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Os relacionamentos em 2021

Este post é uma reflexão decorrente de um post que nem cheguei a escrever: os relacionamentos por whatsapp.

Há algum tempo venho pensando muito a respeito dos relacionamentos humanos, com base em meus próprios relacionamentos. Quantas pessoas novas conheci nos últimos cinco anos? Com quantas pessoas aprofundei minha amizade nesses últimos cinco anos? E, nesses cinco anos, o que mudou na forma das pessoas se relacionarem entre si?

Obviamente que um mísero post de blogue não começa sequer a delinear a ideia. Então, a intenção aqui é meramente refletir um momento específico e pessoal da minha vida. Dito isso, posso dizer que nunca foi tão difícil fazer amizades como agora!

E é tão estranho afirmar isso num momento em que mais podemos nos comunicar uns com os outros. Praticamente estamos online e disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana. Acho que por isso e, justamente por isso!, passar da barreira do virtual para algo sólido e realmente importante além de tarefa hercúlea, eu diria que é quase impossível de ser completada.

Por que?

Estamos sobrecarregados: e vivendo uma pandemia mundial que não tem data ou previsão de terminar. Pessoas estão sendo diagnosticadas com síndrome de burnout que eu facilmente tiraria do espectro profissional e colocaria no espectro pessoal.  As pessoas estão cansadas de serem bombardeadas constantemente por mensagens, áudios, respostas pendentes etc. As pessoas estão simplesmente exaustas e algumas conseguem ter consciência disso enquanto uma parte não liga e uma outra parte sequer dá conta de que isso existe.

Interessante que o bug do whatsapp que aconteceu no dia 06 de outubro deixando todos sem facebook, instagram e whastapp afetou a cada uma de uma forma distinta. Uns ficaram aliviados por não estarem mais sendo bombardeados outros ficaram com abstinência, outros perderam dinheiro por causa de seus negócios. E, alguns, como eu, não tiveram nada maior acontecendo, porque a solidão sem alguma rede social já é mais do que comum.

Várias pessoas disseram "não gosta de ser incomodado, por que tem?" É uma pergunta bastante válida, mas muitas pessoas têm as redes sociais ou um comunicador como o whatsapp para facilitar a vida e, teoricamente, para não ficarem o dia inteiro falando com meio mundo. Seja lá qual for o objetivo pessoal de cada um, fato é a ironia de estarmos tão conectados e tão solitários. Uma solidão diferente daquela de quando apenas estávamos distantes e impossibilitados de nos comunicarmos. Pois, agora, estamos possibilitados de nos comunicar e, por opção, não nos comunicamos - escolhemos friamente (pressupondo que a pessoa tem consciência disso) com quem nos comunicar e colocamos todo o resto na lista de espera.

Eu diria que ter uma amizade verdadeira e ativa em pleno ano de 2021 significa que você não está na lista de espera de ninguém! Porque você pode simplesmente ter uma amizade verdadeira e inativa. Quase uma amizade platônica. rs

Atualmente, eu vivo essa situação: eu olho para as potenciais pessoas com que conversar e até tento conversar... mas não flui. Quando minha mãe morreu, isso fez com que as pessoas "se preocupassem" comigo e me reaproximou de algumas delas. Mas, com o passar dos meses, mesmo eu respondendo a todos, o que me restou foi o silêncio de uma resposta não retornada.

Em outros tempos, em outra época, eu ficaria muito triste e muito -- como já fiquei. Hoje em dia, eu penso e reflito. Tipo, cansei de dar o clássico murro em ponta de faca, embora eu ainda faça algo nesse sentido de vez em quando. Mas, no geral, me cansei. O que é triste! Não deveria me importar, não deveria me cansar -- eu já fui assim! No entanto... ah! Nada como a idade.

Enfim, para terminar esta reflexão de hoje e agora, se este texto chegou a você, se te tocou de alguma forma, enche o saco mesmo ficar vendo notificação do whatsapp (ainda mais se vc participa de trocentos grupos de amigos e família - eis uma coisa que nunca aceitei e participei) e perfeitamente compreensível. Mas não deixe uma facilidade moderna moldar um novo eu sem considerar o que é verdadeiro e real em sua vida.

