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A maior e mais importante pergunta de todas

 Hoje está um dia frio de 18ºC, atípico para a época.

Um domingo de folias mas em meu coração o único repique é o questionamento.

Acho que nunca fiz tantas perguntas. Eu sempre fiz muitas perguntas, sempre tive curiosidade, sempre quis saber o algo além que uma informação traz. Nunca me satisfiz com uma afirmação. Na minha cabeça, certezas nos guiam mas nos delimitam. 

Será que chega um momento na vida em que cansamos de perguntar?

Será que chega um momento na vida em que precisamos parar de procurar?

Será que chega um momento na vida em que nada mais faz sentido?

Quem acompanha este blogue, sabe que sempre faço declarações contundentes. 

Mas, hoje, o dia é de frases curtas, pensamentos cortados, lembranças aleatórias. Um silêncio do lado de fora que não se mistura com a torrente infinita em minha mente e em meu coração.

Talvez, a melhor pergunta que eu deva fazer a mim mesma seja: se você pudesse apertar um botão que determinasse uma outra rota, distinta de tudo que você viveu até agora, você apertaria esse botão? Você aceitaria viver uma vida comum e oposta a tudo que você descobriu e que direcionou para o que você é hoje?

Apertaria?

Não sei.

Acho que enquanto viver, não terei um momento de tranquilidade em que possa afirmar: nada vai me desestabilizar. Tudo está sob controle.

Acho que estou com saudade de viver sedada e cega para a realidade, saudade de viver em uma ilusão.

Porque quando você escolhe trilhar o caminho oposto à ilusão, é preciso coragem para resistir e perdurar.

Sobre o idealismo e sobre o amor

Acho que sempre fui pretensiosa, admito, por acreditar que uma experiência dolorosa é capaz de nos dar nortes poderosos feitos a partir de reflexões profundas e conclusões quase absolutas. O tempo, sábio, sempre nos mostra que somos sempre aprendizes. E é não tenho vergonha em admitir essa breguice — sou uma constante aprendiz, talvez, um pouco mais esperta agora.

Depois de 2019, eu me considerei capacitada a enfrentar qualquer dor que atravessasse meu caminho em qualquer área da minha vida. Bom, para quem não sabe, esse foi o pior ano da minha vida, que eu sempre repito para mim mesma como um lembreete de onde eu não quero mais estar. E, não coincidentemente, não fiz uma única postagem neste blogue nesse ano.

Eu sabia que algumas resoluções precisavam ser feitas... e seguidas. Depois que você perde muita coisa na vida, em especial o que há de mais puro dentro de sua alma, creio que existam dois caminhos simples a serem seguidos: a recuperação (otimista) e a amargura (pessimista). Alguns seguem um caminho ou outro de forma mais extremista, enquanto que acho que a maioria de nós fica ali no meio-fio, escolhendo lados sem definição, flertando com o que mais agrada no momento.

Eu segui o caminho da reconstrução. 

Porque embora já soubesse, ainda não tinha admitido para mim mesma algo: eu sou idealista. Eu sempre fui idealista e parte das minhas dores nasceu de um terreno não cuidado do meu idealismo. Sim, porque não basta ser puramente idealista, é preciso cuidar desse parte crucial de meu caráter. Os riscos de se viver sob o julgo de um idealismo imaturo cobram um preço muito alto. Preço esse... que já paguei inúmeras vezes.

Mas ainda tinha uma característica minha que eu não queria admitir e que precisou de quase dois anos para que eu tivesse coragem para colocá-la em evidência, para cuidar dela, para tratá-la com o devido respeito. Porque, juntamente com o idealismo, ela sempre fez parte de mim e eu simplesmente a tinha enterrado, soterrado debaixo de muitas experiências ruins e muita dor - o que é a atitude mais comum feita pela maioria das pessoas.

Eu sou romântica, eu acredito no amor.

Acredito que o amor é a resposta para tudo. E essa caracteristica está intrinsecamente ligada ao idealismo. Como eu pude separar as duas coisas, que são quase a mesma coisa?

Pois é... separei.

Precisei fazer um exercício de resgate das lembranças mais antigas que sempre tive sobre as formas de amor que eu senti ao longo da minha existência. Começou com uma foto minha e de minha mãe, que eu associava a um sonho constante que sempre tinha sobre uma mulher que amava, mas que não sabia quem era. Eu achava que ela existia, mas não, ela era uma ideia - a minha concepção de amor - que estava ali, inconscientemente, me chamando. Eu tive muitos sonhos recorrentes em um período curto de tempo. Tudo isso no primeiro semestre do ano passado, especialmente.

