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Álbum do dia

Como diria minha amiga Gabitchs, o rock dos anos 90 deixou muita saudade.

Este álbum (indicado sem querer pela mesma Gabriela) foi um dos meus marcos. Adoro ouvi-lo do início ao fim. Tenho excelentes recordações de uma época em que sentia mais liberdade do que sinto agora. E o mundo não parecia tão complexo e tão limitado.

Trata-se do álbum High Hopes, do Pink Floyd. Para ilustrar este post, segue a letra e o áudio de Lost for words.

I was spending my time in the doldrums
I was caught in the cauldron of hate
I felt persecuted and paralyzed
I thought that everything else would just wait.

While you are wasting your time on your enemies
Engulfed in a fever of spite
Beyond your tunnel vision reality fades
Like shadows into the night.

To martyr yourself to caution
Is not going to help at all
Because there'll be no safety in numbers
When the Right One walks out of the door.

As letras são incríveis e a melodia alcançou níveis estratosféricos de bão. Ouçam o álbum, como tô reouvindo pela milésima vez, vale muito a pena!

Be careful with what you wish...

De tanto pular dentro de mim, ainda agora não sei mais o que é superfície.

Esqueça os livros, as músicas, os filmes e as reflexões. Esqueça os amigos intelectuais ou falso-intelectuais.

Um dia eu desejei ter o conhecimento dos livros, hoje me sinto presa e afundada com a minha caixa de Pandora nas mãos sem saber mais o que fazer. No meu único desespero, apenas empino o nariz pra fora, pressupondo que vai me aliviar. Agora não alivia mais.

Quero a liberdade de não saber o que sei, de não ver o que vejo. Ser ignorante, como a mais pura das bênçãos.

Pobre deste ser humano que vive sua vida pensando que suporta o peso de ser quem é. Ninguém suporta. Apenas nos viciamos em propósitos elevados para enganar ninguém além de nós mesmos.

Puro ácido. E de tanto injetar assim em mim mesma, agora minhas veias são estradas sem túneis, sem asfalto, sem nada.

***

Música de hoje: Strangers when we meet.

Outro dia qualquer...

capítulo sem data. cenário: metrô de SP: 18h50.

Entro na estação Vila Madalena. Triste dizer isso, mas a maior parte das pessoas que frequenta a linha verde tem menos cara de povão do que o pessoal da linha azul e, principalmente, da linha vermelha. Entro, aproveito o trem novo, curto o ar-condicionado, sento nos solitários (porém perfeitos) bancos de um e observo ao meu redor, compenetrada no Bon Jovi que toca no meu mp3.

Na minha frente, tem um cara grandão, com uma barba bem cheia, lendo um livro de 500 páginas, com a capa caindo, de tanto que foi manuseado. Logo a seguir, um mocinho magrinho, com cara de fflechiano (pra quem não sabe, estudante de alguma coisa da FFLCH-USP) senta exatamente na minha frente, banco de cor azul reservado para pessoas com condições especiais. Lendo. E detalhe: com tampa ouvidos, igual daqueles caras que trabalham em metalúrgica ou terminais rodoviários.

Isso me chamou a atenção. Ele queria ler e, como eu, não gosta dos sons da cidade, porque não são sons, são manifestações guturais do extremo animalesco a que nós -- os grandes seres humanos -- conseguimos chegar. Esses sons não são inspiradores, são incomodadores. Fui com a cara dele e do barbudão. Ambos liam entretedidamente, alheios a qualquer coisa a seu redor.

De repente, o banco mais próximo a mim vaga. O menino fflecchiano levanta os olhos. Antes de trocar de banco, vira o rosto para tentar descobrir o que o barbudão lia. Viu. Não teve reação. Trocou de banco. Sentou. Continuou a ler.

Nisso, as estações iam passando, o metrô lotado. Na hora de descer, vejo novamente o barbudão olhando se era hora de descer. Era. Mas antes disso, ele para para o menino da fflch e vira a cabeça para ver o que ele estava lendo. Sem reação. Desceu.

Enquanto isso, as pessoas continuavam alheias. Umas comendo, outras com ar perdido, outras conversando em voz altíssima. Eu e meus olhos presenciamos uma conversa entre estranhos, silenciosa, literária, semi-invejosa da leitura alheia e divertidíssima.

Sobre a minha profissão

Gostaria de fazer um breve relato sobre algumas experiências que, vira e mexe, eu tenho sobre a minha profissão.

Primeiro, que a minha formação é em Letras pela USP. Só por isso, meia dúzia de neguinhos sempre te dizem: "vai dar aulas? Mas professor não é reconhecido no país...". Péim! Sinal negro!

Eu confesso que eu nem sei porque fiz o curso de Letras. Acho que era o único que me apetecia na época. Sem querer, descobri algumas carreiras que os estudantes podem seguir, que não sejam Assistente Administrativo, Atendente de Telemarketing, Recepcionista ou Professor. Mesmo porque, eu nunca me dei em nenhuma dessas carreiras e já tentei todas (menos lecionar e recepcionar pessoas).

