Faz um tempão que ando pensando sobre cigarros e sobre fumantes, muito antes mesmo desse lance da lei antifumo entrar em vigor.
Primeiro porque sou ex-fumante. E fumei por mais de dez anos. E comecei a fumar nos longínquos de 1996, quando morava no Japão. Então, me deixem contar uma história.
Tava eu, um dia, puta da vida com rotina de trabalho maçante, quando passei mal (única vez) e voltei pra casa mais cedo. Me senti melhor, mas sabia que a minha doença era psicológica-psicossomática e queria voltar pro Brasil o mais rápido possível. Fui dar uma volta na rua e lá, ao contrário de qualquer ideia que a gente possa ter do Brasil, é um país civilizado. É um país de primeiro mundo.
Parei numa máquina (tipo essas de refrigerante que apenas hoje vemos por aqui e não é em qualquer lugar) de cigarros. Escolhi o mais fraco, um Cabin de 2mg. E fumei meu primeiro cigarro.
Passei um ano depois mantendo meu hábito de fumar 1 a 2 cigarros por dia, dependendo do nível de estresse. Hábito esse que se manteve ao longo de todos os anos seguintes. Parei e voltei várias vezes.
Quando voltei, trinha trazido uns maços comigo, que infelizmente acabaram. Tentei encontrar um substituto, mas quem disse que encontrei? Quem teve o privilégio de fumar um cigarro importado, vai perfeitamente entender que os cigarros do Brasil me parecem uma mistura de naftalina moída, estrume e capim do mato. (Aliás, qualquer coisa no Brasil é de baixíssima qualidade, infelizmente, incluindo frutas e legumes que ficam pra nosso consumo interno)
Na época, meus substitutos foram o Carlton Cinza. Depois experimentei Luck Strike Normal e Light, Marlboro Normal e Light, Free Normal e Light, Charm (um dos melhores, mas também um dos mais caros). Até Minister, eu fumei. Mas nenhum desses chegou perto do sabor do cigarro japonês.
Um dia, ganhei de presente de um amigo, alguns cigarros mexicanos, com um engraçado design cujo filtro era xadrez. Foi a primeira vez que senti o sabor de um bom cigarro!!! Comecei a caçar cigarros importados pra comprar e nada. Os caras diziam que era proibido vender cigarro importado. Pfff. Devia ser algum cartel.
Foi quando experimentei Kent. Os três tipos que tinha na época. Com filtro de carvão ativado, foi o melhor cigarro que fumei aqui no Brasil. Era tão bom, que ninguém comprava e eles pararam de fabricar em 2007 se não me engano.
Parti para as cigarrilhas e descobri várias interessantes. As clássicas Café Créme, Dona Flor e a melhor nacional Macbeth. Elas substituíram o cigarro muito bem, apesar de serem megafortes.
Mas aí chegou 2008 e eu fui parando... parando. Nunca fumei mais de dois maços por mês. Mas meu pulmão tava me dando uns chiados e uma falta de ar incrível. Decidi parar de vez e parei em 2008.
Agora, nada contra os fumantes, mas tenho adorado demais a lei antifumo. Porque não somos um país de primeiro mundo, porque nosso povo não é civilizado. A coisa mais incrível que eu via no Japão -- e olha que japonês fuma pra caralho -- era o respeito. Havia os fumódromos, devidamente equipados e todos ficavam lá dentro. Nas ruas, não nunca vi uma única bituca de cigarro no chão. Nunca vi! Ninguém nunca baforou na minha cara.
Por aqui, minha última péssima experiência foi o show da Isabella Taviani em que fumei três maços passivamente. Um horror! Esta lei vem beneficiar agora pessoas como eu, em ambientes como aquele onde estava.
A questão não é a discussão acalorada e sem fundamento do cigarro faz mal à saúde. Quem é viciado, sabe disso e não se importa nem um pouco. A questão é que o fumante precisa entender que quem não gosta, tem o direito absoluto de não aceitar fumaça em determinados locais de uso comum. Isso é o mínimo da democracia. Se ao menos os cigarros fossem bons, mas são apenas estrumes enrolados em papel, com sabor de naftalina e inseticida. Se os fumantes gostam, beleza. Mas muita gente não gosta. E eu devo confessar que ultimamente ando com uma total intolerância contra Dallas, Eight e os Campeão da vida!