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Revelando o "Eu Raio X" de Isabella Taviani


Não sou crítica de música nem tenho conhecimentos musicais suficientes para escrever um texto que se dignifique a ser chamado de “texto crítico”. Mas sou fã de Isabella Taviani. E como acontece comigo em relação a aqueles poucos artistas de quem me considero “fã de verdade”, posso falar o que entendi, o que senti, o que gostei e o que não gostei.

A primeira pergunta que me vem é: o que é um artista para você? Um eterno fingidor, como diria Fernando Pessoa? Ou um eterno transmissor e expurgador de nossas dores, de nosso pensamentos mais íntimos? Isabella Taviani é sinônimo de intensidade, ardor, rancor, amor... já eternizada entre tantas músicas clássicas que já conhecemos.

E IT também é artista. Não podemos esquecer disso. E, na minha humilde e modesta opinião, uma artista de mão cheia. Com formação em canto lírico e teatro, vocês imaginam as amplitudes que isso pode alcançar? Na última turnê, tive o privilégio de assistir a 15 shows, ao longo de três anos. Eu vi vários espectros do alcance artístico de IT. Vi a entrega, vi o ardor. Vi a performance, o improviso.
Ouvir EU RAIO X significa não apenas ter o RAIO X desnudado da pessoa (e artista) Isabella Taviani. Significa ver o real amadurecimento de uma cantora que, sem gravadora, parece que ficou livre das amarras comerciais (que vemos aos borbotões...) para se desnudar. É um mix de tantos estilos musicais, diferentes entre si em sua primeira aparência. Mas uma observação mais apurada revelará que as escolhas não foram aleatórias. Seria ingenuidade pensar isso.

Não à toa, ela também escolheu trabalhar com André Vasconcellos, com quem trabalhou em seu primeiro cd. Ela mesma afirmou estar entre músicos queridos e amigos – uma grande família. E num ambiente assim, podemos ser nós mesmos, sem receio algum.

E é isso que eu vi em cada uma das faixas presentes no cd. Um mix de vários artistas, começando com a homenagem aos dramas românticos rasgados a la José Augusto visto na música “Estrategista”. O maravilhoso acordeon tocado por Alessandro Kramer em “E Se Eu Fosse Te Esperar?” que lembra tanto os xotes de Dominguinhos (obrigada à minha irmã que me auxiliou neste conhecimento musical tão específico). Imagino os casais dançando um forró nessa música.

E, ainda, tem uma música que se inicia espanholada e termina num funk meio ‘Fernanda Abreu’ na deliciosa música “Mulher Sábia”! IT assustou os fãs dizendo que ia criar um batidão... e criou, sim, uma música especial para mulheres especiais! rs Já to imaginando o povo se acabando no final do show...

Uns podem até achar suas semelhanças em “Encaixotei minha paz” com uma cantora que, mesmo depois de mil anos, ainda insistirão em comparar (com aquela que não dizemos o nome..rs). Crítica clichê de quem – de fato – não entende nada de música. Arrisco dizer que IT pode até ter feito de propósito para mostrar que, sim, podem ser parecidas. Mas, ouça e verá: não são.

E a música: “A Imperatriz e a Princesa” uma fábula celta maravilhosa... essa, sim, música corajosa para os atuais padrões musicais brasileiros! Uma ode a um amor entre duas mulheres. Que canta e louva a alegria, a coragem, a esperança.  


Por outro lado, “Contradição” lembra um rock meio blues dos anos 70. Uma guitarra de Marco Vasconcellos rasgando notas absurdas. Adoro essa música! E IT tocando ukelelê em “Roda Gigante”? Outra música com melodia e interpretação vocal especiais! Eu achando que era cavaquinho... não! Bem, não deixa de ser um. Que instrumento com som delicioso!

E, finalmente, “Raio X”, música que dá título ao cd. Escrita pela parceira musical Myllena (que também participa de outras faixas) é uma verdadeira pérola. Música falada (que, por acaso, lembra as canções de Zé Ramalho) é uma música onírica na minha opinião. Você a ouve de olhos fechados e viaja. Viaja na doce letra, na doce interpretação, na doce melodia. Merece abrir o show e merece ganhar videoclipe, viu, Isabella? ;-)

Raio X completo e revelado? Não. Os fãs podem ter sentido falta de “O Amor é a Vida” cantado na homenagem ao centenário de Mário Lago. Uma interpretação crucial de IT ao piano que merecia estar no cd! “Canção de Amor Clichê”, “Meu Amor Mineiro” também eram promessas que ficaram de fora.

Minha opinião final: Isabella Taviani mostra que grita a hora que quer e é doce a hora que quer. E ela manipula isso com maestria que nos hipnotiza em suas canções... Canta músicas tristes em ritmos doces. Canta o amor em rimas cruas e ácidas, com interpretação vocal perfeita em notas difíceis. Arriscou inserir instrumentos e instrumentação nova no arranjo de várias músicas. E acertou!!! Está madura, sabe os passos que como e quer dar. “A Canção que Faltava” é o primeiro single que já está nas rádios das capitais em SP e no Rio. Mas, com certeza, este é o cd que faltava, IT.



Peço desculpas se disse alguma informação errada por aqui (foram tantas referências cruzadas...). Foi um intenso aprendizado musical ouvir esse cd pela primeira vez. Escrevi aqui o que senti e considerei importante. Comprem o cd original no site da Saraiva (tá baratinho!). Em breve, também terá venda do cd autografado pelo próprio site da cantora. Ouçam e compareçam ao show em São Paulo, dia 16 de junho, no HSBC Brasil. No Rio de Janeiro será a abertura oficial da turnê, com show no dia 25 de maio no Citibank Hall. Assistir a um show dela é uma experiência única... e viciante.