O cotidiano sob o meu olhar. De tudo um pouco, das coisas que gosto e de tudo que quero eternamente descobrir.
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O perfume das flores de jabuticaba
Hoje eu fui tomada por um sentimento atípico que há muito não sentia. Não assim.
Ao longo do dia, não consegui refletir a respeito do
que seria essa sensação...
Mas, agora, à noite, observando a cidade sob um frio
tardio de inverno, eu senti o aroma das flores do pé de jabuticaba que minha
mãe plantou.
Eu queria ficar em silêncio.
Queria sentir o silêncio.
Queria me alimentar do silêncio.
Estar e continuar só sem me sentir solitária.
E eu me lembrei de, há muitas décadas atrás, olhar para a noite e me sentir assim...
E hoje.
Entender que algumas coisas precisam mudar e morrer.
Enquanto outras mudam e ainda continuam as mesmas.
Ter a sabedoria para discernir essa tênue linha que
separa passado, presente e futuro.
Ter a humildade para aceitar e perdoar o eu do passado
que ainda continua convivendo em nossas lembranças com o nosso eu de agora.
Abraçar todas as nossas várias pessoas que fizeram
coisas de que nos envergonhamos.
Esse único e poderoso encontro que acontece e poucas
vezes nos damos conta.
E eu fiquei observando a cidade silenciosa. Imaginando o que as pessoas estariam fazendo em suas casas. Procurando estrelas em uma cidade iluminada que não deixa mais que as vejamos.
Sentindo o vento gélido e o silêncio...
Que retumba em minha alma e reverbera sons múltiplos e
suaves em mim.
A vida é feita de certezas...
Mas a melhor certeza que podemos ter é que podemos
sempre ser uma nova pessoa, tão pura e tão pueril quanto aquela que fomos um
dia, sem deixar de abraçar todos os outros eu que representamos.
E qual é o elo disso tudo?
Amor.
Apenas o amor.
Um dia qualquer na capital paulistana
Ontem, fazendo um curtíssimo trajeto de ônibus até o metrô Liberdade, fui testemunha de uma conversa entre dois professores que tinham acabado de se conhecer. Eu praticamente estava entre os dois.
Ele era professor de Artes, História.
Ela era professora de Música.
A conversa começou com eles analisando o tempo.
Ela foi muito minuciosa em ficar ali olhando no celular, vendo a previsão para aquela terça-feira, que seria muito mais fresca que o dia anterior com uma temperatura de 32ºC em pleno inverno. Comentou do calor. Comentou que foi difícil dormir. Comentou que a previsão da semana dizia que hoje faria um friozinho.
Ele concordando com ela.
E eu também, óbvio! Eu também tenho um app e fico toda hora ali olhando previsão do tempo. Tirando printscreens e postando no meu whatsapp para ninguém ver, porque quem tá interessado em saber se você prefere calor ou frio (eu prefiro frio, aliás). Foi curioso ver que ela era parecida comigo nesse ponto.
O professor, meio atrapalhado, riu que tinha trazido um guarda-chuva de dez reais (mentira, esses guarda-chuvas xingling agora custam vinte conto se você pesquisar bem) e tava todo cheio de bolsas, como todo bom professor. Ele ainda estava usando bermuda e cachecol e eu achei a combinação bem inusitada porque eu só usaria cachecol com uma temperatura de menos de 15ºC associado a um bom vento gélido.
Ela era mais falante do que ele. E tinha uma voz alta, clara, de timbre extremamente agradável (lembrei de minha amiga comentando áudios no whatsapp). Fiquei imaginando que ela nunca desafinaria a voz, que nunca faria um pitch agudo sem necessidade. E fiquei imaginando como seria assistir a uma aula dela.
O professor continuou dizendo que iria fazer um exame no HC e não sabia andar por ali. Deduzi que ele não seria de SP, mas não podia perguntar. Já a professora deu todas as dicas de como chegar até lá. E que iria com ele até determinado ponto da linha azul, quando eles se separariam na baldeação para a linha verde.
Ela disse que dava aulas para um projeto especial do EJA na PUC.
Ele disse que era contratado (coitado, nada como ter tido um namoro com uma professora para saber o significado exato disso! rs).
Ela comentou sobre provas que fez na FE-USP (onde está o curso de Pedagogia) para tentar dar aulas em algum outro lugar. Eu percebi que ele ficou sem entender exatamente o que era a sigla (e eu sabia porque sou da FFLCH).
Aí voltaram a falar de provas e toda a atribulação intrínseca aos professores.
Ela ainda disse que tinha vários amigos que eram professores de História e Artes (e faz sentido se você pensar que ela é professora de Música).
