Hoje eu fui tomada por um sentimento atípico que há muito não sentia. Não assim.
Ao longo do dia, não consegui refletir a respeito do
que seria essa sensação...
Mas, agora, à noite, observando a cidade sob um frio
tardio de inverno, eu senti o aroma das flores do pé de jabuticaba que minha
mãe plantou.
Eu queria ficar em silêncio.
Queria sentir o silêncio.
Queria me alimentar do silêncio.
Estar e continuar só sem me sentir solitária.
E eu me lembrei de, há muitas décadas atrás, olhar para a noite e me sentir assim...
E hoje.
Entender que algumas coisas precisam mudar e morrer.
Enquanto outras mudam e ainda continuam as mesmas.
Ter a sabedoria para discernir essa tênue linha que
separa passado, presente e futuro.
Ter a humildade para aceitar e perdoar o eu do passado
que ainda continua convivendo em nossas lembranças com o nosso eu de agora.
Abraçar todas as nossas várias pessoas que fizeram
coisas de que nos envergonhamos.
Esse único e poderoso encontro que acontece e poucas
vezes nos damos conta.
E eu fiquei observando a cidade silenciosa. Imaginando o que as pessoas estariam fazendo em suas casas. Procurando estrelas em uma cidade iluminada que não deixa mais que as vejamos.
Sentindo o vento gélido e o silêncio...
Que retumba em minha alma e reverbera sons múltiplos e
suaves em mim.
A vida é feita de certezas...
Mas a melhor certeza que podemos ter é que podemos
sempre ser uma nova pessoa, tão pura e tão pueril quanto aquela que fomos um
dia, sem deixar de abraçar todos os outros eu que representamos.
E qual é o elo disso tudo?
Amor.
Apenas o amor.