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Carne de soja ao molho agridoce

Ai... nem vou pedir desculpas aos leitores do blogue, mas desculpe mesmo assim! Os dias corridos, os compromissos, a preguiça, uma certa falta de criatividade.... enfim. Dias e dias sem postar. Mas não sem ideias.... apenas... guardadas, digamos assim.

Direto e reto: em homenagem a minha amiga Gabitchs, "criei" mais uma receita com proteína de soja. Devo dizer que toda vez que assisto à deliciosa China de Kylie Kwong, eu penso no óleo de amendoim, no óleo de gergelim, no gengibre, no vinho chinês para culinária, no vinagre chinês para culinária e pimentas, pimentas... de todos os tipos! Secas, frescas.... ah.

Mas culinária chinesa adooora uma carne de porco. Evitando isso, pensei em como poderia fazer uma carne de soja que ficasse saborosa e que me satisfizesse as lombrigas que Kwong me causou.

Então, fiz assim. Peguei uns 300g de proteína de soja (daquelas grandonas) e coloquei de molho com um pedaço generoso de gengibre ralado. Troquei de água umas 3 vezes, mantendo sempre na geladeira.

Peguei a proteína e piquei ela simulando uma carne, ou seja, em tiras finas. A proteína grandona já é um corta tesão culinário só de olhar, certo? Pique-a devidamente!

Peguei 2 cebolas médias e cortei em formato de pétalas, bem grandes. Numa panela (eu ganhei uma wok, mas pré-preparar a bichinha dá tanto trabalho, que deixei para estrear a wok depois.... :P) no fogo máximo, coloquei um pouco de óleo de soja e umas duas colheres de óleo de gergelim. Fritei um pouco. Acrescentei 3 colheres de sopa de molho de soja, 1 colher bem cheia de açúcar mascavo. Coloquei uma colher de sopa bem cheia de gengibre picado em palitos. E cozinhei. A isso, os chefs chamam de "caramelizar". Dá-lhe caramelizar, mesmo porque, adoro sabores agridoces.

Um minuto depois, acrescentei a soja picada. Cozinhei. Acrescentei em seguida 2-3 colheres de saquê (na falta de vinho chinês...). Segui cozinhando em fogo bem alto. À parte, torrei numa frigideira uns 50g de sementes de girassol com um pouco de sal, apenas. Quando as sementinhas estavam começando a ficar marrons, joguei por cima do cozido e abaixei o fogo. Queria deixar o caldo apurando para penetrar bem na carne.

Uns 5 minutos depois, provei e vi que faltava um pouco de sal. Aí, fica a critério de cada um. Uma pitada, mais um minuto e pronto. Mermão... ficou uma delícia que só! Eu consegui exatamente o que eu queria: um sabor agridoce, com um picante do gengibre e o aroma inigualável do óleo de gergelim. Fora a crocância das sementes de girassol (que poderia ser substituído por amendoim. Usei semente de girassol porque comprei um saco imenso!).

Para mim, fica como excelente opção para os vegetarianos e para os adoradores de comida saudável! Espero que gostem! Fica devendo foto... ;-)

Uma breve reflexão sobre furar fila

 Assunto do momento: digite no Google e você vai se deparar com muitas links para matérias de todos os tipos e gostos. Tornou-se a moda, infelizmente. Mas furar a fila é algo que não saberia dizer se é cultural ou brasileiro. Não me aprofundei nesse assunto.

Eu sempre fui veementemente contra furar a fila em quaisquer circunstâncias. Considero isso não apenas um desvio de conduta de caráter, uma total falta de respeito ao próximo. Então, na minha concepção, praticar esse ato - além de falta de educação - também simboliza um gesto de egoísmo praticado sob os mais diversos argumentos. Todos condenáveis, exceto em caso de uma pessoa em iminência de morte.

Veja, por isso existe um protocolo que você encontra em qualquer UBS que você for: é a classificação de risco. Isso é o que faz você esperar por horas para ver um piriri suspeito enquanto o que está com suspeita de infarto passe na sua frente. 

Óbvio que levar isso para a vida cotidiana seria algo muito além de qualquer expectativa. As pessoas furam fila de supermercado, do banco. E para pegar condução lotada? Só sabe quem já passou por isso. Não existe respeito. É cada um por si.

Vemos as pessoas furando fila nas situações mais comuns do dia a dia. E esse comportamento tornou-se tão grave agora em tempos de pandemia, que foi necessário criar leis e multas severas para quem chegar dando carteirada: porque é mais importante, tem mais poder ou tem mais dinheiro. Todos aqueles cenários caóticos que vimos em filmes de fim de mundo estão acontecendo agora, ao vivo e a cores, diante de nossos olhos.

Uma vez, furaram a fila para mim. Tenho vergonha desse dia, mas vou contar aqui, acho que nunca contei. 

Eu odeio filas, de todos tipos. Fila é algo tão imbecil mas tão automático que quando menos percebemos estamos lá, numa fila. A fila parece trazer uma certeza de que vai dar certo, mesmo que demore. Talvez (e bem talvez) por isso, a vida traga os engraçadinhos e espertinhos que passam na frente - eles sabem que isso é uma afirmação perigosa e até mentirosa.

Estava eu em uma fila para o camarim pós-show da Isabella Taviani em Brasília, dez anos atrás. Sim, tinha viajado de São Paulo para vê-la onde tudo é plano aonde quer que você olhe. Estava eu lá, esperando chegar a minha vez, como sempre faço, quando o produtor viu a galera que tinha vindo de SP (ninguém combinou de ir junto mas todos se encontraram lá) umas seis pessoas, eu acho, não lembro mais, e chamou todos para irem primeiro falar com a cantora. Eu disse que não queria, esperaria a minha vez, mas fui forçada a ir. No meio do caminho, ouvi muita gente reclamando e algumas me xingando. Caminhei pedindo desculpas. Oras, a Isabella fazia uma década que não se apresentava lá e eu, nessa época, ia a shows delas duas, três vezes por mês. Podia esperar, mesmo tendo vindo de SP. Mas, não, passei na frente de todos.

Qual a sensação que traz ser a primeira, passando na frente de todo mundo? Eu sou especial e única.

E acho que é isso que todos desejam ratificar: sou especial e único, posso passar na frente dos outros. O sinistro é ver que as pessoas ainda continuam pensando assim, sem o mínimo de pensamento coletivo, no meio de uma pandemia, uma situação gravíssima, ainda mais agravada pela péssima gestão governamental (que nem merece comentário aqui). Se eu tenho dinheiro e influência, então por que não posso passar antes de todos?

Brasileiro tem aquela péssima fama de "dar jeitinho em tudo". Não sei de onde herdamos isso (aceito explicações antropológicas e históricas). Embora a bandeira diga "Ordem e Progresso", estamos longe de realmente por isso em prática. A lei máxima é do esperto que agarra a sua oportunidade, mesmo que burle regras. Se eu posso, qual o problema? Todo mundo terá o seu, só que eu terei primeiro.

Nada a ver, mas isso me fez lembrar do único show da Alanis Morissette que fui, lá em 1999. Fila para entrar, horas e horas esperando a casa abrir... quando entramos, uma menina disse em alto e bom tom que seria bom para todo mundo esperar sentado no chão o show começar, que ela tinha ido em shows lá fora (?!) e era assim. Claro que ninguém deu bola para ela. Foi nesse show que, inclusive, vi minha primeira roda se abrir na minha frente e eu quase fiz nas calças por medo de ser jogada ali no meio. Como assim, abrir a roda num show da Alanis?

Talvez seja do ser humano, instinto de sobrevivência jogando hormônios no corpo em um momento tão tenso e inédito que vivemos, como brasileiros que nunca viveram uma guerra, um tsunami ou um terremoto. Outras pessoas de outros países estão "mais acostumados" mas o brasileiro, não. E, talvez por isso também, o caos tenha se instalado da forma mais inimaginável possível: com negacionismo. Tipo, isso não está acontecendo aqui, é tudo invenção de alguém.

Agora, com a ficha caindo, o desespero das pessoas para furar fila e sobreviver só mostra o que sempre fomos com requintes de crueldade: não fazemos a nossa parte, não quero pagar a conta e quero sobreviver e ser feliz. O resto que se cuide.

Músicas para esta terça-feira

Na falta de ideias, na falta de fotos, vamos de vídeos. Até acabarem a ideia dos vídeos...


(sim é o Matt LeBlanc, famoso Joey, de Friends. Ele é amigo pessoal do Jon faz tempo...)