Essa conversa toda durou uns 10 minutos porque tinha trânsito nesse trajeto que normalmene nunca tem, ainda mais naquela hora da manhã.
E eu admito que adorei ser testemunha tão próxima dessa conversa inusitada entre dois estranhos com tantas similaridades!
Confesso que meu trajeto era outro mas queria ter acompanhado eles até a linha verde para saber o que mais conversaram. Será que trocaram whatsapp? Instagram? Será que só eu notei um flerte nas palavras dela? O professor era muito bonito. Embora novo (parecia), tinha um cabelo e um barba já grisalhos que dão um ar muito charmoso aos que se sabem se cuidar como era o caso dele.
Quando todos descemos em frente ao metrô, eu ri comigo mesma depois de me desperdir mentalmente deles.
Fanfiquei uma história linda entre os dois e imaginei que de um singelo encontro poderia surgir pelo menos uma bonita amizade entre duas pessoas. Idealista? Pode apostar!
E olha que curioso: naquele momento, meu ipodvelhodeguerra estava sem bateria (algo que nunca acontece) e só por causa disso eu pude ser testemunha visual e auditiva daquela conversa. Em geral, eu detesto ouvir conversas alheias em condução porque as pessoas só sabem ficar reclamando ou falando mal de alguém.
Mas, não.
E eu agradeço por ter sido testemunha de uma crõnica sendo escrita ali, diante dos meus olhos. Um outro dia qualquer na loucura desta capital paulistana que é São Paulo. E que a gente ainda pode encontrar beleza e simplicidade: basta saber prestar atenção.
A morte (carta XIII) e Plutão: a decisão não mais adiada
Há pouco tempo me dei (finalmente) um baralho do Tarô. E escolhi o Waite-Smith pelo estilo clássico e por ser indicado para estudantes que estão aprendendo a ler os símbolos das lâminas. Quase vinte anos estudando o assunto, demorou para isso acontecer. E não é sempre assim?
Ao contrário do que a maioria das pessoas faz, não faço muitas autotiragens. Mas, ontem, me senti impelida a fazer uma pergunta simples, três cartas (passado, presente e futuro) apenas com os arcarnos maiores. E a resposta, tão direta quanto simples, foi um tiro no coração.
Antes de continuar, vou compartilhar: quem me acompanha neste blogue sabe há quantos anos eu falo de Plutão na minha casa 11 astrológica. Falo de tantas e tantas pessoas que saíram voluntariamente, foram extirpadas pelo tempo ou sumiram sem dar tchau. Falo do quanto isso profundamente mexeu comigo e me fez rever muitas coisas — em especial sobre mim mesma. Porque temos certeza absoluta de que quando a debandada insiste em continuar, o problema é seu, você está fazendo algo errado, seu comportamento está nocivo, você está sendo egoísta e rude.
Quem me conhece sabe que sou extremamente transparente, nunca neguei meus defeitos. Quem me conhece também sabe o quanto sempre lutei para melhorar, me tornar uma pessoa melhor, lapidar as pontas que machucam que a minha criação deixou em mim. E todo o processo de lapidação não é feito de forma rápida, nem quando desejamos: é necessário tempo, é necessária a convivência em sociedade para, ao termos o outro como espelho, consigamos ver em nós mesmos o que pode ficar e o que deve ser mudado.
Isso posto, o ciclo de Plutão em Capricórnio (e, naturalmente, na minha casa 11) está prestes a terminar. Estamos à beira da entrada de Plutão em Aquário — que iniciará não somente uma nova era mundial, mas também marcará o fim dessa limpeza que foi feita em minha vida.
Mesmo no fim, a ação dessa energia ainda é contundente! Justamente por estar nos graus finais (os graus iniciais e finais de um trânsito são os mais potentes, que geram maior impacto), eu continuo vendo pessoas indo embora. Ou pessoas se ausentando de uma forma muito incompreensível. E eu não tinha compreendido a oportunidade única que me estava sendo ofertada...
E eu ainda estava insistindo em estabelecer amizades... e era uma insistência ilusória. Pautada em: consideração (eu honro o que as pessoas fazem por mim), carência (porque sou canceriana com ascendente em peixes e lua em leão) e teimosia (pois é... mesmo um ser mutável como eu pode ser teimoso às vezes).
Então, ao fazer a tiragem para mim, três cartas saíram: Sol (passado), A Morte (presente), A Temperança (futuro). Não coincidentemente, A Morte e A Temperança são cartas sequenciais dentre os arcanos maiores. Ou seja, para alcançarmos a fase da Temperança, precisamos necessariamente passar pela fase da Morte. O futuro depende do que eu farei com A Morte em mãos. Com a Temperança no futuro, tudo realmente está em minhas mãos.
