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Outro dia qualquer...

capítulo sem data. cenário: metrô de SP: 18h50.

Entro na estação Vila Madalena. Triste dizer isso, mas a maior parte das pessoas que frequenta a linha verde tem menos cara de povão do que o pessoal da linha azul e, principalmente, da linha vermelha. Entro, aproveito o trem novo, curto o ar-condicionado, sento nos solitários (porém perfeitos) bancos de um e observo ao meu redor, compenetrada no Bon Jovi que toca no meu mp3.

Na minha frente, tem um cara grandão, com uma barba bem cheia, lendo um livro de 500 páginas, com a capa caindo, de tanto que foi manuseado. Logo a seguir, um mocinho magrinho, com cara de fflechiano (pra quem não sabe, estudante de alguma coisa da FFLCH-USP) senta exatamente na minha frente, banco de cor azul reservado para pessoas com condições especiais. Lendo. E detalhe: com tampa ouvidos, igual daqueles caras que trabalham em metalúrgica ou terminais rodoviários.

Isso me chamou a atenção. Ele queria ler e, como eu, não gosta dos sons da cidade, porque não são sons, são manifestações guturais do extremo animalesco a que nós -- os grandes seres humanos -- conseguimos chegar. Esses sons não são inspiradores, são incomodadores. Fui com a cara dele e do barbudão. Ambos liam entretedidamente, alheios a qualquer coisa a seu redor.

De repente, o banco mais próximo a mim vaga. O menino fflecchiano levanta os olhos. Antes de trocar de banco, vira o rosto para tentar descobrir o que o barbudão lia. Viu. Não teve reação. Trocou de banco. Sentou. Continuou a ler.

Nisso, as estações iam passando, o metrô lotado. Na hora de descer, vejo novamente o barbudão olhando se era hora de descer. Era. Mas antes disso, ele para para o menino da fflch e vira a cabeça para ver o que ele estava lendo. Sem reação. Desceu.

Enquanto isso, as pessoas continuavam alheias. Umas comendo, outras com ar perdido, outras conversando em voz altíssima. Eu e meus olhos presenciamos uma conversa entre estranhos, silenciosa, literária, semi-invejosa da leitura alheia e divertidíssima.