Estrogonofe vegetariano

De vários e vários meses para cá, um sentimento vegetariano vem se apossando de mim. Não, eu nunca fui vegetariana, e muito pelo contrário, sempre adorei os prazeres da carne (na gastronomia). Mas... (e talvez no meu íntimo eu saiba os motivos), a carne simplesmente perdeu sua graça. Eu ainda adoro um cheiro de um bife frito... mas não me dá vontade de comer. Adoro um frango bem grelhado ou mesmo um ovo frito, peixe cru. Não passa disso. 

Minha mãe nem acreditaria em mim, se eu contar esta história. Mas ser vegetariano não foi um opção forçada, foi meio que uma opção do meu corpo, que eu apenas venho seguindo, sem lutar contra. E devo dizer que não sinto falta, mesmo. É possível ser muito criativo com todos os legumes, verduras, grãos e temperos sem sentir falta da carne. Vai por mim, quando digo isso!

A opção do finde foi um estrogonofe do qual eu já tinha falado com a Gabitchs a respeito. E também ouvi e li relatos de pessoas que não se deram bem ao fazer a receita. Bem... resolvi fazer o meu teste e devo dizer que... ficou divino! Muito melhor que muito estrogonofe de carne que comi por aí!

Vamos à receita.
Ingredientes:
200g de proteína de soja texturizada (aquela que parece com carne moída. Pensei em usar uma grande e picá-la, mas a preguiça me fez usar a já moída)
margarina o suficiente para fritar a cebola e um pouco para incorporar depois à soja
1 cebola grande picada em cubos pequenos
1 lata de milho em conserva (não tinha champignon, foi milho mesmo!)
1 caixa de creme de leite
páprica doce
noz moscada (em grãos para moer na hora)
mostarda (em pó ou pronta, mas de boa qualidade)
conhaque para flambar
pimenta caiena
sal a gosto

Pra mim, noz moscada é o melhor tempero do mundo. Combina com quase tudo, é discreta e tem um sabor único que tempera muitas coisas de maneira perfeita. Para o meu estrogonofe (que aprendi a fazer com a minha filha...) o importante é ter esses três ingredientes: noz moscada, páprica e mostarda. Tem gente que gosta de estrogonofe a la molhe rosé. Eu não.

Frite bem a cebola na margarina. Acrescente a proteína, um pouco mais de margarina a gosto e continue fritando. Acrescente o milho e siga fritando (eu conto uns 5 minutos). Acrescente a noz moscada moída na hora (a gosto, mas eu sempre coloco bastante), 1 colher rasa de sopa de páprica doce, 2 colheres de sopa de mostarda em tubo (da Hemmer, a mínima para ser usada), um pouco de pimenta e refogue. Abaixe o fogo, vá sempre acrescentando um pouco de água fervida e quente, porque a proteína não solta água então o complemento é sempre importante.

Conte aí uns 10 minutos refogando em fogo baixo, mexendo, acrescentando água e provando o tempero. Enquanto isso, você prepara arroz e outras coisas que você vai servir. Em casa fomos de arroz branco e escarola refogada no alho.

Minhas tentativas de flambar nunca deram muito certo e dessa vez não foi diferente. A escolha da panela adequada para fazer isso é crucial, mas como não disponho de tanta panela aqui... o flambar quase nunca dá certo. Mas se você tem a panela certa e tem experiência com flambar, flambe. No meu caso, eu coloquei meio copo de conhaque, (tentei flambar) e aumentei o fogo para evaporar o resto do álcool. Conte aí mais 5 minutos.

O creme de leite vai apenas ao fim de tudo. Você vai ver na sua panela um molho meio laranja queimado, um cheiro delicioso no ar, um caldo na quantidade adequada à carne de soja, temperos corretos na medida certa. É hora de jogar o creme de leite. Coloque, aumente o fogo e deixe borbulhar por 1 minuto. Desligue, tampe e sirva. E veja se não deu certo... porque pra mim, deu!














ps: meu palpite para o estrogonofe vegetariano dar certo é que a proteína de soja precisa estar bem temperada. Ao contrário da carne, mais delicada e com preparo mais rápido, para a proteína de soja, eu fiz o inverso: deixei refogar por mais tempo, para que os temperos se incorporassem bem!

Hard reset na vida

"Hard reset" é um procedimento utilizado quando um smartphone está com problemas em seu sistema operacional e precisa voltar às configurações de fábrica. Esses problemas podem ter origens diversas, como vírus, pouca memória, aplicativos que não funcionam direito. Aí você aperta uns botões, segue uns dos incontáveis tutoriais (não se esqueça de escolher aquele que específico para o modelo do seu celular) e pronto: seu aparelho está novinho, como no dia em que você o tirou da caixa.

Eu precisei dar um hard reset no meu Motorola porque ele não atualizava mais os aplicativos da PlayStore. Engraçado que mesmo depois de ter repetido o procedimento três vezes, o erro ainda não tinha sido corrigido. Eis que resolvi fazer diferente na última tentativa: ao invés de restaurar as configurações prévias (que o celular salva como um espécie de backup), optei por zerar tudo mesmo, sem qualquer menção ao passado do celular.

Assim, quando achava que tinha perdido de vez o aparelho e pensava nos passos seguintes... o celular voltou à vida. Novinho, veloz, prontinho para eu configurá-lo do jeito que eu queria (sem repetir os erros e os excessos anteriores) outra vez! Alegria infinita e eu me sentindo uma verdadeira hacker profissional dos smartphones sem pedir ajuda a ninguém e sem gastar nenhum tostão!

Lições: apaguem as fotos e os vídeos que só ocupam memória. Cuidado ao acessar sites duvidosos. Tenham sempre o Clean Master eo adBlock instalado. Não deixem nunca a opção "atualizar aplicativos automaticamente" (essa eu não deixo há anos, dica de um amigo). Não cliquem em arquivos suspeitos (dica velha, mas que sempre vale lembrar). Acho dispensável ter antivírus: só ocupa espaço e não serve para praticamente nada.

Bem, por que eu escrevi quatro parágrafos para dizer que fiz um hard reset no meu celular? Porque na hora eu pensei em como seria fácil se déssemos um hard reset na vida. Gente, seria muito fácil! Seria a solução dos problemas. Não é essa uma das obsessões da nossa vida? Poder ter a chance de recomeçar tudo de novo, apenas com o apertar de um botão?

Na verdade, nós temos essa opção o tempo todo. Porém, a nossa vida não funciona como uma smartphone, graças aos deuses, somos bem mais complexos! E tamanha complexidade tem suas condições, seus procedimentos e suas consequências. Agora, pergunto: se fosse fácil fazer um hard reset na nossa vida, como seria? Todo mundo, na hora em que quisesse, recomeçando literalmente do ponto em que gostaria de recomeçar? Acredito que perderíamos a nossa complexidade em todas as áreas, das relações sociais, dos aprendizados e dos erros, até na evolução genética (rs)!

Existe alguma solução quando a nossa vida está com tantas dificuldades, percalços, problemas, falta de objetividade e falta de forças? Existem muitas soluções, mas, acredito, que hard reset seria um apenas um paliativo para que tudo recomeçasse novamente, como um loop infinito e fantasioso, de que a nossa vida está indo para frente só porque podemos ter a oportunidade de ficar zerando o cronômetro do carro (quando na verdade, toda a quilometragem dele ainda continua lá).

Fato é que viver não é fácil. É tarefa daqueles que têm coragem, não a que conhecemos, mas aquela que une o racional e o emocional, mente e alma, visível e invisível. Viver não é se isolar. Viver não é se privar do erro. Viver é errar e entender que o erro é que nos torna mais capazes de melhores escolhas. E vivemos e erramos até compreender que a ideia do hard reset parece um atalho atraentíssimo mas pouco rentável.

Isabella Taviani




Pela primeira vez em toda a minha vida, tenho o autógrafo de um artista de quem sou fã. Como todos os que gosto estão bem longe de mim, Ana Carolina é inacessível, tenho esta carioca libriana de voz lindíssima e de simpatia inigualável. Falta uma foto ao lado dela. Em breve.

Obrigada, Bella, por ser aquela artista que não se esquece quem a alimenta -- não apenas a Arte, mas os fãs de sua arte. Eu e todos os seus seguidores estamos ansiosos pelo seu novo álbum Mas meu coração não quer viver batendo devagar. Tô pensando em algo para poder participar de um dia de gravações ao lado de um monte de cariocas.

