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Eu me fiz uma pergunta, aparentemente sem resposta. Porque, pretensiosamente, intuía saber todas as respostas. E sabemos que a falta de humildade é sempre castigada com mais perda e desilusão.

Eu nunca soube a resposta. Mas eu sabia que não podia fugir de quem eu realmente era. Longe dos holofotes que tanto me agradam, eu sempre fui uma pessoa introspectiva. Silenciosa. Observadora das pessoas e das vidas.

De certa forma, de alguns anos para cá, eu tinha perdido isso. Talvez por ter mergulhado demais a fundo e sempre enfiando a brasa quente na ferida aberta, eu tenha me cansado um pouco disso. Graças ao Kronos Quartet, devo dizer que estou me sentindo viva novamente.

Assim, peguei minhas trilhas favoritas para fazer qualquer ser humano se despir de superficialidade, tal qual eu estava vestida: Philip Glass; Angelo Badalamenti (e suas obras-primas compostas em parceria com David Lynch); Kronos Quartet; The Division Bell, do Pink Floyd; The Four Seasons, de Vivaldi; réquiems e árias isoladas de Bach; todos os adágios de Tommaso Albinoni.

E estou me sentindo amparada, de uma estranha e suave forma, como pouquíssimos amigos conseguiram me amparar.
Sim, eu gosto dos movimentos lentos, da quase mesmice do Barroco, da repetição de Philip Glass. Se alguns chamarem meu gosto de “carne de pescoço”, eu digo: Arte é e será sempre Arte. Gosto não se discute.

Eis que então, folheando o encarte da trilha sonora de The hours, encontrei um breve texto do autor Michael Cunningham, autor do livro que inspirou o filme. Trecho divino, que reproduzo aqui:

“Nós, humanos, somos criaturas que nos repetimos, e se nos recusarmos a abraçar a repetição – se empacarmos diante da arte que busca enaltecer suas texturas e ritmos, suas infindáveis variações sutis – estaremos ignorando muito do significado que damos à própria vida.”

E termino: estou pronta para pular em mim, novamente. Sem medo do que encontrar, sem medo de ir até o fundo. Sem medo de voltar, e ser eu mesma e algo mais.

ps: vou me programar para muito em breve rever Mulholland dr., The hours e Requiem for a dream no mesmo dia, de uma só vez.

Eterna angústia (ou a pergunta que não quer calar)

Me ponho para ouvir três trilhas sonoras que há muito tempo não ouvia: Requiem for a dream, The hours e Mulholland dr. Se vocês já viram algum desses filmes e já tiveram a oportunidade de escutar algumas dessas canções saberão que, elas reunidas juntas, formam um belo panteão da dor e da angústia.

Eu sempre tive uma característica: introspecção. E acho que a tinha guardado demais para satisfazer a demanda dos extremos otimistas que não compreendem o que é sentir angústia! Eu comecei a fugir dos filmes dramáticos – mesmo depois de tê-los vistos todos – achando, ingenuamente, que conseguiria apagar a marca indelével deixada em mim.

Sinto que desde que assisti a Into the wild, essa centelha voltou a coçar dentro da minha mente. Algo começou a ser criado e eu nem sabia exatamente o que era. Maldito Christopher McCandless…

Comecei a ler o livro (que deu origem ao filme) e muito embora ainda acredite que ela seja o relato de um psicopata, eu me reconheci em muitos de seus questionamentos. Esses, que faço todos os dias, sem saber porquê, mas faço.

Acho que cada um de nós vive seus momentos de dor e angústia, isso não é privilégio de alguns poucos azarados. A questão é: o modo como cada de um de nós vive essa onda de intensidade que nos atinge, nos deixando sem apoio, sem rumo, em total desamparo.

Uns muitos se refugiam em vícios, que vão desde um cigarro, a uma bebida, a uma mania. Ao excesso de amor ou ao excesso de trabalho. Ao excesso de esporte ou ao excesso de controle. Tudo que é excessivo e, consequentemente, cancerígeno. Da mente, do corpo ou da alma.

A minha fase angustiosa voltou. Na verdade, depois que você abre os olhos, é ingênuo achar que poderá voltar a fechá-los. Mais ingênuo ainda é pensar que será fácil conviver com essa “suposta sabedoria” em uma sociedade como a nossa. Não é!

O que resta, então, para uma pessoa, marionete de mim, sobre mim e em mim mesma? Não bebo nem fumo. Não tenho mais vícios. Não sou covarde pra distribuir minhas dores aos meus amigos que tanto e tanto já me ajudaram. Eles estão sofrendo também. Escrever? Praguejar? Recorrer a uma religião?

Eu acho que, por ora, não tenho resposta. O que me serve de companhia são essas trilhas sonoras. É lembrar que um dia seus sonhos morrem, e por mais que você construa outros sonhos, a lembrança doída da sua primeira frustração nunca se apagará. Talvez eu esteja sendo a maior de todas as egoístas… mas se eu não puder compreender isso em mim, como vou viver para o mundo? Fica então a questão: conseguirei compreender isso um dia?

Se esta escolha que eu já fiz um dia, tiver de ser refeita, farei. Mesmo sem a certeza de outrora. Mesmo com a dor e a angústia de agora. O céu azul ou a noite que fizer lá fora, ainda será o bálsamo. A Natureza.