Quando acionei essa informação, era questão de tempo para eu me dar conta do que tinha de fazer — embora já soubesse há tempos.
No entanto, o medo nos paralisa, pelos mais diversos motivos. Aí, fui me dar conta da coisa mais simples e tola possível: Plutão (correspondente direto da carta A Morte, coincidência? Nunca!) está há décadas agindo em minha casa 11, em minha vida. Eu sempre me colocando em posição meio que de vítima. Não entendendo seu mecanismo (por mais que eu seja astróloga, olha o medo paralisando aí), buscando razões e motivos para achar uma lógica. Insistindo em ir contra essa poderosa energia, literalmente.
Eu sei que o astrólogo Carlos Harmitt (que não conhece a minha existência) foi crucial para acelerar as ligações mentais que eu precisava fazer para chegar a essa conclusão. Ele com sua linguagem contundente falando sobre Plutão em Aquário, além de reacender a chama da Astróloga em mim que estava meio apagada, também iluminou o que eu estava fazendo com o fim do trânsito de Plutão no meu mapa: apenas rezando para tudo acabar logo, acreditando que apenas com seu fim, as coisas mudariam (doce ignorância, né, Cris?).Com a energia plutoniana a última coisa que devemos fazer é sermos passivos. Precisamos agir em conjunto. Precisamos nos conectar à sua poderosa força e entender que a limpeza pode doer mas é para a próxima etapa. E mesmo que você não saiba do que se trata, confie nele, porque você estará purificado para recomeçar: quer algo mais incrível do que voltar a pensar em como começar em um terreno transmutado do que não prestava mais em sua vida?
Porém, quando você não está fortalecido, tomar uma decisão desse porte não é nada fácil...
Quem me conhece, sabe dos desafios que estou vivendo desde 2015 que culminaram com o ano passado, um ano tão ruim quanto foi 2019. 2023 começou em baixa mas, ontem, dia 17/04/2023 às 22h20, tomei uma decisão que foi muito adiada. Eu a adiei o máximo que pude. E, assim como todas as piores dores de minha vida, eu escolhi vivê-la. E, agora, conscientemente, escolho não viver mais.
Mas o que aconteceu entre a tiragem de tarô, as palavras de Harmitt, os anos todos vividos? O que aconteceu é que me dei conta de algo estupidamente ridículo: a minha maior reclamação é que estou sozinha (literalmente, sem ninguém: amigos, parentes, família, amor, colegas) e há tempos tentando reatar antigos contatos ou fortalecer os mais recentes. Não há problema em buscar soluções para um problema — o problema está nas escolhas que você faz. E eu estava escolhendo MUITO ERRADO. Porém, devido a todos os fatores que citei, eu estava à beira de: ou enlouquecer ou mudar radicalmente. Muito atrasada, fiz a segunda escolha. Finalmente!
Eu me dei conta de que por tanto medo de ficar sozinha, eu tinha esquecido de reparar que eu já estava sozinha! Absolutamente. Absurdamente. E eu estava correndo atrás de migalhas de alguns tipos de pessoas por quem tinha consideração — me humilhando, rastejando, pedindo, aguardando o "algo a mais" que nunca veio e nunca virá. Por quê? Da parte dessas pessoas, não sei, nunca saberei. Da minha parte, eu esperava reciprocidade. Gentileza. Educação. E quando o ser humano chega ao ponto de não saber mais ser gentil, educado e recíproco, estamos perdendo a nossa humanidade, nos tornando bestas.
E afirmo sem sombra de dúvida alguma: estamos vivendo a nossa existência compartilhando o planeta Terra com uma horda de bestas. Não são todos, mas são a maioria esmagadora certamente. O que são essas "bestas"? Pessoas perdidas no mais profundo inconsciente, egoístas, agressivas, radicais, extremistas, individualistas. O mais triste é que, além disso tudo, vivem presas na ilusão inconsciente de que todos estão errados menos elas.
O meu cenário era esse: ficar achando que tinha estabelecido conexões com amizades unilaterais por medo de ficar sozinha. Oras, se eu vivo uma relação unilateral já não estou sozinha?
Então, para finalizar este extenso post, é isso leitor: quando Plutão fizer o chamado, aceite. Não relute. Viva. Como o mais brega clichê possível: nade pelos rios de Hades e renasça. A Morte e Plutão estão te dando essa única e última oportunidade!