Blog da Bella: http://isabella.taviani.zip.net/


Alguns poemas - parte 2

Depois do ano de 2001, nada mais foi igual em minha vida. Desnecessário entrar em detalhes agora, mas um nítido reflexo foram os meus poemas. Eu refinei meu estilo e digamos que tenha, finalmente, encontrado a minha verve literária, minha digital poética, que eu manteria, com retoques, ao longo dos anos seguintes.

Os poemas separados aqui são apenas amostra básica da imensa vastidão que existe. Uma vez mais, espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais do meu -- tão pouco divulgado -- lado poético.

ps: esta leva de poemas é dedicada a todas as pessoas que desde 1992 leem os meus poemas. Algumas pessoas foram leitoras ávidas... algumas pessoas foram constantes como a Sharlene, provavelmente, minha maior leitora de todos os meus poemas e também aquela a quem confiei a guarda dele (junto com a Priscila Mota).

ps 2: descobri que há um hiato no meus poemas entre 2004 e 2005. Vou fazer uma caça intensa em emails e amigos. Espero apenas não ter perdido esse material!

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migalhas 

Eu vi pombos sobre o telhado,
era uma manhã branca
era um dia branco
e eu vi pombos sobre o telhado
não escutei passos
nem senti o calor,
não havia pessoas
nem testemunhas,
e eu vi pombos sobre o telhado.

Não contei quantos pombos eram
eu vi apenas sombras
eu somei palavras às atitudes
eu era uma alma na multidão,
o silêncio com palavras e risos
e eu vi pombos sobre o telhado,
era uma hora branda
alguma lembrança.

Não havia mais nada:
e eu contei pombos.
eu vi pombos sobre o telhado
eu vi pombos sobre o telhado
eu vi pombos sobre o telhado

(11/03/2002)

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Castelo de espelhos
(dedicado a P.B.)

Ante a sombra
de um sol eclipsado
viste a ti mesma no desnude
de tuas incertezas.
Reflexo de teu regurgito
odor de tuas aspirações
oh...
eras apenas tu
era apenas tu.
Clone de teus anseios
não viste o teu grito desesperado
terminar no fim de um eco
perdido
na manhã.
E tu sabes
foste meu espelho
e eu refleti teu complexo
incompatível de existência.
Teu castelo de espelhos
um dia pôde
refletir a tua imagem.

Hoje, tu és teu calvário
há outra alma tão perdida e solitária
para a tua, tão igual, entreter?

(um dia tu saberás pular em tua própria piscina)

(29/05/2003)

_________________
sem resposta 

Longas cartas
escritas à suor e sangue
eu pensei tanto em você,
sim, eu pensei apenas em você,
e esperei uma resposta.

Longas mensagens de celular
infinitas
tempero de desejo e ansiedade
eu pensei tanto em você,
como ainda penso em você
apenas esperando uma resposta.

Longas conversas no telefone
a qualquer hora do dia
eu pensei tanto em você
e eu adorava pensar em você
enquanto esperava uma resposta.

Longos minutos de silêncio
transformados em horas
em dias, em semanas, em meses
eu penso em você
e eu espero uma resposta.

Longos sonhos e pesadelos
momentos solitários
em qualquer lugar
onde eu possa pensar em você
e onde continuo esperando uma resposta.

Longas tentativas, infinitas
um amor intenso e eterno
enquanto o tempo passava tenso
eu pensei tanto em você
e eu esperei tanto uma resposta.

Mas, a resposta era a não-resposta
pois sem resposta eu fiquei
enquanto pensei, pensava e penso
em você
você.

Sua resposta era o silêncio
que sempre estivera ao meu lado
a sua ausência, o seu vazio, o nada
eu pensei tanto em você
e fiquei… sem respostas
apenas como tinha de ser,
apenas como tudo
insistia em ser:
sem respostas.

(27/10/2007)

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Os dias que são iguais aos outros dias

É…
eu conheço sua música favorita e você conhece a minha
em dias como estes, com silêncio e músicas favoritas,
eu posso dançar com as minhas memórias e imaginar
como a vida é tão engraçada… docemente irônica e assim
lembrar tão alegre de você, de suas piadas e de seu humor característico
tudo aquilo que nunca deixei de admirar e amar
você deve estar vivendo sua vida com o sol a raiar
erre sua vida e a aproveite ao máximo em todas as suas nuances
porque o destino prega umas peças imprevisíveis
e sabe como é… o amanhã quase nunca é igual ao ontem.

É…
nesses dias de lembranças tão intensas e insanas e impossíveis
nunca me esqueço daquele jeito tão específico
que nosso humor tinha de se conectar e assim permanecer
era quase viciante a destreza mental com que podíamos fazer rir
e mentir a realidade, e sucumbir a dor, e transcender todos os limites
sabe que eu tenho procurado alguém semelhante assim
mas, acho que assim, não vou nunca encontrar ninguém
pois nunca houve ninguém e nunca haverá ninguém
que tão bem soube assimilar o meu humor e a falta dele.

É…
tantas coisas sempre acontecem a cada segundo novo de nossa vida
e nunca há presente, vivemos do término do passado e a iminência do futuro,
vivemos procurando respostas que não existem, felicidade que não é perene
amigos que não são eternos, dor que seja curta e momentânea,
certezas absolutas que nunca existiram nem nunca existirão
compreender e ser compreendido, anular–se para, assim, ser amado,
vivemos na fronteira de uma suposta felicidade e da eterna alienação
e, se vivemos, teremos de viver com os olhos abertos e tanta coragem…
sim, minha cara, tantas coisas sempre acontecem e roubam a inocência
transformam a força em egoísmo e a esperança em relicário escondido
mas nunca deixei de sentir saudades de você, do que foi inteiro e genuíno,
tantas e tantas e tantas coisas… que se perderam, aquelas bem poucas que ficaram.

É…
flores amarelas e vermelhas sob o céu azul sem nuvens, eu continuarei me lembrando de você
e, solitária, dançarei com minhas memórias.

(13 de agosto de 2006).

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Coração deserto 

Se eu fechar os olhos por um momento
talvez eu seja capaz de desenhar o meu futuro
e este será o instante em que não sentirei ansiedade nem angústia
todos os temores se dissiparão eu conseguirei sorrir livremente.
Pois que o presente seja tão incerto quanto as lembranças do passado
e o futuro sempre reserva uma fração de esperança
para os sonhadores, raça quase extinta, seres humanos
fadados à dor, à solidão… quase como eu e você.

Mas se você fechar os olhos por esse instante
talvez você não consiga ver as coisas que eu vi
como em sonhos premonitórios, quando nunca é dia ou noite,
seremos duas almas separadas, cada uma trilhando sua própria linha
não nos encontramos, não iremos nos reencontrar
e a espera será apenas mais uma característica de personalidade
quase uma cicatriz, um verdadeiro defeito congênito,
e o que restar será compartilhado como migalhas para pombos.

Eu vou fechar os meus olhos por um momento
esperando que alguma coisa mude entre o segundo do desejo e o do desespero
uma fração de um milésimo de um minuto para o fim
se parece ser muito mais fácil desistir, eu escolho continuar
todos os meus passos já são conhecidos, minhas intenções
então nada restou para descrever ou para conversar, nada,
e comigo mesma eu ficarei com mãos vazias, corpo vazio, olhos vazios
uma alma despedaçada e vazia… sem migalhas para mim mesma.

Eu vou fechar os meus olhos por um momento,
e numa suposta prece que eu nunca rezei, eu vou pedir
que a compreensão seja mais ampla que pré–julgamentos
pois mesmo que a vida seja cíclica e eu assuma meus compromissos
o primeiro sinal de silêncio vai aliviar a angústia desta alma
para nunca mais calar o silêncio de um espírito solitário,
nunca mais haverá manhã ou noite em que o eco de uma voz
não será refletido de volta para o mesmo espelho vazio,
a compreensão e a empatia não são características do ser humano,
mas mesmo assim eu peço que olhem do meu ponto de vista e compreendam
o que os olhos humanos não vêem jamais, o que corações não sentem
o que almas vazias como as de vocês jamais perceberam
e me deixem ir com os olhos fechados e um sorriso nos lábios.

Então, não feche seus olhos comigo, nem por dó, nem por imaginação
assim, só e feliz, eu permanecerei entre cinzas e lembranças
pois é triste saber de alguém que passou por sua vida e nada deixou
eu passei pela minha própria vida e acumulei todo o conhecimento possível
tentei auxiliar, tentei compartilhar e como eu tentei me integrar,
mas o ar sempre é muito denso… ou eu ficava na superfície, ou no fundo do âmago,
e entre a angústia de nunca saber onde permanecer eu decidi sublimar
decidi que não era mais minha escolha, nunca tinha sido minha escolha,
o meio–fio de minha decisão era a minha maior e única decisão
e quem quer que caminhasse pelo meu coração, nunca deveria ter esquecido
que em um coração deserto, apenas se caminha sozinho.

