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La vie d'Adèle -- o azul é a cor mais quente: minhas notas

Esperei uns dias para poder escrever este post que, certamente, não será o melhor, não será o mais completo e não será o mais curtido. É apenas a minha opinião.

Fiz uma boa pesquisa pelo google e li várias críticas, gringas e brasileiras. Das brasileiras, gostei especialmente do blogue Blogueiras Feministas. Contém spoiler mas o considerei o texto mais completo e mais justo. Para quem se interessar, vale a leitura.

Também li Omelete e Rolling Stone que cito como sugestão de leitura. Ademais, digita o nome do filme em francês e vá procurar o que puder encontrar. Além do trailer, claro.

Bom, este post também tem spoiler. Então, se você preferir, veja o filme antes de ler meu post! ;)

***
Eu saí extasiada da sala de cinema, ao fim das três horas de filme (que nem pareceram três horas, afinal). A primeira impressão que ficou foi a de "wow, o 'cinema lésbico' precisava de um filme assim!". Não há peripécias nem tramas complexas no filme. E isso me chamou a atenção, pois tudo é retratado sem a pretensão de se autoexplicar. Por outro lado, é quase um documentário, os primeiros planos, a narrativa quase em primeira pessoa (mas sem narrador), todos os detalhes que captamos na personagem principal, Adèle, que narram os "dois capítulos" da vida dela.

Indubitavelmente, as famigeradas cenas de sexo são fortes. São explícitas. São cruas. Não tem trilha sonora ao fundo. Você ouve os sons. Você vê vários ângulos. Algumas críticas foram justamente sobre a verossimilhança. Bom, pense. Pode fazer sentido. Em uns momentos, parece que a cartilha do kama-sutra para lésbicas está sendo encenado. Mas, me diga, também, onde há regras no sexo? Cada um faz como acha melhor, como gosta mais. E aí quem poderia dizer se o que é mostrado é a realidade? Pode não ser a sua, mas pode ser a de alguém.

Outro ponto levantado é a questão do uso do corpo. Uma das atrizes (a dos cabelos azuis) disse que se sentiu uma prostituta. A outra (Adèle) também chegou a afirmar o mesmo mas depois parece ter voltado atrás. Elas afirmaram que foram dez dias apenas gravando cenas de sexo. Bem... não sou cineasta, não entendo desse mundo, nem poderia me atrever a querer assumir que poderia estar falando a verdade. Pode ter havido exagero? Pode. Pode ser marketing pessoal? Pode. Pode ter sido abusivo? Pode. Tudo pode.

Mas, creio eu que uma atriz ao afirmar que se sentiu uma "prostituta" parece ser meio contraditório em algum momento da interpretação, estou errada? Sei lá, se parece ter havido exagero, e o diretor estava se deleitando com duas mulheres encenando sexo, ao invés de filmar seu longa, é meio esquisito. Eu acho. Uma coisa não exclui a outra, porque acredito que um ator ao fazer uma cena sexual deva sentir algum tipo de prazer. 

Aí a pergunta que faço é: esses movimentos feministas estão errados nas suas críticas? Acho simplesmente que é complicado você querer criticar um filme por causa de cenas isoladas. Acho injusto. Em algum lugar, li uma lista de filmes com cenas de sexo (quase) explícito e de forte apelo visual. Cinema é uma arte. Você cria algo com um propósito que pode ser, também, causar esse incômodo. Tirar as pessoas de seu conforto.

O filme narra dois capítulos da vida de Adèle, conforme diz o próprio título. É uma adolescente se descobrindo sexualmente. "Me falta alguma coisa que eu não sei o que é". E ela parece se sentir completa quando se apaixona pela menina de cabelos azuis. É paixão à primeira vista, fulminante. Alguém se lembra da primeira paixão fulminante que teve? O que você fez? O que as pessoas costumam ser/fazer quando se apaixonam fulminantemente?

A proposta do diretor é mostrar um retrato real de uma menina que se apaixonou, viveu sua paixão, errou e ainda não sabe o que fazer com o sentimento que carrega dentro de si. Nesse ponto, compartilho a crítica que li e mais gostei, a do Inácio Araújo (FSP). Um trecho de seu texto diz: "A relação do cinema com a realidade, desde os anos 80 do século passado, tornou-se progressivamente mais tênue. Parece que cada vez menos os cineastas conseguem captar o óbvio: o corpo humano, seus sorrisos, sua batalha para descobrir sua própria medida, sua estatura. O que há de fascinante neste Azul-Kechiche é a veemência com que o autor, mais uma vez, afirma sua modéstia diante de suas personagens, como lhes permite, e ao mundo que habitam, se manifestarem na tela e irradiarem no espírito dos espectadores."

Altamente indicado. Para ser visto e revisto e revisto. E a atriz principal, a sagitariana Adèle Exarchopoulos, além de ser linda, tem o olhar mais pisciano que já consegui ver em um ator. Afirmo categoricamente que a personagem que ela interpreta é uma pisciana... meio irresponsável, ingênua e livre. Livre para testar, descobrir, aprender, se perder e se reencontrar.

