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Para falar de preconceito

Nos últimos meses, mesmo distante do mundo virtual, foi impossível não deixar de ficar sabendo do aumento (ou talvez, da exposição maior) do preconceito contra homossexuais. Eu sempre me nego a falar de algo que é tão óbvio e simples... mas diante de tantos fatos chocantes, não posso deixar passar o ano sem deixar meu comentário anotado aqui no blogue.

Que é sabido e mais do que repetido entre todos, que homossexuais existem desde que somos seres humanos, sejam com macacos (bonobos ou não), sejam com gregos, safos, romanos ou troianos. Lembrar isso, atualmente, é argumento fraco, porque já estamos literalmente carecas de saber.

Se colocarmos as coisas a ferro e fogo, como os preconceituosos sempre fizeram, poderíamos fazer assim: vamos excluir todos os homossexuais do planeta. Adivinha? Não vai restar muita gente e as que restarem...

No entanto, as coisas nunca devem ser vistas assim! Somos o resultado de uma rica interação, quer gostemos dela ou não. Ou vocês acham que eu, como lésbica, gosto de ver um monte de coisas por aí? Não gosto e nem por isso saio espancando quem me desagrada. Ok, isso também foi um argumento fraco, porque quem me conhece -- a despeito de minha personalidade um pouco agressiva -- sabe que sou incapaz de brutalidades anti-humanas.
Lembro de um show da minha querida Isabella Taviani em que entre uma música e outra, como introito da música Iguais, ela disse: "Por que existe o preconceito? É mais amor. Como podemos ser contra haver mais amor? É tudo amor!". Essa frase ficou marcada na minha cabeça.

Então, não saberia nem começar a pensar num motivo para o preconceito. Porque ele é irracional mesmo. E quanto mais você alimenta o irracional, mais monstro ele se torna, em mais ferramenta letal ele se transforma. Mas para e repara: estamos numa época singular da existência humana: a liberdade religiosa aumentou em proporções inimagináveis as mais diversas linhas, sub-linhas e sub-sub-linhas de católicos e evangélicos, por exemplo. Globalização parece palavra do passado, porque hoje em dia qualquer pessoa na rua tem um celular, todos de alguma têm acesso a internet, ou seja, a transmissão e o conhecimento de dados é feito assim, num piscar de olhos.

O planeta Terra está a beira de um caos, prestes a se desintegrar, a ser destruído por causa dos inúmeros erros causados pela ambição humana em construir, expandir e lucrar. Ainda assim, todos pagam as mesmas contas pelos mesmos preços -- uns bem injustamente --; a impunidade e a violência religiosa -- tão impossível de acreditar que ainda existe, mesmo depois do Holocausto -- ainda existe: e cada vez pior!

Então, me diga: por que existe preconceito? E por que o preconceito contra homossexuais aumentou? Há números que indicam que o Brasil (onde supostamente é o local da miscigenação e integração de tudo e de todos) é um dos países com alto índice de crimes homofóbicos. 

Acredito muito em um dia em que todos viverão harmonicamente, mesmo com seus credos, suas crenças, suas filosofias -- um mundo aquariano, ao pé da letra. Porém, infelizmente, creio que não será nesta vida. Eu poderia tentar escrever linhas e linhas sobre este assunto e não terminar. E eu, humildemente, nem quero tentar perpassar o amplo conhecimento que tantos estudiosos têm sobre o assunto como Luiz Mott, Jean Wyllys e Vange Leonel para citar os que me vêm à cabeça agora. Graças a Deus deve ter muita gente boa por aí que eu preciso conhecer.

Porém e até lá, não podemos simplesmente fechar os olhos para o preconceito, fingindo que ele não existe, imaginando um mundo cor de rosa, porque esse mundo não existe! O preconceito respira e está camuflado das mais diversas formas. O que resta a cada uma das pessoas que sofre homofobia ou qualquer outro tipo de fobia? Lutar. A luta é feita de muitas maneiras. Saindo às ruas. Escrevendo no blogue, como eu. Evangelizando -- no melhor sentido da palavra, porque preconceito é sinônimo de ignorância. E principalmente: não se escondendo, não ter vergonha nunca de quem é. Mostrar ao mundo que não importa qual rótulo nos seja dado. O que importa é quem somos de verdade como alma, como caráter, como ser humano de verdade -- que cada vez mais desaprendemos a ser.

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Meu post scriptum vai para o documentário que vi este ano, chamado Celluloid Closet, já devidamente postado. Vale rever.