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[sem título]

Ao longo de uma vida inteira,
quantos nomes iguais em quantas pessoas diferentes você irá conhecer?
e quantas dores diferentes com motivações iguais
você sobreviverá até entender
que ao longo de uma vida inteira, metade é gasta nos por quês
e a outra metade sequer é aproveitada para, de verdade, viver.

No silêncio ensurdecedor de minha insanidade
eu busco a tranquilidade em outros olhos alheios a mim
quero conhecer os segredos que conduzam ao limiar
ao fim, que enfim, irei saborear
com os olhos cerrados, com os punhos em riste
sem mais medo de perecer, sem medo de morrer.

As histórias são todas iguais e os amores que vertemos
em diferentes corpos, só mudam os rostos e os nomes
o que perdemos e o que ganhamos, que diferença faz
se o que nos satisfaz é a contínua busca esquizofrênica
de uma certeza que não sabemos desenhar nem descrever
pois só seguimos cegos, incertos, loucura sagaz. 

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[E as coisas andam tão atípicas que até poesia voltei a escrever!]

Temporário

Como uma lufada de ar morno em uma tarde de primavera: meus olhos semiabertos querem capturar uma certeza. Qualquer certeza. A gota de chuva que rapidamente evapora sobre o asfalto quente. O toque humano que esfria mais rápido do que deveria. Um sorriso que me faz sentir viva por alguns minutos, enquanto o ocre vampiro da depressão me lembra que nunca estarei sozinha neste mundo.

Temporário é o meu desejo. Desejo carnal por uma realidade despida e sem adornos ou perfumes. Desejo carnal por uma pessoa que já fui e nunca mais serei. Desejo carnal para sentir meu sangue em minhas veias. Desejo do não desejo, Sem desejo.

Eu sorrio e me perco em meu próprio sorriso. Me abraço desejando um abraço que não posso sentir. Busco sem desespero o desespero outra vez e minha insanidade  compactua com minha paz. A esquizofrenia em mim que não posso traduzir em palavras. Talvez minha maior loucura. Talvez minha maior lucidez.

Temporária é a minha vida em meio aos transeuntes. Eu sou eles, eles são eu. Se eu tivesse seu abraço por mais de 30 segundos eu sei que seria mais feliz. Mas por sobre meus ombros está a constante lembrança de que a felicidade é uma ilusão que alimentamos com a ração da vaidade e da falsidade. Cacete, só quero ser feliz.

Eu olho para o espelho e vejo uma pele menos vistosa, linhas que se tornam rugas -- mas pelo menos não tenho cabelo branco. Eu olho e fecho os olhos: se não posso ter felicidade, poderia ao menos sentir paz? É a única pergunta que de tanto ser temporária, está ficando permanente.

Como o meu antigo desejo por sentir a paixão correndo em minha veias, animais selvagens retumbando em meu coração pueril: sou jovem ainda? Quanto de mim ainda é meu e o que nunca mais será? Queria menos perguntas e menos respostas, não queria nada.

A vida pode ser temporária mas as perguntas são sempre eternas. Os desejos também. As histórias continuam sendo as mesmas, mudando apenas os personagens. Eu tenho tanta vontade de conversar com alguém mas não tenho ninguém aqui. Quantas vezes (temporárias) tive? Eu queria tanto conversar com alguém e até o reflexo no espelho tem fugido de mim. 

Eu queria tanto conversar com alguém que parei de sentir saudades das melhores conversas que tive. Minhas mãos firmes e meus pensamentos incertos me conduzem durante o silêncio que me cala em mim mesma. Me abraço sozinha no escuro e durmo, esperando que os sonhos tragam qualquer certeza.

Temporária é a minha vida. Um beijo na boca da depressão e outro no rosto da sobriedade. Dois lados ocultos e abertos de mim mesma. Eu e minhas cicatrizes recentes. Eu e meu otimismo insano mesmo à beira da morte iminente. Eu... e eu.

"A teardrop to the sea" - Bon Jovi

Apenas compartilhando a música que, atualmente, tenho escutado no repeat one: "A teardrop to the sea" faixa do novo álbum "Burning Bridges".

Essa canção é uma obra-prima da banda... como há muito não ouvia.

https://www.youtube.com/watch?v=cDwia5nMXBY