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O amor e o ódio nos relacionamentos virtuais

Acho que um dos meus maiores defeitos foi nunca conseguir andar na superfície. Ao contrário, eu sempre fiz um esforço gigante para me fazer de superficial, olhar tudo blasé e para tentar entender porque certas coisas nunca fizeram sentido nenhum para mim.

Os últimos meses andam numa agitação tão imensa na minha vida pessoal que eu tive de fazer o processo inverso de apenas deixar a vida me levar... deixar de ser crítica e andar apenas na superfície. Mas, como um chamado, eu não consigo deixar de ouvir essa parte intrínseca da minha pessoa, que é ser quem eu realmente sou. Então, vez ou outra, como agora, dou força total a esse meu lado e liberto tudo o que ele sente.

A introdução serve para ilustrar o que escrevo a seguir: observar pessoas. Adoro observar as pessoas e elas estão sendo observadas onde menos se percebe. E nem uso "ferramentas" específicas, é tudo apenas uma simples questão de olhar, ver e enxergar.

Se me privei do maior contato diário físico com as pessoas, aumentei ainda mais o contato virtual. De tal modo que todas as minhas lentes estão voltadas e focadas para esse lado.

Algumas coisas nunca mudam e talvez nunca mudem: a intensidade volúvel da internet. Acho que isso é o que mais me marca.

As pessoas se amam e se odeiam muito rápido em contatos virtuais! A extensão do reflexo e a carência -- acredito eu -- devam ser os fatores mais comuns. "Não importa quem vc seja desde que vc me dê atenção" é o lema dos relacionamentos da internet.

Aí as juras de amor caem feito temporal de verão. "Somos amigos eternos", "Te amo com todas as forças do meu ser", "Fidelidade é assim mermão", "Amigo que é amigo é como você" e por aí vai.

Vem o primeiro teste. Quando a coisa até tem um certo sentido, vinga. Mas aí vem o segundo teste... aí a coisa realmente periga porque "Eu me importo com o que você diz, se não estiver de acordo com o que estou dizendo". Aí caí uma verdadeira nevasca com rajadas de fogo (é possível, sim! hehe) "Amigos de verdade não são assim", "Eu achava que você me amava" e "Traíra de monta maior".

Aí o amor eterno vira inimigo jurado. Os antes amigos viram facções inimigas de torcidas de futebol. E nada do que você diga ou faça diminui, parece apenas gasolina intensificando o fogo!

Passa-se algum tempo e começam as frases indiretas lançadas com ares filosóficos em todas as redes sociais possíveis e inimagináveis. Não sou nada contra reprodução de frases... mas esse artifício sempre me parece pretexto para pessoas com preguiça de pensar e, até, falsos pensadores.

Ok, posso ter ido longe, mas não é meio assim mesmo? Eu me incomodo com quem fala apenas frases alheias ou mesmo conversa parecendo ter acabado de ler Goleman, Gasparetto ou o livro "melhores citações do mundo". Nada contra nenhum desses autores porque os já li aos montes! Mas uma coisa é ler um livro e procurar uma citação, outra é viver de citações, como uma eterna colcha de retalhos.

Então você começa a ler vindo de todos os lados "Não sou pessoa de indiretas". Claro que é!!! Todos somos!!! Por que? Porque os corajosos de puro coração são raros, se é que existem entre nós. A gente? A gente se esconde atrás de zilhões de subterfúgios, se enche de frases alheias apenas para esconder (outras vezes, mostrar mesmo) a nossa carência, a nossa superficialidade, a nossa pobreza de emoções genuínas.

Estamos todos juntos nessa mesma batalha "de sermos melhores do que um ser humano consegue ser". E, nessa, mundo virtual e mundo real são iguaizinhos. Exceto que nos relacionamentos virtuais ainda temos mais tempo de "esconder" quem realmente somos. Mas não tem jeito, uma hora vem a tona. E, ultimamente, o que mais tenho visto são personalidades emergindo... para boiar.

Geni, Irã e o Samsara

A cultura oriental sempre me pareceu mais atrativa do que a Ocidental. E não falo isso porque sou japa, mas porque a coerência parece mais ajustada. Durante as minhas aulas de Cultura Sânscrita na USP, eu sempre me pegava pensando que eu nunca seria uma seguidora devota (como não sou em religião nenhuma), mas uma pensadora constante.

Acabei de ler esta notícia no site da globo.com. E na hora me lembrei daquela velha música do Chico Buarque, indicada pelo meu amor: Geni e o Zepelim.


E pego pensando na primeira lição que o meu professor de Cultura Sânscrita me deu e eu nunca mais esqueci: não julgue nenhuma cultura com olhos ocidentais. Faça parte da cultura para tentar entendê-la, nunca julgá-la.

Lembro que essa premissa foi a base de muitos trabalhos de faculdade, por me parecer uma das verdades mais reais a que já tive contato.

Porque é sempre mais fácil apontarmos o dedo e dizermos "certo!" ou "errado". E isso não se aplica apenas à análise de uma cultura, mas da vida toda! Quantas vezes fazemos isso por dia? Eu me incluo nessa lista, viu?

Então, imaginar uma mulher sendo condenada à morte por apedrejamento em pleno 2010? Inimaginável. Não consigo. Como é inimaginável a mutilação dos órgãos genitais em vários países africanos ou, ainda, na China, quando as mulheres tinham de ter os pés de lótus para serem aceitas pela sociedade?

Diante de tudo isso, penso no Ciclo do Samsara, na nossa capacidade irrisória de compreensão do todo e na tristeza que me acomete por ver que tudo isso faz parte de nossa realidade.

A Humanidade ainda tem muito a caminhar. Cada um de nós, também. Para terminar este post pesado, deixo uma frase de Deepak Chopra:

"Be kind to yourself and others. Come from love every moment you can."

Tudo que sempre fomos... e continuaremos a ser?

Serei breve na observação, porque acho que sempre exploro estes assuntos por aqui, para quem é meu leitor.

Canso e canso de dizer que o ser humano é um perrenga. Admiro os otimistas. Demais. Queria ter muito de seu idealismo, otimismo e inocência. Juro que estas serão as coisas que lutarei muito para manter.

Mas é muito mais fácil ser profeta e defensor do ser humano quando ele "se elevou" a ponto de ficar isolado dentro de sua casa, seu reduto, seu mosteiro. É muito mais fácil ter complacência com o ser humano apenas vendo-o pela televisão. É tão mais fácil ter paciência com o nosso irmão de sangue quando convivemos bem longe dele.

Estar e viver no meio do povão pode ser carma para a maioria de nós (e eu me incluo). E o carma é pesado, porque se os "bem de vida" disfarçam bem seu egoísmo construindo castelos ao seu redor, os da "baixa ralé" se amontoam onde quer que haja gente. Mas não se engane: o egoísmo é o mesmo. Uns disfarçam a merda com perfume. Outros, apenas a exibem sem restrições.

Não sei aonde vamos parar com tamanho egoísmo. O ser humano é muito egoísta. Disfarça sua personalidade com caridades (os ricos, aos milhões; os pobres, aos centavos, na rua). A hipocrisia. A mediocridade. O egoísmo.

Nessas horas, lembro daquele frase célebre do finado e sábio Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas,1881: Não tive filhos não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.