Quando eu fiz a conexão, parei de sonhar. E nunca mais tive esse sonho que, agora, são recordações anotadas e guardadas no meu diário virtual dos sonhos.

No final do ano passado, eu fiz algo que nunca tinha feito até então (por preconceito, admito, coisa de pessoa formada em Letras — que erro!): comecei a ler uma fanfic. Foi um ato despretensioso mas estimulado principalmente pela autora: ela sempre me passou credibilidade e eu resolvi dar uma chance.

À medida que fui lendo os capítulos sendo escritos, lágrimas e emoções ressurgidos em total polvorosa dentro de mim (a fanfic é uma história de amor improvável, mas ainda assim, uma história de amor) me chamaram à reflexão. Por que estou sentindo tudo isso? De onde vêm esses sentimentos? Eu ainda sou capaz de sentir tudo isso apenas lendo uma "fanfic"?

Então, a ponte que faltava foi feita.

As reflexões que eu já tinha feito com os sonhos recorrentes que tinha se juntaram ao turbilhão de emoções que eu senti lendo a fanfic - e tudo fez sentido!

Precisei de um tempo para processar, afinal, a mente racional tem uma velocidade, a nossa intuição tem outra e nossa alma tem outra. Precisei alinhar todo mundo para um trabalho em conjunto. A primeira coisa que fiz foi me deixar levar por todas as emoções sentidas lendo a fanfic. Me liberei sem amarras. Comecei a reouvir as músicas de amor que eu sempre amei e que tinha parado de ouvir. Ainda estou caçando uns filmes românticos para ver.

Ao mesmo tempo, fiquei pensando no histórico da minha vida amorosa. Em tudo que sempre fui, as coisas que sempre errei, as felicidades e as imensas dores (essas muito mais) que eu sempre vivi. As decepções. As perdas pequenas e contínuas que foram minando a minha crença no amor. Aos poucos, guardadas as devidas proporções, eu estava me tornando naquilo que eu sempre critiquei: uma sapatona de meia-idade amargurada que não acredita mais no amor e não tem nada a oferecer nada além de reclamações e dores.

NÃO! ESSA NÃO SOU EU!

E esse foi o insight mais maravilhoso que eu poderia ter ganhado de presente de mim mesma.

A minha mente racional diz: a sua realidade ao seu redor continua a mesma, nada mudou. E eu respondo, sim, é verdade. Mas ter alcançado esse entendimento de mim mesma me libertou. Estou me sentindo consciente. Como dizem as frases de autoajuda, não posso mudar as coisas ao meu redor então mudo a única coisa que posso mudar: eu mesma.

Para finalizar, o sentimento de reencontrar essa versão mais pura e antiga minha, que eu achava que estivesse morta e destruída, tem me feito tão bem, que eu não quero me apaixonar, não quero flertar, não quero encontrar (em alguém) lá fora o que tem me satisfeito aqui dentro. Não preciso disso agora — o que não quer dizer que eu não vá querer. Mas, agora, o simples e puro agora é este: estou encantada comigo mesma. Essa parte preciosa que sempre foi minha e que eu achei que tinha perdido.

Uma Cris que sempre foi doce e dedicada, que adivinha pensamentos, que faz leituras precisas... que sempre ansiou por um amor que simplesmente exista por existir e que não precise de lutas, batalhas, provas contínuas e dor. — esse é outro tipo de amor. Eu anseio por um amor (que eu creio ser quase impossível existir entre seres humanos comuns) que seja sábio e aprendiz, pleno e humilde, que acalente e aconchege. Um amor que não duvida. Um amor que, nós humanos, ainda temos tanto a aprender...

Uma longa reflexão que ainda continua... mas que precisava ser registrada, aqui, como a primeira de 2023.

Feliz ano velho

 E, num bater de asas de uma borboleta, este ano praticamente se foi.

Como sempre faço (não apenas na retrospectiva, mas como hábito que seguirá comigo até o último suspiro de minha vida), estou reflexiva. Pensativa. Pesando prós e contras. Vendo onde valeu a pena. Vendo onde eu errei, de novo. Me lembrando das promessas de começo de ano e o quanto eu consegui cumprir e o quanto eu falhei.

O balanço?

Bem, a gente planeja as coisas como se tudo seguisse um fluxo de raciocínio comum. É impossível prever as surpresas, nem mapa de previsões ou tarô são capazes de fazer isso. Nessas horas, estamos suscetíveis ao acaso, ao destino... ao que você quiser dar nome.

