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Onde estão as lésbicas cultas deste país?

Ao contrário do que costumo fazer, escreverei um post temático. Não gosto dos rótulos nem da classificação grupal, mas este post é necessário, mesmo porque muitas meninas vem aqui ler este blogue. Talvez minhas reflexões sejam desagradáveis à maioria que o ler, talvez ajudem, talvez... nada.

O título é polêmico, eu sei. Eu tenho fugido dos temas polêmicos, porque as opiniões sempre se polarizam, radicalizam e extremismo não é a minha praia. Pode ser que eu erre ao tratar do assunto, mas preciso fazer esse questionamento e, quem sabe, alguma alma caia aqui, se compadeça e deseje também compartilhar seus pensamentos comigo.

Vamos lá.

Quero relembrar algo que S. sempre me dizia: "São Paulo é uma cidade com milhões de pessoas. Se você encontrar dez pessoas bacanas, será sortuda" -- acho que era assim, espero não ter errado! :P A questão é "onde estão as lésbicas inteligentes?". E inteligência nem é a quantidade de titulações acadêmicas que ela possui -- porque a garota pode ser uma verdadeira chata pedante, que por mais humilde que seja, não conseguirá deixar de te dizer entrelinhas o que é certo e o que é errado.

A inteligência também não é idade avançada, tipo mais de 40. Sim, num mundo de inclusão digital, mais de 40 podem ser consideradas tias. Sapatões-tias. Termo mais obtuso impossível, no entanto, muito real. A inteligência deveria estar ligada ao amadurecimento da mulher porém isso é relativo. Escrevi recentemente sobre imaturidade emocional e continuo afirmando que mulheres amplamente vividas não significa que elas sejam sábias. A fórmula da sabedoria me parece bem diferente.

A inteligência também não está atrelada ao grau maior ou menos de humanidade que ela possui. Como disse, e por experiência própria, esse é o rótulo mais perigoso e no qual você mais se engana! Porque as pessoas espiritualizadas possuem uma proposta que, se você desconfia, você é abertamente criticado! Como assim, desconfiar de uma pessoa assim?! Pois, desconfie. Desconfie de tudo, sempre.

Bem, se vocês repararem, a matéria humana é tão ampla, que nem parece que estou falando de lésbicas. Pois, então, estou falando de seres humanos. Em matéria de amor e relacionamentos somos todos iguais. Muda-se o gênero, o sexo... mas muita coisa mantém-se a mesma.

Recentemente, decidi me associar a alguns grupos lésbicos no facebook na (ingênua) tentativa de conhecer garotas novas para amizade. Primeiro que aos olhos da imensa maioria, conhecer alguém para amizade é algo inconcebível e sempre visto como "desculpa para ir pra cama com alguém". NOPE. No meu caso (e de repente alguns outros raríssimos -- mais BEM raríssimos mesmo) eu realmente quero trocar ideias. Conhecer pessoalmente, café, conversas, afinidades mentais. Qual o problema disso?

Entrei nos grupos, comecei a ler as postagens e... meus deuses do Universo: é assustador!!!! ASSUSTADOR!!! Estes tempos estão assustadores!!! E, olha, nem tô falando de gente escrevendo errado num português de doer o mais íntimo de todos os meus ossos. Isso é um detalhe. Eu me vi numa balada virtual, com flerte para todos os lados, meninas e mulheres carentes num nível de 10 anos sem sexo e se achando as piores e mais feias criaturas da face da Terra!!! Lembrei, com muito amargor, da minha péssima experiência de uns anos atrás, no antigo Espaço Unibanco. Com muita tristeza, percebi que as coisas não mudam, acho que elas sempre foram assim...

Admiro demais o trabalho da Del Torres, uma das fundadores do Parada Lésbica. Um grupo correto e honesto. Conheço a Del faz tempo e desde então até agora, não tenho negativo para dizer. Ela continua fazendo um belo trabalho, organizado e com caráter. Algo raro não só em São Paulo mas no Brasil. A Del está dando espaço para que todas as meninas possam ter um local correto onde possam encontrar pessoas com mesmas angústias, mesmos desejos, mesmos objetivos, seja algo sério ou apenas pegação. Há os encontros reais, o site de perfil para relacionamentos, enfim.

Acho que o que falta agora é um local virtual para reunir as sapinhas num outro nível. Será que só eu quero isso? Me parece tão demais que os gays, nesse sentido, estão anos-luz à nossa frente. Porque não existe essa de meninas apenas nesse estágio, porque eu sei que há o estágio seguinte. E é a esse estágio que estou me referindo.

Fiquei pensando que as lésbicas mais cultas (uso essa palavra num sentido mais amplo, que engloba inteligência acadêmica, inteligência espiritual e inteligência para cultura geral e/ou específica) que eu já pude conhecer foram em qualquer lugar menos em nichos lésbicos. Será uma tendência ou uma regra? 

Claro, conheci garotas fantásticas pela internet, fiz amizades incríveis e namoros duradouros. Mas o que me parece hoje é que a internet tornou-se a inclusão digital para essas meninas que estão longe de tudo e de todos e as outras garotas sumiram da internet. Será?

Meu período de participação no grupo está com os dias contados. Porque em pouco mais de uma semana, vi o suficiente para perceber que eu não pertenço lá. Veja-se pelo número de pessoas que me adicionaram. E veja-se pelo número de pessoas que "ousaram conversar comigo"! Isso porque sou muito aberta, receptiva e simpática (olha, momento raro da minha vida! rsrsrs *brincadeira*). Adicionei umas 20 meninas e exclui mais de 80%. Ao fim, restará bem menos que isso.

Assim, termino o post com o mesmo questionamento que comecei: onde estão as lésbicas cultas do Brasil? Ninguém quer conversar sobre filmes, tendências, comportamento humano? E eu direi algo muito triste: minhas melhores conversas são com mulheres heterossexuais. Tenho várias amigas de longa e média data com quem tenho conversas profundas e épicas. Com lésbicas? Algumas. Com Janaína, sempre. Com S. E outras.

Sinto que ainda vou pensar e refletir mais. Até lá, quem se aventurou a ler até aqui e queira compartilhar seus pensamentos comigo, mesmo que de maneira anônima, adorarei ler sua opinião!

Paz e até!