Uma breve reflexão sobre furar fila
Assunto do momento: digite no Google e você vai se deparar com muitas links para matérias de todos os tipos e gostos. Tornou-se a moda, infelizmente. Mas furar a fila é algo que não saberia dizer se é cultural ou brasileiro. Não me aprofundei nesse assunto.
Eu sempre fui veementemente contra furar a fila em quaisquer circunstâncias. Considero isso não apenas um desvio de conduta de caráter, uma total falta de respeito ao próximo. Então, na minha concepção, praticar esse ato - além de falta de educação - também simboliza um gesto de egoísmo praticado sob os mais diversos argumentos. Todos condenáveis, exceto em caso de uma pessoa em iminência de morte.
Veja, por isso existe um protocolo que você encontra em qualquer UBS que você for: é a classificação de risco. Isso é o que faz você esperar por horas para ver um piriri suspeito enquanto o que está com suspeita de infarto passe na sua frente.
Óbvio que levar isso para a vida cotidiana seria algo muito além de qualquer expectativa. As pessoas furam fila de supermercado, do banco. E para pegar condução lotada? Só sabe quem já passou por isso. Não existe respeito. É cada um por si.
Vemos as pessoas furando fila nas situações mais comuns do dia a dia. E esse comportamento tornou-se tão grave agora em tempos de pandemia, que foi necessário criar leis e multas severas para quem chegar dando carteirada: porque é mais importante, tem mais poder ou tem mais dinheiro. Todos aqueles cenários caóticos que vimos em filmes de fim de mundo estão acontecendo agora, ao vivo e a cores, diante de nossos olhos.
Uma vez, furaram a fila para mim. Tenho vergonha desse dia, mas vou contar aqui, acho que nunca contei.
Eu odeio filas, de todos tipos. Fila é algo tão imbecil mas tão automático que quando menos percebemos estamos lá, numa fila. A fila parece trazer uma certeza de que vai dar certo, mesmo que demore. Talvez (e bem talvez) por isso, a vida traga os engraçadinhos e espertinhos que passam na frente - eles sabem que isso é uma afirmação perigosa e até mentirosa.
Estava eu em uma fila para o camarim pós-show da Isabella Taviani em Brasília, dez anos atrás. Sim, tinha viajado de São Paulo para vê-la onde tudo é plano aonde quer que você olhe. Estava eu lá, esperando chegar a minha vez, como sempre faço, quando o produtor viu a galera que tinha vindo de SP (ninguém combinou de ir junto mas todos se encontraram lá) umas seis pessoas, eu acho, não lembro mais, e chamou todos para irem primeiro falar com a cantora. Eu disse que não queria, esperaria a minha vez, mas fui forçada a ir. No meio do caminho, ouvi muita gente reclamando e algumas me xingando. Caminhei pedindo desculpas. Oras, a Isabella fazia uma década que não se apresentava lá e eu, nessa época, ia a shows delas duas, três vezes por mês. Podia esperar, mesmo tendo vindo de SP. Mas, não, passei na frente de todos.
Qual a sensação que traz ser a primeira, passando na frente de todo mundo? Eu sou especial e única.
E acho que é isso que todos desejam ratificar: sou especial e único, posso passar na frente dos outros. O sinistro é ver que as pessoas ainda continuam pensando assim, sem o mínimo de pensamento coletivo, no meio de uma pandemia, uma situação gravíssima, ainda mais agravada pela péssima gestão governamental (que nem merece comentário aqui). Se eu tenho dinheiro e influência, então por que não posso passar antes de todos?
Brasileiro tem aquela péssima fama de "dar jeitinho em tudo". Não sei de onde herdamos isso (aceito explicações antropológicas e históricas). Embora a bandeira diga "Ordem e Progresso", estamos longe de realmente por isso em prática. A lei máxima é do esperto que agarra a sua oportunidade, mesmo que burle regras. Se eu posso, qual o problema? Todo mundo terá o seu, só que eu terei primeiro.
Nada a ver, mas isso me fez lembrar do único show da Alanis Morissette que fui, lá em 1999. Fila para entrar, horas e horas esperando a casa abrir... quando entramos, uma menina disse em alto e bom tom que seria bom para todo mundo esperar sentado no chão o show começar, que ela tinha ido em shows lá fora (?!) e era assim. Claro que ninguém deu bola para ela. Foi nesse show que, inclusive, vi minha primeira roda se abrir na minha frente e eu quase fiz nas calças por medo de ser jogada ali no meio. Como assim, abrir a roda num show da Alanis?