Com o tempo, percebemos que quanto mais nos acostumamos às surpresas da vida, quanto mais aprendemos a ter jogo de cintura, a relevar, a perdoar, a aceitar, a entender e a brigar onde é preciso... podemos dizer que alguém alcançou mais um nível de maturidade.

Pois acredito que maturidade seja isso: ter as rédeas da vida na mão, saber conduzir nossos cavalos, e saber continuar tocando a vida mesmo que não tenhamos mais as rédeas, uma roda se soltou, sua bunda tá cheia de calos pelos buracos da estrada.

Este ano não foi fácil. Não me recordo de um "ano simples" há mais de uma década em minha vida. Tenho bons momentos, mas esta longa estrada da vida (acompanhando meus trânsitos astrológicos) é um constante teste para saber se a minha fé em mim mesma continua firme e indiscutível. E, neste ano, eu tive provas de que sim, acho que cresci e amadureci mais um pouco. Larguei para trás os fardos da culpa e da mágoa.

No entanto, vivi mais um desafio único e inédito. E entendo que tudo que vivi até hoje me preparou para poder vivê-lo. Pois, precisei de foco, coragem, fé, humildade, resiliência e bons amigos.

Essa situação me mostrou algo muito claro: quanto menos resistência você faz com as coisas que você não quer em sua vida, mais rápido elas vão embora e menos você vai sofrer. Mas para aprender uma lição aparentemente "simples" como essa, eu tive de viver por mais de dez anos (citados acima) com dores iguais, mágoas iguais. Caso contrário, certamente, eu teria mais um carma para cumprir nesta vida. 

Não há receita mágica nem secreta para isso além disto: autoconhecer-se.

O autoconhecimento, além de matéria-prima para todos os livros de autoajuda, é uma das verdades mais imutáveis de nossa existência. Quanto mais nos conhecemos, nossas qualidades e nossos defeitos, mais podemos nos lapidar. Outra velha metáfora.

Tenho conversado sobre isso com algumas pessoas próximas a mim. E fico feliz por saber que compartilhamos de um mesmo conceito geral de que, sem se autoconhecer, não há muito para onde ir a não ser o lugar-comum dos erros e reclamações.

Não sei o que me espera em 2023. Mas sei que sem vocês - Denise, Manu, Renata, Aline, Lari, Maria Helena, Claudia, Nilce e Tamires (e outras duas pessoas que se despediram de mim e não irei mencioná-las aqui, já que elas decidiram terminar a amizade comigo) - este ano teria sido muito mais perigoso e difícil. Obrigada a cada uma de vocês pela amizade.

A todos nós, que mesmo na dificuldade, saibamos ouvir, compartilhar e falar. Pedir, se for necessário. E que 2023 traga muita saúde e luz!

Repetição

 Acho que tem um assunto que ainda não falei por aqui.

E não falar dele é como falhar em assumir uma das coisas que mais fazemos desde quando respiramos o nosso primeiro ar fora da barriga da mãe: repetir.

Repetimos atitudes que nos façam alcançar um objetivo. Que vai desde a sobrevivência, a uma simples teimosia, para realizar um desejo. Acho que a nossa vida inteira é um ato de repetição.

Repetição é rotina, diriam alguns. Repetição não é algo ruim, diriam outros. Verdade. Mas quem de nós sabe usar a boa repetição para viver? Quem de nós sabe repetir o que é saudável repetir e excluir a repetição que afeta a nossa boa saúde física e, principalmente, a mental?

Todos nós precisamos da rotina. A rotina é uma repetição forçada da nossa existência que vai se alterando conforme a nossa idade e o contexto ao nosso redor. Não gostamos de surpresas constantes, de altos e baixos. Não gostamos de ser surpreendidos e poucos de nós sabem lidar com o inusitado.

Outros já precisam tanto da rotina que não saem dela. E quanto mais a idade avança, mais ficamos enraizados nela. Cumprir uma rotina se torna não apenas um ato robótico mas uma certeza de que não é preciso mais assegurar a sobrevivência em um desafio diária caótica e estressante.

Este ano completei 45 anos. Uma idade que, quando eu tinha 30, imaginava de outra forma. Quinze anos atrás, a minha perspectiva passava por muitos fatores, menos a ideia de que a repetição se tornaria a característica mais marcante. E, não, não se trata de uma repetição positiva, mas tão maléfica quase a ponto de me matar.

E eis que, hoje, me veio essa ideia, tão forte quanto um insight e tão fraca quanto um pensamento que se esvai cinco segundos depois. Os livros de autoajuda estão aí para dar todos os termos que você quiser, acredito que o assunto nunca se esgotará porque se trata de algo crucial no ser humano.

