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Melissa Etheridge - Company

De uns tempos (bastante tempo, aliás!), venho pensando nas pessoas que entraram e saíram da minha vida. Tantas pessoas, tantas circunstâncias. Exagerei no poder da palavra, exagerei no conhecimento e uso da Astrologia, exagerei no falso correto julgamento que achei que poderia fazer. Exagerei em muita coisa.

Ao mesmo tempo, tenho saboreado tantos novos sabores e temperos... que me pergunto constantemente qual é o real limite naquela velha frase: "melhor ser ignorante ou saber a resposta de todas as perguntas?".

Vou confessar uma coisa aqui: sabe do que sinto falta? Sinto falta de conhecer uma pessoa e me sentir tão instigada por ela, que eu seria capaz de fazer um revolução ao seu lado. Uma pessoa apaixonante! Não é amor, não é paixão, não é sexo... é uma conexão eletrizante, de pura energia e coincidência conectadas, sabe? Alguma vez na vida, todos nós sentimos isso.

E faz tempo, sabe, faz muito tempo que eu sinto falta dessa conexão que me arrepie e me surpreenda. Mas deve ser período, deve ser carma, deve ser essa nova pessoa que sou agora. Ironicamente, mais aberta e mais compreensível e, na mesma medida, mais sozinha.

As pessoas tornam-se tão previsíveis... tão egoisticamente previsíveis e tão ironicamente rasas... um racionalismo que se traduz assim: paralelas que nunca se cruzam.

Trilha sonora de hoje, Melissa Etheridge.

Meu aniversário + show da Myllena

Queridos leitores deste blogue, não tô com mão boa para escrever, então hoje vai por tópicos:

1-) Castelo do Vinho: mesmo chegando atrasada, consegui aproveitar profa. Maria Helena, Jana, Sharlene, Jeane e Robertinha. Nem enchemos a cara nem nada... rs.

2-) Lona de Jacarepaguá: show da querida Myllena com Alê e Daniel, Karla Rosalino, mais a galera do Castelo do Vinho. Tanta gente deveria ter estado lá, mas não pode... fez falta.

3-) Show da Myllena: o som da lona estava de ruim para péssimo. Não precisa ser expert no assunto para perceber isso, mas mesmo assim, Myllena apresentou um show "que começou calmo e cresceu até alcançar um auge no fim" - palavras de Isabella Taviani. Sempre penso como foi no Teatro Rival, em como seria ouvir a voz límpida e linda de Myllena.

4-) Jeane linda me deu marshmallows japoneses de presente. Adooorei, querida!

5-) No camarim, Myllena me deu o mais gostoso dos abraços. Compartilhei de sua energia limpa e linda, leve... é encantador ver sua alma mineira. Ela me desejou parabéns no meio do show, depois do show. Me disse que "um dia" canta Pontos Cardeais. Tô pensando mesmo que o dia em que ouvir esta música ao vivo eu vou precisar de um desfibrilador cardíaco... Enfim, e eu apenas penso como são privilegiados os que podem conviver com ela.

6-) Minha cara de pau ainda foi dar um abraço em IT, sentada num canto, sem querer ofuscar a mineira. E eu sempre ficarei arrepiada em ouvir a sua voz, uma das mais belas vozes que já ouvi em toda a minha vida, pessoalmente, tenha certeza disso!

7-) Pedi uma palheta para a Myllena, já que a senhorita Alessandra tem vergonha de ela mesma fazer o pedido. A garota trava com a cantora (diante de sua beleza, diz ela) e eu fiz a de porta-voz, com muito prazer! rs

A noite ainda foi longa, longa, longa, longa... meu aniversário, oficialmente é dia 18 de julho, mas comemorei muito feliz, ali, com os cariocas que puderam estar presentes e com a minha amiga paulista Sharlene que representou a todos. Foi bom demais.

Sinto a fase nova, de transmutação e de novos ares. Obrigada a todos que um dia estiveram comigo, a todos que me acompanham ao longo de muitos anos e a todos os novos chegados, que espero que fiquem por muito tempo.

Uma ode ao silêncio

Bendito seja o mundo moderno!

Alguém parou para reparar que estamos vivendo, talvez, os tempos mais barulhentos de toda a história da raça humana? As novas tecnologias não trouxeram apenas novos equipamentos mas também maior acessos dessas mesmas tecnologias a um novo cada vez maior de pessoas.

Nosso atual tempo é o tempo da pressa, o tempo da suposta ausência de desperdício. Se queremos dias mais longos, queremos cada vez mais aparatos mais suporte. Já virou clichê dizer que somos uma geração dos descartáveis. É um círculo vicioso querer sempre o aparelho mais moderno, com mais aplicativos, com maiores funções.

Minha mãe é da geração pós-guerra do Japão. Os filhos daqueles que enfrentaram a guerra tiveram de aprender a economizar tudo e qualquer coisa a todo custo. Acho isso o extremo oposto e sempre entrei em embates com minha mãe por isso: a sua mania de guardar tudo achando que vai precisar depois. Não vai! Mas ela tem realmente um pensamento cristalizado de que pode precisar.

Da mesma forma, vejo a geração dos descartáveis achar que o simples ato de comprar cada vez coisas mais modernas é um ato salutar. Não acho, sinto muito quem pensa assim. Mas, digamos que o poder aquisitivo é uma ferramenta tentadora.

Bem isso tudo foi uma volta gigante dada para dizer que eu sinto falta do silêncio. As pessoas parecem constantemente energizadas para falar alto, berrar ao invés de conversar. O som nunca pode estar em um decibel de respeito ao vizinho. Em aviões, trens, ônibus e metrôs, os DJs ambulantes de acham dono de seu metro quadrado e foda-se quem estiver literalmente ao seu lado com dor de cabeça ou um simples gosto musical diferente.

Nas periferias, carros bombados consideram lugar público qualquer um em que possa estacionar seu carro, abrir o capô e ligar seu funk ou pagode (porque são sempre esses gêneros musicais) em altíssimo volume, não importa a hora do dia ou da noite. E muita gente ganha grana bombando carros assim, pensa.

Você conseguiria ficar em silêncio por mais de uma hora, sem dizer uma única palavra, nem que fosse para você mesmo? Duvido. Somos movidos a açúcar e a uma constante necessidade de estar fazendo algo, porque o ócio já não se diferencia da preguiça e silêncio é coisa de monge tibetano.

Fico imaginando aonde estaremos daqui a um tempo. Lembro que diziam que usar fones de ouvidos durante muito tempo estragaria a audição de uma pessoa a médio prazo. E viver nesse constante barulho diário, sem protetor auricular, o que pode causar? Garanto que ficar apenas surdo será luxo.

Novo início!

A coisa chega assim: de mansinho. Você não faz mesura e de repente, o inusitado: simplesmente acontece. Uma pergunta parece básica -- como foi? Ninguém sabe. Fato é que quando certas coisas precisam acontecer, nada as impede de tornarem-se reais.

Neste início de madrugada em pleno sábado, me pego pensando num assunto que queria postar há meses, sem exagero: o término das amizades.

Eu nunca pude ser capaz de entender algumas coisas que se sucederam na minha vida. Não sou ingênua nem pretensiosa para adivinhar e para predizer. Fui pega de calça curta, mesmo quando agi ou quando recebi uma ação.

Sinto falta dessas pessoas que se foram. Sim, não sou orgulhosa para dizer que não sinto falta, porque sinto falta sim. Talvez eu sinta falta daquilo que ficou bom e ficou eternizado nas memórias. Porque antes de terminar havia um sentimento bom, quente, afetuoso, reconfortante de amizade.

