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Bem-vindo, ano novo

Dias e mais dias se passaram. Tornaram-se semanas... dois meses. 

O primeiro post do ano vem em março, no meio de um calor danado em pleno verão.

Reparei, entre as coisas do dia a dia, uma frase, uma ideia recorrente. Nada novo, por sinal. Mas que, não sei por que, veio pintado de novo, com uma sensação nova. Tudo começou com uma refrão de música "mas os momentos felizes não estão escondidos nem no passado e nem no futuro". 

Passaram-se alguns dias até eu lembrar "qual é a música?". Ao mesmo tempo, pipocando na minha retina, frases aleatórias do twitter, trechos de livros que estou revisando, estudos astrológicos que estou fazendo... "do you burn for the future or yearn for the past?".

Então, subitamente, aquela rara e gostosa sensação de paz. Rara, mesmo. Porque, para senti-la, preciso ter uma penca de fatores acontecendo concomitantemente. Mas, para minha surpresa, ao contrário. 

E eu acho que eu sei de onde vem isso. A princípio, do cansaço absurdo que eu tava de um monte de coisa acontecendo na minha vida e eu totalmente fora do controle, sem nenhuma rédea na mão, apenas contando com intuição, proteção divina e acessórios esotéricos. Mas, a gente sabe que tocar uma vida vai bem mais além desses apetrechos todos. É O CONJUNTO DA OBRA.

Acho que este livro que estou revisando agora meio que serviu pra fazer um puta de um liga-ponto gigante na minha cabeça. Um livro de um assunto que eu nunca escolheria para ler (bom, normalmente, eu não leio livros, pasmem! Só a trabalho mesmo) e que tem feito cair tantas fichas quanto um jackpot no Belagio.

É isso: o cansaço absurdo que eu tava sentindo de tudo ao meu redor virou uma reflexão inesperada sobre como cheguei até aqui, mesmo com todas as merdas que eu vivi - seja por escolha própria ou não. Eu sempre fui orgulhosa em admitir que gostava da minha vida do jeito que ela era, mas isso era uma falácia. Precisei dar mais uma bela volta no fundo do poço de merda para entender. E, hoje, eu sinto algo distinto.

Passei por tanta coisa nos últimos três, quatro, cinco anos... tanta coisa que viraria fácil fácil um livro de 300 páginas. Mas escrever esse livro seria recontar a merda e taí outra coisa que eu tô cansada de fazer. Eu sou uma pessoa sintética (a despeito dos meus áudios-podcasts que raríssimos amigos têm o prazer de ouvir hehe). Na minha cabeça se passa muita coisa até que eu resuma tudo em uma frase ou uma palavra. 

E as ordens que eu me dou neste momento são: síntese, amor próprio, aceitação humilde, ação. Muita ação.

É isso. Queria deixar registrado este momento único. Não vou prometer escrever com mais frequência aqui, mas tentarei. Ideias não faltam, mas às vezes elas simplesmente não querem se transformar em palavras digitadas.

Feliz 2022. Mais amor e menos guerra.

Para encerrar o ano de 2021

 É um fim de tarde dos primeiros dias de verão. Venta muito, um vento frio. Deve estar uns 22 graus. Uma temperatura perfeita.

Vinha adiando escrever um post, mas eis que chegou o momento. E, em uma tarde tão bonita como esta, me convidando a por meus sentimentos para fora.

A poucos dias de findar este ano, o que eu sinto é que as fichas ainda não caíram. 2021 certamente não foi o ano mais difícil da minha vida, foi o ano mais inesperado. Tantas coisas boas aconteceram! E tantas supresas tristes também.

Meus pais morreram. Oficialmente, estou morando sozinha pela primeira vez. Passarei meu primeiro natal sozinha. Quem nunca quis viver uma noite como o Kevin em Esqueceram de mim? Mas quando este momento chega, você percebe que nada é como nos filmes.

