Clique

A torrente de sentimentos

Fazia muito tempo que não me sentia assim.

Estava com saudade de prosear... aquela conversa jogada fora, sabe? Mas sem falar mal de ninguém, sem ficar discutindo política ou tentando salvar o mundo. E neste fim de semana, tive a agradável surpresa de trocar tanta coisa boa com as mais do que queridas Cris Barufi, Fabi Lopes, Claudia Bertrani e Sharleu.

Estar fisicamente longe dos amigos foi tão bem definido pela Claudia como estar num lugar onde ainda você não conhece ninguém e não fez sua história. Ouvir isso me fez um bem danado. Sharleu sempre me faz sentir em casa, onde quer que conversemos. Vantagens de conhecer alguém há muito tempo e com quem você tem todas as intimidades que podem ser negociadas sem receio de cobranças indevidas futuras. Estar entre as loiras Xará e Fabi... bem, esse é um capítulo a parte, porque simplesmente é impossível não se contaminar com tanta energia boa vinda dessas duas surtadas!!!

Acho que nesses últimos meses acabei -- meio que sem querer -- exigindo demais de mim em diversas situações novas. Sim. Quando li este texto no site Somos Todos Um (que nem gosto muito, viu, indico apenas este texto aqui), penso que procurei exercitar ao máximo a humildade que, em mim, sempre foi meio falha. Quando me chamam de orgulhosa, me espanto. Mas não sou aquele tipo de orgulhosa que fere os outros (em quase a maioria de todas as vezes...), sou aquela orgulhosa que tem crença demais nas próprias crenças, entendeu? Isso acaba calcificando as possibilidades de conhecer outras coisas, por simplesmente você achar que... nem precisa.

Sou meio extremista, como não deveria ser em tantas vezes, e larguei o outro lado meu, aquele velho de sempre, com características minhas e tão propriamente minhas que me senti meio que me esvaziando. Porque é óbvio que quando você está em um ambiente social coletivo novo, você tem inúmeras opções de máscara para vestir. Vesti todas as possíveis e impensadas... e esqueci como era ser eu mesma. Um pouco do melhor que sempre houve em mim.

E, pelos bons deuses, como isso é bom... é um relento saber que ainda sei ser o melhor de mim. Você quase se esquece disso quando precisa viver tantos outros personagens. Ser o meu personagem favorito me renovou demais. Aí, como não consigo deixar de evitar o pensamento, pensei em como nos sabotamos assim, todos os dias? A minha sabotagem foi intencional, mas quantos de nós não se sabotam sem saber?

Bem, apenas quero e muito deixar aqui este registro de agradecimento a essa boa energia trocada. Bom também saber que tenho amigos tão distantes... e tão perto assim.

Minhas mães e meu pai - teaser

Graças à minha querida Fabi, consegui ter acesso ao trecho que tinha comentado no post anterior, quando me referia ao diálogo heartbreaking do filme que me levou às lágrimas. Mas, escute: se você não quiser ouvir, depois não reclame que eu dei parte do filme para você ver. Ou seja, apenas aperte o play abaixo se você não se importa de ver um "quase" final antes de tudo.

Obrigada por isso, Fabi!...

Minhas mães e meu pai - o filme

Sexta-feira fui conferir o The kids are all right -- que em português ficou como Minhas mães e meu pai. Filme que anda concorrendo a tantos prêmios, vem sendo tão elogiado pela crítica... aí eu fico reticente e achando que tem alguma coisa esquisita por trás disso tudo. Porém, nos últimos tempos andei perdendo tantos filmes com temática lésbica, que não podia perder esse!

Trago, mais uma vez, o Mestre David Lynch para dizer: "Um filme não precisa ser explicado. Ele é o que você quiser. Cada um o interpreta como preferir e conseguir." Sempre penso nessa lição grandiosa do mestre quando vou ver um filme qualquer. Percebi que, para este filme, de fato não há barreiras entre classificá-la como filme lésbico ou hetero. Eis a primeira conclusão que tirei, ao sair do cinema.

Vi entrevistas das atrizes Annette Benning e Julianne Moore que afirmam que é um filme sobre família, sobre detalhes particulares, sobre o amor. E quer tema mais universal do que falar sobre família? Família é meio aquela música velha do Titãs. Família é tudo igual e tudo diferente ao mesmo tempo.

