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O fim do mundo (em dias de chuva)

Enganam-se vcs que pensam que fim do mundo será com bolas de fogo apocalípticas caindo do céu. Ledo engano.

Mais uma matéria sobre o aquecimento global. E ando acompanhando o evento em Copenhague.

Devo confessar que sou meio cética em relação ao futuro desse evento. Mas também, se eu não tiver o mínimo de esperança, o que será da já tão desesperada raça humana?

Veja o exemplo dessa chuva que assolou a capital de SP entre ontem e hoje. Uma chuva nem tão forte, mas contínua por quase 12 horas que alagou tudo.

Eu escuto as pessoas falarem "poxa, tá tudo alagado", mas são essas mesmas pessoas que jogam todo tipo de lixo nas ruas. Isso é o mínimo do que deveríamos fazer: jogar o lixo no lixo. Porém, se você olhar ao redor, vc não vai ver cestos de lixos, apenas enfeites, porque a maior parte deles está toda depredada.

Então, caro leitor, não tema as bolas de fogo caindo do céu. Elas virão em forma de chuva. E vamos nadar na própria merda, beber esgoto e comer comida jogada no chão. Cruel? Muitos já passaram por isso antes, por que não poderíamos passar agora?

Assim caminhou Crisão – parte 3 (e finalmente Crisão em grupos hoje em dia)

Eu gostaria de poder ter lido o livro que citei no primeiro destes três posts, antes de entrar mais a fundo neste assunto. Mas a urgência de falar dele foi inevitável. As ideias começaram a brotar com uma abundância, que apenas passando para o papel eu conseguiria me sentir aliviada. E cá estou.

Pelo um breve histórico dado nos posts anteriores, dá para perceber que nunca fui inserida em grupos – o que não quer dizer que eu nunca tenha desejado estar em um. De alguma ou de forma, eu sempre me punha na beira de algum aqui e ali, porque é incrível como isso dá forma ao ser humano como um todo. É uma necessidade intrínseca, de formação de caráter, de identificação. Mas algo em mim sempre me impelia à solidão. Era como se eu precisasse conhecer um lado, apenas para saber que na verdade, queria estar do outro.

Observe um homem sozinho. Ele pode ficar acuado até, dependendo do ambiente. Ponha dois caras parceiros com ele e instantaneamente ele se transformará no garanhão que canta as mulheres, cospe no chão ou coça o saco. Fala alto e falta só mijar para demarcar território. Claro, nem todos os homens fazem isso. Mas veja e perceba. As mulheres, por sua vez, agem de uma forma um pouco diferente, dependendo do grupo, claro. Sozinhas, elas ficam olhando para as mulheres do lado, desejando a blusa que a outra tem e ela não, analisando centímetro por centímetro das coisas que poderiam ser dela e são da outra. Em grupo, elas escolhem um alvo e falam mal dele. Destroçam a pobre coitada que pode ser uma gordinha, uma vaca, uma fofoqueira. Porque o grupo não é fofoqueiro, mas sim de quem elas estão falando. Veja e perceba.

Será que estou falando de uma camada socioeconômica menos favorecida? Não. Mudam os estratos, mudam as contas bancárias e as coisas continuam iguais, apenas mudam as cores. A forma? É sempre a mesma.

Meus “grupos” sempre se resumiram a três pessoas, no máximo, incluindo eu. Eu sempre achei que muitas pessoas causam algum tipo de “escolha” em detrimento de outra “escolha” e sempre rola ciúme e sempre rola inveja e a inevitável fofoca. Entre mulheres é assim, infelizmente, não importa se lésbicas ou heterossexuais.

O pensamento em grupo faz o pensamento de todos estagnarem, como água parada, até apodrecer. Claro, isso tudo é aleatório e varia. Mas, a síntese ainda é esta, mesmo em um grupo dinâmico. Porque todos concordam com todos. E aí jaz o prazer de estar em grupos: a total identificação com o que está ao seu lado, que faz todos os seus pensamentos serem aceitos. No fundo, é tudo aceitação.