(20 de novembro de 2006)

Músicas para esta segunda-feira

Pensei em algumas músicas para este meu estado de ânimo estranho. Me sinto estranha. Me sinto vazia. Me sinto... faltando uma parte de mim. Talvez a melhor parte. Talvez apenas mais uma parte. Mas falta algo.

Algumas músicas a seguir:








Da loucura à poesia

Sabiamente, a querida Claudia Bertrani acabou de me dizer isso. E eu fiquei pensando nisso. Decerto -- e muito decerto! -- as pessoas do signo de terra são as que me conhecem melhor, mesmo até quando não deveriam, no caso, o fato de sermos "amigas virtuais".

Dias atrás, postei que andava sozinha e que conversar com as pessoas por msn me fez um bem danado. Não nego! Mas eu sou aquela das antigas, sabe? Aquela que gosta de sentar com um suco, em um café qualquer, olhar nos olhos... fazer leitura corporal. Sentir a energia. Isso, sim, é a realidade!

Mas, não sei porquê, nos acostumamos com o virtual, com o comodismo de mal levantar o dedo pra clicar no mouse e ver a carinha do outro que tuitou algo pra vc ou que "te curtiu" no facebook. Ah, valha-me lá, gente, isso é vida??

É parte dela, sim, mais uma vez, não nego. Eu não quero aqui, com minha sã ignorância querer destituir a globalização de seus benefícios. É muito delicioso poder conhecer pessoas do Brasil inteiro através de uma tela do computador. Pessoas como a Xará (Cris Barufi), ou a gaúcha geninha Michelle Lange. Amigas de Recife, Paraíba, Salvador, Minas Gerais... onde tudo seria mais profícuo e rápido assim?

Porém, precisamos -- e muito -- do téte a téte que nunca pode ser substituído. Porque não somos simplesmente alguém esperando alguém postar algo pra você. Isso pode satisfazer, mas é um alimento pobre. E precisamos sentir o perfume -- que pode ser bom ou ruim -- que vem da pessoa. E precisamos saber como ela segura o copo e os talheres. Observar aonde os olhos direcionam quando ela fala. Conhecer seus trejeitos e seus tiques nervosos. Saber qual lado do pé a pessoa força mais ao andar. Ver os perdigotos saindo da boca, enquanto fala.

Eu gosto disso! E por sentir tanta falta, tenho me sentido total escrava desse mundo virtual que muitas vezes não corresponde às suas expectativas! Injusto? Muito pelo contrário! É o que ele tem pra oferecer, assim, fácil e imediato, como uma esmola sentimental. Mas a vida real ainda é feita das pessoas que tocamos, mesmo que seja de vez em quando!

Por isso, vou sim, encontrar com meus amigos na minha próxima ida a SP. Quero saber como todos estão, quero contar das agruras e das alegrias. Quero ver as roupas que vestem, quero ver os olhos, o cabelo, a vontade, a ausência! Porque, a triste ironia do mundo virtual é que você nem lembra mais o que escreveu. Você nem salva o histórico de suas conversas. Eu acabei de apagar todos os meus! E a vida, assim, se apaga, com um simples clicar? Ela começa com um clique e termina no clique seguinte?

A vida cheia de cores e aromas e sensações não poderia nunca se restringir a isso. E apenas cabe, a cada um de nós, saber dar o devido valor, saber o real sentido, saber os pesos e medidas. Não é difícil. Conheço e conheci pessoas totalmente trancafiadas no mundo internet, incapazes de interação social mínima. Conheço pessoas que se mostram tão simpáticas no mundo virtual, mas que na vida real são insossas e caladas.

Nada disso é novidade. O que será sempre novidade é: o que você quer pra você? Se nesses dias que se passaram, eu tive meu surto louco no twitter, agora sigo por aquele caminho que nunca deixou de me acolher tão bem: a poesia! Me acompanha?

Por uma militância gay

Quem me conhece sabe que não sou militante. De causa nenhuma. Mas isso não significa que eu tenha minhas opiniões e faça minhas propagandas e defesas das coisas em que acredito. Meu blogue, meu twitter e meu facebook falam por mim.

Porém, uma coisa é fazer desses mecanismos virtuais a sua trincheira militante. Sim, porque no caso da militância a analogia à guerra ainda é a que traz os melhores adjetivos comparativos, embora, de verdade, não devesse.

Eu nunca escrevi nada em nenhum desses mundos virtuais algo que ofendesse a ninguém em específico. Uma das lições que aprendi desde a tenra idade é a de quando mais cedo você julga, mais cedo ainda você estará no lugar do julgado. Com pior sentença, tenha certeza!

A militância que trago aqui é a gay. A do homossexual que, de alguns vários anos para cá, tem estado cada vez mais em destaque na mídia. Sim, a “perfídia mídia”. O cúmulo a que chegamos foi a incompreensível criação do dia do “Orgulho Hetero”. Digo incompreensível porque dias de orgulho comemorativo costumam ser criados para as minorias ou para aqueles que sofrem preconceitos.

Eu acho que a criação de uma data dessa reflete exatamente a que andas a nossa sociedade: num limite perigoso de aceitação e repudia. Quem vive no meio termo hermético dessa existência pode entrar em parafuso por não saber que lado estar, mesmo que a gente saiba que não existe lado para ficar. O único lado que todos deveriam estar é o do amor e fraternidade.

Esta longa introdução é para contar o que aconteceu comigo, hoje, aqui em Niterói, estado do Rio de Janeiro. Mal-informada como sou, não sabia que hoje teria Parada Gay. Saímos, eu e minha namorada, para comemorar o aniversário do namorado da amiga dela, no bairro de Icaraí. Antes disso, passamos no shopping para comprar um presente para ele. Na saída, pegamos um táxi para irmos até o restaurante onde seria comemorado o aniversário.

No primeiro minuto, logo ao sair do shopping, o táxi é fechado na contramão por dois negões montados numa moto. Dando uma de carioca gente boa, não se alterou, apenas disse que os caras não deveriam fazer aquilo. Tudo de boa.

Menos de cinco minutos depois, o táxi entra numa rua ligeiramente congestionada. Num ímpeto, com a voz totalmente agressiva e alterada, fala em alto e bom tom: “Eu acho um puta absurdo fecharem a única avenida principal da cidade para deixar um monte de viado, travesti e sapatão ficaram fazendo putaria no meio da rua.” Repetiu a mesma frase, com certa variação, logo em seguida, mas mantendo o tom agressivo da voz.

Primeiro, alguém que fala isso, sabendo que tem dois passagerios dentro do carro é porque sabe que não está falando sozinho. Se fez pensando isso e usar isso como argumento (como ele fez) é muita falsa ingenuidade. Numa fração de segundo eu pensei que nunca tinha passado por aquilo em toda a minha vida. Numa fração de segundo, eu pensei em todos os homossexuais assassinados diariamente em todo o Brasil justamente por causa desse ódio injustificado e desmedido. Numa fração de segundo, eu pensei que aquele era o momento de, pela primeira vez na minha vida, militar pela causa, levantar armas e falar. Eu não podia simplesmente me calar, não podia!

E não me calei. Com a voz alta e muito séria disse que todas as pessoas têm direito a liberdade de expressão e era muita falta de educação falar desse jeito dessas pessoas. Óbvio que isso apenas jogou mais lenha na fogueira ignorante do taxista. Se alguém pensou que era tarde para voltar atrás, eu fui até o fim.

Os argumentos que ele usou eram os óbvios de qualquer intolerante preconceituoso. Eles não querem argumentar, eles apenas falam da putaria ao ar livre. Eu virei para ele e disse: “E se eu disser ao senhor que sou lésbica e acho que o senhor não deve falar isso porque são todos seres humanos?”. Um ligeiro e brevíssimo segundo de silêncio. Ele começou a discorrer ainda mais sobre a putaria diante de crianças etc. Eu apenas voltei a insistir, com a voz tão alta quanto a dele, mas firme, que ele deveria respeitar as diferenças, as liberdades de expressão das pessoas. Óbvio que a essa altura ele apenas queria falar da putaria. Aumentei ainda mais minha voz e finalizei: “O senhor disse o seu ponto de vista. Eu disse o meu ponto de vista. Acho melhor pararmos aqui a conversa.”

