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O capitalismo vencendo a Arte


Acabei de ler esta notícia de que o cinema Belas Artes vai fechar em São Paulo no mês que vem. E eu nem poderei ir fazer minha despedida devida deste cinema que marcou muito meu período alto cinéfilo!

Assim como aconteceu com o Top Cine (alguém se lembra desse cinema?!) na Avenida Paulista que também tinha longa e fechou. Virou "mais uma" loja de grifes dentro de um shopping griffento. Eu lembro do Top Cine porque era uma cinema bom de se visitar, sempre com aqueles filmes que não passavam em lugar nenhum (quase um irmão gêmeo do Gemini, ops trocadilho proposital?). Lembro que o último filme que vi lá foi o polêmico Brown Bunny. Eu e mais uma meia dúzia de gatos pingados na noite e no meio de uma semana qualquer.

No Gemini eu vi Um Beijo Roubado com meu amor, meu último filme visto lá. Aliás, aquele cinema não deveria sequer ser reformado, porque é uma verdadeira viagem no tempo. Adoro o banheiro a la Kubrick e as poltronas a la David Lynch. Alguém teria coragem de destruir isso em troca de um blockbuster? Vá ao blockbuster e não mexa aqui!

Alguém se lembra que o Cine Bombril um dia foi um cinema chamado Astor??? A maior sala de SP com quase 1.000 lugares? Ainda bem que este não parece que vai ser fechado. Pois assisti várias pré-estreias que me fizeram dormir na madrugada com a minha irmã -- como Dogma e Colateral. Acredito que o patrocínio vai bem e, ao que parece, nenhuma notícia ruim paira sobre o antigo Astor.

Agora... o Belas Artes vai fechar. O cinema que abrigou tantas lembranças minhas e antes das minhas e a de todos os que DE VERDADE gostam de cinema. Infelizmente, não lembro qual foi o últime filme que vi lá. Mas sei que foi sozinha. Mas lembro do único Noitão que fui (ao lado da querida Sharleu... noite memorável e inesquecivel aquela!) nos idos de 2004. Lembro dos filmes únicos que vi por lá. Lembro dos passeios noturnos pós-cinema. E tenho certeza que essas lembranças devem se misturar com as de muitas outras pessoas. 

Agora não mais. O capitalismo venceu mais uma luta, mas não vencerá NUNCA a luta contra a Arte. Mesmo que ele se transvista de falso intelectual (o que acontece), ele nunca vencerá.

Flores, flores, flores...

Da minha virada de ano, quero apenas deixar as flores abaixo, que compartilho com vocês, em minhas humildes fotos tiradas. A natureza pura e intocada.



Uma ode ao amor

Faz algum tempo que queria fazer um (novo) post sobre o amor. Ao mesmo tempo que sentia falta dele -- como o belo sentimento que parece estarmos esquecendo --, eu sentia essa agonia intrínseca que não consegue ser dissociada desse sentimento. Minha pergunta: desde quando amor é sofrimento? Minha outra pergunta: por que apenas amamos alguém sexualmente? Então... o que é amor?

Já imagino milhões de ecos de resposta que já ouvi ao longo da minha vida. O que me pareceria meio óbvio torna-se uma incógnita: se todos já sabem disso, por que a permuta de amor e dor ainda continua? Por que somos seres humanos tão dependentes do sofrimento para sentir que há vida pulsando? Por que insistimos no paradoxo, mesmo sabendo que ele não existe? Por que criamos o paradoxo para ratificar a vida que existe por si só?

As pessoas acham e pensam muita coisa, mas se esquecem do principal: quem somos no mais íntimo recôndito de nossa alma. E essa digital virtual apenas nós mesmos a conhecemos. Essa marca que não precisa ser exibida para que outros acreditem que ela existe. Pois existem algumas pessoas por aí que exibem suas cicatrizes como troféus de uma vida amarga da qual não se extraiu nada além de rugas, conta bancária vazia e sonhos destroçados.