Eu sou um tipo de pessoa que praticamente nunca conviveu em grupos. Desde grupos como ser humano a grupos pelo fato de ser lésbica. Você, meu leitor, pode achar isso agressivo, mas eu apenas convivi enquanto me era conveniente e bom para mim. Aprender o modus operandi, saber o que as pessoas fazem e dizem, para onde iriam. E acreditem em mim, até hoje não encontrei um grupo que me desse vontade de fazer parte. O grupo tolhe seus pensamentos, direciona suas atitudes. O líder – porque não existe grupos sem líderes – sempre se acha o dono da razão e da verdade absoluta, embora até possa apregoar o contrário, como um perfeito político demagogo. E isso me enoja profundamente. Sempre afirmo – até que me provem o contrário – que eu pertenço a um único grupo: o dos sem-grupo.

Eu não pertenço a religião nenhuma e me simpatizo apenas com o movimento universalista que acredita que a Terra é uma imensa escola e que nosso objetivo único aqui é de aprendizado e crescimento. Não faço parte de ONGs. Não defendo política nenhuma. Não participo de saraus. Sequer tenho o meu grupo de balada. Nada disso faz parte da minha personalidade. Talvez eu seria um bom exemplo de sociopatia… não fosse meu prazer imenso em conhecer pessoas. Pessoas inteligentes, interessantes, corajosas e sábias. Preferencialmente que não esteja atrelado a um superego que embace a visão. As mais interessantes são sempre aquelas que não fazem alarde de si próprias.

A despeito disso, tenho amigas únicas, que valem cada segundo de vida. Sempre presto homenagem a elas, pois de alguma forma, sempre estão a meu lado e eu nunca me esqueço disso: minha filha Poliana, Denise Yumi e Sharlene são a tríade básica e essencial (olha, mais de duas pessoas!). Minha prima Marli, Priscila Mota, Larissa Wostog, Fabiana Kono (a mais distante de todas). Juliana Simionato, Renata Campos e Carol Francese. E algumas outras pessoas, em menor presença, mas que sempre me trazem surpresas agradáveis.

E olha que irônico, dessa lista de dez pessoas, apenas três são lésbicas. Isso diz muito de mim. E todas as outras sabem de mim e me respeitam como sou. Ainda na lista, existem três japas. Pura coincidência.

Porque, para finalizar, podemos precisar andar em grupos pelos mais diversos motivos, com o intuito de darmos forma à nossa identidade. Mas, não importa quem somos e com o que identificamos: acredito que precisamos saber estar em qualquer ambiente, com a mesma maestria que estamos no nosso grupo favorito. Acredito que a adaptação não devesse ser apenas a minha característica, mas a de todos os seres humanos. Claro, estamos onde queremos estar, mas transitamos onde quer que seja necessário transitar.

Post no PL e outras coisas

Pessoal, vão lá ver minha nova matéria no Parada Lésbica, desta vez falo sobre Torcidas Uniformizadas.

Primeira coisa: esqueci o pendrive com o término da trilogia. Grrr.

Segunda: amanheceu chovendo em SP. Eu adoro segunda-feira cinza, mas nem tanto...

Terceira: a Rua Doze de Outubro, na Lapa, está um verdadeiro cenário do filme Ensaio sobre a Cegueira. Sujeira, comida estragada, embalagens e plástico, muito plástico nas ruas. Ao meu lado, escuto uma mulher dizer: "Que porcaria, o túnel (de acesso aos pedestre entre lapa de baixo e lapa de cima) vive inundado. Por que será?...

Claridade

Fazia tempo que não reouvia o álbum Dois Quartos, da Ana Carolina. Sou fã incondicional desta cantora, a ponto de ir a dois shows seguidos, só pelo ardor de poder vê-la no palco. Depois, cansei. Cansei do excesso de berreiro dela e das fãs, cansei do sofrimento das músicas. E deixei de lado.

Mas, ontem, voltei e ouvi Claridade. Uma música divina, de uma melodia divina. Lembrei que em meados de 2007 (ano em que o álbum da Ana foi lançado), chorei muito ouvindo essa música. Aquele foi um ano especialmente difícil na minha vida inteira. Talvez um dos anos cruciais. Quem estava presente na minha vida e conseguiu passar por mim durante essa fase, está aqui até hoje.

E hoje, reouvindo, penso que como ainda amo muito essa música: “Eu não quero mais correr, vou cuidar do meu jardim. Trago flores pra vc, deixa o tempo lhe mostrar. Nossa história é mesmo assim. Chora, pois a chuva de agora, vai molhar as suas rosas e a tristeza vai ter fim. É hora, acabou a tempestade, pra chegar a claridade do amor.”

