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Sobre alguns sonhos

Tenho alguns sonhos recorrentes. De tempos em tempos, eles tomam formas diferentes, mas o significado parece continuar o mesmo: um medo inexorável de voltar ao passado e estar presa nele, sem saída!

Vou perguntar à minha amiga Dra. Cláudia Bertrani o que isso poderia significar. Eu tenho a minha interpretação, até. Mas deixarei aos leitores do blogue para tirar suas próprias conclusões... (se quiserem, claro), depois de compartilhar alguns sonhos.

Alguns anos atrás, eu sempre sonhava que estava no Japão (para quem não sabe, eu trabalhei por lá de abril de 1996 a novembro de 1997, um período novo e muito difícil na minha vida). Do nada, puf: estava lá. Presa a um local (cuja saída se dá "apenas" por avião), sem conhecer ninguém, sem saber o que fazer, preocupada em arranjar um trabalho para não passar fome (coisas que, de certa forma, me afligiram enquanto estive lá). Uma aflição me atingia de tal forma que entrava em desespero.

Também sonho que estou de volta a empregos antigos. A sensação rançosa e meio amarga de estar de volta a um ambiente que, no seu sonho, parece apenas refletir as coisas difíceis que você passou na vida real. Aqui chamado de antigo emprego 1: o meu primeiro emprego sério desde que voltei ao Brasil, então você imagina as lembranças que ficaram em mim, ainda mais depois de ter trabalhado por 7 anos lá.

Sempre me vejo transportada para lá, tentando me readaptar ao local, tentando conhecer o que está sendo produzido, tentando conhecer as pessoas e sentindo uma hostilidade incrível, como se fosse odiada. Eu penso que deveria estar no Rio de Janeiro e não no cu de São Paulo. Eu falo com as pessoas que eu conheço e que ainda trabalham lá, peço ajuda, mas tudo soa falso.

E eu também sonho, eventualmente, que estou de volta à FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo). Estou de volta àqueles corredores cheirando a velho e ranço humano. Preocupada em terminar minha última matéria, contar créditos e me formar (para quem conhece o esquema da USP, você monta a sua própria grade curricular, depois de cursar as matérias obrigatórias). E sempre no último semestre, presa novamente a uma realidade que não mais me pertence desde 2007, mas que retoma suas caras como se fosse agora.

Aí eu penso: o que seriam esses sonhos que, de tempos em tempos, retomam as minhas lembranças e me fazem acordar com gosto de guarda-chuva na boca. Um guarda-chuva metafórico que eu sei o que essencialmente quer dizer: não quero voltar ao Japão para trabalhar, não quero voltar ao antigo emprego, não quero estudar mais na USP. Os caminhos e rumos que minha vida tomará serão bem diferentes. Mas ainda assim, queria saber, do ponto de vista psicanalítico, o que significa. O que seria?