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O Canto dos Malditos (ou O Bicho de Sete Cabeças)

Revi O Bicho de Sete Cabeças. Longa metragem de estreia da diretora Laís Bodanzky. Acho que a maioria aqui já viu o filme que também lançou Rodrigo Santoro à categoria de estrela. Sem querer, revi Caco Ciocler, que tinha esquecido completamente que fazia parte do filme.

Tive o o privilégio de conhecer Austregésilo Carrano, autor do livro que inspirou o roteiro do filme, senão me engano, em  2007, num evento na Casa das Rosas, em São Paulo, como parte da luta antimanicomial que ele fazia.

Quem me levou àquele encontro foi a minha querida prima Marli. Ela era amiga de Carrano e também por defender as mesmas causas. Foi uma noite memorável... pena eu não ter tirado fotografias. Lembro que as pessoas estavam ansiosas pelo Rodrigo Santoro, mas "apenas" a diretora Laís Bodanzky esteve presente.

Descobri (ou já poderia ter lido, mas tinha me esquecido) que Carrano morreu. Era um homem de personalidade muito marcante, como dá para perceber no próprio filme. Fiquei triste. As coisas pelas quais ele passou, e que são relatadas com impressionante realidade no filme, sempre me fazem pensar nas coisas que estão à margem da sociedade. As coisas que podemos colocar à margem de nossa própria vida. E o que costumamos fazer? Esquecer.

Um dia quero ler O Canto dos Malditos. Enquanto isso, vou pensando sobre esse filme que fica por muito tempo nas lembranças... e sobre como apenas precisamos esquecer para continuar sobrevivendo. Como fazemos isso no mais pequeno detalhe de nosso dia a dia. Acho que esquecer é uma das formas mais fáceis de fingir sobrevivência atualmente.

Deixo a voz grave de Arnaldo Antunes com denso poema:

Capítulo 4.4 - Ilha Grande (RJ): final

Pra não ficar me estendendo muito e apenas em Ilha Grande, vou dar uma resumida geral nos dias seguintes em que ficamos por lá.

Primeiro: o tempo realmente demora a passar. Um dia inteiro parece ter mais de 100 horas. Enquanto você está lá, não pensa em nada. Nada de twitter, facebook, contas pra pagar, celular, internet, busão cheio, chefe chato. Nada disso.

Na Ilha Grande não há carros. Os poucos existentes pertencem à PM, Prefeitura e Corpo de Bombeiros (pelo que vimos). Todo mundo anda de bicicleta ou a pé mesmo. Diariamente existem muitos e muitos turistas. Eu ouvi inglês, francês, espanhol, alemão e umas duas línguas desconhecidas. Isso faz o pessoal ser muito educado (na medida do possível) e solícito com qualquer estranho.

Nos dias seguintes, conhecemos a Praia do Abrãaozinho, após uma meia hora de caminhada (bem lenta) no meio de uma trilha. Fomos também a Praia do Galego e ao Poção. Conhecemos as Ruínas do Lazareto e o Aqueduto do Lazareto. No fim do século XIX uma enorme casa funcionou e as imponentes construções do aqueduto abasteciam de água doce esses moradores.

Deu vontade de fazer uma trilha até a Cachoeira da Feiticeira e ao Saco do Céu (que não sei porque se chama assim). Mas eram quase duas horas de caminhada (íngreme, diga-se de passagem) que exigia roupa e equipamento adequados. Ainda vou voltar lá e fazer essa trilha!

O Mirante da Praia Preta dá uma vista linda... bem, tudo lá é lindo, mesmo em dias de chuva. Pegamos um sábado chuvoso e fomos para a praia assim mesmo! Nenhum arrependimento nisso!

Coisas inusitadas aconteceram no último dia: na Praia do Galego cruzamos com siris/caranguejos (sei lá) e achei interessantíssimo! Teve um momento em que fiquei sentada imóvel, na pedra, e um passou por mim, pena não ter tirado uma foto. Pude ver o "símbolo do signo de Câncer" em ação e devo dizer que foi divertido. Numa das fotos vocês verão que ele lembra o Sirigueijo...

Os peixinhos (tainha, segundo uma mulher) invadem o rasinho da praia, sem muito medo da gente. Diversas formas de mexilhão, ostras moram nas pedras. Fiz alguns vídeos engraçados. Como a mata atlântica ainda continua por lá, vimos alguns macaquinhos, que suponho ser algum tipo de mico.

Pra terminar, o percurso de volta na barca foi uma verdadeira aventura! Pra leigos do mar, como nós, um mar semiagitado com algumas ondas foi motivo pra deixar todo mundo meio tenso e a barca balançando violentamente. Eu confesso que adorei! hehe E ainda fomos presenteados com alguns golfinhos e um tal de peixe-voador, quase chegando em Mangaratiba.