Sempre reparei em mim mesma uma necessidade de controle absoluto sobre tudo o que fosse exterior a mim. Claro que a mesma regra não valia para o controle de mim mesma. Assim, eu podia viver uma vida desregrada até o momento em que invadissem a minha privacidade.

Não dizem que a necessidade de controle é justamente a ausência dela? Pois, digamos, que com isso eu tenha tido experiências amargas e doces nesse sentido.

Isso tudo para dizer que estou com o coração aberto em relação às novas pessoas que entrarão em minha vida! SIM! Oficialmente (olha o controle...) que a temporada de reclusão, crise e o caralho a quatro estão terminadas.

O nevoeiro cede e a escuridão vira dia. Nada ainda é sinônimo de pura alegria, porque a vida é batalha diária. Para sermos plenos, precisamos plantar diariamente. Para sermos felizes, espalhamos felicidade a cada segundo. Para sermos todo, precisamos nos fragmentar -- sem nos quebrar. Fácil, né? ;-)

E que todos os meus amigos cariocas sejam bem-vindos neste coração paulistano, mas cheio de vontade de viver a vida plenamente. Todos nós merecemos!

Carne de soja ao molho agridoce

Ai... nem vou pedir desculpas aos leitores do blogue, mas desculpe mesmo assim! Os dias corridos, os compromissos, a preguiça, uma certa falta de criatividade.... enfim. Dias e dias sem postar. Mas não sem ideias.... apenas... guardadas, digamos assim.

Direto e reto: em homenagem a minha amiga Gabitchs, "criei" mais uma receita com proteína de soja. Devo dizer que toda vez que assisto à deliciosa China de Kylie Kwong, eu penso no óleo de amendoim, no óleo de gergelim, no gengibre, no vinho chinês para culinária, no vinagre chinês para culinária e pimentas, pimentas... de todos os tipos! Secas, frescas.... ah.

Mas culinária chinesa adooora uma carne de porco. Evitando isso, pensei em como poderia fazer uma carne de soja que ficasse saborosa e que me satisfizesse as lombrigas que Kwong me causou.

Então, fiz assim. Peguei uns 300g de proteína de soja (daquelas grandonas) e coloquei de molho com um pedaço generoso de gengibre ralado. Troquei de água umas 3 vezes, mantendo sempre na geladeira.

Peguei a proteína e piquei ela simulando uma carne, ou seja, em tiras finas. A proteína grandona já é um corta tesão culinário só de olhar, certo? Pique-a devidamente!

Peguei 2 cebolas médias e cortei em formato de pétalas, bem grandes. Numa panela (eu ganhei uma wok, mas pré-preparar a bichinha dá tanto trabalho, que deixei para estrear a wok depois.... :P) no fogo máximo, coloquei um pouco de óleo de soja e umas duas colheres de óleo de gergelim. Fritei um pouco. Acrescentei 3 colheres de sopa de molho de soja, 1 colher bem cheia de açúcar mascavo. Coloquei uma colher de sopa bem cheia de gengibre picado em palitos. E cozinhei. A isso, os chefs chamam de "caramelizar". Dá-lhe caramelizar, mesmo porque, adoro sabores agridoces.

Um minuto depois, acrescentei a soja picada. Cozinhei. Acrescentei em seguida 2-3 colheres de saquê (na falta de vinho chinês...). Segui cozinhando em fogo bem alto. À parte, torrei numa frigideira uns 50g de sementes de girassol com um pouco de sal, apenas. Quando as sementinhas estavam começando a ficar marrons, joguei por cima do cozido e abaixei o fogo. Queria deixar o caldo apurando para penetrar bem na carne.

Uns 5 minutos depois, provei e vi que faltava um pouco de sal. Aí, fica a critério de cada um. Uma pitada, mais um minuto e pronto. Mermão... ficou uma delícia que só! Eu consegui exatamente o que eu queria: um sabor agridoce, com um picante do gengibre e o aroma inigualável do óleo de gergelim. Fora a crocância das sementes de girassol (que poderia ser substituído por amendoim. Usei semente de girassol porque comprei um saco imenso!).

Para mim, fica como excelente opção para os vegetarianos e para os adoradores de comida saudável! Espero que gostem! Fica devendo foto... ;-)

Em Sampa!

Olha, posso falar uma coisa para vocês? Eu adoro SÃO PAULO!!!

Vou começar a usar aquelas camisetas com um "I heart SP" porque é incrível como este lugar me faz bem.

Cheguei e tenho curtido muito e tanto estar aqui que até resolvi postar essas "bobagens" como se estivesse escrevendo um suposto diário de 15 anos (coisa que nem tive na época...).

E nada mudou... ah nada muda. Uma tintura aqui e outra ali, as coisas continuam as mesmas. O pessoal mal-educado e mal-humorado. Os trens e metrôs cada vez mais lotados, as pessoas com pressa. E o céu... que céu azul lindo é esse, senhor??? Um azul único de brigadeiro, com friozinho à sombra. Agora eu sei que estamos no Outono! Uma das épocas mais lindas do ano (só não ganha do Inverno, claro).

Hoje não poderei ver nenhum dos meus amigos, mas a promessa é fantástica. E, olha a blasfêmia, estou tão bem de estar de volta à minha terra, aqui na casa de minha mãe, que nem tô sentindo falta. Ainda.... hehe. Mas verei Sharlene, Poliana e mais duas pessoas, ainda. Juro que tô pensando seriamente em esticar a estadia aqui, já que meus frilas são eletrônicos e posso ficar mais uns dias aqui no computador de sister.
Vamos ver... é apenas uma ideia. Quem sabe???


Por ora é só. Estou mega triste por não ter grana para ver Isabella Taviani, aqui em SP. Eu ando com saudades doidas daquela mulher cantando ao vivo... mas, não dá. Nem sempre dá para ter tudo que a gente quer, né?

Massacre, violência e bullying

Há algum tempo que eu queria falar de bullying. Desde o caso Casey Heynes, que me emocionou demais, aos pequenos casos e à, infelizmente, essa tragédia que aconteceu em Realengo.

Eu fui vítima de bullying, durante a minha adolescência. Já falei algumas vezes neste blogue, mas agora este tópico será o texto central de um post. Falar de bullying atualmente é quase cair no clichê. Adolescência é um período foda (com o perdão da palavra): hormônios a solta que fazem um verdadeiro (quase) estrago na cabeça de um ser humano.

No meu caso, a intimidação ocorreu porque eu era (sou, aliás) JAPONESA. Acreditam? Ninguém acredita. Eu era a única japa da escola, a única do bairro e das redondezas, talvez. Mas, ao contrário do que parece, eu não sofri nada disso nas quatro escolas que estudei antes. Sim, eu mudei de escola várias vezes. Mesmo no bairro em Perus (onde meus pais moram) eu sofri tanta retaliação por ser japa (estudei da 5ª a 8ª série), ao contrário do que foi em Caieiras (onde fiz o Ensino Médio).

Eu sempre fui tímida e meio burrinha com as exatas. Nunca me encaixei no perfil de japa nerd, mestre das matemáticas e químicas da vida. Mas sempre fui exemplar em História, Geografia, Língua Inglesa, Língua Portuguesa e Literatura. Sempre gostei de escrever poemas. E ia bem nas aulas de Educação Artística.

