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Meu amor por David Lynch

Eu tenho uma admiração por este cineasta que traspassa fronteiras. O que temos em comum? O gosto pelo não-convencional.

Mas, claro, ele é David Lynch, capricorniano maluco, cheio de curtas nada convencionais e longas menos convencionais em grau mais elevado.

Muitos dizem não entendê-lo. Outros apenas o classificam como insano. Enquanto outros riem desistindo de qualquer tentativa de tentar entender, eu apenas penso que ele não deixa de ser um cineasta como todos os outros. Tudo é ponto de vista e visão. A matéria bruta é sempre a mesma. Veja, por exemplo, em Mulholland dr., meu filme favorito: é uma história de amor. Ele mesmo tinha dito isso em entrevistas. O que pode parecer simplório, na verdade, é a primeira compreensão que devemos ter dele.

Agora, o modo como ele vai mostrar uma simples história de amor é que o torna David Lynch. E eu adoro o modo como ele brinca com o onírico, o esotérico, o fantástico e o inconsciente. Farpas que todo mundo costuma fugir. Não somos quase aqueles que gostam da superfície? Como ele mesmo diz em seu livro, você pode pegar peixes em qualquer profundidade, mas será apenas aqueles pescados nas águas mais profundas é que surpreenderão você.

Fora isso, Mr. Lynch é adepto da Meditação Transcendental, motivo que o fez visitar o Brasil no fim do ano passado. Fiquei um dia inteiro para assistir aos 40 minutos de um homem de cabelos grisalhos que tinha feito o meu filme número 1. Parecia surreal. Mas é exatamente nessa hora que você compreende que ele continua sendo apenas um homem como outro qualquer, que fez as escolhas que fez.

Quando fui assistir a Inland Empire na Mostra Internacional de 2007, repleta de expectativas de um filme que demorou a chegar no Brasil, não sabia mesmo o que esperar. Apenas sabia que ele tinha rompido com todas as regras do cinema, ao "destruir" o roteiro.  Peguei fila. Aguentei os falsos intelectuais lotando a sala. Sentei na minha sagrada primeira fila. Assisti com delírio as pessoas se levantando e saindo da sala após os primeiros 40 minutos de filme. David Lynch não é para todos.

E não digo isso com a alegria de ser elitista, muito pelo contrário. Digo isso, porque como sempre afirmo a quem me conhece: estamos em níveis, querendo ou não. Os que saíram da sala naquele dia queriam pegar peixes na superfície rasa. E David Lynch requer coragem para olhar bem mais além.

Dos clássicos de Lynch, nunca vi o Eraserhead e o Lost Highway. Que vergonha. Eu até tenho trilha sonora do Lost highway, mas nunca vi o filme. Bem, decidi que escreverei uns posts falando sobre alguns dos principais filmes de David Lynch.

Estes dias revi (pela vigésima vez, por aí) Mulholland dr. com a paixão da primeira vez. E cada vez que vejo este filme vejo a perfeição materializada. É um fillme perfeito, com timing perfeito, atores perfeitos, roteiro perfeito.

Dois filmes novos

Recentemente, vi dois filmes novos (na verdade, ando vendo uma penca deles -- menos os da Mostra deste ano) e acho que vale o comentário deles aqui.

Primeiro: Presságio (Knowing).
Tudo bem que as traduções para o português nunca ajudam e o dever comercial acima de tudo é mais importante que um nome adequado.
Detalhes técnicos do filme podem ser vistos aqui.
O que gostei deste filme? As cenas de desastres. Absurdamente fantásticas. Fiquei imaginando uma sala UCI, com a maior tela possível. Eu teria chorado de emoção. Depois, gostei do fim que, obviamente, não falarei aqui, mas foi fantástico. Quase exatamente como queria que fosse.

Segundo: Distrito 9 (District 9).
Que belo filme de ficção científica! A beleza da realidade nua e crua, enredada num roteiro bem conduzido me surpreenderam. Não existem motivos de explicar o que é a raça humana, nós já sabemos. Não precisa explicar nossas ações mais rudes, brutas e guturais. Já sabemos. Sem maniqueísmos, o filme com produção carimbada de Peter Jackson é uma excelente forma de lembrarmos quem realmente somos -- ainda mais com alienígenas entre nós. Mais informações no site oficial.

Masturbação feminina no cinema

Um dia, me peguei pensando na temática do título acima: "masturbação feminina no cinema". Pois que parece ser um certo tabu entre cineastas mostrar uma mulher em seu momento mais íntimo, ou será apenas ideia minha?

