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O vazio infinito

Em uma tarde como esta,
você pode querer assumir todos os desejos
e distribuir sua libido entre estranhos desconhecidos
um pulo no infinito vazio e escuro
minha alma seria seu subterfúgio
e sua alma seria meu secreto relicário.

Em uma noite como esta,
eu vou querer ir além do óbvio do proibido
e furtar o pouco que resta de você
sou uma alma desesperada gritando no vazio
e não serei mais seu relicário.

Em uma tarde como esta,
não pedirei compreensão, mesmo que a precise
não estarei sozinha diante de meu próprio espelho
e não mais lembrarei de você
com o peso de minha franca consciência
não serei mais nada.

Em uma noite como esta, eu penso
como eu nunca pude sentir saudades suas
e como eu nunca tive nada além do que queria ter
nenhuma surpresa, nenhum susto
distribua seu desejo entre estranhos desconhecidos
e eu pularei no infinito vazio e escuro
de frente.

(14/01/2007)

Comentários breves e aleatórios

Os últimos dias têm sido muito corridos e em breve digo por aqui os motivos. Fato é que meu corpo tá podre, o calor carioca assola até o osso nessas horas e meu cérbero ainda precisa raciocionar com precisão. Welcome to real life!

Também aconteceram algumas coisas interessantes no plano internético e que merecem minha reflexão aqui fora. Vamos a algumas delas:

1-) notícias de pessoas que estão voltando a antigos empregos: me perdoa se alguma dessas pessoas cair no blogue e ler isto aqui. A vida é de cada um e apenas a própria pessoa pode julgar e dizer o que é bom ou ruim. Mas, eu tenho direito, aqui no meu blogue, de maneira anônima e sintética, dizer o que penso. E o que penso é o seguinte: entre seguir adiante numa estrada escura, sem iluminação, sem destino e sem saber de nada e voltar para uma casa que pode me dar abrigo, talvez mais conforto que antes e mais alimento que antes -- eu prefiro a estrada escura. Por que? Eu tenho essa mania de abrir caminhos com facas cegas, servir de inspiração e pensar: "eu posso e eu consegui". Muito pessoal e meio ególatra, mas eu sou sincera.

2-) para tirar belas fotografias não é preciso ter uma supermáquina com mega zoom, mega lentes e mega megapixels. Depois de ver as fotos de Grazy Pisacane ao longo de quase um ano, me certifiquei absolutamente disso. Ela tirou fotos desse mesmo show da Isabella Taviani (que tá todo mundo careca de tanto ver) e não ficou apenas tirando fotos e fotos e fotos do rosto dela (como vejo em muitas fotografias de máquinas com a descrição acima). Ela trabalhou o cenário, as luzes, as sombras, a fumaça de maneira tão bela que parecia um outro show!!! Fiquei impressionada e faço aqui mais elogios em público. Não puxo saco de ninguém gratuitamente, mas essa garota não apenas tem uma máquina boa e é fotógrafa: ela tem a sensibilidade de fazer outras imagens com a sua lente. É uma das melhores fotógrafas dos shows de Isabella Taviani que eu já vi. Moema Andrade é outra que muito me impressiona, mas faz tempo que não a vejo indo em shows... hehe.

3-) a diferença entre ser fã e ser louco: okay, eu sei que ser uma #DemôniaTwitteira significa ser louca. Mas não consigo. E todas as vezes que vejo fãs alucinados, não importa o artista, só me dá muita vergonha alheia. Eu gosto de ser essa fã assim... presente na hora certa. Ajudo na divulgalção do meu jeito, faço as homenagens no meu blogue, vou a todos os shows que posso ir... mas daí a roubar tudo que está no palco, tatuar nome no corpo, pegar toalha, ser indiscreto... me parece desnecessário. Mas, como hoje é dia de falar coisas desse tipo, perdoa se algum fã desse tipo cair aqui e ler este texto. É apenas a minha opinião, minoria absoluta.
E bora que o dia ainda está começando e não fiz quase nada!

vão ilusório

Seus olhos estão fechados
e ainda assim você insiste em olhar
como se pudesse ser capaz de capturar
alguma surpresa
alguma esperança inusitada.

Seus lábios estão selados
mas ainda há algo que continua latente
alguma palavra perdida
esperança comedida
algo.

E você anda e você se move
como se o ritmo pudesse apenas
aliviar a inquietação de sua alma
mas você já sabe
que é tempo desperdiçado
o tempo que nem veio
e aquele ido.

Você pensa que você dorme
mas seus olhos continuam abertos
seus lábios continuam à busca
de uma mesma palavra
de uma mesma sentença
um alívio para ignorantes
um vão de conforto
ilusório.

E os dias se passam
entre estranhos conhecidos
desejos declarados e sonhos esmorecidos
até tudo girar
e fazer parte do esquecimento
até tudo girar
e voltar como algum fardo
esquecido.

E assim somos, eu e você,
faça sua arte e eu farei minha poesia
voltaremos a caminhar
como se nada tivesse acontecido
como se apenas pudéssemos
fingir
e sorrir
num vão ilusório qualquer.

(16/08/2008) > meu último poema escrito registrado.

Um amor em bitucas de cigarros

São 17h32 de uma tarde
quase fim de véspera de seu aniversário
e enquanto eu observo
o mesmo sol se pôr
eu penso em como a vida é engraçada…
ah!
como a vida é engraçada.

O único calor
é o do cigarro aquecendo as pontas de meus dedos
e eu hoje eu lembro de você
que fica tão bem de vermelho…
e agora eu imagino você
sentada neste mesmo banco azul
uma cena de um filme
de David Lynch, Bergman, Kubrick ou Almodovar
como eu queria poder te fotografar.

Mas, eu estou sozinha sob esta mesma árvore
que um dia foi a única testemunha
de uma conversa tão íntima
quanto estranha…
agora, eu olho para o chão,
e vejo todos os cigarros que você fumou
mortos.

Eles são como todos os beijos
que eu não tive de você
tantos beijos em tantas bitucas de cigarro
um amor em bitucas
que dura o tempo… de um cigarro
como ironia, quase como um vício
eu estava viciada em você
terra sedutora… terra sedutora…

Mas, um dia, eu roubei um beijo seu
de uma bituca de um cigarro qualquer
no dia em que o nada testemunhou
a distância e a proximidade
a única coisa comum entre nós
e enquanto eu ouço Stereophonics
vou pensar em você
e como seria se ao invés de um, fossem duas.

E vou contar as bitucas de cigarro
a engraçada e cômica fotografia
do que tínhamos
um amor em bitucas de cigarros
que, mesmo diferentes,
ainda são partes de nós
as únicas partes
que permanecem firmemente juntas
no chão.

(13/09/2007)

A mesma estrada

Os olhos daquela mulher
estão pintados com a cor da luxúria
e esses mesmos olhos
que olham com outros olhos
a mulher da esquina
de cujos lábios gotejam palavras mudas
tentam ser desvendadas
por uma mulher que não olha nem fala
a mulher parada, estátua solitária
sob o silêncio de lembranças
sob as circunstâncias tão incompreensíveis
de sua única solidão.

Entre, atravesse as fronteiras
um outro-mesmo ser que respira ar
não há datas, nem há dias no calendário imaginário
que se desenha no cotidiano absorvido
de seres igualmente semelhantes e diferentes.

(02/08/2003)