2021, solidão e reflexões...

30 de setembro de 2021

Há exatos seis meses a minha vida mudou completamente.

Estou aqui pensando, nesta tarde de primavera de vento fresco, se eu conseguiria prever algo assim na minha vida... e a resposta é: não!

E nem falo isso pensando que foram os meus pais que morreram em um intervalo de seis meses. Não.

Falo em como a vida é o instante em que vivemos.

Só isso.

Este instante, agora, em que constantemente tomamos decisões. Porque precisamos tomar essas decisões. Porque precisamos constantemente estar em uma rota, com algum destino. Precisamos cumprir uma meta, seguir uma rotina. Este instante.

Quem nunca viu num filme a velha pergunta “se você soubesse que isso aconteceria, o que teria feito de diferente?”.

**

Eu estou me sentindo só. Mas esse é outro cenário que não foi gerado ou agravado pela morte de meus pais. A pergunta correta que eu devo me fazer é: quando eu, verdadeiramente, estive com alguém?

Eu vejo o meu cenário pessoal inserido no contexto do cenário coletivo e não consigo dissociar as coisas, não tem como. A pandemia mundial escancarou uma moléstia que atinge a humanidade desde que temos recordação: nossa total falta de empatia com o outro e o nosso egoísmo. Por escancarar assim, tem trazido, também, a urgência de sermos diferentes; de não apenas sermos para mostrarmos, mas de sermos por assim termos nos tornado.

Mas ainda é o começo.

E a minha solidão se reflete principalmente pela falta de conexão que sinto com as pessoas ao meu redor. Todos estão vivendo seus infernos pessoais (porque, afinal, o inferno não está no submundo, está bem aqui, no seu cotidiano) e todos estão vivendo seus dilemas, seus desafios, seus aprendizados. Isso me faz questionar por que não nos unimos ao invés de nos afastarmos?

Ah...

Isso me traz à tona uma antiga lembrança de 1996, quando eu tinha 19 anos e fui lá pro Japão trabalhar. Era uma época de comunicação à base de cartas enviadas pelos Correios e de fichas telefônicas para usarmos nos orelhões públicos. Estar distante de alguém fisicamente era realmente estar distante. Eu me lembro do primeiro grande (e doloroso) aprendizado que vivi lá: as pessoas com quem convivi não se uniam para se ajudar, afinal, o sintoma comum era a saudade dos que tinha ficado no Brasil. As pessoas, lá, preferiam pisar umas nas outras com qualquer tipo de superioridade que fosse (por saber o idioma local, por ser o mais velho no emprego, por ter mais experiência). Estender a mão, oferecer o ombro e uma palavra de auxílio? Poderia até rolar, mas tinha um preço que, em geral, era ser fofoqueiro e delator.

Lembro que sempre compartilhava essa péssima experiência e todo mundo me dizia que nunca tinha passado por isso. Ou seja, era EU quem tinha de vivenciar essa experiência e aprender com ela (eu e as pessoas desse grupo, obviamente).

 

**

Então, hoje, este dia com gosto, cheiro e textura especial... me faz pensar no quanto tudo mudou e no quanto eu mudei. Minha solidão sempre foi uma característica que eu tentei não ter, mas, até hoje, quantas pessoas quiseram me conhecer? Eu tenho que pagar alguém para poder ser ouvida? Quantas pessoas estão dispostas a conhecer outras pessoas simplesmente porque, apesar de tudo, nossas relações humanas são tudo que importa nesta vida, mais nada. Quem?

Sem as relações humanas não temos dinheiro, não temos sociedade, não temos família, não temos com quem nos comparar, não temos ódio nem amor. Se o ser humano não se relacionar entre si, coletivamente, não há nada.

Já aprendemos muito... e ainda temos tanto a aprender.