*** O convite para quem não gosta de praia e quer aprender a apreciar: Ilha Grande. Vale.











Capítulo 4.3 - Ilha Grande (RJ)

Primeiro dia de praia se foi com aquela inevitável sensação de... "Meu Deus, por que eu sempre odiei praia???". Era óbvio, visto que as minhas poucas experiências prévias tinham se dado em praias imundas. E desde que eu cruzei com um cocô boiando enquanto me banhava, nunca mais tive coragem de pôr os pés na água do mar. Nem mesmo quando fui a Copacabana (isto foi irônico).

Mas Ilha Grande não é assim. Ilha Grande é... única. Eu e meu amor parecíamos crianças com brinquedo novo. E poderíamos passar dias e dias e dias com esse brinquedo sem enjoar. Porque banhar-se no mar é poderoso, é saudável, é relaxante, é prazeroso... é tudo. Infelizmente, perdemos esse sentido nessas praias porquentas que nós temos. Eu não entro em nenhum outro mar que não tenha essa água transparente que eu vi lá.

De fato, como boa cidade turística E isolada, a comida em Ilha Grande é cara. No mercadinho do Abrãao até que tem muita coisa em conta e dá pra quebrar um belo de um galho. Você ainda encontra uns vendedores de pipoca, vendedores de bolo (com as iguarias mais diversas e inimagináveis, comi um pedaço de bolo de milho cremoso dos deuses!), vendedores de churrasquinho. E é óbvio que eu experimentei tudo, sem o mínimo medo de ter uma dor de barriga. Confiei que os moradores locais não fariam isso com os turistas.

Para comer rápido e razoavelmente bem, tem os restaurantes por quilo. Comemos em três e não vou me lembrar deles agora. Biergarten (acho que é assim) é o mais chiquetoso e caro, por ser natureba e ter pratos diferenciados. Fomos em um dentro do "shopping" (ruazinhas pequenas, arborizadas, compostas por inúmeras lojas) muito gostoso e barato. Também tivemos a péssima experiência de comer em um restaurante chamado Rei da Picanha (all thumbs down). Não vão nele, por favor. Foi o pior rodízio de carnes que já fui em toda a minha vida e me lembrou da importância de ser vegetariana. Ah sim, a vigilância sanitária também deveria barrar um restaurante que serve comida velha e estragada. Blé.
Mas vamos falar de coisas boas. A maior e imensa surpresa são os restaurantes que ficam de frente pro mar, mesas e tendas na praia, luz de velas e música ambiente. Pena que os fumantes imperam -- mesmo em locais paradisíacos -- como praga. Desculpe se você é fumante, mas é um verdadeiro PECADO e AFRONTA estar num local com tamanho ar puro e beleza natural e... fumar. E jogar sua bituca de cigarro no chão. E incomodar quem não fuma! (não se esqueça de que sou ex-fumante, aquele espécime mais chato do que quem nunca fumou!)

Eu queira muito comer frutos do mar frescos, afinal, não há melhor lugar para comer do que na praia. Fomos ao Rei do Camarão. Que surpresa fantástica! Um excelente restaurante e altamente indicado por mim, para quem estiver em Ilha Grande!

Comemos uma moqueca de camarão. Pelo nome parece a coisa mais simples, mas não é. O arroz estava simplesmente perfeito, de tão saboroso e fresco. O camarão, segundo o simpático garçom, fresquíssimo, tinha acabado de chegar. E o pirão? Um verdadeiro orgasmo gastronômico, para os verdadeiros apreciadores. A casquinha de siri então... *suspiro* E o preço saiu razoável para um bom restaurante, gastamos R$95 para duas pessoas, bebidas e 10% incluídos.

Existe também, como alternativa pra sobremesa e pra gastar aquele dinheiro que você economizou não andando de Costa Verde, o Sorvete Finlandês, que fica ao lado do porto. Diz-se que é fabricado em Penedo. Aí, eu fiquei imaginando o sorvete vindo de Penedo, passando pelo Rio de Janeiro, andando de catamarã, talvez passando por Angra dos Reis, para chegar até Ilha Grande. Vai ver por isso é caro (R$4,25/100g). Mas o bichinho é uma delícia que só! Porque sou extremamente criteriosa com sorvetes e é fácil receber um zero meu. Esse é delicioso, porque você não sente a gordura e, pelo contrário, sente os sabores de ingredientes que foram usados muito bem. Experimentei vários e gostei de todos!

Não fiz muitas orgias gastronômicas em Ilha Grande... mas as poucas experiências foram fantásticas. A seguir algumas fotitas para deixarem vocês na vontade! rs






Capítulo 4.2 - Ilha Grande (RJ)

Na manhã em que iríamos pegar a Barca para Ilha Grande, acordamos cedo. Tomamos um café na padoca da esquina e compramos as passagens: R$6,50 durante a semana e R$13,00 aos sábados, domingos e feriados! Me admira sempre o jeito bom das pessoas de ganhar grana fácil!