Mas não sei o que aconteceu no segundo ano. Entre o segundo e o terceiro anos, um grupo de moleques me infernizou. E eu nunca consegui fazer com que parassem. Nem os professores, em suas estúpidas tentativas. Músicas ironizando o fato de eu ser japa foram criadas. Me viam e puxavam os olhos ou faziam sinal do clássico cumprimento japonês. Todo dia. Antes das aulas, nos intervalos das aulas. Dois anos inteiros assim.

Eu tinha vontade de dar tiros neles, de tanto ódio. Mas, contra todo o inimaginado, eu fiz o contrário. Sentava na primeira carteria, na frente da mesa do professor. Comecei a estudar como uma frenética, para ser sempre a primeira da turma, tirar as melhores notas, inclusive em química, física e matemática. Eu tive professores que eram muito pacientes comigo. E eles davam exercícios extras que garantiam pontos a mais na média final. Por isso, minhas médias acabavam sempre subindo.

E eu lembro que participava de tudo que era possível participar -- e sempre com mérito, para ser a melhor. Montei duas peças de teatro com minhas amigas, que ganharam a melhor nota e uma pequena "tour" em que encenávamos para outras turmas da escola. Participei de concurso de poesias, ganhando o primeiro lugar. Minha turma montou um time de futebol de salão feminino e nós fomos as campeãs, tendo eu marcado um dos gols da vitória, numa prorrogação suada, jogando ao meio-dia.

Os professores me adoravam, mas meus colegas que me cantavam em canções de sarcasmo, não.

Eu nunca falei disso para os meus pais, somente meus amigos na época sabiam disso. E eu me sentia muito mal. São situações totalmente opostas e nem quero me comparar com o menino da Austrália ou o cara de Realengo, porque nem tem como. Cada um reage da forma que pode de acordo com a violência que sofre.

Não sei porquê somos uma espécie que precisa tanto mostrar superioridade uns aos outros. A insegurança que alguns atingem fazem com que as consequências sejam mesmo catastróficas. Eu chorei muito ao ver todos os depoimentos das crianças que sobreviveram (dizem, e eu acredito, que o assassino sofreu bullying que foi um verdadeiro catalisador para a mente esquizofrênica que ele já devia ter). Chorei ao ver entrevistas de Heynes contando como viveu seu bullying.

Eu sei exatamente o que é sofrer um bullying. Se você nunca sofreu, sorte sua. Sorte sua por ter passado a adolescência bem. Se você sofreu e sobreviveu, sem sequelas -- como baixa auto-estima, neuroses e esquizofrenias: parabéns. Mas muita gente não tem uma estrutura familiar boa para suportar esse tipo de situação. Eu sempre disse que meu anjo da guarda pessoal sempre me deu muitas forças, nunca me fez chorar. Porém, como disse, nem todos passam fácil pelo teste, sejam pela quantidade de facilitadores ou complicadores.

Pena que eu não guardo saudades daquela época. Nem amigos dessa época restaram, o que é uma pena. Apenas sinto falta da professora Márcia que sempre lia os meus poemas e chorava muito. Saudade de estar sempre no topo das competições, das notas e dos concursos... num lugar onde aqueles idiotas que me zoavam nunca estiveram.

Infelizmente, como li no jornal O Globo de hoje, essa fatalidade de Realengo (assim como a de Columbine) não tem como prever. Sinto muito pelas crianças que se foram. No entanto, um aviso pode ser dado: o sistema educacional pode sim combater o bullying. Todo mundo sabe quando alguém está sofrendo esse tipo de assédio e só fazem vistas grossas. Se o sistema educacional não fosse apenas um reduto de professores malpagos, malformados, desmotivados e se os pedagogos e diretores, as secretarias de educação e todos os envolvidos se esforçassem o mínimo, de repente, nunca mais teríamos histórias assim. Perspectiva otimista demais?

A humanidade e seu egoísmo intrínseco

Parece ironia, exagero meu ou será que -- para mim -- as pessoas andam mais egoístas do que nunca? 

Nesse período de extremo silêncio e solidão vivida (e, de certa forma, ainda vivendo...) o que mais reparei foram as pessoas que, com seus motivos variados, dizem sempre a mesma coisa:

"Tô super atolada de trabalho."
"Tô mudando de emprego."
"Tô fazendo horas extras, estamos com a programação atrasada."
"Tô começando um emprego novo."
"Tô cheia de frilas."
"Tô mudando de apartamento."
"Tô com problemas na família."
"Tô com muitas contas pra pagar e pouco dinheiro pra receber."
"Tô estressada e precisando de férias."
"Tô com problemas no trabalho, por causa de colegas invejosos."
"Tô com problemas no trabalho, por causa de chefe ruim."
"Tô cuidando da casa, dos gatos, da família, ando total sem tempo."

Eu não me excluo da lista e já usei muitas dessas respostas. Se era verdade ou mentira, cabe à minha consciência responder. Podem ter certeza de que tenho uma consciência bastante criteriosa e chata...

Por isso, em parte, eu entendo quando alguém me fala isso. Não vejo apenas como uma resposta social básica à pergunta "Quando vamos nos ver?". Acredito, de verdade, que seja uma realidade dura de conciliar, viver neste mundo que vivemos, tão corrido, tão estressado, tão apressado de Deus.

Mas em todas as vezes, todas, todas, eu penso em algo que minha mãe me dizia desde criança e, ainda, às vezes, a escuto dizer: "Você é quem faz seu tempo. Se você está sem tempo, é você que não sabe organizá-lo."

Lembro que quando era criança, não entendia muito bem, mas guardava as lições de minha mãe como o melhor guia que eu poderia ter na época. E já me peguei repetindo essa frase como boa discípula de Dona Leila que eu sou...

Porém, a questão que quero dizer aqui é mais simples do que falar sobre a amplitude do tempo. É falar que precisamos pensar, justamente em tempos como os nossos, em sermos menos egoístas. A calçada da rua precisa ser toda nossa. O semáforo estar aberto apenas para nós. A fila não existir para quem estiver nela há tempos, nos dando direitos eternos de furá-la quando quisermos. Buzinar e buzinar (como esse povo niteroiense) apenas com o abrir do semáforo, sem esperar um "atraso" de fato acontecer. Conheço gente que tem prazer em buzinar, como tem prazer em buzinar nas orelhas dos outros, em monólogos infinitos, pensando que tudo que tem pra dizer é a coisa mais deliciosa de se ouvir na face da Terra.

Este meu tempo de solidão tem me mostrado a verdadeira faceta de vários amigos meus. No entanto, claro, não deixo de entendê-los. É tão triste como entendemos o silêncio do outro como uma ofensa pessoal... quase nunca entendemos o silêncio do outro como pedido surdo e mudo de um abraço. Culpa nossa de achar que o tempo é o bem mais precioso de todos. A culpa não é da nossa falta de tempo -- e sim -- da nossa quase total incapacidade de saber usá-lo.

Como não sabemos usá-lo, parece lógico usarmos para nós mesmos apenas. Bem, como disse, entendo e compreendo todas as justificativas do mundo. Apenas não me desce o egoísmo humano que ultimamente anda muito fora do controle demais.

Pequeno agradecimento ao trio inabalável que continua acompanhando minha vida de forma inenarrável: Yumi, Filha e Sharlene. Vocês, à sua maneira, sempre serão indispensáveis na minha vida.

Comentários gerais e aleatórios

O tempo agora está com um gosto estranho de ritmo geral e apressado. Assim como estes comentários que farei a seguir, sobre algumas coisas que vi ultimamente.