O que sinto agora, certamente não gostaria de estar sentindo... mas quão diferente esta solidão poderia ser, senão essa que estou vivendo?

 

Quem é você hoje?

Há algum tempinho eu comecei a reparar uma necessidade absurdamente gigante de pessoas próximas a mim de terem um perfil definido. Confesso que observei, mas, a princípio, não dei muita atenção, achei que fosse "coisa de momento" de cada um. Porque, é meio assim, né? Falo por mim mesma, quando eu me recordo especificamente desses momentos em que eu queria estar inserida em uma classificação não apenas pelo fato de ser uma definição, mas por conciliar essa atitude como um marco do meu autoconhecimento sobre mim mesma.

Décadas atrás, muito antes de internet e informação compartilhada na velocidade da luz, o que eu mais queria apenas é ser uma lésbica que não sofresse retaliação ou preconceito, que ninguém me apontasse o dedo e me julgasse e condenasse, que fizesse bullying comigo. Imagina esse cenário em 1999. Imaginou? Ao longo dos anos seguintes, até cerca de 2007, eu vivi um momento de explosão em que fui eu mesma de todas as formas possíveis, de virtudes aos piores defeitos. Eu me impunha, impunha quem eu era, porque eu queria ser aceita dessa forma e ponto final.

Hoje em dia, aos 44 anos, confesso que depois de um tanto vivido e sofrido, depois de flertar tanto com a morte e abraçar tanto a depressão e a dor, sabe o que sinto? Não faço questão de ser enquadrada em tipo nenhum. Se quiser me enquadrar, fique à vontade, porque eu mesma não sinto mais essa necessidade. Eu sei o que sou, o que ainda tenho e o que eu já perdi. Que diferença vai fazer dizer em letras garrafais X, Y ou Z sobre mim mesma? 

Estranho se sentir assim, confesso.

Então, eis que vejo as pessoas ao meu redor, especificamente desejando ser tratadas de tal forma, não aceitando ser tratadas de outra forma - só não acho justo ficar bravo se o interlocutor mais desavisado não fizer o tratamento adequado, apenas por puro desconhecimento. Eu vivi uma época em que falei para pouquíssimas pessoas "prazer, eu sou lésbica, me aceite como sou!" Até cheguei a fazer isso, mas não deu muito certo! rs

Bem, este é um post que me veio, não elaborei uma reflexão muito mais profunda sobre o assunto. Seja quem você for agora, parabéns por conseguir este esclarecimento para si mesmo. Autoconhecimento sempre será, para mim, o maior objetivo nesta vida.

O sorriso em tempos de máscaras faciais

Muito já se falou em como esta pandemia transformou completamente a nossa vida. Hoje, especificamente, quero falar do sorriso - esse movimento dos músculos faciais que fazemos para demonstrar alegria, contentamento, felicidade - e que quase nunca mais compartlhamos, por ficar escondido atrás de máscaras que nos protegem do vírus e também  de uma de nossas formas mais complexas e diretas de comunicação.

Lembro do primeiro episódio da quarta temporada de The Good Doctor em que os médicos colam uma foto de si mesmos sorrindo em seus crachás para mostrar quem são. Uma tentativa de trazer um pouco de calor em um momento tão frio e duro na existência humana.

Não vemos mais as pessoas sorrindo, mas não que elas não sorriem! Dizem que as pessoas sorriem com os olhos, vocês têm visto pessoas sorrirem assim?

Hoje, ao almoçar em uma lanchonete e já me preparando para sair, vi uma moça se sentar quase de frente para mim. Jovem, longos cabelos claros e lisos. Estava mexendo no celular com um imenso sorriso no rosto, mostrando não só dentes mas uma felicidade especial. Enquanto ela olhava no aparelho, eu tentava desvendar o que aquele belo sorriso queria dizer: uma notícia feliz? Um amor correspondido? Algo me diz que era essa opção.

Naquele breve instante, eu me apaixonei por ela e seu sorriso. 