Queria ter conhecido mais pessoas novas. Queria ter aprofundado alguma amizade. O balanço geral disso é praticamente zero. E mais pessoas saíram da minha vida, umas de forma meio esperada, outras despercebida. Outras continuam presentes surpreendentemente.

Confesso que ainda tenho muito receio do futuro e uma ansiedade estranha. Por mais que você tenha todas as ferramentas para lidar com isso -- e eu tenho! -- sinto um frio na barriga aliado a uma certa falsa expectativa de que já sei como tudo isso vai terminar. 

Meus 44 anos de idade me mostram no que me tornei. E entre o oscilar de gostar e desgostar do que vejo, eu ainda gostaria de ter um pouco mais esperança e otimismo inabaláveis que já tive um dia. Talvez, eu ainda os tenha aqui dentro de mim, mas estão tão bem guardados que nem eu mesma consigo ver. Talvez, essa força -- se é que podemos chamar assim -- é tudo o que me deixa seguir em frnete mesmo quando perdi todos os motivos.

Então, com essa "força invisível", com meus 44 anos, minhas expectativas e meus objetivos, eu quero passar uma linha em 2021 e quero fechar ciclos. Estou cansada de dizer que estou cansada.

E, caso você tenha vindo até aqui ler este post, que seu 2022 seja o melhor de todos os anos de sua vida! Que tenhamos mais amor e empatia. Que possamos sorrir sem sentir culpa por isso.

Os relacionamentos em 2021

Este post é uma reflexão decorrente de um post que nem cheguei a escrever: os relacionamentos por whatsapp.

Há algum tempo venho pensando muito a respeito dos relacionamentos humanos, com base em meus próprios relacionamentos. Quantas pessoas novas conheci nos últimos cinco anos? Com quantas pessoas aprofundei minha amizade nesses últimos cinco anos? E, nesses cinco anos, o que mudou na forma das pessoas se relacionarem entre si?

Obviamente que um mísero post de blogue não começa sequer a delinear a ideia. Então, a intenção aqui é meramente refletir um momento específico e pessoal da minha vida. Dito isso, posso dizer que nunca foi tão difícil fazer amizades como agora!

E é tão estranho afirmar isso num momento em que mais podemos nos comunicar uns com os outros. Praticamente estamos online e disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana. Acho que por isso e, justamente por isso!, passar da barreira do virtual para algo sólido e realmente importante além de tarefa hercúlea, eu diria que é quase impossível de ser completada.

Por que?

Estamos sobrecarregados: e vivendo uma pandemia mundial que não tem data ou previsão de terminar. Pessoas estão sendo diagnosticadas com síndrome de burnout que eu facilmente tiraria do espectro profissional e colocaria no espectro pessoal.  As pessoas estão cansadas de serem bombardeadas constantemente por mensagens, áudios, respostas pendentes etc. As pessoas estão simplesmente exaustas e algumas conseguem ter consciência disso enquanto uma parte não liga e uma outra parte sequer dá conta de que isso existe.

Interessante que o bug do whatsapp que aconteceu no dia 06 de outubro deixando todos sem facebook, instagram e whastapp afetou a cada uma de uma forma distinta. Uns ficaram aliviados por não estarem mais sendo bombardeados outros ficaram com abstinência, outros perderam dinheiro por causa de seus negócios. E, alguns, como eu, não tiveram nada maior acontecendo, porque a solidão sem alguma rede social já é mais do que comum.

Várias pessoas disseram "não gosta de ser incomodado, por que tem?" É uma pergunta bastante válida, mas muitas pessoas têm as redes sociais ou um comunicador como o whatsapp para facilitar a vida e, teoricamente, para não ficarem o dia inteiro falando com meio mundo. Seja lá qual for o objetivo pessoal de cada um, fato é a ironia de estarmos tão conectados e tão solitários. Uma solidão diferente daquela de quando apenas estávamos distantes e impossibilitados de nos comunicarmos. Pois, agora, estamos possibilitados de nos comunicar e, por opção, não nos comunicamos - escolhemos friamente (pressupondo que a pessoa tem consciência disso) com quem nos comunicar e colocamos todo o resto na lista de espera.