O aniversário do meu blogue está aí... e acho que, como muitas algumas das poucas sugestões que recebi, farei um prosaico blançao geral das coisas. Agrada a todo mundo e agrada a mim. Um layout novo fica pra quando eu tiver paciência.... porque confesso que gosto demais desse pretinho básico onde simplesmente jogo as cores em cima. 

Numa segunda-feira de carnaval, torno a ouvir uma música que sempre me deixa leve e feliz, mesmo com uma letra triste: Nightwish com Forever yours. Sempre que ouço essa música, sinto saudade de um momento específico da minha vida. E sinto saudade de mim mesma. E sinto fazendo mais parte de mim mesma.

O último post gerou alguns comentários que farei aqui de maneira.... geral e aleatória. Como o título deste post. E como a minha atual vontade de me manter em absoluto silêncio. Faz algum tempo que tenho desejado o silêncio e desde esse tempo tenho brigado para não me isolar mais ainda em minha já isolada solidão. Vontade de fazer poesia, ouvir música e ficar vendo o sol se pôr...

Os textos deste blogue não foram forjados a ferro, fogo e sangue. Eles vem num fluxo contínuo... o pensamento acerca de um texto fica dias dentro da minha cabeça. Um dia, um segundo: eu quero ele pronto, naquela hora, com uma ânsia única. Ultimamente, o silêncio predomina em mim. Talvez, por isso, os textos saiam mais intensos, nas poucas vezes que saem. As palavras ficam mais escolhidas e a manipulação sobre elas, também.

Tenham certeza apenas de uma coisa: falo muito de mim? Sim, falo. Mas nunca falarei o suficiente para alguém me conhecer e dizer que me conhece. Mistério velado? Não, apenas o meu jeito de ser. Não quero fazer máscaras com ninguém, mas poucas pessoas de verdade me conheceram como deveriam me conhecer. E dessas poucas pessoas, apenas algumas sobreviveram para continuarem ao meu lado. O lado "Crisantemus Sincerita Polemicus" fica a cargo de sua imaginação. O resto que tenho por trás de tudo isso me parece como licença poética: cada um tem o direito ter a sua própria.

***

Recentemente li um livro que me fez intensamente achar uma palavra que o sintetizasse. Nem sou dessas coisas, mas me pareceu importante. Daí concluí que não dá para classificar as mulheres heterossexuais como sendo mais estrogênicas que as homossexuais, por exemplo. Mas classificaria algo assim: a falta de parâmetros é um parâmetro que diz muito a respeito da pessoa. Fica aqui o gancho pro post de amanhã!

E o tempo...

... e as vontades... e os desejos.

Na falta de palavras, deixo um quadro de Salvador Dali, The Persistence of Memory.


Filme vistos, filme comprado e comentário sobre o Oscar

Dias corridos!!!

Tenho feito algumas coisas boas no âmbito pessoal. Aqui, portanto, vou enumerar e ser breve.

1-) Filmes vistos:
Vi Enrolados (nova versão para o clássico Rapunzel). E vi A Bela e a Fera restaurado e em versão estendida. Duas coisas me chamaram a atenção nesses dois filmes, principalmente após ler este excelente texto da Regina Navarro intitulado A função perversa dos contos de fada e de lembrar das longas conversas que sempre tive com minha filha Poliana em que ela reiterava o quanto odiava a passividade das "princesas" do contos de fada. Sempre passivas, sempre submissas, sempre tristonhas esperando o príncipe encantado que vai salvá-las da mesmice da vida, da falta de perspectiva, da bruxa má. Ela tinha ficava muito brava com a Bela Adormecida, em especial -- a mais passiva de todas, na opinião dela.

Por isso que ao ver Enrolados e A Bela e a Fera vejo que nem tudo é uma grande merda, afinal. Em Enrolados, embora ela precise do ragazzo subir a torre para dar forças a ela para tomar a decisão de sair das garras da mãe má, ela é muito corajosa, destemida. O rapaz é um mero ladrão com quem faz um acordo de troca que, ao final, apenas os une. É uma bonita história de amor e coragem. Em A Bela e a Fera, quem precisa do beijo salvador é a Fera. Bela é uma menina intelectual, que gosta de ler livros e cujo pai é um cientista maluco. Acho que por isso, esse filme sempre foi um dos meus favoritos. O amor que vai além da beleza superficial.

2-) Depois de quase DEZ ANOS eu achei o dvd do filme Ponto de Mutação para vender. Obrigada à Versatil, empresa que faz algum tempo, anda digitalizando filmes clássicos e antigos. A primeira vez que eu vi esse filme foi em algum lugar entre 2002 e 2003, não lembro. Muito antes de começar a ver filmes de verdade, muito antes de ser cinéfila, muito antes de tudo. Eu lembro que fiquei fascinada. Lembro que ganhei o livro do Fritjof Capra, livro no qual o filme se baseia. Lembro que Capra parecia, finalmente, alguém com quem tinha correlação de pensamentos!

Nesse tempo todo, nunca mais vi o filme. Não achei para baixar. Não achei em sebos, em nada. Na época, vi emprestado do VHS de uma amiga, que tinha ganho em uma promoção. Só. Quando achei o dvd na Saraiva do Barra Shooping, não acreditei. Confesso que meus olhos se encheram de lágrimas. Eu estava lá, procurando qualquer coisa, ou talvez Paris, Texas. E achei muito mais! Mais uma pérola na minha coleção! No mesmo dia (noite) vi o filme, me deliciei com a trilha sonora de Philip Glass e a conversa dos três. Uma conversa em que todos ouvem e todos falam, sem ego, sem pavonismo, sem nada. Um tipo de conversa que tive umas 2 vezes na vida.

Há uma pequena alteração no meu top33 divulgado semana passada, porque tinha esquecido desse filme, simplesmente! Sai O Silêncio dos Inocentes do top10 e entra Ponto de Mutação. Da lista geral, fica de fora Amor Além da Vida.

3-) Comentário único sobre o Oscar 2011: eu vi O Discurso do Rei. Filme bom, bem contado. Mas não se compara com Cisne Negro. Este, sim, merecia todos os prêmios. Mas, a Academia é muito quadrada e tradicional para premiar um filme assim. Ao menos, a performance fabulosa, espetacular, estupenda de Natalie Portman foi premiada com a estatueta (depois do Globo de Ouro). Seu discurso, cheio de lágrimas, também me emocionou. Ela merece porque fazia tempo que não via uma atuação assim.

Isabella Taviani na Lona Elsa Osborne - o show

Eu já vi quase dez shows da Isabella Taviani desde 2008, quando me tornei fã dela. Se perdi os shows do início da carreira, posso acompanhar passo a passo dela, agora. Com base nisso, devo dizer: este show de hoje, na Lona Elsa Osborne, foi o show mais diferente de todos! Diferente em que sentido? Vou explicar...

Primeiro vamos contar o que é uma Lona Cultural. Sim, Claudia Bertrani, Lona é mesmo uma lona estendida, cadeiras dispostas no centro e um palco. Essa Lona Elsa Osborne tinha um ar condicionado muito agradável, até. Comportou cerca de 500 pessoas muito bem!

Cheguei cedo e as coisas boas foram acontecendo! Primeiro, fui agraciada com uma primeira fila, uma primeira cadeira de frente para o microfone da Isa. Perguntei para a menina que tinha sentado na segunda fila se tinha alguém na frente e ela disse que não. Não? Eu achei que estava reservado. Perguntei a ela por que não queria sentar no lugar mais disputado do show? Porque não, respondeu ela. Muito bem, eu agradeço! rs

Encontro com Robertinha, Jopin Silva, May Lira... e o show começa com Mylenna desfilando suas composições belas. Foram cinco músicas e eu não sei o nome delas ainda, para reproduzir aqui. Impressionante a presença de palco e simpatia dessa mineira que, com certeza, vai longe!