Eu paro e olho ao redor e vejo meus amigos: todos entrando em suas crises dos 30 anos. Eu paro e olho para mim mesma, com certo egoísmo em ver que sinto que a maior parte dela já foi embora. Eu tento explicar para meus amigos que a grande dica para esse período é: viva o que tiver de viver. Não se prenda, não se tolha. Apenas viva! Intensamente! O resto… é impossível prever o futuro.


Assim caminhou Crisão – parte 2 (sobre Crisão inserida em grupos durante a “vida adulta”)

Durante a pré-adolescência vivi um pouco do estigma de ser japa, morando num bairro de periferia que nunca tinha visto olhos puxados antes. Daí criei minha primeira característica: não sou aquele tipo de japa que só anda com japa. Pois acreditem: o separatismo oriental existe. E chega a ser radical em algumas pessoas, que só compram produtos e serviços de japas.

Passei uns mal-bocados, mas nada que se compare aos três anos do colegial em plena adolescência. Se houve um teste em minha vida para eu não me matar em plena fase áurea dos hormônios bombando, foi essa! E eu não me matei, embora tenha sido nessa fase que mais pensei com força que poderia me jogar na linha do trem. Seria uma morte brega.

Nessa época, tive duas amigas mais próximas: Elisabeth e Rosana. Por coincidência ou coisa do destino, nosso amor em comum era a literatura. Um pouco teatro e um pouco música. A Rosana tinha uma guitarra vermelha lindona e dedilhava Guns n’ Roses. Montamos uma peça de teatro. Eu participei de concurso de poesias. Foi frutífero para o meu intelecto.

Porém, eu já sabia que era lésbica e não conhecia ninguém que fosse. E não sabia como falar disso. E eu era uma japa zoada violenta e diariamente por moleques com espinhas na cara que – em grupos – se achavam os reis e os melhores. Como o bom e típico adolescente.

Àquela altura da minha vida eu tinha aprendido algumas coisas, embora sem conseguir enumerar da forma como faço agora: o silêncio é de ouro. Conhecimento é poder. Eu posso viver comigo mesma, com milhares de segredos, transcrevendo minhas angústias e dores em forma de poesia (nessa época eu chegava a escrever quase dez poemas por dia). Um dia, o meu dia vai chegar. Ninguém está comigo, não porque é impossível, mas é porque não existe outra forma agora.

Então, como sempre falo por aqui, desenvolvi um aguçado sentido de observação. Por ser tímida, por estar deslocada de quaisquer grupos que me aceitassem como eu era (e eu sempre fui uma garota normal! Apenas era meio nerd e japa). E, principalmente, porque sempre tive um conjunto que destoava da maioria. Desde cedo, poucas pessoas me aceitaram pelo que sou. E não porque eu era esquisita, mas porque eu não me encaixava naquilo que era o senso-comum e igual a todos. Começou com o fato de ser japa. Continuou com o fato de ser lésbica. E assim foi aumentando.

O que antes era um fardo, foi sendo assimilado por mim como necessidade de sobrevivência. Eu não conseguia me adaptar ao que a imensa maioria queria. E o que sobra para aqueles que ficam de lado e são ridicularizados? Depressão? Assassinos em série, como nos EUA? É um teste que a vida proporciona e poucos conseguem atravessar sem graves sequelas.

Aí entra o papel salvador da minha mãe que consolidou a base que eu já tinha: autoestima e independência. Minha mãe, de quem me orgulho muito, sempre me disse que tínhamos de ser independentes, desde as coisas mínimas até as maiores. Que não precisávamos de um professor para ensinar, bastava olhar e tentar sozinho que vc conseguiria! Que rica lição! Minha mãe dizia que nunca precisaríamos depender de ninguém se tínhamos a capacidade de aprender. Claro, ser humilde sempre, mas nunca se sujeitar à alguém apenas porque vc não é capaz de fazer sozinho.

Quantas pessoas por aí têm a sorte de ter a mãe que eu tenho? Claro que essa semente que ela plantou demorou a brotar, a crescer e a se tornar a árvore frondosa que ela é hoje em dia.