Gostei muito da crítica da Veja Rio, de Isabela Boscov. Considerando o alcance que essa revista tem no público (e não necessariamente a sua idoneidade...) ela foi bastante feliz ao dizer: "O saldo é um filme que fala com muito conhecimento de causa de um casamento gay -- e, com compreensão e afeição inesgotáveis, de um casamento qualquer, e ponto." Acho que essa frase resumiria bem o filme. Porém, se ficou curioso além disso, precisa mesmo é ir vê-lo.

O elenco está soberbo, mesmo, como andei lendo. Gosto da plasticidade e da pluralidade de personagens que Mark Ruffalo e Julianne Moore conseguem fazer. Annette Benning é clássica. Os filhos tão especiais quanto. Mais que isso seria interessante fazer um único aparte: a relação entre o casal lésbico. Se tiver dúvidas de verossimilhança, acompanhe o desenvolvimento da história.

O filme tem um roteiro tão coeso que assusta. E é simples. Uma mágica que poucos roteiristas conseguem alcançar. O monólogo impactante, quase ao final do filme, interpretado pela Jules, vivida por Julianne Moore, me levou às lágrimas. Porque eu nunca vi uma definição mais perfeita de casamento do que aquilo que ela disse.

Infelizmente, eu queria reproduzir o trecho, mas não achei a versão final do roteiro na internet. Achei uma versão anterior, que pelo que li, não é a versão que foi filmada. Uma pena. Caso você, meu querido leitor, fica curioso, sacie-a indo ao cinema ver esse filme. Vale, viu? Porque em tempos de tantos filmes de ação, com foco em violência, 3D e mirabolantes histórias, a maior graça da vida está mesmo em detalhes... e em filmes como este.

Para falar de preconceito

Nos últimos meses, mesmo distante do mundo virtual, foi impossível não deixar de ficar sabendo do aumento (ou talvez, da exposição maior) do preconceito contra homossexuais. Eu sempre me nego a falar de algo que é tão óbvio e simples... mas diante de tantos fatos chocantes, não posso deixar passar o ano sem deixar meu comentário anotado aqui no blogue.

Que é sabido e mais do que repetido entre todos, que homossexuais existem desde que somos seres humanos, sejam com macacos (bonobos ou não), sejam com gregos, safos, romanos ou troianos. Lembrar isso, atualmente, é argumento fraco, porque já estamos literalmente carecas de saber.

Se colocarmos as coisas a ferro e fogo, como os preconceituosos sempre fizeram, poderíamos fazer assim: vamos excluir todos os homossexuais do planeta. Adivinha? Não vai restar muita gente e as que restarem...

No entanto, as coisas nunca devem ser vistas assim! Somos o resultado de uma rica interação, quer gostemos dela ou não. Ou vocês acham que eu, como lésbica, gosto de ver um monte de coisas por aí? Não gosto e nem por isso saio espancando quem me desagrada. Ok, isso também foi um argumento fraco, porque quem me conhece -- a despeito de minha personalidade um pouco agressiva -- sabe que sou incapaz de brutalidades anti-humanas.
Lembro de um show da minha querida Isabella Taviani em que entre uma música e outra, como introito da música Iguais, ela disse: "Por que existe o preconceito? É mais amor. Como podemos ser contra haver mais amor? É tudo amor!". Essa frase ficou marcada na minha cabeça.

Então, não saberia nem começar a pensar num motivo para o preconceito. Porque ele é irracional mesmo. E quanto mais você alimenta o irracional, mais monstro ele se torna, em mais ferramenta letal ele se transforma. Mas para e repara: estamos numa época singular da existência humana: a liberdade religiosa aumentou em proporções inimagináveis as mais diversas linhas, sub-linhas e sub-sub-linhas de católicos e evangélicos, por exemplo. Globalização parece palavra do passado, porque hoje em dia qualquer pessoa na rua tem um celular, todos de alguma têm acesso a internet, ou seja, a transmissão e o conhecimento de dados é feito assim, num piscar de olhos.

O planeta Terra está a beira de um caos, prestes a se desintegrar, a ser destruído por causa dos inúmeros erros causados pela ambição humana em construir, expandir e lucrar. Ainda assim, todos pagam as mesmas contas pelos mesmos preços -- uns bem injustamente --; a impunidade e a violência religiosa -- tão impossível de acreditar que ainda existe, mesmo depois do Holocausto -- ainda existe: e cada vez pior!

