Já faz um bom tempo que não escrevo — e não é apenas aqui.
Minha vida percorreu várias existências em segundos.
Minha mente navegou várias lembranças em minutos.
Meu corpo existiu e deixou de existir em um piscar de olhos.
Estamos, aqui, no meio do segundo semestre de 2024. O planeta Terra sendo massivamente destruído. Os seres humanos ensandecidos destruindo a si mesmos e aos seus semelhantes. É difícil manter-se são e focado. Todos estamos sobrevivendo com o mínimo necessário. E outros tantos por aí já desistiram de viver há tempos.
A minha vida se tornou tudo o que eu quis. A minha vida perdeu o sentido. E entre as vitórias e as derrotas, eu jazo nua ao final de um túnel, buscando a luz — a única coisa que me restou fazer antes que eu destruísse a mim mesma em meio a todo esse caos apocalíptico.
Porque a gente nunca escolhe quando vai trocar de roupa, mas não pode perder a oportunidade quando ela surge. E não importa quando isso vai acontecer.
Eu já tive tantos desejos. Já tive tantos sonhos. Já construí tantos cenários futuros. E os desejos, e os sonhos e os cenários nunca foram reais, nunca foram meus. Eles eram outra construção. Coletiva, talvez. Um empréstimo que fiz, uma apropriação indevida. E quando achei que seria feliz, eu tive que devolver esse pacote que nunca foi meu e nunca me pertenceu.Hoje eu não sei aonde está essa felicidade. E por mais que eu me pergunte, o eco não me responde. Não há som no vácuo onde eu grito. Não há existência onde não há gravidade. Eu desconheço o que é o tempo. Eu não sinto mais as nuances do toque de alguém. Desaprendi a sentir calor e frio.
O que é felicidade?
O que é a felicidade que buscamos nesta existência?
O que é a infelicidade?
O que é o sonho?
O que é o desejo?
O que é a existência?
E tantos que já responderam.
E tantas respostas que existem.
Eu, aos 47 anos, dispenso todas elas.
Meus quereres perderam sentido.
Minhas afirmações se dissiparam no ar.
Meu olhar vago busca a certeza que nunca existiu e nunca existirá.
Estamos sós mesmo sem estar.
Talvez...
A única certeza possa ser o amor — essa outra entidade tão estranha e tão pura. Essa coisa que eu acho que toco mas na verdade parece outra ilusão me fazendo perguntas impossíveis de responder. Me espreita e ameaça me abraçar para então sumir em um vento deixando apenas o rastro de um perfume. Retorna como uma leve garoa num fim de tarde para então secar e eu me perguntar se eu vivi ou apenas imaginei. O amor parece tão real e tão irreal que não sei mais diferenciar. O ter sem ter. O existir sem nunca ser. O amor não pode existir em planeta Terra. O amor, aqui, é apenas isso: um projeto que nunca se concretizará porque não fazemos ideia de como ele seja.