Nisso, entra a poderosa Isabella Taviani com "Meu coração não quer viver batendo devagar". Havia algo de diferente naquela noite, naquele show que estava apenas por começar... com os cabelos novos, bem curtos, mais claros, com uma atitude que é de IT mas que tinha algo a mais... ela começou o show.

A segunda boa coisa que aconteceu foi, num certo momento da primeira música, que ela olhou para a primeirac fila, olhou para mim e me reconheceu... com um leve aceno de cabeça, me deu um oi. E eu, óbvio, morri por dentro e nem conseguia mais tirar fotos! Uma dádiva única, discreta. Um presente maravilhoso que recebi.

O show parecia ruidoso, meio raivoso, uma meia mistura de catarse com combustão de sentimentos. Ela não queria arranjos doces, ela queria o grito da guitarra, o trovão enfurecido do baixo e da bateria, a força potente de sua voz. "Em cada gota de suor", em cada acorde, em cada verso cantado.

Eu queria captar mais do que uma fã é capaz de captar... mas depois da performance dela em "Digitais", nada mais precisava ser dito. Ela vinha, nos últimos shows, fazendo uma versão mais calma e mais doce. Danem-se a calma e a doçura. A IT mais intensa de todas as ITs que eu vi ao vivo, estava ali. Eu nunca me esquecerei dessa performance. Nunca mais.

Ao fim, antes do clássico fechamento do show com "De qualquer maneira", rolou uma cover de "O meu sangue ferve por você" do Sidney Magal por IT e Myllena no palco. Não vi ninguém comentando dela cantando essa música em outras Lonas (pode ser falta de conhecimento meu), mas o vídeo foi gravado e será postado em breve!

Pena que a IT não atendeu ninguém. Ficou o desejo de dar um abraço forte nessa mulher tão romântica e sensível e tão forte ao mesmo tempo. Ficou a vontade de desejar as melhores coisas, porque somente boas coisas podem acontecer para alguém que tem uma energia como ela tem. Ficou o abraço para o próximo show, porque eu quero dar esse abraço em Isabella!!!


Obrigada, IT, por ser quem você é, exatamente assim, sem tirar nem pôr nada. Obrigada por mais esse show único e maravilhoso que eu tive o privilégio de assistir. Obrigada.

Estrogonofe vegetariano

De vários e vários meses para cá, um sentimento vegetariano vem se apossando de mim. Não, eu nunca fui vegetariana, e muito pelo contrário, sempre adorei os prazeres da carne (na gastronomia). Mas... (e talvez no meu íntimo eu saiba os motivos), a carne simplesmente perdeu sua graça. Eu ainda adoro um cheiro de um bife frito... mas não me dá vontade de comer. Adoro um frango bem grelhado ou mesmo um ovo frito, peixe cru. Não passa disso. 

Minha mãe nem acreditaria em mim, se eu contar esta história. Mas ser vegetariano não foi um opção forçada, foi meio que uma opção do meu corpo, que eu apenas venho seguindo, sem lutar contra. E devo dizer que não sinto falta, mesmo. É possível ser muito criativo com todos os legumes, verduras, grãos e temperos sem sentir falta da carne. Vai por mim, quando digo isso!

A opção do finde foi um estrogonofe do qual eu já tinha falado com a Gabitchs a respeito. E também ouvi e li relatos de pessoas que não se deram bem ao fazer a receita. Bem... resolvi fazer o meu teste e devo dizer que... ficou divino! Muito melhor que muito estrogonofe de carne que comi por aí!

Vamos à receita.
Ingredientes:
200g de proteína de soja texturizada (aquela que parece com carne moída. Pensei em usar uma grande e picá-la, mas a preguiça me fez usar a já moída)
margarina o suficiente para fritar a cebola e um pouco para incorporar depois à soja
1 cebola grande picada em cubos pequenos
1 lata de milho em conserva (não tinha champignon, foi milho mesmo!)
1 caixa de creme de leite
páprica doce
noz moscada (em grãos para moer na hora)
mostarda (em pó ou pronta, mas de boa qualidade)
conhaque para flambar
pimenta caiena
sal a gosto

Pra mim, noz moscada é o melhor tempero do mundo. Combina com quase tudo, é discreta e tem um sabor único que tempera muitas coisas de maneira perfeita. Para o meu estrogonofe (que aprendi a fazer com a minha filha...) o importante é ter esses três ingredientes: noz moscada, páprica e mostarda. Tem gente que gosta de estrogonofe a la molhe rosé. Eu não.

Frite bem a cebola na margarina. Acrescente a proteína, um pouco mais de margarina a gosto e continue fritando. Acrescente o milho e siga fritando (eu conto uns 5 minutos). Acrescente a noz moscada moída na hora (a gosto, mas eu sempre coloco bastante), 1 colher rasa de sopa de páprica doce, 2 colheres de sopa de mostarda em tubo (da Hemmer, a mínima para ser usada), um pouco de pimenta e refogue. Abaixe o fogo, vá sempre acrescentando um pouco de água fervida e quente, porque a proteína não solta água então o complemento é sempre importante.

Conte aí uns 10 minutos refogando em fogo baixo, mexendo, acrescentando água e provando o tempero. Enquanto isso, você prepara arroz e outras coisas que você vai servir. Em casa fomos de arroz branco e escarola refogada no alho.

Minhas tentativas de flambar nunca deram muito certo e dessa vez não foi diferente. A escolha da panela adequada para fazer isso é crucial, mas como não disponho de tanta panela aqui... o flambar quase nunca dá certo. Mas se você tem a panela certa e tem experiência com flambar, flambe. No meu caso, eu coloquei meio copo de conhaque, (tentei flambar) e aumentei o fogo para evaporar o resto do álcool. Conte aí mais 5 minutos.

O creme de leite vai apenas ao fim de tudo. Você vai ver na sua panela um molho meio laranja queimado, um cheiro delicioso no ar, um caldo na quantidade adequada à carne de soja, temperos corretos na medida certa. É hora de jogar o creme de leite. Coloque, aumente o fogo e deixe borbulhar por 1 minuto. Desligue, tampe e sirva. E veja se não deu certo... porque pra mim, deu!














ps: meu palpite para o estrogonofe vegetariano dar certo é que a proteína de soja precisa estar bem temperada. Ao contrário da carne, mais delicada e com preparo mais rápido, para a proteína de soja, eu fiz o inverso: deixei refogar por mais tempo, para que os temperos se incorporassem bem!

Clima e catástrofes

Depois de ler tantas coisas sobre as catástrofes que, infelizmente, vêm assolando a região sudeste, eu comecei a tuitar algumas coisas que, decidi, virarão este post.

É muito fácil culpar o governo porque prometeu x e não fez nem metade de y. É muito fácil culpar qualquer que seja o partido que sempre foca em tantas medidas emergenciais para tentar resolver um problema quase tão insolucionável.

Pior é ver que em todo verão é a mesma coisa. Todo mundo sabe que vai chover horrores, que vamos bater novamente o recorde do volume pluviométrico. Vamos fazer piscinões, alargar a marginal, cuidar dos morros para que eles não desabem, abrir ou fechar as comportas.