Então, me diga: por que existe preconceito? E por que o preconceito contra homossexuais aumentou? Há números que indicam que o Brasil (onde supostamente é o local da miscigenação e integração de tudo e de todos) é um dos países com alto índice de crimes homofóbicos. 

Acredito muito em um dia em que todos viverão harmonicamente, mesmo com seus credos, suas crenças, suas filosofias -- um mundo aquariano, ao pé da letra. Porém, infelizmente, creio que não será nesta vida. Eu poderia tentar escrever linhas e linhas sobre este assunto e não terminar. E eu, humildemente, nem quero tentar perpassar o amplo conhecimento que tantos estudiosos têm sobre o assunto como Luiz Mott, Jean Wyllys e Vange Leonel para citar os que me vêm à cabeça agora. Graças a Deus deve ter muita gente boa por aí que eu preciso conhecer.

Porém e até lá, não podemos simplesmente fechar os olhos para o preconceito, fingindo que ele não existe, imaginando um mundo cor de rosa, porque esse mundo não existe! O preconceito respira e está camuflado das mais diversas formas. O que resta a cada uma das pessoas que sofre homofobia ou qualquer outro tipo de fobia? Lutar. A luta é feita de muitas maneiras. Saindo às ruas. Escrevendo no blogue, como eu. Evangelizando -- no melhor sentido da palavra, porque preconceito é sinônimo de ignorância. E principalmente: não se escondendo, não ter vergonha nunca de quem é. Mostrar ao mundo que não importa qual rótulo nos seja dado. O que importa é quem somos de verdade como alma, como caráter, como ser humano de verdade -- que cada vez mais desaprendemos a ser.

***
Meu post scriptum vai para o documentário que vi este ano, chamado Celluloid Closet, já devidamente postado. Vale rever.

Quem somos, afinal?

Mais um fim de ano se aproxima... e com ela aquela sensação indescritível -- e sempre tão igual -- de que mais um ano se passou rápido demais, que deixamos de fazer tantas coisas ou que poderíamos ter feito muito mais. Aquela semi-impotência associada a um bem-estar paradoxal de que no ano tudo vai se resolver, porque toda vez que temos a chance de começar tudo de novo, tudo parece que vai se resolver, num passe de mágica...

Sou um ser humano comum e não me privo dessas sensações. Ontem postei que observando as pessoas com quem convivo, notei um certo pesar... uma certa tensão. Não sei, mas desta vez, algo parece diferente. As pessoas parecem acometidas de uma angústia -- acima da média -- sem saber exatamente as origens, quanto mais sabem resolvê-las.

Eu me sinto de mãos atadas, com uma vontade enorme de poder ajudar. Mas preciso lembrar que mal tenho conseguido me ajudar devidamente nos últimos meses, que foi feita exclusivamente à dedicação de terceiros. Isso é uma observação, não uma reclamação. No entanto, confesso solene e abertamente que sempre sinto um ímpeto de poder fazer algo... e não saio do lugar.

Agora alguém me responda à pergunta: por que, sabendo que sentimos invariavelmente isso todos os fins de ano, não fazemos quase nada para mudar? Por que é tão mais "seguro" manter o mesmo padrão? O que nos impele tão forte para a manutenção de uma aparência que já não é mais agradável nem para o seu próprio dono?

Não sei. Não sei explicar tantas coisas... mas parece que quando tudo se obscurece, eu enxergo melhor. Este ano, para mim, por exemplo, foi tão... tão... tão marcante, que eu não saberia dizer em pormenores. Tantas coisas me aconteceram, eu poderia me dividir em quatro pedaços e cada um deles contar o que aconteceu. 

Acho que em uma frase poderia resumir: abra-se para o novo, sem preconceito, sem receio, sem titubear. Silencie a sua voz, silencie os seus ânimos... foque em seu próprio coração e ouça o que ele tem a dizer. Você se surpreenderá.

Não siga aquela frase que eu mesma dizia para mim mesma há uns meses atrás "apenas seja você mesma". Não! Minha frase agora seria: "apenas silencie-se... e ouça o seu coração".