Não sei. Mas resolvi consultar algumas amigas minhas bastante cinéfilas de todos os segmentos: Sharlene, Denise e Poliana. Consultei algumas outras pessoas também. Fiz algumas pesquisas... mas não digite isso no Google porque só sai pornografia ou venda de dvd erótico.

Bom, eis que após algum trabalho, reuni os quatro filmes. Se algum leitor meu se lembrar de algum e quiser adicionar... faz favor.

Alguns links de pesquisa em inglês precisam ser mencionados. Mas muitos filmes ou eu não vi, ou tratam de masturbação masculina, o que não é o caso aqui. Vejam este blogue com o post "10 best masturbation scenes". Também em Screen Junkies.

Eu não citei nenhum filme brasileiro, mas acredito que a gente deva ter algum representante. Quem souber, por favor, se manifeste. Aqui a seleção e a ordem são aleatórias. Tentei criar uma classificação, mas não fui muito feliz, então, segue a lista:

Cidade dos sonhos (Mulholland dr., 2006, David Lynch)
David Lynch não satisfeito em lançar homens do saco, duendes e velhinhos neuróticos, jogou uma das cenas mais ácidas do cinema, na minha opinião. Bem, este é o meu filme eternamente número 1 da minha lista, então sou suspeita. Quem não conferiu, confira: Mulholland dr. é uma obra-prima, na minha humilde opinião.
Naomi Watts, no papel de Diane Selwyn, protagoniza uma cena de masturbação que pode ser interpretada de várias formas: desespero, angústia, solidão, dor. Ela não quer sentir prazer, mas expurgar sua própria dor. A cena é muito bem feita e dá um soco no estômago do espectador.
A atriz deu esta entrevista que vocês podem ler neste link: e eu destaco o trecho seguinte -- 'To do the scene, Watts describes her character at this point as "being full of self-loathing when she couldn't get out of a horrible, deep, dark psychosis. David wanted quite a specific thing in that masturbation scene, even though I kept on weeping and falling to pieces, because I just felt so embarrassed and humiliated. He didn't want me to EMOTE too much, but he wanted me to be reaching for her, reaching in a desperate way to get back to a place where we were at before." '

9 e 1/2 semanas de amor (9 1/2 weeks, 1986, Adrian Lyne)
Diferentemente do primeiro filme, este guardadas as devidas comparações, trata da psique humana em relacionamentos doentios. Adrian gosta deste tema, como tratou neste filme e em Atração Fatal.
Quem se lembra, Kim Basinger, enquanto estava doida pelo personagem de Mickey Rourke, aproveita um momento de tesão e protagoniza uma bela cena de masturbação -- a única desta lista que separei -- em que o sexo está quase que totalmente dissociado de alguma dor ou patologia.

A casa dos horrores (Madhouse, 2004, William Butler)
O filme é uma mistura de suspense com terror psicológico. Uns odeiam, outros amam. Eu adorei este filme. Passa-se dentro de um hospital psiquiátrico decadente onde os pacientes passam seu tempo, sem cuidados e tratamentos específicos (tema meio comum, quando se trata de filmes sobre manicômios ou coisas do gênero).
A cena é bem rápida e específica de uma internada, com problema de ninfomania e viciada em sexo, precisa ficar se masturbando o tempo todo. Incômodo, desconcertante e interessante.

Anticristo (Antichrist, 2009, Lars von Trier)
Este filme dispensa comentários, assim como Mulholland dr. Mas preciso citá-lo, porque Charlotte Gainsburg protagoniza uma cena muito parecida com a de Naomi Watts em termos da essência da cena. Os motivos são diferentes. Mas o núcleo é o mesmo.
Já disse que vejo muita semelhança neste filme do von Trier e do pensamento de David Lynch, pode ser loucura minha, mas os dois cineastas pegaram o mesmo núcleo apenas para trabalhá-lo de forma diferente.

Não escrevi nem escreverei um post falando sobre masturbação masculina porque frequentemente ela é associada à comédia. É fácil e legal tirar sarro de um cara que bate uma punhetinha e é ridicularizado pelos amigos, ou pego em flagrante, ou qualquer outra cena que gere uma piada - em geral, sem graça.

Já a masturbação feminina é tratada até com um certo rigor. Não precisa descambar para a pornografia e ainda bem que desconheço algum filme que tenha feito isso. Mas pelos poucos exemplos que citei acima, dá para perceber que a superfície é a camada menos usada na interpretação.

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