Silêncio nos minutos finais do trajeto, que graças ao bom Senhor, era curto. Lembrei de tudo que sempre acreditei e que sempre digo aqui sobre sentir amor para as pessoas. Eu nunca tinha passado por uma situação semelhante. Eu senti o ódio dele atravessando cada célula do meu corpo, esse ódio que imagino que seja o veículo que causa tanta tristeza e injustiça no mundo. Pensei que não adianta discutir com ele, mas ele estava diante de Cristiane Maruyama e ele não podia simplesmente falar daquela forma. Porque se ele queria, como disse, que pensou alto, que não queria ofender, mentira. Quem fala assim sempre espera uma resposta. Que no caso dele, não foi a que ele esperava.

Decidi que não queria mais falar do assunto, mas queria ter dito muito claramente minha opinião. Meu amor ficou em silêncio o tempo todo e apenas pousou a mão na minha. Mas, ao sair, o motorista virou para trás e inventou uma desculpa apenas para justificar que o que ele não gosta não é de homossexuais, mas da putaria. Arram. Meu amor finalizou da melhor maneira possível: “O senhor precisa tomar cuidado, porque lida com público e não pode ficar falando sobre nada com tom pejorativo. Se não gosta, não diga nada, mas não faça isso que fez.”

Eu fiquei bastante mal com aquela carga negativa. Passou pela minha cabeça todas as coisas que todos os gays passam todos os dias. Tanta coisa passou pela minha cabeça... aquilo parecia ter sido escrito especialmente para mim. Um capítulo inesperado na minha vida. Uma dose real de intolerância humana. O que aconteceu comigo pode ser até ínfimo para a maior parte de vocês, leitores, mas para mim foi um fato. Eu diria que até um marco. Algo que sempre me fará lembrar dos motivos de eu estar viva, de eu ser quem sou, de eu ter orgulho de quem sou. De dizer a você, leitor, gay ou lésbica, que não devemos nos calar. Não devemos responder à violência com violência, mas não podemos simplesmente nos calar porque ele é um ignóbil brutamontes. Ele é, mas mesmo assim devemos erguer nossa voz, defender o que sempre fomos: seres humanos dotados de amor. Uma guerra de ódio deve ser enfrentada com muita coragem, força e amor.

Reflexão da meia-idade

Aos eventuais leitores que ainda têm força para visitar este blogue esquecido, meus mais sinceros agradecimentos: já faz muito tempo desde minha última postagem e é desnecessário dizer que muita coisa aconteceu.

Mas não vou contar nenhuma história nem compartilhar algum fato. Hoje vou escrever da maneira mais minha possível: refletindo.

Esse negócio de crise pessoal é algo sério. Para algumas pessoas, parece quase um hábito, uma sombra que nunca se dissipa. Lembro com detalhes quando as crises começaram a me afetar de modo a me deixar muito fora do meu próprio eixo: culpei os 29 anos e a revolução de Saturno. Só que os anos se passaram e a crise continuou. E aí você começa a arranjar os bodes expiatórios para tentar justificar por que tanta coisa não dá certo na sua vida.

Do seu próprio ponto de vista, sua vida está uma merda e parece nunca melhorar. Mas o tempo não para e a vida segue, aos trancos e barrancos, por sua própria escolha (ou não).

Aí uma certa ficha -- de que a sua vida é assim e que não adianta querer tapar a eterna inquietação com algo que você não sabe direito o que é -- cai e você sai do eixo outra vez. 

Mas, este post não é sobre crise ou a falta total de percepção do que acontece ao meu redor. Os segundos semestres costumam ser mais fáceis para mim, e eu posso afirmar que o meu ano só começa de verdade quando faço aniversário. De Janeiro a Junho é um inferno, literalmente!

E desde o começo de Agosto percebi umas fichas meio óbvias caindo novamente... e eu fiquei pensativa a respeito. Vários posts foram se escrevendo e sobrescrevendo em minha cabeça. Estava com saudade dessa ânsia de colocar para fora esses sentimentos e pensamentos que me povoaram várias noites insones.

1) As pessoas não podem dar aquilo que elas não possuem
E isso pode ser físico ou emocional.
E isso é um estado passageiro: pode ser uma fase como também pode ser um estilo de vida.
Certamente, convivemos com pessoas assim com mais frequência do que provavelmente temos consciência. Mas é uma escolha você estar ciente de que não pode criar expectativas além da pura realidade.
E você também pode escolher viver sendo vampirizado (ou mesmo sendo vampiro).

2) O amor é o grande desafio da humanidade
E isso é algo atemporal.
É algo que sempre será o grande desafio e a grande demanda.

3) Não faça afirmações convictas sobre uma verdade que parece ser verdade para você
Eu acho que este é o meu grande aprendizado este ano.
Quem me conhece de longa data sabe o quanto eu sempre fui a pessoa categórica com uma lista gigante de afirmações embaixo do braço.
E nessas minhas afirmações, muita convicção. A certeza de que a minha experiência vivida me traria uma sabedoria, uma lei. 

Baboseira.

A vida está aí para constantemente te mostrar de que convicções são boas mas não podem ser tomadas ao pé da letra. E isso praticamente se mistura com o lance da expectativa. 

Você tem uma série de convicções que te orientam em sua vida. E você se norteia baseado em cada uma dessas experiências prévias que te levaram a algum resultado final. Isso não é ruim, afinal, todos nós precisamos de uma bússola para viver, não é?

O perigo está em como você usa essa bússola. No geral, você -- assim como eu -- deve utilizá-la de forma bem errada... 

Porque dessa fórmula: convicção + expectativa + um dose de orgulho = o resultado é catastrófico -- desilusão, decepção, perda da autoestima, sentimento de inadequação no mundo, solidão.

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Talvez haja algum sentido em tudo isso que acabei de escrever... ou eu mesma estou criando outra convicção para mim mesma na quase vã tentativa de tentar entender o que acontece com o mundo, com as pessoas e comigo. O que você acha?

Espero não demorar até o próximo post!

Sobre a minha profissão

Gostaria de fazer um breve relato sobre algumas experiências que, vira e mexe, eu tenho sobre a minha profissão.

Primeiro, que a minha formação é em Letras pela USP. Só por isso, meia dúzia de neguinhos sempre te dizem: "vai dar aulas? Mas professor não é reconhecido no país...". Péim! Sinal negro!

Eu confesso que eu nem sei porque fiz o curso de Letras. Acho que era o único que me apetecia na época. Sem querer, descobri algumas carreiras que os estudantes podem seguir, que não sejam Assistente Administrativo, Atendente de Telemarketing, Recepcionista ou Professor. Mesmo porque, eu nunca me dei em nenhuma dessas carreiras e já tentei todas (menos lecionar e recepcionar pessoas).

O que é ser Produtor Editorial? Eu me deparei com isso quando fui ao lançamento da Cláudia Trevisan. Estava eu lá na fila, quando comecei a fazer amizade com as pessoas ao meu redor. O da frente, era um chinês simpático que reclamava da falta de educação das pessoas que furavam a fila. A de trás, era uma Promotora Pública, muito bonita, que tinha bebido umas três taças de frisante e estava semialta. Ela puxou papo com o piloto de monotores atrás dela e nós três engatamos uma conversa.

Todos começaram a falar de suas profissões empolgadamente. Óbvio que, para mim, a primeira pergunta foi: "Você é chinesa?"

Ainda bem que não sou xiita e não tenho ódio de chineses, como minha mãe que odeia essas comparações. Com um sorriso simpático, respondi: "Não, sou japonesa." Cara de ar blasé das pessoas da fila e nenhuma resposta. Devem ter pensado: "Tão fácil confundir, né?".

Beleza. O segundo round do papo empolgado foi quando cada um começou a falar qual era o vínculo que tinham com a autora. A essas alturas, eu estava empolgadíssima para dizer que tinha acompanhado de perto o processo de concepção do livro! Participei da feitura dele!

A Promotora Pública disse: "Estudei com a Cláudia. Conheço ela desde os 15 anos." WOW, pensei. O piloto de monomotores: "Conheço a jornalista e gosto dela." E eu? "Eu trabalho na editora que publicou o livro dela, participei da produção do livro." Todo mundo com cara de ar blasé de novo??? Pow!