O que é ser Produtor Editorial? Eu me deparei com isso quando fui ao lançamento da Cláudia Trevisan. Estava eu lá na fila, quando comecei a fazer amizade com as pessoas ao meu redor. O da frente, era um chinês simpático que reclamava da falta de educação das pessoas que furavam a fila. A de trás, era uma Promotora Pública, muito bonita, que tinha bebido umas três taças de frisante e estava semialta. Ela puxou papo com o piloto de monotores atrás dela e nós três engatamos uma conversa.

Todos começaram a falar de suas profissões empolgadamente. Óbvio que, para mim, a primeira pergunta foi: "Você é chinesa?"

Ainda bem que não sou xiita e não tenho ódio de chineses, como minha mãe que odeia essas comparações. Com um sorriso simpático, respondi: "Não, sou japonesa." Cara de ar blasé das pessoas da fila e nenhuma resposta. Devem ter pensado: "Tão fácil confundir, né?".

Beleza. O segundo round do papo empolgado foi quando cada um começou a falar qual era o vínculo que tinham com a autora. A essas alturas, eu estava empolgadíssima para dizer que tinha acompanhado de perto o processo de concepção do livro! Participei da feitura dele!

A Promotora Pública disse: "Estudei com a Cláudia. Conheço ela desde os 15 anos." WOW, pensei. O piloto de monomotores: "Conheço a jornalista e gosto dela." E eu? "Eu trabalho na editora que publicou o livro dela, participei da produção do livro." Todo mundo com cara de ar blasé de novo??? Pow!

Assim, depois de contar esta pequena história, quero explicar que ser Produtor Editorial é uma carreira edificante. Vc aprende com os livros que produz. E o que é produzir? É acompanhar um arquivo de word virar um livro impresso que vc pega em qualquer livraria por aí. Coordenar prestadores de serviço, avaliar qualidade textual, saber lidar com pressão. Uma carreira digna, tão digna quanto o piloto de monomotores (que se dizia ex-editor) e a Promotora Pública.

Pronto. Desabafei. Tenho dito!

Almost a year later...

Será que eu sucumbi? Será que quase um ano depois de tantas mudanças radicais na minha vida, eu estou sentindo aquele velho vazio de novo? E se eu alimentar o vazio, e ele voltar para me engolir, feito um vício-precípio: negro, imenso e infinito?

Estou com muitas perguntas e sem nenhuma resposta. Exceto a angústia de saber que tem algo errado, algo errado com o mundo, algo errado com a minha rotina, algo errado com deveres e obrigações. Algo totalmente errado em vivermos esta vida que vivemos e que nos obrigam a vivê-la. Quem nos obriga? A conta para pagar ou a nossa alma?

Estou olhando ao redor e meu olhar está apático. Nunca desesperançoso nem covarde. Mas estou apática. Eu sinto isso no meu caminhar. Eu sinto isso na minha ausência de vontade de conversar com as mesmas pessoas os mesmos assuntos, reclamar das mesmas coisas e não fazer nada para mudar. Não fazer porque não quero, mas muitas vezes, porque não posso.

Isabella Taviani disse isso em seu twitter:
Odeio imagem de mulher submissa. Meu exemplo de mulher na vida é forte, guerreira sem perder a doçura.

E eu me peguei pensando na guerreira de mim que, agora, está cansada. Minha frase voltou a ser "Estou cansada" e eu não gosto quando começo demais a repetir isso. Sabe o que sinto? Que estou nadando contra a maré. Que estou me afogando -- temporariamente -- entre tantos que convivem com seus sonhos arregaçados, seus desejos frustrados e sua personalidade sucumbida. Meu Deus! Não quero ser uma dessas pessoas que vivem a sua vida no piloto automático. Não posso!

Mas estou vivendo. E nesses dias, sinto apenas que sou um robô que olha displicente para as pessoas que se empanturram em conversas fúteis, em fofocas alheias, em maldade gratuita, em ignorância desmedida, em egoísmo egocêntrico.

Mas, estou vivendo... se ninguém me fez uma mandinga, tô com o corpo pesado. E isto não é uma crônica, isto é um desabafo. Conversei agora com minha filha Poliana que sempre me ajuda a me encontrar meu eixo. Sinto uma vontade de estar num casebre no meio do sítio, ouvindo pássaros, sapos e grilos. Estou exaurida.

E aqui toca o telefone. Ainda bem que é sexta... mas a vida continua. Mesmo no nosso desengano de achar que um fim de semana cura o câncer de uma vida rotineira e sem sentido, eu acredito que semana que vem estarei melhor. Eu perco todas as lutas contra egoístas e ignorantes, todas, mas a minha luta comigo mesma -- e por mim mesma -- eu nunca vou perder.