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Bruna Surfistinha - o filme

Não nego: estava muito curiosa. Assim como imaginam que muitos devam estar. Não sei se você se encaixa no perfil do espectador que leu o livro. Se sim, melhor. Se não, ainda assim conseguirá assistir à história da garota de programa mais famosa do Brasil.

O filme (e o livro) não são apologias ao fato de ser "sobre uma garota de programa". Mas desde que somos humanos, sexo é sexo e sexo sempre chama a atenção, a nossa curiosidade, o nosso desejo de saber mais e de fazê-lo. Quem nega? Pessoas enrustidas, talvez. Pessoas que não se conheçam o suficiente, talvez. Pessoas essas que ficaram, por exemplo, no cinema, rindo sem parar o filme inteiro. O filme era comédia? Não, pode apostar que não era.

Mas assim são as pessoas. Elas riem daquilo que as incomoda ou daquilo que elas não compreendem. Em certos casos, elas podem partir para a agressão (comparação infeliz, o ataque aos homossexuais na Avenida Paulista, em São Paulo). Em outros, elas tiram sarro. Assim como tiraram sarro de mim durante a minha adolescência inteira pelo simples fato de eu ser japonesa. Não acreditam nisso? Para mim, a comparação é fundamentada e válida: as pessoas tiram sarro e riem daquilo que elas desconhecem e não compreendem, mesmo com um mínimo esforço.

Eu poderia resumir dessa forma a sessão de sexta-feira para ver Bruna Surfistinha. Contudo, seria reduzir demais um filme a isso apenas, mesmo tendo experimentado um cinema lotado numa sessão das 15h (público mais variado impossível, desde senhores, senhoras, mulheres, homens, adolescentes), uma mulher ao meu lado com suor cheirando a cebola, o fundão cheio das pessoas rindo o tempo todo. Não vou reduzir a isso, porque o filme merece muito mais.

Na época do lançamento, lembro que fui uma das primeiras a comprar o livro, numa vaquinha com minha amiga de trabalho. Devoramos o livro. Emprestamos para um monte de gente. E eu o reli, depois. Um filme nunca é como o livro e este caso não é diferente. Porém -- e crucial -- na minha modesta opinião, foram as alterações feitas no roteiro. Alterações essa que deixaram o texto humano, quase como uma interpretação da vida de Bruna Surfistinha, sob os olhos de Raquel Pacheco. Pequenas alterações foram feitas... alterações que deram um sentido ao filme -- que não apenas o diário de uma garota de programa.

Você pode gostar do filme, como pode odiá-lo. Gosto é gosto e conheço gente que consegue odiar o filme Cisne Negro, por que não odiariam este filme? Fora esta comparação tosca (que me veio à cabeça enquanto escrevo este texto) queria apenas dizer que o filme me tirou lágrimas. Sim. E querem saber por quê? Pela humanização dada a um personagem que aos olhos de todo mundo é um mero objeto sexual. Para nós, espectadores e juízes da vida humana alheia, podemos apontar o dedo para Bruna Surfistinha e dizer tudo o que pode ser dito a uma menina que escolhe ser garota de programa. Estamos no direito, não estamos?

O filme mostra (e entende isso quem quer) que somos seres humanos, fazendo escolhas constantes, assumindo consequências, errando, aprendendo, errando, acertando. E mostra que, ao fim (como foi na vida real), podemos escolher uma vida diferente, talvez pior, talvez melhor. Mas: diferente. É uma excelente parábola, da qual, a maiora parece apenas querer rir, porque é facil rir daqueles que se assumem como são, seja o que isso for. E podemos, depois, ir para casa, zombando da "prostituta que ganhou dinheiro e fez filme", porque é mais fácil concluir assim. 

Veja você o filme e me diga o que acha. Só espero apenas que não tenha um mero olhar raso de crítico enciclopédico de cinema e de espectador zombador da vida alheia. Que tal tentar o diferente, também, ao ver este filme?

Em tempo: o filme foi muito bem conduzido, na minha modesta opinião. Destaco sempre a Fabíula Nascimento (personagem feminino central do filme Estômago). Ela é fantástica, simplesmente. E o desfecho do filme com Fake Plastic Trees (que me fez entender porque o Radiohead viu a premiere gringa) tirou lágrimas dos meus olhos.