O dia está lindo. Céu azul, puro. Nenhuma nuvem no céu. Ameno na sombra, calor ao sol. Você está caminhando e vê folhas secas voando ao vento... aí, passa um cidadão com um cigarro importado do Paraguai e baforeja na sua cara. Cinco minutos depois, você percebe que está andando atrás de outro fumante. De repente, alguém mais apressado corta a sua frente e faz questão de ficar a 5 cm de você, numa vontade estupidamente gratuita de te fazer tropeçar.
Você segue caminhando. Pensando naquelas pessoas que não deveria pensar, mas que por causa de outras pessoas, ecoam na sua mente como os reflexos repetidos de um sonho, como em Minority Report. A gente deveria saber filtrar e guardar apenas o que é bom. Mas, somos seres humanos. E não vivemos sem passado. Bom, qual ser racional vive sem passado?
Você poderia fazer uma dieta, mas não consegue deixar de comer aquelas gulodices de fim de semana. Você poderia deixar de fumar mas o vício de sentir a ação da nicotina associada as outras mil substâncias cancerígenas te impede de parar de gastar pelo menos 5 reais por dia. O que são cinco reais? Em um dia, quase nada. 365 dias depois.. E eu sempre me lembro daquele cara que parou de fumar e fez poupancinha com o dinheiro que gastaria com o cigarro: comprou (e ainda compra) cada coisa...
Você poderia acreditar que a hipocrisia não é virtude das redes sociais, onde todos somos bonitos, saímos bem na foto, comemos bem, só fazemos coisas legais. Esse "politicamente incorreto" que prolifera como praga de autoajuda é a mais nova sensação. Porque tudo pode ter duplo sentido, mesmo aquilo que você diz da forma mais simples possível. Agora, se você estiver num péssimo dia e sem vontade de cumprir a lei do silêncio, ai de você se resolver se manifestar nas redes sociais. E isso não é privilégio dos que têm ou não hormônios femininos, diga-se de passagem.
Confesso que essa onda do "bom, bonzinho, legal" manifestado da forma virtual me enoja. Recentemente, li um texto que dizia que todos deveríamos nos mudar para o facebook porque a vida lá é perfeita. A vida é perfeita, assim, para muitas pessoas. Devemos escolher proliferar o bem? Sempre! Mas, como já tenho dito: quem muito quer ajuda é porque desesperadamente precisa de ajuda. E fica entupindo as páginas alheias com frases repetidas de autoajuda. Essas pessoas poderiam ao menos exercitar a criatividade. Mas, criatividade é item de luxo para muita gente.
E a onda do oba-oba? (Para quem joga The Sims, aqui não estou me referindo a aquilo...rs) A onda do oba-oba é todo mundo ficar cool com todo mundo, o tempo todo. Estou cool com você, broder. Há uma necessidade incipiente agora de formar grupos, de falar igual, de repetir as mesmas e de, consequentemente, errar as mesmas coisas. Sempre fui intolerante com isso ... admito que me surpreendi comigo mesma. Mas sempre espero o inusitado, o radical, o especial... e esses... ah!
Então, sei que mais tarde, quando voltar às ruas, estarei novamente diante dos hálitos horrorosos, do metrô quente e abafado e -- ainda assim -- repleto de paulistanos com blusas, casacos e cachecóis como se estivessem no frio do Alaska. Eu quase confundo a falta de educação paulistana -- que deveria ser interpretada como "a pressa dos trabalhadores honestos" -- como um hábito arraigado. Não deveria ser hábito ser mal-educado, mas gentileza aqui é suicídio, broder.
Mas nem tudo está perdido! Ah nunca está. Mas o dia de hoje está é assim.
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