Fica todo mundo de olho e esperando que o governo solucione tudo assim, com uma varinha mágica e num piscar de olhos. Por que? Porque somos preguiçosos, somos sempre os vitimados que esperam sentados que alguém resolva tudo. Não movemos um pelo do cu para a mínima ação necessária.

Por isso me irrita um pouco essa falsa filantropia, essa falsa preocupação e essa falsa bondade. Ninguém parou para olhar no espelho que a culpa é de cada um de nós pela Planeta Terra estar do jeito que está. E não vou defender uma única ong aqui para falar disso. Vou falar porque cuidar do planeta sempre foi mais do que obrigação nossa.

Não separamos nosso lixo. Não procuramos coleta seletiva. Não jogamos pilhas em lixo adequado. Jogamos nossa bituca de cigarro no chão. Não esperamos achar uma lixeira para jogar o comprovante do Visa Electron. As garrafas pet se amontoaram na margem do Rio Pinheiros. Vamos subindo os morros, descampando matos em nome de qualquer coisa. São poucos os que dão exemplos para os muitos. E os muitos, por ignorância, por preguiça ou por ganância, não querem saber de nada.

Por isso, compartilho das orações pelas pessoas que morreram nas catástrofes. Mas chorar leite derramado nunca foi meu perfil. E ter dó ou pena por mortes não evita outras, quem dera se fosse assim.

Me diz, o que falta pra você se conscientizar do mínimo que pode fazer pela casa em que você vive, o Planeta Terra? Não espere nada dos imediatistas, egoístas e gananciosos, porque não virá nada. E os outros?

E como sabiamente disse meu amigo Miguelson agora: "O pior é culparem as chuvas. Os governos municipais têm obrigação de mapear suas regiões de risco e analisar as chuvas dos últimos anos, inclusive construindo cenários catastróficos, tipo, e se as chuvas triplicarem? Em uma era de informação, mas também de aquecimento global, ninguém, especialmente governante, pode por a culpa no fenômeno natural. A chuva, desde sempre, fez a mesma coisa: chover."

Uma ode ao amor

Faz algum tempo que queria fazer um (novo) post sobre o amor. Ao mesmo tempo que sentia falta dele -- como o belo sentimento que parece estarmos esquecendo --, eu sentia essa agonia intrínseca que não consegue ser dissociada desse sentimento. Minha pergunta: desde quando amor é sofrimento? Minha outra pergunta: por que apenas amamos alguém sexualmente? Então... o que é amor?

Já imagino milhões de ecos de resposta que já ouvi ao longo da minha vida. O que me pareceria meio óbvio torna-se uma incógnita: se todos já sabem disso, por que a permuta de amor e dor ainda continua? Por que somos seres humanos tão dependentes do sofrimento para sentir que há vida pulsando? Por que insistimos no paradoxo, mesmo sabendo que ele não existe? Por que criamos o paradoxo para ratificar a vida que existe por si só?

As pessoas acham e pensam muita coisa, mas se esquecem do principal: quem somos no mais íntimo recôndito de nossa alma. E essa digital virtual apenas nós mesmos a conhecemos. Essa marca que não precisa ser exibida para que outros acreditem que ela existe. Pois existem algumas pessoas por aí que exibem suas cicatrizes como troféus de uma vida amarga da qual não se extraiu nada além de rugas, conta bancária vazia e sonhos destroçados.

Pois apenas penso que somos os seres humanos que deturparam o verdadeiro sentido do amor. Não deveríamos associá-lo a dor, mas o fazemos. Colocamos ele na mesma balança do ódio, com pesos e medidas iguais. Confundimos ele com paixão. Achamos que ele precisa ser eterno com uma pessoa específica, mas ele é eterno com todos. O amor não é herói nem bandido, é apenas o sentimento que une a todos, com a maior pureza que ainda nem conhecemos. O amor não é instrumento de compra e venda, pois seu real sentido perpassa além da tosca semântica que conhecemos.

Acredito que todos nós, sem exceção, já fomos tocados por esse amor puro, digno e infinito. Mas o nosso problema é querer sempre possuir, dominar e controlar tudo, por sermos inseguros com tudo aquilo que é exterior a nós. E perdemos a magia desse sentimento... e perdemos o seu real significado... e ficamos dando voltas e voltas, vivendo de uma felicidade feita de ilusão para voltar ao ponto inicial.

Não sou melhor nem pior do que ninguém que leu este post até aqui. No entanto, estou tentando o diferente, escapar das armadilhas ilusórias que nos prendem a nós mesmos. E, acredito, que o verdadeiro amor apenas seja a única chave real de libertação. Apenas o verdadeiro amor.

Alguns poemas - parte 2

Depois do ano de 2001, nada mais foi igual em minha vida. Desnecessário entrar em detalhes agora, mas um nítido reflexo foram os meus poemas. Eu refinei meu estilo e digamos que tenha, finalmente, encontrado a minha verve literária, minha digital poética, que eu manteria, com retoques, ao longo dos anos seguintes.

Os poemas separados aqui são apenas amostra básica da imensa vastidão que existe. Uma vez mais, espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais do meu -- tão pouco divulgado -- lado poético.

ps: esta leva de poemas é dedicada a todas as pessoas que desde 1992 leem os meus poemas. Algumas pessoas foram leitoras ávidas... algumas pessoas foram constantes como a Sharlene, provavelmente, minha maior leitora de todos os meus poemas e também aquela a quem confiei a guarda dele (junto com a Priscila Mota).

ps 2: descobri que há um hiato no meus poemas entre 2004 e 2005. Vou fazer uma caça intensa em emails e amigos. Espero apenas não ter perdido esse material!

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migalhas 

Eu vi pombos sobre o telhado,
era uma manhã branca
era um dia branco
e eu vi pombos sobre o telhado
não escutei passos
nem senti o calor,
não havia pessoas
nem testemunhas,
e eu vi pombos sobre o telhado.

Não contei quantos pombos eram
eu vi apenas sombras
eu somei palavras às atitudes
eu era uma alma na multidão,
o silêncio com palavras e risos
e eu vi pombos sobre o telhado,
era uma hora branda
alguma lembrança.

Não havia mais nada:
e eu contei pombos.
eu vi pombos sobre o telhado
eu vi pombos sobre o telhado
eu vi pombos sobre o telhado

(11/03/2002)

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Castelo de espelhos
(dedicado a P.B.)

Ante a sombra
de um sol eclipsado
viste a ti mesma no desnude
de tuas incertezas.
Reflexo de teu regurgito
odor de tuas aspirações
oh...
eras apenas tu
era apenas tu.
Clone de teus anseios
não viste o teu grito desesperado
terminar no fim de um eco
perdido
na manhã.
E tu sabes
foste meu espelho
e eu refleti teu complexo
incompatível de existência.
Teu castelo de espelhos
um dia pôde
refletir a tua imagem.

Hoje, tu és teu calvário
há outra alma tão perdida e solitária
para a tua, tão igual, entreter?

(um dia tu saberás pular em tua própria piscina)

(29/05/2003)

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sem resposta 

Longas cartas
escritas à suor e sangue
eu pensei tanto em você,
sim, eu pensei apenas em você,
e esperei uma resposta.

Longas mensagens de celular
infinitas
tempero de desejo e ansiedade
eu pensei tanto em você,
como ainda penso em você
apenas esperando uma resposta.

Longas conversas no telefone
a qualquer hora do dia
eu pensei tanto em você
e eu adorava pensar em você
enquanto esperava uma resposta.