Pois apenas penso que somos os seres humanos que deturparam o verdadeiro sentido do amor. Não deveríamos associá-lo a dor, mas o fazemos. Colocamos ele na mesma balança do ódio, com pesos e medidas iguais. Confundimos ele com paixão. Achamos que ele precisa ser eterno com uma pessoa específica, mas ele é eterno com todos. O amor não é herói nem bandido, é apenas o sentimento que une a todos, com a maior pureza que ainda nem conhecemos. O amor não é instrumento de compra e venda, pois seu real sentido perpassa além da tosca semântica que conhecemos.

Acredito que todos nós, sem exceção, já fomos tocados por esse amor puro, digno e infinito. Mas o nosso problema é querer sempre possuir, dominar e controlar tudo, por sermos inseguros com tudo aquilo que é exterior a nós. E perdemos a magia desse sentimento... e perdemos o seu real significado... e ficamos dando voltas e voltas, vivendo de uma felicidade feita de ilusão para voltar ao ponto inicial.

Não sou melhor nem pior do que ninguém que leu este post até aqui. No entanto, estou tentando o diferente, escapar das armadilhas ilusórias que nos prendem a nós mesmos. E, acredito, que o verdadeiro amor apenas seja a única chave real de libertação. Apenas o verdadeiro amor.

Welcome 2011!

Primeiramente, um FELIZ 2011 a todos os visitantes deste blogue. Por causa de problemas com o blogger, uma postagem do ano passado ficou para este ano. Ou seja, os poemas postados ontem saíram com a data de 2010. A despeito da confusão de datas, considerem este o primeiro post do ano.

Espero que com cada um de vocês, a data tenha tido um sentido mais especial do que simplesmente se embebedar e vomitar e acordar com ressaca no dia seguinte. Os anos se passam e quase nada muda. Isso não lhe traz uma sensação de permanência desagradável... não daquilo que deve ser preservado, mas daquilo que deveria ser descartado e que continua... quase como um câncer incurável.

Totalmente atualizada agora, vejo que nada muda mesmo. As pessoas até sentem a necessidade de algo melhor para si mesmas, mas isso parece tanto uma penitência, que elas fogem de si mesmas. Não é inacreditável? A possibilidade de mudança, o singelo deslumbre de que muita coisa poderia ser melhor. Por que não podemos ser felizes?

Para muita gente, o significado de ser feliz é estar em comunhão com outros, compartilhando vícios e falsas ilusões. Infelizmente, eu não consigo. Eu já tenho lá as minhas dificuldades em estar em grupos, quanto mais compartilhando vícios e falsas ilusões. Mas essas duas coisas são uma verdadeira tentação a aqueles que nem consideraria "fracos de coração" mas apenas... seres humanos.

E a aqueles que se reconhecerem de alguma forma neste texto, vamos pensar as coisas dessa forma: tudo na vida sempre foi escolha, preço pago e consequências. O livre arbítrio sempre foi a única coisa que realmente pertenceu ao ser humano, o bem maior. E cada um nem sempre sabe o que fazer com as coisas que possui... mas pode aprendê-las um dia. Todos estamos em contínuo aprendizado... com humildade, com força e com muita coragem.

E é isso o que desejo a todos os meus leitores deste blogue: muita humildade, muita força e muita coragem. Para saber usar o livre-arbítrio. Para discernir a felicidade ilusória da felicidade real. E para, juntos, seguirmos mais um ano neste cantinho aqui... compartilhado com muito carinho com todos vocês. Paz!

Alguns poemas - parte 2

Depois do ano de 2001, nada mais foi igual em minha vida. Desnecessário entrar em detalhes agora, mas um nítido reflexo foram os meus poemas. Eu refinei meu estilo e digamos que tenha, finalmente, encontrado a minha verve literária, minha digital poética, que eu manteria, com retoques, ao longo dos anos seguintes.

Os poemas separados aqui são apenas amostra básica da imensa vastidão que existe. Uma vez mais, espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais do meu -- tão pouco divulgado -- lado poético.

ps: esta leva de poemas é dedicada a todas as pessoas que desde 1992 leem os meus poemas. Algumas pessoas foram leitoras ávidas... algumas pessoas foram constantes como a Sharlene, provavelmente, minha maior leitora de todos os meus poemas e também aquela a quem confiei a guarda dele (junto com a Priscila Mota).

ps 2: descobri que há um hiato no meus poemas entre 2004 e 2005. Vou fazer uma caça intensa em emails e amigos. Espero apenas não ter perdido esse material!