Assim, depois de contar esta pequena história, quero explicar que ser Produtor Editorial é uma carreira edificante. Vc aprende com os livros que produz. E o que é produzir? É acompanhar um arquivo de word virar um livro impresso que vc pega em qualquer livraria por aí. Coordenar prestadores de serviço, avaliar qualidade textual, saber lidar com pressão. Uma carreira digna, tão digna quanto o piloto de monomotores (que se dizia ex-editor) e a Promotora Pública.

Pronto. Desabafei. Tenho dito!

Retrospectiva Crisão - parte final

Penso que o melhor ao final de um ano não são as coisas que deixamos de fazer que acabam gerando autoculpa desnecessária e um gasto de energia que poderia ser focado para coisas mais engrandecedoras.

Quantas vezes fazemos um balancete do que éramos e do que somos? Pode haver muita proximidade, no entanto na minha cabeça, retumba uma pergunta: pra quê estamos vivos? Qual o sentido de estar vivo? Vivendo uma vida que nem sempre é aquela que a gente queria ter, suportando coisas que poderiam deixar de existir, ansiando a tranquilidade de uma outra vida?

Pois creio que é isso que falta em nós, mais coesão dos eus internos e menos capitalismo. Precisamos pensar no que bem que nos fazemos não comprando zilhões de coisas, mas no conhecimento que adquirimos. Claro, se isso estiver de alguma forma atrelado a um certo consumismo, ok. Mas não apenas isso.

Muita gente reclama -- e a maioria de nós apenas vive disso. Evita o movimento contrário de uma vida cheia de reclamações, para começar a agradecer.

Neste ano de 2009 eu pude ter a nítida experiência de que o nosso foco está errado. Reclamamos demais e esquecemos de agradecer. A vida às vezes é uma bosta gigante? É. Mas isso não nos dá direito de reclamar e esquecer de todo o resto. O universo é o nosso próprio umbigo apenas?

Este ano tive contato com pessoas específicas que me mostraram agindo da forma que mais odeio (e olha que irônico) que eu preciso caminhar no sentido contrário, ou seja, no lugar de me agrupar -- expandir. No lugar de reclamar -- agradecer. No lugar de julgar -- me pôr no lugar.

Creio que andei muitos passos, dentre os inúmeros que ainda preciso dar. Mas quero a caminhada constante, progressiva, rumo a tudo aquilo que sempre acreditei no fundo da minha alma. É apenas para isso que vale viver. O resto é circunstancial, muito perigosos, que pode nos tirar do nosso verdadeiro propósito.

Se estas palavras soarem como as de um pregador, não se engane: tenho certeza de que em algum lugar aí dentro de vc, há semelhanças com o que digo.


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E esta caminhada não teria sentido nenhum se ao meu lado não tivesse a amiga, companheira e mulher essencial em minha vida: Jana. Obrigada por tudo, pois vc foi o amálgama que uniu e deu sentido aos 365 dias deste 2009.

Amor ou trabalho em primeiro plano?

Olha que texto lindo e fantástico saiu na Revista Personare. Mais um que vai entrar nas reflexões sobre o amor que pretendo escrever em breve aqui. 

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Amor ou trabalho em primeiro plano?

Nos meus atendimentos, uma das reclamações mais frequentes das mulheres é que seus parceiros não conseguem o equilíbrio entre o tempo para o trabalho e o tempo para o relacionamento. Elas também, por sua vez, também se encontram nessa berlinda ? divididas entre querer ter sucesso na carreira, além de serem lindas, bem cuidadas e amadas.
É claro que chega uma hora em nossas vidas em que vivemos o impasse entre se dedicar ao trabalho para conseguir aquela promoção desejada ou ter disponibilidade para quem se ama. Mas será que realmente precisamos enxergar só um lado de nossas vidas? Será que ao abrir mão de alguém que amamos seremos realmente compensados com a ascensão profissional?
O que eu vejo em muitos casos são pessoas que acabam extrapolando os seus limites entre produzir um excelente trabalho e se tornar um escravo dele. Deixam de respeitar até mesmo o horário de almoço e se esquecem da importância de ter uma alimentação saudável. Realmente, essas pessoas estão ultrapassando o limite entre o trabalhar bem e o respeito por si mesmas.
Se essas pessoas se esquecem de comer, imagina se estão dando a devida atenção ao seu parceiro? Muito provavelmente não. Certamente, a compreensão do par é muito importante para continuar ao lado de quem ama, mantendo a relação em harmonia. E nem sempre o parceiro consegue abrir os olhos do seu par para o exagero da entrega dele ao trabalho.

Lacunas a preencher

Muitas pessoas têm a visão de que relacionamentos amorosos trazem junto no pacote problemas que podem interferir em outras áreas da vida, tal como a profissional. Realmente, se pensarmos assim, vamos atrair não só esse tipo de relacionamento conflituoso, como acabaremos mesmo gerando complicações e interferências no trabalho.
Em alguns casos, eu vejo pessoas bem sucedidas que têm algum tipo de compulsão por seu trabalho e acreditam que sua realização está apenas em suas metas profissionais. Ao mesmo tempo, se vêem vazias de sentimentos e sozinhas. Seus relacionamentos, no geral, são casuais, porque essas pessoas não se colocam como abertas a ter um relacionamento amoroso com comprometimento. Assim, vemos homens e mulheres super bem profissionalmente e com uma lacuna na vida amorosa, porque não dão a devida importância a essa parte de suas vidas.
Se você está passando por esse impasse, se questione:
  • Se você é uma pessoa bem sucedida e acha que ter um amor nesta fase de sua vida iria atrapalhar seus planos, será que não está vendo o amor como um problema?
  • Se você tem alguém e a relação está complicada, por acaso já passou pela sua cabeça que você poderia estar usando o seu trabalho como uma desculpa para não ter que tomar uma decisão definitiva no seu relacionamento?
  • Será que você quer mesmo ter uma relação mais séria com essa pessoa que está ao seu lado? Seja sincero e honesto consigo mesmo e busque a resposta sobre o que você sente pelo seu par.
  • Ter alguém ao lado realmente implica em trocar atenção, amor e carinho. Será que uma boa conversa com o par, explicando sobre suas metas e como você precisa se dedicar neste momento ao seu trabalho não seria uma solução para equilibrar essas duas partes de sua vida?
Compensar a falta de atenção num fim de semana porque você ficou trabalhando vários dias além da conta pode se uma maneira provisória de resolver a sua situação amorosa. Mas buscar uma solução plausível para as duas partes requer um equilíbrio entre o trabalhar bem e respeitar a vontade de ficarem juntos.
Se você percebe que há em você alguma resistência ao pensar na possibilidade de conciliar o sucesso profissional e sucesso afetivo, opte por ler: http://www.personare.com.br/revista/amor/materia/144/deixe-de-lado-o-medo-de-amar

E o tempo...

... e as vontades... e os desejos.

Na falta de palavras, deixo um quadro de Salvador Dali, The Persistence of Memory.


Sobre cigarros e sobre fumantes

Faz um tempão que ando pensando sobre cigarros e sobre fumantes, muito antes mesmo desse lance da lei antifumo entrar em vigor.

Primeiro porque sou ex-fumante. E fumei por mais de dez anos. E comecei a fumar nos longínquos de 1996, quando morava no Japão. Então, me deixem contar uma história.

Tava eu, um dia, puta da vida com rotina de trabalho maçante, quando passei mal (única vez) e voltei pra casa mais cedo. Me senti melhor, mas sabia que a minha doença era psicológica-psicossomática e queria voltar pro Brasil o mais rápido possível. Fui dar uma volta na rua e lá, ao contrário de qualquer ideia que a gente possa ter do Brasil, é um país civilizado. É um país de primeiro mundo.

Parei numa máquina (tipo essas de refrigerante que apenas hoje vemos por aqui e não é em qualquer lugar) de cigarros. Escolhi o mais fraco, um Cabin de 2mg. E fumei meu primeiro cigarro.

Passei um ano depois mantendo meu hábito de fumar 1 a 2 cigarros por dia, dependendo do nível de estresse. Hábito esse que se manteve ao longo de todos os anos seguintes. Parei e voltei várias vezes.

Quando voltei, trinha trazido uns maços comigo, que infelizmente acabaram. Tentei encontrar um substituto, mas quem disse que encontrei? Quem teve o privilégio de fumar um cigarro importado, vai perfeitamente entender que os cigarros do Brasil me parecem uma mistura de naftalina moída, estrume e capim do mato. (Aliás, qualquer coisa no Brasil é de baixíssima qualidade, infelizmente, incluindo frutas e legumes que ficam pra nosso consumo interno)

Na época, meus substitutos foram o Carlton Cinza. Depois experimentei Luck Strike Normal e Light, Marlboro Normal e Light, Free Normal e Light, Charm (um dos melhores, mas também um dos mais caros). Até Minister, eu fumei. Mas nenhum desses chegou perto do sabor do cigarro japonês.

