nos lapidar. Outra velha metáfora.

Tenho conversado sobre isso com algumas pessoas próximas a mim. E fico feliz por saber que compartilhamos de um mesmo conceito geral de que, sem se autoconhecer, não há muito para onde ir a não ser o lugar-comum dos erros e reclamações.

Não sei o que me espera em 2023. Mas sei que sem vocês - Denise, Manu, Renata, Aline, Lari, Maria Helena, Claudia, Nilce e Tamires (e outras duas pessoas que se despediram de mim e não irei mencioná-las aqui, já que elas decidiram terminar a amizade comigo) - este ano teria sido muito mais perigoso e difícil. Obrigada a cada uma de vocês pela amizade.

A todos nós, que mesmo na dificuldade, saibamos ouvir, compartilhar e falar. Pedir, se for necessário. E que 2023 traga muita saúde e luz!

Repetição

 Acho que tem um assunto que ainda não falei por aqui.

E não falar dele é como falhar em assumir uma das coisas que mais fazemos desde quando respiramos o nosso primeiro ar fora da barriga da mãe: repetir.

Repetimos atitudes que nos façam alcançar um objetivo. Que vai desde a sobrevivência, a uma simples teimosia, para realizar um desejo. Acho que a nossa vida inteira é um ato de repetição.

Repetição é rotina, diriam alguns. Repetição não é algo ruim, diriam outros. Verdade. Mas quem de nós sabe usar a boa repetição para viver? Quem de nós sabe repetir o que é saudável repetir e excluir a repetição que afeta a nossa boa saúde física e, principalmente, a mental?

Todos nós precisamos da rotina. A rotina é uma repetição forçada da nossa existência que vai se alterando conforme a nossa idade e o contexto ao nosso redor. Não gostamos de surpresas constantes, de altos e baixos. Não gostamos de ser surpreendidos e poucos de nós sabem lidar com o inusitado.

Outros já precisam tanto da rotina que não saem dela. E quanto mais a idade avança, mais ficamos enraizados nela. Cumprir uma rotina se torna não apenas um ato robótico mas uma certeza de que não é preciso mais assegurar a sobrevivência em um desafio diária caótica e estressante.

Este ano completei 45 anos. Uma idade que, quando eu tinha 30, imaginava de outra forma. Quinze anos atrás, a minha perspectiva passava por muitos fatores, menos a ideia de que a repetição se tornaria a característica mais marcante. E, não, não se trata de uma repetição positiva, mas tão maléfica quase a ponto de me matar.

E eis que, hoje, me veio essa ideia, tão forte quanto um insight e tão fraca quanto um pensamento que se esvai cinco segundos depois. Os livros de autoajuda estão aí para dar todos os termos que você quiser, acredito que o assunto nunca se esgotará porque se trata de algo crucial no ser humano.

Eu me lembrei de um curso esotérico que eu participei, uns anos atrás. Engraçado que a coisa que mais me incomodou, por incrível que pareça, foi a repetição. Me incomodava, aula após aula, continuar falando da mesma coisa. Eu não entendia aquilo. Achava que era por causa dos "idosos" da turma que tinha dificuldade para aprender as coisas.

RINDO.

LEDO ENGANO.

Os mestres espirituais não são mestres porque acham a alcunha bonita. Eles são porque já passaram por isso e sabem exatamente o que precisamos aprender. E a repetição é uma delas. Só aprendemos na repetição. Repetindo continuamente sem perceber o algo que está claro na nossa cara. E a repetição traz a mesma informação vestida de diferentes formas para que possamos percebê-la. E, mesmo assim, demoramos... ou nunca percebemos. Precisamos perder tudo, precisamos quase morrer, precisamos de um golpe de dor tão dilacerante para abrir os olhos. E, mesmo assim, ainda podemos não abrir. Sim, somos criaturas lindas, mas cegas e muito limitadas ainda.

Então, aqui, quase fechando as portas de 2022, este ano cheio de desafios únicos, conquistas únicas e experiências únicas, apenas assumo, humildemente, que mesmo tendo vivido boa parte da minha vida em um looping de repetição continuamente fazendo péssimas escolhas, eu acredito que posso aprender a escolher melhor, escolher boas repetições. Até não precisar mais repetir e criar novos hábitos.

Espero que 2023 seja bom assim para todos vocês, também!