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migalhas 

Eu vi pombos sobre o telhado,
era uma manhã branca
era um dia branco
e eu vi pombos sobre o telhado
não escutei passos
nem senti o calor,
não havia pessoas
nem testemunhas,
e eu vi pombos sobre o telhado.

Não contei quantos pombos eram
eu vi apenas sombras
eu somei palavras às atitudes
eu era uma alma na multidão,
o silêncio com palavras e risos
e eu vi pombos sobre o telhado,
era uma hora branda
alguma lembrança.

Não havia mais nada:
e eu contei pombos.
eu vi pombos sobre o telhado
eu vi pombos sobre o telhado
eu vi pombos sobre o telhado

(11/03/2002)

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Castelo de espelhos
(dedicado a P.B.)

Ante a sombra
de um sol eclipsado
viste a ti mesma no desnude
de tuas incertezas.
Reflexo de teu regurgito
odor de tuas aspirações
oh...
eras apenas tu
era apenas tu.
Clone de teus anseios
não viste o teu grito desesperado
terminar no fim de um eco
perdido
na manhã.
E tu sabes
foste meu espelho
e eu refleti teu complexo
incompatível de existência.
Teu castelo de espelhos
um dia pôde
refletir a tua imagem.

Hoje, tu és teu calvário
há outra alma tão perdida e solitária
para a tua, tão igual, entreter?

(um dia tu saberás pular em tua própria piscina)

(29/05/2003)

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sem resposta 

Longas cartas
escritas à suor e sangue
eu pensei tanto em você,
sim, eu pensei apenas em você,
e esperei uma resposta.

Longas mensagens de celular
infinitas
tempero de desejo e ansiedade
eu pensei tanto em você,
como ainda penso em você
apenas esperando uma resposta.

Longas conversas no telefone
a qualquer hora do dia
eu pensei tanto em você
e eu adorava pensar em você
enquanto esperava uma resposta.

Longos minutos de silêncio
transformados em horas
em dias, em semanas, em meses
eu penso em você
e eu espero uma resposta.

Longos sonhos e pesadelos
momentos solitários
em qualquer lugar
onde eu possa pensar em você
e onde continuo esperando uma resposta.

Longas tentativas, infinitas
um amor intenso e eterno
enquanto o tempo passava tenso
eu pensei tanto em você
e eu esperei tanto uma resposta.

Mas, a resposta era a não-resposta
pois sem resposta eu fiquei
enquanto pensei, pensava e penso
em você
você.

Sua resposta era o silêncio
que sempre estivera ao meu lado
a sua ausência, o seu vazio, o nada
eu pensei tanto em você
e fiquei… sem respostas
apenas como tinha de ser,
apenas como tudo
insistia em ser:
sem respostas.

(27/10/2007)

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Os dias que são iguais aos outros dias

É…
eu conheço sua música favorita e você conhece a minha
em dias como estes, com silêncio e músicas favoritas,
eu posso dançar com as minhas memórias e imaginar
como a vida é tão engraçada… docemente irônica e assim
lembrar tão alegre de você, de suas piadas e de seu humor característico
tudo aquilo que nunca deixei de admirar e amar
você deve estar vivendo sua vida com o sol a raiar
erre sua vida e a aproveite ao máximo em todas as suas nuances
porque o destino prega umas peças imprevisíveis
e sabe como é… o amanhã quase nunca é igual ao ontem.

É…
nesses dias de lembranças tão intensas e insanas e impossíveis
nunca me esqueço daquele jeito tão específico
que nosso humor tinha de se conectar e assim permanecer
era quase viciante a destreza mental com que podíamos fazer rir
e mentir a realidade, e sucumbir a dor, e transcender todos os limites
sabe que eu tenho procurado alguém semelhante assim
mas, acho que assim, não vou nunca encontrar ninguém
pois nunca houve ninguém e nunca haverá ninguém
que tão bem soube assimilar o meu humor e a falta dele.