Talvez, o que seja mais desconcertante para a maioria dos espectadores, é ver muito de nós na personagem de Adèle, mas não termos consciência o suficiente para admitir e compreender. Okay, observação minha! Mas... vá ver o filme. Só não faça como o funcionário do Espaço Itaú (Augusta) que entrou na sala só para ver a cena de sexo. Shame on you! É uma ofensa para o filme e para dos deuses do cinema. ;D

A mulher do trem

Ultimamente... vou te contar. Só quero silêncio e companhias específicas. Não sei exatamente que fase é esta, mas sei que se trata de uma fase reclusa. Me cansam o barulho, a baderna, o fútil e o inútil. Não, ao contrário do que você imagina, não me acho melhor que ninguém, nunca me achei. E não é agora que estou me achando!

Dificilmente encontro uma beleza não vulgar pelos lugares que passo. A beleza (que sempre foi plastificada) ultimamente tem tomado ares de vulgaridade obscena. Então todo mundo é igual, se veste igual e -- pior -- tem postura igual. Por isso, me assustei quando vi essa mulher no trem, hoje, a caminho do trampo.

Ela tinha grandes olhos... e eu acho tão lindo mulher com olhos grandes! Olhos lânguidos... olhos dissimulados! Poderia ser apenas que ela estivesse com sono, e talvez estivesse mesmo! Não deixei de perceber o rímel e o delineador em contornos perfeitos, realçando ainda mais os olhos e o olhar. Passei a viagem inteira tentando olhar esses olhos sem parecer que estava olhando para eles!

E ela tinha um batom cor de sangue (sem brilho) nos lábios combinando com as unhas perfeitas, esmalte da mesma cor. No dedo indicador da mão direita, um anel meio dourado meio cobre com a cara do Darth Vader! Ela era uma mulher simples, com cabelo longuíssimo que cobria as costas inteiras... mas esse anel do Darth Vader era algo definitivamente atípico!

Difícil ver mulheres "bonitas" (ponho entre aspas porque conceito de beleza é pessoal para cada um, certo?!) no trem. Mas essa mulher de hoje, com olhos dissimulados, e falsa pretensão, foi um prazer único. Tomara que eu tenha a sorte de reencontrá-la uma outra vez.

Pois é...

... a vida tem sido uma coisa bem bizarra, sabe?

Vejo tudo e não entendo absolutamente nada. 

As pessoas falam o que querem falar e ouvem o que querem ouvir. O resto é balela.




Um dos meus últimos poemas escritos

Porque nada é coincidência, mesmo encontrar um poema antigo, quase sem querer, que diz tanto sobre você agora. Eu previ meu próprio futuro ou estarei vivendo um eterno presente?

Compartilho com vocês. Escrito em 16 de agosto de 2008.



vão ilusório

Seus olhos estão fechados
e ainda assim você insiste em olhar
como se pudesse ser capaz de capturar
alguma surpresa
alguma esperança inusitada.

Seus lábios estão selados
mas ainda há algo que continua latente
alguma palavra perdida
esperança comedida
algo.

E você anda e você se move
como se o ritmo pudesse apenas
aliviar a inquietação de sua alma
mas você já sabe
que é tempo desperdiçado
o tempo que nem veio
e aquele ido.

Você pensa que você dorme
mas seus olhos continuam abertos
seus lábios continuam à busca
de uma mesma palavra
de uma mesma sentença
um alívio para ignorantes
um vão de conforto
ilusório.

E os dias se passam
entre estranhos conhecidos
desejos declarados e sonhos esmorecidos
até tudo girar
e fazer parte do esquecimento
até tudo girar
e voltar como algum fardo
esquecido.

E assim somos, eu e você,
faça sua arte e eu farei minha poesia
voltaremos a caminhar
como se nada tivesse acontecido
como se apenas pudéssemos
fingir
e sorrir
num vão ilusório qualquer.


Os profissionais do livro - parte 1

Estou com umas ideias germinando há tempos. Mas nunca achei que o momento de transformar ideias em palavras. Um misto de modéstia com insegurança, talvez. Não mais.

Espero estar equivocada, mas sinto uma imensa lacuna nessa coisa toda de produção editorial de livros. Vejo partes deslocadas falando por si próprias. Alguns tentam dar liga. Outros tentam defender o próprio peixe. Tem alguém certo ou errado? Sim e não! Fato é que há muita opinião circulando por aí. Muitas coisas interessantes e muitos equívocos, também.

Como fiz nos posts sobre currículos (veja o 1 e o 2), tentarei destrinchar em duas partes a minha opinião sobre o assunto. Meu único objetivo é tentar esclarecer essas lacunas e compartilhar minha opinião. Não tenho a palavra final, não tenho a fórmula do milagre -- diga-se de passagem.

Inicialmente, queria compartilhar links de três pessoas em específico. Acredito que esses profissionais -- cada um em sua área de atuação e com suas experiências pessoais -- trazem questões importantes que gostaria de comentar.