Um dia, ganhei de presente de um amigo, alguns cigarros mexicanos, com um engraçado design cujo filtro era xadrez. Foi a primeira vez que senti o sabor de um bom cigarro!!! Comecei a caçar cigarros importados pra comprar e nada. Os caras diziam que era proibido vender cigarro importado. Pfff. Devia ser algum cartel.

Foi quando experimentei Kent. Os três tipos que tinha na época. Com filtro de carvão ativado, foi o melhor cigarro que fumei aqui no Brasil. Era tão bom, que ninguém comprava e eles pararam de fabricar em 2007 se não me engano.

Parti para as cigarrilhas e descobri várias interessantes. As clássicas Café Créme, Dona Flor e a melhor nacional Macbeth. Elas substituíram o cigarro muito bem, apesar de serem megafortes.

Mas aí chegou 2008 e eu fui parando... parando. Nunca fumei mais de dois maços por mês. Mas meu pulmão tava me dando uns chiados e uma falta de ar incrível. Decidi parar de vez e parei em 2008.

Agora, nada contra os fumantes, mas tenho adorado demais a lei antifumo. Porque não somos um país de primeiro mundo, porque nosso povo não é civilizado. A coisa mais incrível que eu via no Japão -- e olha que japonês fuma pra caralho -- era o respeito. Havia os fumódromos, devidamente equipados e todos ficavam lá dentro. Nas ruas, não nunca vi uma única bituca de cigarro no chão. Nunca vi! Ninguém nunca baforou na minha cara.

Por aqui, minha última péssima experiência foi o show da Isabella Taviani em que fumei três maços passivamente. Um horror! Esta lei vem beneficiar agora pessoas como eu, em ambientes como aquele onde estava.

A questão não é a discussão acalorada e sem fundamento do cigarro faz mal à saúde. Quem é viciado, sabe disso e não se importa nem um pouco. A questão é que o fumante precisa entender que quem não gosta, tem o direito absoluto de não aceitar fumaça em determinados locais de uso comum. Isso é o mínimo da democracia. Se ao menos os cigarros fossem bons, mas são apenas estrumes enrolados em papel, com sabor de naftalina e inseticida. Se os fumantes gostam, beleza. Mas muita gente não gosta. E eu devo confessar que ultimamente ando com uma total intolerância contra Dallas, Eight e os Campeão da vida!

Coisas que a gente aprende

Este período tão rico que é o inferno astral tem me proporcionado (talvez, penso) uma sensibilidade acima do comum. Eu nunca vi as peças tão encaixadas como agora.

A lição que mais tem me servido é: não importa o que você diga as pessoas o que está se passando em sua cabeça, elas apenas entendem o que eles querem.

E, neste ano, eu tive provas mais do que suficientes disso, em todos os setores da minha vida. Simultaneamente, é inevitável pensar nos conceitos de lealdade, fidelidade e honestidade que sumiram de nossas prateleiras já há muitos anos. Pior: agora eles nem resgatados estão sendo mais!

Por exemplo, em uma área específica da minha vida: eu aceitei comprar a briga por puro idealismo. Meu ascendente em sagitário (que ainda bem foi embora!) me impeliu a quebrar um monte de elos que não me serviam mais. Me fez escolher algo por menos, quando sei que mereço mais (mas a questão inerente aqui é a experiência). Mas eu tinha sentenciado desde a primeira vez que não passaria de dois anos. Eu odeio ser bruxas nessas horas, porque raras vezes, eu erro.

Tudo acontece como previ e todos me perguntam porquê. Eu lhes digo os motivos. As pessoas me olham (como em geral sempre me olham) com uma pergunta velada. Não importa o que eu lhes diga, elas apenas serão capazes de ouvir (no sentido de compreender) o que estiver ao seu alcance.

Soa ridículo. Mas em outros campos da minha vida, eu sou até rígida com determinadas regras. Se por um lado, eu posso aceitar e conviver com alguns desvios graves de conduta, por outro, não me traia (no sentido mais visceral da palavra): porque esse tipo de coisa eu não perdoo.

Aí eu fico tentando achar uma lógica nesse raciocínio, mas é óbvio que eu não acho. Porque essa lógica não faz parte da minha realidade, nunca fez parte de minhas atitudes desde que minhas lembranças existem. Mas a vida é assim: você pode dizer a todo mundo porque gosta de morangos, a pessoa só entende que você é do contra, e deveria gostar de bananas. E lhe pergunta: qual o problema das bananas?

A questão é que eu nunca disse que não gosto de bananas, eu apenas afirmei que gosto de morangos. Eu posso não gostar de bananas, mas por que a simples afirmação de que gosto de morangos não pode ser ouvida?

Em um grau mais avançado, eu posso dizer que gosto de morangos, exceto quando eles são batidos com leite. Vão te dizer o seguinte: por que você não gosta de leite? Eu não estou dizendo que não gosto de leite, eu estou dizendo que não gosto de morango com leite (pessoalmente, eu adoro!).

Entenderam a gravidade da coisa? Há entre as pessoas uma grave tendência a não compreensão de um simples fato. Parecemos um bando de neuróticos com mania de perseguição, porque eu posso ter a seguinte atitude também: “Ah, mas eu gosto de morango com leite, por que você está falando mal de morango com leite? Por que vc só fala as coisas que eu não gosto?”.

Bem, tirando a polêmica das frutas, se quiser ser feliz, aprenda algo: você pode pedir demissão do seu emprego e dizer ipsis litteris quais foram seus reais motivos, as pesssoas apenas acreditarão naquilo que lhes convém, uns por escolha, outros por falta de escolha. Você pode terminar um namoro dizendo as urgências de seu coração, a outra parte apenas imaginará que você tem ou teve dúzias de amantes que agora brotarão como flores no campo em época de primavera.

O melhor conselheiro e ouvinte é o seu coração, sua alma. Ouça-os e nunca, repito, nunca se arrependerá!

E o povo fala... o povo fala mesmo!

Muito interessante.

Sempre fui criticada por ser a quietinha, por não falar o que penso, ou por ser a que "come quieta".

Depois, fui criticada porque era estourada, autoritária, radical, cruel.

Tentei achar um meio-termo entre as pontes tão distantes. Ô difícil ano de 2007 que foi aquele...

Voltei a ser quieta, mas sem perder o pensamento ácido. O turbilhão fervilhante dentro de mim, nunca se aquietou, apenas não se manifestou. Quem me conhece, sabe que não funciono dessa maneira. 

Sempre respeitei o pensamento alheio, mesmo daqueles que cospem palavras como um nojento que catarra dentro da estação de metrô. Sim, isso existe.


Sempre respeitei a total falta de noção de pessoas que me agrediram porque eu era "x" ou "y". Porque eu tenho o cabelo curto ou porque tenho uma namorada que mora no RJ.

Sempre respeitei a imposição religiosa que me fizeram, mesmo eu odiando lavagem cerebral de quem quer que seja, não importa a hora do dia, ou a ocasião.

Por isso, digo e repito: "I know who I am, I know where I fit in, I feel comfortable in my own skin." As pessoas precisam de rótulos, as pessoas precisam rotular umas às outras. É um negócio nojento e doentio. Eu faço isso, mas sempre evitando ao máximo humilhar e tolher alguém.

E digo de novo: esteja comigo, quem quiser estar.

Um passeio por aí...

O dia está lindo. Céu azul, puro. Nenhuma nuvem no céu. Ameno na sombra, calor ao sol. Você está caminhando e vê folhas secas voando ao vento... aí, passa um cidadão com um cigarro importado do Paraguai e baforeja na sua cara. Cinco minutos depois, você percebe que está andando atrás de outro fumante. De repente, alguém mais apressado corta a sua frente e faz questão de ficar a 5 cm de você, numa vontade estupidamente gratuita de te fazer tropeçar.

Você segue caminhando. Pensando naquelas pessoas que não deveria pensar, mas que por causa de outras pessoas, ecoam na sua mente como os reflexos repetidos de um sonho, como em Minority Report. A gente deveria saber filtrar e guardar apenas o que é bom. Mas, somos seres humanos. E não vivemos sem passado. Bom, qual ser racional vive sem passado?