O percurso todo dura cerca de 1h30. Sim... muita coisa! Não me lembro de ter estado em alto-mar antes, é delicioso! A maresia, a barca se mexendo pra lá e pra cá (os mais sensíveis devem tomar Dramin). No meio do caminho vi cargueiros gigantes com escritos da Korea. Pensei naquelas guloseimas deliciosas e nas tralhas todas vendidas nas 25 de março e Uruguaianas da vida. Também vi um iate bonitão.

Ao chegar em Ilha Grande, as pessoas sabem que você é um turista e que, necessariamente, traz algumas coisas consigo: dinheiro, muito dinheiro, vontade de gastar, necessidade de lugar pra dormir e de lugar pra comer.

Ainda mais eu -- sendo japa -- tenho etiquetas indeléveis de um fama que nem sempre quero ostentar (principalmente quando meu lado leonino tá tímido). Mas eu fui a única japa em quase todos os momentos em que estive lá. E mesmo se não fosse, as pessoas sempre querem te empurrar alguma coisa... normal. Então, quando chegar lá, você (ou não) passar por isso. E pode gostar (ou não).

Há de se ressaltar que em nenhum momento minha privacidade (que tanto prezo) foi invadida. Os funcionários, os moradores... todos. Em alguns estabelecimentos, o atendimento não era exemplar, mas também não foi péssimo em nenhum momento.

Descer da barca foi mágico, porque eu estava ansiosíssima para ver a água. E é surpreendente!!! No cais, a água da praia é apenas... transparente. Sim. Transparente. Eu estava morrendo de vontade de colocar meu bíquini (ops, eu disse isso?!) e mergulhar (ops, eu nem sei nadar!). Nada importava, nem o fato de nunca ter vestido um biquíni (sim, particularidades minhas) e não saber nadar.

Fomos a pousada, check-in, deixamos as coisas, trocamos de roupa e perguntamos à simpática Cíntia qual era a praia mais perto para ir. Ela disse Praia Negra. Fiquei curiosa imaginando por que ela se chamaria assim. As fotos ao final do post mostrarão porquê.

A pé, previamente munidas de bolsa térmica com água, cerveja e uns petiscos fomos. E nunca em toda a minha vida me surpreendi com um cenário natural tão lindo!!!! De encher os olhos. Tudo parece simetricamente perfeito, ainda intocado pela ação humana.

Ao longo das pequenas e várias caminhadas que fizemos, descobrimos que Ilha Grande já foi lugar para ricos empresários do açúcar morarem, já foi hospital e presídio na época militar. Agora é "apenas" um paraíso, como vocês podem ver nas imagens...





Capítulo 4.1 - Ilha Grande (RJ)

Novembro de 2010. A despeito de toda a correria que minha vida estava, eu e meu amor fizemos uma pausa para as suas férias. Destino? Ilha Grande, Rio de Janeiro.

Se você olhar no mapa, Ilha Grande (que é mesmo uma ilha... grande!) faz parte da cidade de Angra dos Reis. Eu não me lembro de ter estado em outra ilha que não fosse o Japão. Mas ao contrário do país, Ilha Grande realmente está isolada de tudo e conta com uma infraestrutura simples... como a de uma cidade do interior.

O principal acesso são as barcas, vindas principalmente de Mangaratiba. Aliás, foi por essa via de acesso que nós viemos. Se um dia quiser ir à Ilha Grande, não pegue um ônibus da Costa Verde, a menos que não queira trabalho para se locomover (certas pessoas quando viajam, são assim, ainda mais com algumas malas a mais). Vá cortando pelos meandros, dá muito certo, sem maiores problemas! Você gasta cerca de R$15 para ir contra os R$52 da Costa Verde. Com a diferença dá pra tomar sorvete! ;-)

Esse foi o caminho que fizemos. Fomos até Itaguaí, daí para Mangaratiba, daí para Ilha Grande. Porém, antes, uma pausa. Pernoitamos em Mangaratiba porque a Barca sai muito cedo e em apenas dois horários: 08h00 e 17h30. Ou seja, no fim das contas, fica a seu critério vir de Costa Verde ou não, dependendo de onde estiver vindo também. Eu confesso que ter pernoitado em Mangaratiba foi uma experiência magnífica.

Conhecemos a cidade em cerca de 1 hora. Sim. E andando. Tudo se encontra no centro, da prefeitura à câmara dos vereadores, a igreja, a escola, o hospital, o necrotério, o mercado, as pousadas e os pequenos restaurantes. Comemos um cachorro quente na praça central e ficamos curtindo o mar. Que estava sujo, infelizmente. Tomamos sorvete na orla e ficamos conversando.

O tempo passa muito lento enquanto você está nesses lugares. As pessoas vivem e sentem o tempo de outra forma. Essa percepção inicial apenas iria mais e mais se confirmar ao longo dos dias.










ps: caso não tenha ficado claro, as duas fotinhas acima são de Mangaratiba. Uma, com a vista da praia. A outra, de uma rua, perto do centro. Gracinha...