Talvez seja do ser humano, instinto de sobrevivência jogando hormônios no corpo em um momento tão tenso e inédito que vivemos, como brasileiros que nunca viveram uma guerra, um tsunami ou um terremoto. Outras pessoas de outros países estão "mais acostumados" mas o brasileiro, não. E, talvez por isso também, o caos tenha se instalado da forma mais inimaginável possível: com negacionismo. Tipo, isso não está acontecendo aqui, é tudo invenção de alguém.
Agora, com a ficha caindo, o desespero das pessoas para furar fila e sobreviver só mostra o que sempre fomos com requintes de crueldade: não fazemos a nossa parte, não quero pagar a conta e quero sobreviver e ser feliz. O resto que se cuide.
Futuro do pretérito? O futuro é agora!
Não. Não abandonei o blogue.
Não escrevi antes por razões óbvias: não tinha o que escrever. Para não ficar palavreando à toa, resolvi ficar mesmo em silêncio.
E, não, este não é um post de gramática do português. Hoje me peguei pensando nas reflexões antropológicas e culturais que a gramática de cada língua faz a respeito. Não sou nem nunca serei uma erudita dos estudos linguísticos (e, aliás, essas matérias eram as que menos me apeteciam no curso de Letras...) mas me peguei pensando nos nossos tempos verbais. E o que mais me chamou a atenção (aliás, lembrei que sempre me chamou a atenção desde os tempos da adolescência, que eu tinha de decorar os tu, eles, vós) foi o FUTURO DO PRETÉRITO.
Me digam, como pode haver futuro no pretérito? Sem esquecer que ainda temos o futuro do presente. Oi? Coisas da nossa língua portuguesa. Talvez fosse apenas uma coisa de nomenclatura... mas no caso específico do futuro do pretérito, não sei... vejam: uma definição clássica é que ele enuncia algo que pode acontecer depois de um determinado fato passado. Nó na cabeça? É o clássico "seria".
Mudei a direção de pensamento. Fiquei matutando que as pessoas, cada uma na sua própria língua nativa, mantém esse "faria", o futuro do pretérito no presente, e o presente no futuro do presente. E o presente propriamente dito... fica vagando entre o seria e o serei.
Várias filosofias ensinam a "viver o presente". Pois sem querer ficamos com um pé no futuro e outro no passado. E eu me peguei muito pensando nisso de uns tempos para cá. Também andei pensando na minha maior resolução para 2014: fazer tudo o que sempre quis fazer e nunca fiz! Dureza? Um desafio que me impus. E também ando pensando demais numa reflexão antropológica/sociológica/histórica para tentar entender o comportamento coletivo do brasileiro. Não sei aonde vou chegar, nem sei se quero chegar a algum lugar. Quero pensar, refletir, sentir... tentar entender.
Uma coisa eu sei, com certeza: QUERO FAZER NOVAS AMIZADES! Quero conhecer pessoalmente as pessoas que apenas virtualmente. E me peguei pensando, num pensamento final, como — aos quase quarenta anos — fazer novas amizades?
EU — aquela que sempre disse que era muito difícil fazer novos amigos depois dos 30?
EU — aquela que sofre de idealismo constante e incurável?
Não sei. Mas sou canceriana com ascendente em peixes, casa 10 lá em Sagitário, vênus em Gêmeos. Tristeza, descrença, solidão, frieza... definitivamente não combinam comigo!
Então vamos lá! A todos os leitores que nunca desistem de visitar este blogue, um feliz 2014 com muita coisa maravilhosa. Muita força, coragem, HUMANIDADE, paciência, AMOR, empatia.
****
ps: hoje é aniversário de uma aquariana querida a quem gostaria de prestar homenagem neste blogue: Michelle Lange. Vejo-a como um raio de esperança para o futuro! FELIZ ANIVERSÁRIO, lindinha. Gostaria de ter uma foto nossa para postar aqui... mas gostaria de poder conhecê-la pessoalmente! EM BREVE, né? Até lá, continue assim, sorrindo, acreditando em sua profissão, sendo doce e sempre, sempre, sempre VOCÊ MESMA!
O poder da palavra... aérea
Sinto um silêncio, um silêncio interior como há muitos anos não sentia. Aquela mesma sensação indescritível que me fazia, numa tarde como esta, escrever poemas sem parar. Eu queria transcrever o que estava sentindo em palavras.
Acho que estou me sentindo bem para escrever algo assim, agora. Escrever as minhas reflexões acerca de algumas coisas que tenho observado com uma certa constância. Escrever sobre elas é um exercício "forçado" que me faço para exercitar aquilo que todos nós deveríamos fazer: refletir.