Você poderia fazer uma dieta, mas não consegue deixar de comer aquelas gulodices de fim de semana. Você poderia deixar de fumar mas o vício de sentir a ação da nicotina associada as outras mil substâncias cancerígenas te impede de parar de gastar pelo menos 5 reais por dia. O que são cinco reais? Em um dia, quase nada. 365 dias depois.. E eu sempre me lembro daquele cara que parou de fumar e fez poupancinha com o dinheiro que gastaria com o cigarro: comprou (e ainda compra) cada coisa...

Você poderia acreditar que a hipocrisia não é virtude das redes sociais, onde todos somos bonitos, saímos bem na foto, comemos bem, só fazemos coisas legais. Esse "politicamente incorreto" que prolifera como praga de autoajuda é a mais nova sensação. Porque tudo pode ter duplo sentido, mesmo aquilo que você diz da forma mais simples possível. Agora, se você estiver num péssimo dia e sem vontade de cumprir a lei do silêncio, ai de você se resolver se manifestar nas redes sociais. E isso não é privilégio dos que têm ou não hormônios femininos, diga-se de passagem.

Confesso que essa onda do "bom, bonzinho, legal" manifestado da forma virtual me enoja. Recentemente, li um texto que dizia que todos deveríamos nos mudar para o facebook porque a vida lá é perfeita. A vida é perfeita, assim, para muitas pessoas. Devemos escolher proliferar o bem? Sempre! Mas, como já tenho dito: quem muito quer ajuda é porque desesperadamente precisa de ajuda. E fica entupindo as páginas alheias com frases repetidas de autoajuda. Essas pessoas poderiam ao menos exercitar a criatividade. Mas, criatividade é item de luxo para muita gente.

E a onda do oba-oba? (Para quem joga The Sims, aqui não estou me referindo a aquilo...rs) A onda do oba-oba é todo mundo ficar cool com todo mundo, o tempo todo. Estou cool com você, broder. Há uma necessidade incipiente agora de formar grupos, de falar igual, de repetir as mesmas e de, consequentemente, errar as mesmas coisas. Sempre fui intolerante com isso ... admito que me surpreendi comigo mesma. Mas sempre espero o inusitado, o radical, o especial... e esses... ah!

Então, sei que mais tarde, quando voltar às ruas, estarei novamente diante dos hálitos horrorosos, do metrô quente e abafado e -- ainda assim -- repleto de paulistanos com blusas, casacos e cachecóis como se estivessem no frio do Alaska. Eu quase confundo a falta de educação paulistana -- que deveria ser interpretada como "a pressa dos trabalhadores honestos" -- como um hábito arraigado. Não deveria ser hábito ser mal-educado, mas gentileza aqui é suicídio, broder.

Mas nem tudo está perdido! Ah nunca está. Mas o dia de hoje está é assim.

Mulheres... mulheres de 30

Ao longo de toda a minha existência, sempre tive uma característica que foi se desenvolvendo com o passar dos anos: observação. Como já disse antes por aqui, como sempre fui muito tímida e na infância e adolescência sofri com o preconceito pelo fato de ser japa (acreditem!), fiquei reclusa. Nessas horas, nunca briguei. Nunca enfrentei. Não é do meu feitio fazer isso. Por outro lado, esta circunstânc ia exterior fez com que eu desenvolvesse um olhar extremamente apurado sobre o ser humano e sobre todas as coisas ao meu redor.

Sou desconfiadíssima ao último grau. Mas sou aberta a todas novas possibilidades. O que as pessoas nunca souberam diferenciar em mim é se minha simpatia é porque sou simpática ou porque sou dissimulada. Talvez seja um pouco dos dois, devido aos Gêmeos no meu mapa astral. Mas fato é que é impossível uma canceriana com ascendente em peixes não ser simpática. Agora, ser amiga dela... são outros muitos quinhentos! Aí, entra a dissimulação para agradar tanto meu lado simpático quanto meu lado reservado.

Complexo... mas sou do sexo feminino e complexidade é algo inerente às seres humanas regidas pelos estrógenos.

Teve uma época -- e me lembro de ter compartilhado isso com Sharleu -- em que fiz um relatório de como classificar as mulheres para relacionamentos. Vou dar um panorama geral.

15-23 anos: São inocentes, ingênuas, esperançosas e dispostas a tudo. Acreditam em amores eternos e fazem de tudo para manter esse amor. Não têm medo de arriscar. Não têm medo de perder. Vivem com os hormônios e a coragem à flor da pele!

24-28 anos: Já passaram por algumas situações como término de um namoro, traição (seja traindo ou sendo traída), mas ainda alimentam a esperança do encontro de um amor que seja melhor que o anterior e que, de preferência, seja eterno pois ainda têm esperança de que o conto de fadas é possível de realizar. Mas, são temerosas, dão passos progressivos mas extremamente cautelosos.

29-32 anos: Ah! Que medo das mulheres dessa idade! Elas podem ser qualquer coisa, mas em geral, já passaram por uns dois relacionamentos frustrados. Claro, frutos de expectativas inocentes postas em excesso. Mas, tudo bem. Agora essas mulheres sabem o que querem e não têm medo de ficarem sozinhas, se for o caso. São muito exigentes. E são cheias de implicâncias, porque querem as coisas ao seu modo. Estão em crise. Podem ser mil personagens em um mesmo dia. Querem tudo e não querem nada. Têm ataques de risos e ataques existenciais.

33-40 anos: Mulheres radicais. Podem ter vivido uma vida tranquila e estarem bem consigo mesmas e com o mundo ou terem sofrido o cão e estarem totalmente fechadas. Não se esqueçam que estou falando de mulheres em relacionamentos. Se eles estiverem bem, não farão da vida dos seus próximos um inferno, principalmente se já tiverem tido um filho. Mas, se não tiverem tido (ou tendo) um relacionamento bacana... poderão estar amargas e despejando bile por aí. Se tiverem vivido o que a sua intuição mandou, estarão bem-resolvidas consigo mesmas. Se estiverem fazendo algo de que gostem, estarão sorrindo. Senão...

41-55 anos: Segunda crise da vida. Poucas pessoas sabem que o segredo básico de um momento de crise não é desperar-se, mas fazer aquilo que o seu mais íntimo lhe manda fazer. Ninguém mais. Nem namorado/a, nem filho/a, nem família, nem amigos. A mulher nesta fase não faz muita questão de ficar ensinando às mais jovens os pequenos segredos de uma vida mais facilitada. E tudo está mais do que consolidado. Se foi uma mulher que viveu uma vida plena, de acordo com seus desejos, estará bem. Senão (que é o que acontece em sua maioria, infelizmente), será uma reclamona daquilo que viveu e não deu certo, do que deveria ter feito e nunca teve coragem de fazer. Olham mais do que desconfiadas para tudo, principalmente para as/os jovens de 15-23 por quem podem se encantar ou ter asco.

55-adiante: Não muda mais. Quer dizer... a ninguém deve se dizer que não muda mais. Mas... se depois de duas crises os verdadeiros rumos não foram seguidos, acho improvável que haja uma reviravolta depois de tantos anos. Claro, as pessoas surpreendem, mas esses espécimes são raros. O ideal é que as pessoas com mais idade sejam nossos guias orientadores, depois de terem vivido uma vida bem-resolvida. Mas, confesso que vi poucos casos pessoalmente. Em geral, as mulheres e os homens tornam-se rígidos, cheios de sermão (quando ranzinzas). Alguns podem se tornar vovós legais. Alguns podem seguir seus dias já sem lembrarem quem são...

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As mulheres são uma criatura interessante, ambígua e paradoxal por natureza. Mas sem ser dissimulada, como meu autocoloquei acima. Cada ser humano é único. Com inúmeras chances a serem exploradas. No entanto... o ser humano se acomoda com o tempo. Gruda-se em muletas virtuais que podem ser desde um vício a uma quase depressão que o impede de ser ele mesmo e de se aprimorar e evoluir. Sempre achamos que certas coisas podem ser resolvidas depois... depois... e quando vamos ver, passou-se tempo depois. Em alguns casos, tanto tempo que é praticamente impossível reverter. Principalmente quando tiver outras pessoas envolvidas. Aí, a falta de ação misturada à covardia gera culpa e ranzice.

Estou agora com 31 anos. Me enquadro praticamente em todas as qualificações que observei em outras mulheres. Mas, eu faço constantemente escolhas para trocar de pele e para renascer em mim mesma. Acho que uma das melhores coisas que podemos fazer como seres humanos é mudar. Aquele que estagna está morto para si mesmo. Triste dizer, mas algo digno de pena e tristeza profunda.