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A fonte da inspiração

A querida Alice do blogue Alice's Adventures in Lesboland me perguntou de onde vem a inspiração para eu escrever todos os dias, já que está em bloqueio criativo. Pensei em postar a resposta via twitter, mas achei inapropriado e resolvi criar um post próprio com o tema, por tocar um ponto muito específico em minha vida.

Algo parecido com isso ficou martelando na minha cabeça quando a não menos querida Gabi do blogue De profundis postou essa pequena homenagem para mim, descrevendo -- com a velha precisão sem adjetivos pomposos -- o que achava do meu blogue e o que achava do ato de blogar em si. Devo dizer que criei um blogue por causa dela, já que -- naquela época -- era o único blogue que lia diariamente.

Eu me lembro exatamente do dia em que criei meu blogue, das vezes que mudei seu layout até aprender a mexer, até achar o ponto certo, até achar meu próprio tom. Eu lembro que queria apenas uma coisa: exorcizar meus demônios e combater a minha solidão. Pois 2008 foi um ano de mudanças que não pararam de acontecer até agora. Em 2009 eu estava no auge da solidão diária. Resolvi escolher uma saída diferente e não me arrependo dela até hoje, pois este blogue que vos fala está para completar dois anos de idade!

Naquela época, confesso, tinha certa aversão por blogues e por esse lance de ficar falando da vida pessoal num diário aberto. Blogue não seria isso? Falar o que vir à cabeça (o que pode ser um monte de coisa boa ou um monte de merda) e ter pessoas que gostem de ler isso. Bem... pode ser para algumas pessoas, mas não para mim. Talvez, concorde em um único ponto, e esse mesmo ponto pode ser a resposta para a pergunta da inspiração da Alice: o que vem do coração só pode ser honesto.

Minha coluna no Parada Lésbica não deu certo porque eu tinha que escrever sobre futebol todas as vezes. Isso pode ser bom para quem é jornalista esportivo ou amante aficcionado, mas não para mim. Eu gosto mas nem tanto para escrever assim. E as pessoas começaram a exigir sobre outros temas, que demandariam pesquisa e que eu estivesse constantemente antenada no assunto. Não sou jornalista, não tenho vocação para isso! Portanto, eu não tinha saco pra escrever, não tinha ideias nem inspiração para imaginar o que poderia/deveria escrever. Ainda mais com um público ávido por um texto que seria dissecado e criticado depois.

Eu até pensei em escrever uma coluna sobre Astrologia para o PL... mas nem essa ideia deu certo. O estilo exigido era aquilo que vemos em alguns perfis do twitter (os horóscopos e astrólogos twitteiros). Não. Descobri que nem assim eu seria feliz, porque esse não é o meu perfil. Não sei escrever humor num assunto que considero tão sério e profundo como é a Astrologia para mim. Não consigo falar mal de signos (e olha que já fiz muito isso!) porque somos todos eles e somos nenhum deles. Infelizmente e de fato: não nasci para ser humorista.

Então, perceba, que todas as vezes que surge a necessidade da obrigação a coisa travava, ao menos para mim. O que flui neste blogue? Querida Alice, não sei, viu? Eu sei que escrevo sobre aquilo que mais gosto, do fundo da minha alma, sem máscara nenhuma. Aí eu estou diante de um mar infinito e mais do que infinito de possibilidades. Blogar, para mim, ainda tem algumas regras, como não ficar falando tantas amenidades diárias. Acho importante um propósito. Mesmo que o leitor nem saiba, um objetivo maior construído me parece mais digno de um blogue de verdade. E isso não transparece num post, mas num continuum de posts. Viajando? Pode ser... mas na minha cabeça isso é claro.

Acho que tendo essas coisas em mente e -- principalmente -- sem se sentir presa, Alice, é possível sim ter ideias diárias sem ser redundante ou pedante. Eu foco nessas coisas: manter meu estilo, sem copiar de ninguém. Estilo pessoal de texto me pareceu sempre crucial para chamar a atenção dos leitores. Ser leve e profunda. Escrever com o coração. E ser sempre você mesma, nunca se deixar influenciar pelo que os leitores querem ler, porque você fica escravo dos outros, não daquilo que você defende. Isso, claro, serve para mim.

E, se nada disso adiantar, sem essa de se jogar na praia ou morrer na pia (como uma amiga minha acabou de me dizer por msn). Tem algo que tenho feito e, confesso, tem me ajudado a expandir a mente criativa: meditação. O grande David Lynch diz isso em seu livro  Em águas profundas - criatividade e meditação. Pois é incrível o que a meditação faz com você quando é praticada diariamente...