Não é implicância minha bater na tecla das mesmas coisas de tempos em tempos. Nossa era massiva com alta velocidade de comunicação transparece, com a mesma rapidez, coisas boas e coisas ruins. Tudo bem até aí. Ao mesmo tempo, a banalização é iminentemente poderosa. As coisas mais idiotas podem ganhar uma proporção épica, enfeitada com detalhes dramáticos, romanceada com as ilusões mais devaneadas possíveis. E tudo, ao final, parece pertencer à terra de ninguém.
Assim, o tópico de hoje aborda o "eu te amo" que vejo dito entre nossos semelhantes com uma facilidade e em quantidade assustadoras. Parece até que estamos vivendo algo assim: "Oi, tudo bem? Eu te amo!".
VEJA BEM: eu não estou dizendo que não devemos dizer "eu te amo"!!! Vamos deixar isso bem claro desde já afim de que não pareça que estou fazendo apologia ao ódio ou à falta de amor entre as pessoas. NÃO É ISSO. Mesmo porque, no ano passado, eu escrevi um post exaltando o poder da frase "eu te amo". Também acredito nos cristais de água do dr. Masaru Emoto e no poder da palavra sem a mínima intenção específica.
O que eu quero dizer é que entramos numa onda de creditar ao "eu te amo" uma ligação de sentimentos que não querem exatamente dizer o que deveriam dizer. De forma mais clara: as pessoas, ao que me parece, têm dito "eu te amo" umas às outras apenas por status. Que tipo de status? O status de 'bonzinhas', 'legais', 'do bem', 'sociáveis'. Acredito que deva até existir um carinho grande, mas não amor assim. Estou sendo radical? Pode ser... pode ser. Mas eu sou daquelas que preferem demonstrar a falar apenas. Dura lição aprendida a duras penas, meus leitores.
Tenho alguns amigos de longuíssima data para os quais nunca disse 'eu te amo'. Mas demonstrei de todas as formas que senti vontade, o meu 'amor'. Pois creio que o amor, como todos os outros sentimentos e como tudo na vida, é feito de energia. E ele não é formado apenas de energia escrita ou dita. Não costumava dizer a poeta Cecília Meireles, no Romanceiro da Inconfidência, o seu poema "Romance LIII ou Das palavras aéreas"? Palavras são importantes, mas palavras por palavras... elas se perdem no vento, vão assim como vieram.
Quem me conhece, sabe que não sou de palavras à toa. Posso até parecer ser... mas não sou. E, principalmente, faço o que sinto vontade de fazer, mesmo não dizendo as palavras pomposas que todos gostam de ouvir para regozijar no ego de cada um. Porque, no fim, palavras aéreas só servem para uma coisa: alimentar os egos das pessoas.
Posso estar sendo radical, mas em tempos como esses, ninguém me convence com palavrinhas bonitinhas. Elas podem e até são necessárias em determinadas etapas da vida, mas não podem e nunca deveriam ser o modo como nos relacionamos com as pessoas ao nosso redor. Uma palavra pode ser um alento numa hora de desespero e pode simplesmente deixar você sem nada na hora seguinte. As ações? Elas são eternas, quer você queira ou não.
Sintam amor, tenham amor, "amem como se não houvesse amanhã" mas cuidado com as ilusões plantadas por causa de palavras ditas sem pensar (ou até achando que elas tenham algum valor). Palavras sem ações (ações próprias e ações a outras pessoas) não são nada -- e acredito que isso valha, também, para a frase "eu te amo".
A ousadia da palavra
Eu pensei muito antes de escrevê-lo. Passei e repassei as ideias. Pensei nos prós e contras. Mas, não tem jeito. Vai agradar e desagradar. Pode gerar polêmica -- eu, a garota polêmica. Lembro do meu caro Enrico sempre me dizendo que eu deveria participar do programa Provocações. Ah, meu caro, por que será que eu sou assim?
Hoje em dia esbravejar intempéries nas mídias sociais é a coisa mais comum e mais farta. Mas ainda tem pessoas que se ofendem. Eu mesma! Não sei se é um outro tipo de jornalismo mas o fenômeno e a velocidade com que as informações se propagam nas mídias sociais beira o anarquismo que todos defendem com democracia teocrática. Tudo isso num Estado laico.
Religião à parte, percebo que temos "ondas temáticas" que vêm e vão conforme a maré do (in)consciente humano (ou alguma outra determinação de ordem superior) rege. Somos todos (ou não) contra políticos corruptos. Somos todos (ou não) a favor de direitos igualitários para homossexuais. Somos todos a favor de liberdade religiosa. E esbravejamos a democracia, o código civil, a constituição aos quatro ventos (mas nem sempre isso quer dizer que estamos bem informados a respeito).