Longos minutos de silêncio
transformados em horas
em dias, em semanas, em meses
eu penso em você
e eu espero uma resposta.

Longos sonhos e pesadelos
momentos solitários
em qualquer lugar
onde eu possa pensar em você
e onde continuo esperando uma resposta.

Longas tentativas, infinitas
um amor intenso e eterno
enquanto o tempo passava tenso
eu pensei tanto em você
e eu esperei tanto uma resposta.

Mas, a resposta era a não-resposta
pois sem resposta eu fiquei
enquanto pensei, pensava e penso
em você
você.

Sua resposta era o silêncio
que sempre estivera ao meu lado
a sua ausência, o seu vazio, o nada
eu pensei tanto em você
e fiquei… sem respostas
apenas como tinha de ser,
apenas como tudo
insistia em ser:
sem respostas.

(27/10/2007)

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Os dias que são iguais aos outros dias

É…
eu conheço sua música favorita e você conhece a minha
em dias como estes, com silêncio e músicas favoritas,
eu posso dançar com as minhas memórias e imaginar
como a vida é tão engraçada… docemente irônica e assim
lembrar tão alegre de você, de suas piadas e de seu humor característico
tudo aquilo que nunca deixei de admirar e amar
você deve estar vivendo sua vida com o sol a raiar
erre sua vida e a aproveite ao máximo em todas as suas nuances
porque o destino prega umas peças imprevisíveis
e sabe como é… o amanhã quase nunca é igual ao ontem.

É…
nesses dias de lembranças tão intensas e insanas e impossíveis
nunca me esqueço daquele jeito tão específico
que nosso humor tinha de se conectar e assim permanecer
era quase viciante a destreza mental com que podíamos fazer rir
e mentir a realidade, e sucumbir a dor, e transcender todos os limites
sabe que eu tenho procurado alguém semelhante assim
mas, acho que assim, não vou nunca encontrar ninguém
pois nunca houve ninguém e nunca haverá ninguém
que tão bem soube assimilar o meu humor e a falta dele.

É…
tantas coisas sempre acontecem a cada segundo novo de nossa vida
e nunca há presente, vivemos do término do passado e a iminência do futuro,
vivemos procurando respostas que não existem, felicidade que não é perene
amigos que não são eternos, dor que seja curta e momentânea,
certezas absolutas que nunca existiram nem nunca existirão
compreender e ser compreendido, anular–se para, assim, ser amado,
vivemos na fronteira de uma suposta felicidade e da eterna alienação
e, se vivemos, teremos de viver com os olhos abertos e tanta coragem…
sim, minha cara, tantas coisas sempre acontecem e roubam a inocência
transformam a força em egoísmo e a esperança em relicário escondido
mas nunca deixei de sentir saudades de você, do que foi inteiro e genuíno,
tantas e tantas e tantas coisas… que se perderam, aquelas bem poucas que ficaram.

É…
flores amarelas e vermelhas sob o céu azul sem nuvens, eu continuarei me lembrando de você
e, solitária, dançarei com minhas memórias.

(13 de agosto de 2006).

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Coração deserto 

Se eu fechar os olhos por um momento
talvez eu seja capaz de desenhar o meu futuro
e este será o instante em que não sentirei ansiedade nem angústia
todos os temores se dissiparão eu conseguirei sorrir livremente.
Pois que o presente seja tão incerto quanto as lembranças do passado
e o futuro sempre reserva uma fração de esperança
para os sonhadores, raça quase extinta, seres humanos
fadados à dor, à solidão… quase como eu e você.

Mas se você fechar os olhos por esse instante
talvez você não consiga ver as coisas que eu vi
como em sonhos premonitórios, quando nunca é dia ou noite,
seremos duas almas separadas, cada uma trilhando sua própria linha
não nos encontramos, não iremos nos reencontrar
e a espera será apenas mais uma característica de personalidade
quase uma cicatriz, um verdadeiro defeito congênito,
e o que restar será compartilhado como migalhas para pombos.

Eu vou fechar os meus olhos por um momento
esperando que alguma coisa mude entre o segundo do desejo e o do desespero
uma fração de um milésimo de um minuto para o fim
se parece ser muito mais fácil desistir, eu escolho continuar
todos os meus passos já são conhecidos, minhas intenções
então nada restou para descrever ou para conversar, nada,
e comigo mesma eu ficarei com mãos vazias, corpo vazio, olhos vazios
uma alma despedaçada e vazia… sem migalhas para mim mesma.

Eu vou fechar os meus olhos por um momento,
e numa suposta prece que eu nunca rezei, eu vou pedir
que a compreensão seja mais ampla que pré–julgamentos
pois mesmo que a vida seja cíclica e eu assuma meus compromissos
o primeiro sinal de silêncio vai aliviar a angústia desta alma
para nunca mais calar o silêncio de um espírito solitário,
nunca mais haverá manhã ou noite em que o eco de uma voz
não será refletido de volta para o mesmo espelho vazio,
a compreensão e a empatia não são características do ser humano,
mas mesmo assim eu peço que olhem do meu ponto de vista e compreendam
o que os olhos humanos não vêem jamais, o que corações não sentem
o que almas vazias como as de vocês jamais perceberam
e me deixem ir com os olhos fechados e um sorriso nos lábios.

Então, não feche seus olhos comigo, nem por dó, nem por imaginação
assim, só e feliz, eu permanecerei entre cinzas e lembranças
pois é triste saber de alguém que passou por sua vida e nada deixou
eu passei pela minha própria vida e acumulei todo o conhecimento possível
tentei auxiliar, tentei compartilhar e como eu tentei me integrar,
mas o ar sempre é muito denso… ou eu ficava na superfície, ou no fundo do âmago,
e entre a angústia de nunca saber onde permanecer eu decidi sublimar
decidi que não era mais minha escolha, nunca tinha sido minha escolha,
o meio–fio de minha decisão era a minha maior e única decisão
e quem quer que caminhasse pelo meu coração, nunca deveria ter esquecido
que em um coração deserto, apenas se caminha sozinho.

(20 de novembro de 2006)

Alguns poemas - parte 1

Decidi compartilhar alguns poemas meus aqui no blogue. Acho que já fiz isso há muito tempo atrás... decidi separar aqueles que eu gosto muito.

Eles fazem parte de uma velha Cris... intensa, sonhadora, apaixonada, platônica, idealista. Não conseguiria nunca mais escrever um poema assim... mas tenho orgulho desses exemplos que abro para vocês, aqui! Muito!!!

Esta primeira leva trará algumas coisas bem antigas... rs. Espero que gostem. Aguardo coments! ;-) 

ps: esta primeira leva é dedicada à Claudia Bertrani, a quem devia alguns poemas.

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Baile 

Ao baile dos poemas, entreguei-me na noite passada
e mesmo no silêncio mudo, misterioso... inquiridor
tenho os vestígios: resquícios de sua arte, sua dor
e acordei com palavras tristes... mas abonadas,
perguntei ao relógio do tempo que não é tempo,
mas mera figuração, idolatração: passatempo.

Ao baile da ansiedade cheia de escárnio, chorei
lágrimas, e com elas, fiz tinta que usei em pena
em alusão à mulher que tanto me traz cenas
em sonhos, em pesadelos: marquei-me, esperei,
mas o silêncio da solidão foi duro e taciturno
minhas mágoas não encontraram momento oportuno.

E tremi...
entre transes 
de ópio e morfina,
pretendi
esquecer a vida 
que desatina,
malogrei
sangrei
dei...
ao obscuro
o que não tinha,
e busquei
não em mim
mas fora
... de mim...
o que
só em mim
havia.