Eu diria que ter uma amizade verdadeira e ativa em pleno ano de 2021 significa que você não está na lista de espera de ninguém! Porque você pode simplesmente ter uma amizade verdadeira e inativa. Quase uma amizade platônica. rs

Atualmente, eu vivo essa situação: eu olho para as potenciais pessoas com que conversar e até tento conversar... mas não flui. Quando minha mãe morreu, isso fez com que as pessoas "se preocupassem" comigo e me reaproximou de algumas delas. Mas, com o passar dos meses, mesmo eu respondendo a todos, o que me restou foi o silêncio de uma resposta não retornada.

Em outros tempos, em outra época, eu ficaria muito triste e muito -- como já fiquei. Hoje em dia, eu penso e reflito. Tipo, cansei de dar o clássico murro em ponta de faca, embora eu ainda faça algo nesse sentido de vez em quando. Mas, no geral, me cansei. O que é triste! Não deveria me importar, não deveria me cansar -- eu já fui assim! No entanto... ah! Nada como a idade.

Enfim, para terminar esta reflexão de hoje e agora, se este texto chegou a você, se te tocou de alguma forma, enche o saco mesmo ficar vendo notificação do whatsapp (ainda mais se vc participa de trocentos grupos de amigos e família - eis uma coisa que nunca aceitei e participei) e perfeitamente compreensível. Mas não deixe uma facilidade moderna moldar um novo eu sem considerar o que é verdadeiro e real em sua vida.

2021, solidão e reflexões...

30 de setembro de 2021

Há exatos seis meses a minha vida mudou completamente.

Estou aqui pensando, nesta tarde de primavera de vento fresco, se eu conseguiria prever algo assim na minha vida... e a resposta é: não!

E nem falo isso pensando que foram os meus pais que morreram em um intervalo de seis meses. Não.

Falo em como a vida é o instante em que vivemos.

Só isso.

Este instante, agora, em que constantemente tomamos decisões. Porque precisamos tomar essas decisões. Porque precisamos constantemente estar em uma rota, com algum destino. Precisamos cumprir uma meta, seguir uma rotina. Este instante.

Quem nunca viu num filme a velha pergunta “se você soubesse que isso aconteceria, o que teria feito de diferente?”.

**

Eu estou me sentindo só. Mas esse é outro cenário que não foi gerado ou agravado pela morte de meus pais. A pergunta correta que eu devo me fazer é: quando eu, verdadeiramente, estive com alguém?

Eu vejo o meu cenário pessoal inserido no contexto do cenário coletivo e não consigo dissociar as coisas, não tem como. A pandemia mundial escancarou uma moléstia que atinge a humanidade desde que temos recordação: nossa total falta de empatia com o outro e o nosso egoísmo. Por escancarar assim, tem trazido, também, a urgência de sermos diferentes; de não apenas sermos para mostrarmos, mas de sermos por assim termos nos tornado.

Mas ainda é o começo.

E a minha solidão se reflete principalmente pela falta de conexão que sinto com as pessoas ao meu redor. Todos estão vivendo seus infernos pessoais (porque, afinal, o inferno não está no submundo, está bem aqui, no seu cotidiano) e todos estão vivendo seus dilemas, seus desafios, seus aprendizados. Isso me faz questionar por que não nos unimos ao invés de nos afastarmos?

Ah...

Isso me traz à tona uma antiga lembrança de 1996, quando eu tinha 19 anos e fui lá pro Japão trabalhar. Era uma época de comunicação à base de cartas enviadas pelos Correios e de fichas telefônicas para usarmos nos orelhões públicos. Estar distante de alguém fisicamente era realmente estar distante. Eu me lembro do primeiro grande (e doloroso) aprendizado que vivi lá: as pessoas com quem convivi não se uniam para se ajudar, afinal, o sintoma comum era a saudade dos que tinha ficado no Brasil. As pessoas, lá, preferiam pisar umas nas outras com qualquer tipo de superioridade que fosse (por saber o idioma local, por ser o mais velho no emprego, por ter mais experiência). Estender a mão, oferecer o ombro e uma palavra de auxílio? Poderia até rolar, mas tinha um preço que, em geral, era ser fofoqueiro e delator.