Confesso, amplamente, como lésbica assumida e esotérica, que não consigo entender as pessoas que, numa primeira compreensão, são admiráveis por seu posicionamento, conduta, conhecimento e aplicação da teoria à prática. Mas são essas mesmas pessoas que me geram o questionamentos a seguir: não consigo entender a mesma pessoa que defende os animais ferozmente criar e disseminar ódio por causa de times de futebol. Também não consigo compreender a pessoa que defende as formas alternativas de energia, a ecologia e afins questionar por que homossexuais desejam a oficialização do matrimônio no cartório. Menos ainda consigo compreender por que as pessoas tomam tudo numa proporção tão pessoal que uma ideia simplesmente esboçada torna-se motivo para um verdadeiro confronto de armas.
Resta a uma infimíssima parcela da população resistir aos pensamentos em massa. Porque não vejo outra explicação senão o pensamento em massa para essas atitudes. As pessoas confundem "questionamento" com "ser do contra" simplesmente. Tudo parece argumento para uma personalidade mimada e um ego que não para e reflete sobre o que está dizendo. Na mídia social, todo mundo fala o que quer, quanto quer, quando quer sem o mínimo de reflexão.
No fundo, o que nos esquecemos completamente, é que somos seres que deveriam focar no AMOR CRÍSTICO como forma de nos conectarmos uns aos outros. Temos nossas diferenças, nossas escolhas, nossas preferências. Sim. Isso torna o ser humano único. Mas quando nos esquecemos de nossa essência e apenas agimos com animismo, é isso que vemos. As mídias sociais são um verdadeiro celeiro para você fazer parte da massa... ou enlouquecer.
E AI DE QUEM OUSAR FALAR/ESCREVER o que não deve? Todos tomam o poder da análise e julgamento (semelhante ao que víamos há séculos atrás) e condenação. Você precisa falar o que é de agrado geral e o que é politicamente correto. Sinceridade, honestidade e verdade são os desejos sempre mais esgarçados -- porque é bonito. Mas na prática, ninguém faz ou aguenta alguém que o faça. Porque se fizer, você será julgado e condenado em primeira instância, sem direito a réplica ou revisão do julgamento. E assim vivemos nessa selvageria diária disfarçada de sorrisos meigos e fofos (e amargos e chatos, também).
Para finalizar, veja o exemplo da Yoaní Sanchez no Brasil. Tenho certeza absoluta de que aqueles que a condenam chamando-a de agente da CIA não conhecem nem 1% da história. Ou, de repente, até a conheçam. Mas fizeram um julgamento e condenação. Eu tive o privilégio de produzir o livro dela lançado no Brasil em que parte do seu blogue (na época) foi selecionado para se tornar livro. Digo: se ela mentiu em tudo aquilo que ela disse, se Cuba for mesmo a quinta maravilha comunista, ela deve ser uma imensa mentirosa mesmo. Mas... acho que ela não esteja mentindo.
Mas é assim: em tudo o que você diga, existirá o do contra e o do favor. Isso é saudável. Precisamos -- E DEVEMOS -- ser menos maniqueístas, fundamentalistas, menos odiosos, menos defensores da autoafirmação.
Paz e amor: é tudo que precisamos.
O que há com as pessoas?
O que isso queria dizer, naquela época, em que internet ainda era um vislumbre de filmes de ficção científica? Queria dizer que as pessoas, para começar, escreviam cartas umas às outras. À mão. Folha com pauta e caneta. As pessoas usavam o telefone fixo, não havia celular. As pessoas se presenteavam com fitas K7 depois de fazer aquela coletânea especial.
Eu sempre escrevi muitas cartas. E gostava de me fazer presente na vida das pessoas de uma forma delicada e constante. Ouvia quando precisava. Mais ouvia do que falava. Quando reencontrava alguém, sempre tinha um fio para um assunto ou relembrar coisas agradáveis.
Hoje em dia?
Hoje em dia é assim: as coisas são forçadas, impostas e não há muito respeito mútuo. Ou você é amigo desde sempre ou sequer é lembrado. As pessoas têm pressa na resposta. As pessoas têm ansiedade. As pessoas têm uma necessidade de se autoafirmarem nos seus exageros. Todos parecem fazer questão de exibir uma vida como no show de Truman.
As pessoas não valorizam o tempo. Elas querem sua atenção: e quando você a dá, elas simplesmente fingem que não estão vendo. Elas têm pressa. A amizade é quase uma oportunidade para qualquer coisa que possa ser útil. Ter um "amigo" aqui, ter outro "amigo" ali.