Porque parecia tão franco, tão honesto, tão simples - quase ingênuo. O amor (ou a paixão) em todo seu início sempre tem disso, não é? E eu confesso que perdi um muito disso, dessa doçura humana. Estamos sempre escondidos atrás de medos, inseguranças, desconfianças... ver um sorriso como o dela atingiu algo dentro de mim naqueles milésimos de segundos.

Naquele breve instante, eu desejei ser o objeto e a razão de seu sorriso.

Porque eu simplesmente queria viver um sentimento livre do peso dos traumas, das acusações, das condenações. 

A lembrança de seu rosto já se mistura com tantas outras e nem saberia mais dizer como ela é. Mas o seu sorriso... Um breve sorriso que me aqueceu e que me fez sorrir junto com ela - eu, escondida atrás de minha máscara, protegida contra qualquer argumento alheio. Um breve sorriso que me fez teleportar momentaneamente para aquele porto feliz que todos nós merecemos eternamente estar.

Moça, sei que a felicidade é um instante, que se constrói e descontrói, que se faz e desfaz num piscar de olhos. Moça, sei que a felicidade não é eterna e nem o nosso objetivo, mas desejo que sua felicidade lhe seja boa e eterna enquanto dure. Agradeço por ter compartilhado esse lindo sorriso comigo, eu me apaixonei e me encantei com ele e nunca mais o esquecerei!

Por que precisamos comparar?

Uma das coisas mais inevitáveis da vida é o ato de nos compararmos a alguém.

Não tem jeito!

E isso pode ser algo tão obsessivo que simplesmente podemos basear a nossa vida toda e qualquer atitude dela em uma comparação. Podemos simplesmente congelar por não saber o próximo passo sem conhecer o paralelo de se comparar a algo ou a alguém.

ISSO É MUITO SÉRIO, GENTE!

Esta ideia me ocorreu e mesmo eu pensando nela há algum tempo, nunca tive tempo de sentar e ordenar as reflexões. Faço agora, antes que perca o fio da meada.

A vida pessoal de alguém sempre parecerá mais feliz que a nossa. A vida profissional de alguém sempre mostrará mais brilho que a nossa. A família de alguém sempre será mais doriana que a nossa. O relacionamento de outro sempre será mais instagrameável que o seu (isso, se você tiver algum).

Fato é que a vida de uma outra pessoa, sob o nosso ponto de vista, sempre será mais feliz, mais completo, mais luxuoso... mais qualquer coisa que você queira que seja. Porém... esse será um fato verdadeiro, imaginação sua, exagero seu ou pura maquiagem para vender uma imagem?

QUEM SABERÁ?

Li um livro recentemente (só leio livros a trabalho, [in]felizmente) que fala sobre ansiedade e sobre focarmos as lentes em nós mesmos como uma forma de lidar com essa necessidade de olhar o outro antes de olharmos para nós. Esse é um assunto tão complexo que pode render vários livros, debates.. e este post, humilde, que aqui compartilho.

Me peguei me comparando... e me senti feliz por saber que minha qualidade profissional não é tão ruim assim, afinal, a pessoa da comparação trabalha em um lugar conceituado e percebi que seu trabalho é tão bom quanto o meu. Nossa, Cris, que triste você precisar googlear tudo isso para chegar a essa conclusão. Pois é...

Na verdade, eu sei que eu sou boa. Mas diversos fatores (falta de comunicação, isolamento social, isolamento real, neuroses diversas, ansiedade, silêncio) podem criar um terreno fértil irreal que, dependendo da sua situação mental, podem gerar ervas daninhas que, com o tempo, dão frutos horríveis que você mesmo vai comer e vai se envenenar. E termina que você se acha um profissional da pior categoria que merece o ostracismo e a danação eterna de fica sem trabalhar.

Futuramente, indico livro aqui. Por ora, compartilho a dica que sempre dou para mim mesma, uma lição dada por Jordan Peterson [veja um vídeo, em inglês, dele].

Traduzindo: Compare-se com quem você foi ontem, não como uma pessoa está hoje. [aceito sugestões de uma tradução melhor]