Eu me lembrei de um curso esotérico que eu participei, uns anos atrás. Engraçado que a coisa que mais me incomodou, por incrível que pareça, foi a repetição. Me incomodava, aula após aula, continuar falando da mesma coisa. Eu não entendia aquilo. Achava que era por causa dos "idosos" da turma que tinha dificuldade para aprender as coisas.

RINDO.

LEDO ENGANO.

Os mestres espirituais não são mestres porque acham a alcunha bonita. Eles são porque já passaram por isso e sabem exatamente o que precisamos aprender. E a repetição é uma delas. Só aprendemos na repetição. Repetindo continuamente sem perceber o algo que está claro na nossa cara. E a repetição traz a mesma informação vestida de diferentes formas para que possamos percebê-la. E, mesmo assim, demoramos... ou nunca percebemos. Precisamos perder tudo, precisamos quase morrer, precisamos de um golpe de dor tão dilacerante para abrir os olhos. E, mesmo assim, ainda podemos não abrir. Sim, somos criaturas lindas, mas cegas e muito limitadas ainda.

Então, aqui, quase fechando as portas de 2022, este ano cheio de desafios únicos, conquistas únicas e experiências únicas, apenas assumo, humildemente, que mesmo tendo vivido boa parte da minha vida em um looping de repetição continuamente fazendo péssimas escolhas, eu acredito que posso aprender a escolher melhor, escolher boas repetições. Até não precisar mais repetir e criar novos hábitos.

Espero que 2023 seja bom assim para todos vocês, também!

Bem-vindo, ano novo

Dias e mais dias se passaram. Tornaram-se semanas... dois meses. 

O primeiro post do ano vem em março, no meio de um calor danado em pleno verão.

Reparei, entre as coisas do dia a dia, uma frase, uma ideia recorrente. Nada novo, por sinal. Mas que, não sei por que, veio pintado de novo, com uma sensação nova. Tudo começou com uma refrão de música "mas os momentos felizes não estão escondidos nem no passado e nem no futuro". 

Passaram-se alguns dias até eu lembrar "qual é a música?". Ao mesmo tempo, pipocando na minha retina, frases aleatórias do twitter, trechos de livros que estou revisando, estudos astrológicos que estou fazendo... "do you burn for the future or yearn for the past?".

Então, subitamente, aquela rara e gostosa sensação de paz. Rara, mesmo. Porque, para senti-la, preciso ter uma penca de fatores acontecendo concomitantemente. Mas, para minha surpresa, ao contrário. 

E eu acho que eu sei de onde vem isso. A princípio, do cansaço absurdo que eu tava de um monte de coisa acontecendo na minha vida e eu totalmente fora do controle, sem nenhuma rédea na mão, apenas contando com intuição, proteção divina e acessórios esotéricos. Mas, a gente sabe que tocar uma vida vai bem mais além desses apetrechos todos. É O CONJUNTO DA OBRA.

Acho que este livro que estou revisando agora meio que serviu pra fazer um puta de um liga-ponto gigante na minha cabeça. Um livro de um assunto que eu nunca escolheria para ler (bom, normalmente, eu não leio livros, pasmem! Só a trabalho mesmo) e que tem feito cair tantas fichas quanto um jackpot no Belagio.

É isso: o cansaço absurdo que eu tava sentindo de tudo ao meu redor virou uma reflexão inesperada sobre como cheguei até aqui, mesmo com todas as merdas que eu vivi - seja por escolha própria ou não. Eu sempre fui orgulhosa em admitir que gostava da minha vida do jeito que ela era, mas isso era uma falácia. Precisei dar mais uma bela volta no fundo do poço de merda para entender. E, hoje, eu sinto algo distinto.

Passei por tanta coisa nos últimos três, quatro, cinco anos... tanta coisa que viraria fácil fácil um livro de 300 páginas. Mas escrever esse livro seria recontar a merda e taí outra coisa que eu tô cansada de fazer. Eu sou uma pessoa sintética (a despeito dos meus áudios-podcasts que raríssimos amigos têm o prazer de ouvir hehe). Na minha cabeça se passa muita coisa até que eu resuma tudo em uma frase ou uma palavra. 

E as ordens que eu me dou neste momento são: síntese, amor próprio, aceitação humilde, ação. Muita ação.

É isso. Queria deixar registrado este momento único. Não vou prometer escrever com mais frequência aqui, mas tentarei. Ideias não faltam, mas às vezes elas simplesmente não querem se transformar em palavras digitadas.

Feliz 2022. Mais amor e menos guerra.