As pessoas gostam de manter a superficialidade e os assuntos frugais que não nos toquem no nosso âmago. Todos somos felizes e vamos compartilhar essa felicidade. Todos brindam o sorriso leve e a caixa de Pandora dentro de si.
Não estou dizendo que não devemos ser assim. Longe estou de achar que tenho a verdade de alguma coisa, porque, eu já fiz isso. E me fodo geral quando ajo achando que posso ser um norte ou qualquer coisa. Não sou exemplo nem dito as regras. Não sei verdades e continuo buscando a verdade, em todas as lições, todos os dias.
O que me incomoda, atualmente, nas pessoas é essa coisa do querer beber sua essência pura, criticar, julgar, condenar. Elas fazem isso por e para si mesmas, não fazem por você. Talvez, por isso, eu ache que estejamos vivendo os tempos mais cruéis e egoístas mascarados por rostinhos doces e meigos, cheios de auras angelicais. Isso é maquiavélico...
Apesar de tudo, ainda creio na Humanidade. Mas prefiro não querer imaginar como será o futuro daqui uns anos...
O desafio da humanidade
Acho que a humanidade nunca esteve diante de tantas catástrofes como agora. Se dermos observarmos brevemente, tsunamis, terremotos, vulcões, furacões (isso para lembrar as catástrofes naturais) e incêndios, queimadas, atentados, guerras civis (ou não). Não costumam dizer que é nas horas difíceis é que vemos a real personalidade de cada um? Muita gente acha ruim o princípio de colocar dez neguinhos presos dentro de um espaço mínimo e colocá-los sob pressão absoluta numa questão de vida ou morte (estou me referindo a uma das premissas de Jogos Mortais) ou outras pessoas acham ruim a canalhice de uns participantes desses reality shows da vida. Mas, convenhamos, fato é que o ser humano é egoísta. Seja no cinema, seja na televisão, seja na vida real.
Numa tentativa muito humilde da minha parte, vou tentar esmiuçar o egoísmo humano o mais simples possível: somos egoístas porque a nossa vida é miserável e vazia. Não importa classe social, econômica, credo, origem, nada. Estamos todos no mesmo balaio. A nossa vida mecanicista e capitalista nos obrigou a um ritmo de vida cujo único propósito é apenas o de ganhar dinheiro, uns mais outros menos. O que importa, hoje em dia, é ter dinheiro. Sem dinheiro não compramos nossos sonhos, não sonhamos outros desejos, não temos o último aparelho tecnológico da moda, não estamos mais ou menos parecidos uns com os outros seja na roupa, seja no cabelo. Sem dinheiro, não estamos inseridos na sociedade e, portanto, não somos ninguém.
Claro que (ainda bem!) nem todos pensam assim. Mas a imensa e gigantesca maioria (que não pensa para refletir e chegar a essa conclusão) sim. Somos esmagados pela necessidade de ter dinheiro e fazemos o que for preciso para ter essa moeda que compra tudo que puder ser comprado. Nessa onda, somado ao caos diário de cidades superpopulosas, vivemos um verdadeiro pandemônio (para não dizer inferno) na Terra.
Cidades lotadas, com pessoas focadas apenas em ganhar dinheiro, trabalhando em empregos que não gostariam de estar trabalhando, negando seus talentos pessoais em empregos que apenas forneçam o básico, hipnotizados por música ruim, comida ruim. Vida encurralada, sem saída. Os ricos se escondem por detrás de um suposto glamour que preencheria suas vidas. Os pobres exibem sua pobreza com agressividade, justificando inúmeras atitudes por isso.
As pessoas se esqueceram do seu universo interno. Se esqueceram da comunhão com a Natureza. Pensam mecânica e racionalmente acreditando ter o controle das perguntas e das respostas. Destroem tudo ao seu redor, porque a sua riqueza interior está praticamente extinta. Dentro de cada um de nós há uma centelha que nunca se extinguirá... mas tenham certeza de que apenas ela por si só nunca resolverá a situação em que nos encontramos agora.
Por isso, mesmo assim, tenho fé de que a humanidade aprenderá primeiro a se aceitar, a se valorizar, a derrubar leis e barreiras que nos prendem a atitudes que não servem mais para o atual movimento da vida. Este desafio é imenso mas não é impossível de ser vencido. O egoísmo é a principal prova que precisaremos vencer, pois enquanto não aprendermos a ver apenas o nosso próprio umbigo como o mais importante e que se danem os outros, nunca aprenderemos a pratica o real sentido do amor universal.