Lembro que sempre compartilhava essa péssima experiência e todo mundo me dizia que nunca tinha passado por isso. Ou seja, era EU quem tinha de vivenciar essa experiência e aprender com ela (eu e as pessoas desse grupo, obviamente).

 

**

Então, hoje, este dia com gosto, cheiro e textura especial... me faz pensar no quanto tudo mudou e no quanto eu mudei. Minha solidão sempre foi uma característica que eu tentei não ter, mas, até hoje, quantas pessoas quiseram me conhecer? Eu tenho que pagar alguém para poder ser ouvida? Quantas pessoas estão dispostas a conhecer outras pessoas simplesmente porque, apesar de tudo, nossas relações humanas são tudo que importa nesta vida, mais nada. Quem?

Sem as relações humanas não temos dinheiro, não temos sociedade, não temos família, não temos com quem nos comparar, não temos ódio nem amor. Se o ser humano não se relacionar entre si, coletivamente, não há nada.

Já aprendemos muito... e ainda temos tanto a aprender.

O que sinto agora, certamente não gostaria de estar sentindo... mas quão diferente esta solidão poderia ser, senão essa que estou vivendo?

 

Quem é você hoje?

Há algum tempinho eu comecei a reparar uma necessidade absurdamente gigante de pessoas próximas a mim de terem um perfil definido. Confesso que observei, mas, a princípio, não dei muita atenção, achei que fosse "coisa de momento" de cada um. Porque, é meio assim, né? Falo por mim mesma, quando eu me recordo especificamente desses momentos em que eu queria estar inserida em uma classificação não apenas pelo fato de ser uma definição, mas por conciliar essa atitude como um marco do meu autoconhecimento sobre mim mesma.

Décadas atrás, muito antes de internet e informação compartilhada na velocidade da luz, o que eu mais queria apenas é ser uma lésbica que não sofresse retaliação ou preconceito, que ninguém me apontasse o dedo e me julgasse e condenasse, que fizesse bullying comigo. Imagina esse cenário em 1999. Imaginou? Ao longo dos anos seguintes, até cerca de 2007, eu vivi um momento de explosão em que fui eu mesma de todas as formas possíveis, de virtudes aos piores defeitos. Eu me impunha, impunha quem eu era, porque eu queria ser aceita dessa forma e ponto final.

Hoje em dia, aos 44 anos, confesso que depois de um tanto vivido e sofrido, depois de flertar tanto com a morte e abraçar tanto a depressão e a dor, sabe o que sinto? Não faço questão de ser enquadrada em tipo nenhum. Se quiser me enquadrar, fique à vontade, porque eu mesma não sinto mais essa necessidade. Eu sei o que sou, o que ainda tenho e o que eu já perdi. Que diferença vai fazer dizer em letras garrafais X, Y ou Z sobre mim mesma? 

Estranho se sentir assim, confesso.

Então, eis que vejo as pessoas ao meu redor, especificamente desejando ser tratadas de tal forma, não aceitando ser tratadas de outra forma - só não acho justo ficar bravo se o interlocutor mais desavisado não fizer o tratamento adequado, apenas por puro desconhecimento. Eu vivi uma época em que falei para pouquíssimas pessoas "prazer, eu sou lésbica, me aceite como sou!" Até cheguei a fazer isso, mas não deu muito certo! rs

Bem, este é um post que me veio, não elaborei uma reflexão muito mais profunda sobre o assunto. Seja quem você for agora, parabéns por conseguir este esclarecimento para si mesmo. Autoconhecimento sempre será, para mim, o maior objetivo nesta vida.