É…
tantas coisas sempre acontecem a cada segundo novo de nossa vida
e nunca há presente, vivemos do término do passado e a iminência do futuro,
vivemos procurando respostas que não existem, felicidade que não é perene
amigos que não são eternos, dor que seja curta e momentânea,
certezas absolutas que nunca existiram nem nunca existirão
compreender e ser compreendido, anular–se para, assim, ser amado,
vivemos na fronteira de uma suposta felicidade e da eterna alienação
e, se vivemos, teremos de viver com os olhos abertos e tanta coragem…
sim, minha cara, tantas coisas sempre acontecem e roubam a inocência
transformam a força em egoísmo e a esperança em relicário escondido
mas nunca deixei de sentir saudades de você, do que foi inteiro e genuíno,
tantas e tantas e tantas coisas… que se perderam, aquelas bem poucas que ficaram.

É…
flores amarelas e vermelhas sob o céu azul sem nuvens, eu continuarei me lembrando de você
e, solitária, dançarei com minhas memórias.

(13 de agosto de 2006).

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Coração deserto 

Se eu fechar os olhos por um momento
talvez eu seja capaz de desenhar o meu futuro
e este será o instante em que não sentirei ansiedade nem angústia
todos os temores se dissiparão eu conseguirei sorrir livremente.
Pois que o presente seja tão incerto quanto as lembranças do passado
e o futuro sempre reserva uma fração de esperança
para os sonhadores, raça quase extinta, seres humanos
fadados à dor, à solidão… quase como eu e você.

Mas se você fechar os olhos por esse instante
talvez você não consiga ver as coisas que eu vi
como em sonhos premonitórios, quando nunca é dia ou noite,
seremos duas almas separadas, cada uma trilhando sua própria linha
não nos encontramos, não iremos nos reencontrar
e a espera será apenas mais uma característica de personalidade
quase uma cicatriz, um verdadeiro defeito congênito,
e o que restar será compartilhado como migalhas para pombos.

Eu vou fechar os meus olhos por um momento
esperando que alguma coisa mude entre o segundo do desejo e o do desespero
uma fração de um milésimo de um minuto para o fim
se parece ser muito mais fácil desistir, eu escolho continuar
todos os meus passos já são conhecidos, minhas intenções
então nada restou para descrever ou para conversar, nada,
e comigo mesma eu ficarei com mãos vazias, corpo vazio, olhos vazios
uma alma despedaçada e vazia… sem migalhas para mim mesma.

Eu vou fechar os meus olhos por um momento,
e numa suposta prece que eu nunca rezei, eu vou pedir
que a compreensão seja mais ampla que pré–julgamentos
pois mesmo que a vida seja cíclica e eu assuma meus compromissos
o primeiro sinal de silêncio vai aliviar a angústia desta alma
para nunca mais calar o silêncio de um espírito solitário,
nunca mais haverá manhã ou noite em que o eco de uma voz
não será refletido de volta para o mesmo espelho vazio,
a compreensão e a empatia não são características do ser humano,
mas mesmo assim eu peço que olhem do meu ponto de vista e compreendam
o que os olhos humanos não vêem jamais, o que corações não sentem
o que almas vazias como as de vocês jamais perceberam
e me deixem ir com os olhos fechados e um sorriso nos lábios.

Então, não feche seus olhos comigo, nem por dó, nem por imaginação
assim, só e feliz, eu permanecerei entre cinzas e lembranças
pois é triste saber de alguém que passou por sua vida e nada deixou
eu passei pela minha própria vida e acumulei todo o conhecimento possível
tentei auxiliar, tentei compartilhar e como eu tentei me integrar,
mas o ar sempre é muito denso… ou eu ficava na superfície, ou no fundo do âmago,
e entre a angústia de nunca saber onde permanecer eu decidi sublimar
decidi que não era mais minha escolha, nunca tinha sido minha escolha,
o meio–fio de minha decisão era a minha maior e única decisão
e quem quer que caminhasse pelo meu coração, nunca deveria ter esquecido
que em um coração deserto, apenas se caminha sozinho.

(20 de novembro de 2006)