A primeira é a Aline Naomi. Seu blogue Breves Fragmentos tem uma label interessante: "Histórias que os tradutores contam" que vale a leitura.

O William Campos Cruz também fala bastante sobre revisão e tradução no seu blogue Esboços, Rascunhos e Ensaios: Sobre o ofício do tradutor, Do outro lado do balcão, Antes de meter o bedelho e As virtudes do profissional do texto.

Por fim, Carolina Caires Coelho escreveu no blogue Ponte de Letras outro texto interessante que merece ser lido: Copi malquisto.

Sugiro que o leitor interessado em ler o que escreverei em seguida, vá antes a cada um desses links e leia o seu conteúdo atentamente. Não se trata de fazer um trabalho de mestrado, mas de leituras que abrirão possibilidades, compreensão e diversos pontos de vista.

Isso posto, vou me apresentar! Para quem tiver curiosidade e/ou quiser me adicionar no LinkedIn, clica aqui.

Meu nome é Cristiane Maruyama. Trabalho em editoras desde outubro de 2001. Comecei como estagiária na Editora Manole onde trabalhei por 7 anos. Bati muita emenda, fiz muito índice remissivo e fiz muito checklist por lá!

Fiz graduação na Universidade de São Paulo em Letras com habilitação em Português. Quase enveredei pelas sendas da Teoria Literária mas desisti da vida acadêmica. 

Nunca fiz nenhum curso de apoio. Todo o meu aprendizado foi empírico. A base toda de minha formação como profissional do livro foi no meu primeiro emprego. Lá fui estagiária e com o passar dos anos cheguei a ser Subgerente Editorial. Trabalhei em todos os departamentos: jurídico, saúde, traduções. No meu último ano, ajudei a estruturar o selo Amarilys, ainda em formação naquela época.

Depois trabalhei na Editora Contexto por um ano e meio. Fui freelancer home office por um ano e trabalhei mais um ano e meio na É Realizações. Atualmente, sou Editora de Ficção, Não Ficção e Gastronomia na Companhia Editora Nacional.

Como profissional do livro, minhas áreas de atuação são: gerenciamento de equipes, fluxo de produção, coordenação de cronogramas na questão prazo versus qualidade, trabalhar com recursos humanos (aplicação de testes e contratação de pessoas), avaliação crítica da qualidade textual de traduções e revisões de tradução.

Ou seja, como esse minicurrículo diz, gosto de colocar a mão na massa. Gosto de entregar para a gráfica um livro com qualidade. Quando estou trabalhando num projeto, este é sempre o meu objetivo maior.

Pois bem.

Agora uma questão crucial que gostaria de levantar: quem aqui já fez o curso de Produção Editorial -- passo a passo da Laura Bacellar? É um curso interessante e voltado a aquelas pessoas que desejam conhecer como um livro sai do formato word para um impresso em gráfica. Acredito que é importantíssimo para todos os profissionais envolvidos compreenderem esse funcionamento.

Eu tive a oportunidade de acompanhar a Laura Bacellar por um curto tempo na É Realizações. Naquela época percebi que, mesmo não tendo feito o curso, sempre agi de forma correta (como produtora editorial), de acordo com o que era ensinado em seu curso. Tive acesso a duas apostilas (do mesmo curso, mas diferentes em seu conteúdo) e agreguei informações preciosas.

Ou seja, primeira observação: não importa que tipo de profissional você seja dentro de uma editora (ou fora dela) -- faça esse curso, leia a apostila. Quando você tem acesso ao todo, é mais fácil compreender as particularidades.

Quando você conhece o todo, você pode se aprofundar, você pode sair e olhar por cima. Você consegue se colocar no lugar de cada profissional em cada etapa da produção. Empatia profissional, nesse caso, é crucial para determinar qual postura você assume diante dos mais variados problemas.

Em um modo bem (beeeeeem) simplificado colocarei a sequência básica de como um livro sai da ideia para se tornar realidade (o exemplo aqui, no caso, é de uma tradução):
1) uma editora tem um projeto editorial e verba para colocar esse projeto em prática
2) escolha de um original que se encaixe no perfil de publicação
3) compra dos direitos de publicação
4) tradução do livro
5) revisão da tradução do livro
6) diagramação do livro
7) revisão 1 da prova diagramada do livro
8) revisão 2 da prova diagramada do livro
9) finalização de capas, miolo etc
10) conferência de plotter
11) livro impresso e pronto

Não considerei diversas etapas importantes. Queria apenas focar nas citadas, porque envolvem os componentes que gostaria de analisar: EDITORA > EDITOR > TRADUTOR > PREPARADOR > REVISOR. 

Se vocês leram -- e espero que tenham lido!!! -- os links acima, já vão entender o porquê de eu ter escolhido apenas essas etapas, porque envolvem determinados profissionais e porque envolvem questões as quais eu reflito há muito tempo.

Essas minhas opiniões já são conhecidas por amigos próximos. Agora é o momento de compartilhar publicamente. Quem sabe não vira um curso num futuro próximo?

Bom, então no próximo post eu escreverei detalhando mais as questões abordadas nos links citados. Até breve!