Ao baile da solidão eterna o tempo todo eu compareci,
dias e noites, madrugadas e manhãs vazias, mal vividas
os estranhos me serviram de companhia para a sina
que eu escolhi e pretendi, e que não sabe que adoeci,
mas acordei com palavras e poemas, perfeitos,
que saberão, em sua sapiência inviolável, dar-me preceitos.

(20/05/2001)

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Tuas palavras 

Dize-me as cruéis palavras
tuas adagas de fogo enterra em mim,
jazo-me nua sem nenhuma adarga,
tenho meus sentimentos biografados
e livre de atitudes estóicas
ainda com estima mantenho-te aqui
entre os braços tênues da ceva e da colheita
sem tolher a tua liberdade de movimentos.

Perfura-me com as infiéis palavras,
não vejas brotar gemas de sorrisos
que com lágrimas, foram regadas um dia,
admite que minha falta sente
e não será de mim que a dor escorrerá
em ti, ela supurará
não trepides em ver a realidade colorida,
não duvides desta dor tão sentida.

Usurpa-me com os direitos que tiveres
se não tiveres nenhum, continua mesmo assim
dilacera-me.... trucida-me...
preenche a tua ânfora, esvazia-me a minha
leva-me ao ponto do sem-fim
sem arrependimento, ultrapassa fronteiras
definitivamente, enterra tuas palavras
e não tomes mais nada de mim.

(24/10/2000)

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Terço 

Vou rezar um terço
de uma terça parte de uma noite qualquer,
vou querer que fique
tudo bem com você esta noite,
pois eu sei que hoje
você vai precisar
você vai estar completamente só,
minhas preces serão uma só
igual a uma chuva que só molha
se caírem todas as gotas juntas,
e bem juntas...

Vou acender uma vela
iluminarei os caminhos claros
de espíritos perdidos,
e emprestarei a minha mão
para você poder caminhar
entre sombras, entre neblinas
entre seus medos...

Vou pedir uma única vez
numa única prece
a felicidade que você
roubou de você mesmo,
em meio à chuva que cai
e que pouco molha,
não sei como conseguiu
confundir lágrimas com
gotas singelas de água,
talvez fosse necessário
muitas lágrimas e pouca chuva,
mas, eu sei que mesmo assim,
você vai estar bem
sempre esteve bem,
e jamais percebera isso
e ainda assim
rezarei um terço em muitas terças
ou sextas
para você estar,
pois você vai precisar
ficar bem.

(01/11/1995)

_________________ 
Falta 

Falta  tempo  para  dizer  obrigado
ou  faz-se  falta  de  coragem
sinto falta  de  sua  presença
quando  faz  frio  lá  fora  
falta  força para  suportar
a  falta  que  faz  sua  ausência
tenho  medo  de  falar
que  sinto  falta  por  não  ter  paciência
e  faz  tanto  tempo  que  faltou
uma  chance  para  dizer
toda  falta  que  sinto  de  você   
em  alegria  em  refazer
um  sonho  que  diz  estar  morto
falta  tanto  tempo  para  observar
todos  falarem  a  mesma  língua
sorrirem  na  mesma  alegria
cantar  no  mesmo  tempo
e  acho  que  falta  muito  tempo
para  acreditar  no  que  se  passou
e  que  ainda  passará
na  dor  que  senti  e  que  ainda  sentirei
nos  passos  faltosos,  nas  ordens  faltosas
na dor  que  sobra
e   na  certeza  que  falta
quando  sinto  sua  falta,
quando  não  está  aqui.

(02/09/1994)

____________________ 
Simplesmente amo-te 

Com a simpleza 
que separa os ocasos
do simples acaso
com a ambigüidade
que iguala as raízes
mais infelizes
com a força inigualável
do teu sorriso-luz
que ante o escuro, reluz
com a candura
do teu espírito que une
com o meu e ambos se ungem.

Amo-te e canso de procurar motivos
porque sei que não existem motivos
pois sabes que em vão são os motivos
que me levam a ti, a enxergar motivos
repetitivo torna-se o dia a caçar motivos
simples, tolos mas sempre decisivos motivos
que nem sempre levam à razão, ao real motivo
do principal motivo.

É uma simples questão de espírito
o fato de eu amar-te
Tu me alegras quando nem sequer imaginas
que estou triste
e sabes do ódio que existe
e que insiste
em ficar e domar minha vida, tornar-se minha sina
tu me ensinas como e devo amar.

(03/10/1999)

O verdadeiro sentido do Natal

Eu sempre tive uma relação estranha com o Natal. Minha família nunca o comemorou além de um almoço no dia seguinte, sempre na casa de minha avó, juntando parentes, comida e amigo secreto. Todas as minhas lembranças de Natal são essas. Ah, tem também quando lembro o presente que o "Papai Noel" me deu quando eu devia ter uns 6 anos: um relógio digital (mega chique na década de 80) que acendia luzinha e tudo. O cartão do Papai Noel vinha com uma letra tão parecida com a da minha mãe... lembro que depois daquele ano nada seria como antes. rs

Depois disso, sempre veio uma sensação de falta de reconhecimento e pertencimento a um mundo supostamente cristão que vira o total centro das atenções. Lembro que, no Japão, nunca houve fogos de artifício à meia noite e eu lembro que nunca entendi porque as pessoas insistem em gastar toneladas de dinheiro com fogos de artifício para comemorar sentimentos que tão pouco colocam em prática.

Eu sei, sou uma pessoa chata e questionadora que ao longo destes 33 anos nunca entendeu muita coisa nem viu sentido em tantas outras. Mas estamos nesta sociedade e mesmo com essas coisas passando pela minha cabeça, a vida segue, com alegria, esperança e amor, não é assim que deve ser?

Ontem à noite, eu e meu amor preparamos a nossa ceia a dois. O Rio de Janeiro deu um milagroso tempo do calor e pudemos aproveitar melhor as "baixas" temperaturas de 24ºC que fizeram por aqui.

Foi uma noite agradável regada a "O Mágico de Oz" que meu amor ganhou numa belíssima edição especial de 70 anos. Assim (sem as coisas costumeiras que passam na televisão) dá pra reavivar a magia de um mundo tão tolhido de magia e repleto de ilusões. Sim, porque magia é totalmente diferente de ilusões.

Agora estou em mãos com o "Anjo de Vidro" que é um dos meus filmes natalinos favoritos, porque sempre me faz entender o tal do espírito natalino. Algo que não seja apenas encontros familiares vazios, dinheiro gasto, comida saindo pelas orelhas e palavras perdidas no ar e no vento.

Este ano, pelo fato de estar no Rio, foi o ano que meus amigos menos se lembraram de mim para o Natal. Talvez porque eu sempre fui a pessoa que mandava cartões à mão, torpedos e emails. Sinto muito se você, algum amigo meu que caiu neste blogue, leu isto. Eu não mandei essas coisas não porque não tenho sentimentos por você, e nem retribuí seu agradecimento porque sou mal-educada. Não mandei porque preferi fazê-lo aqui, eu e meu coração e minha orações. E não respondi porque tava sem créditos no celular até para receber ligações de SP.

Mas os amigos de verdade são a nossa verdadeira e única família. Não dá para se sentir sozinho. Cansei de ler relatos no Facebook e Twitter agora pela manhã de pessoas se sentindo solitárias. É assim, a ressaca de uma festa pseudocristã cheia de hipocrisia. Tanto amor que as pessoas não conseguem deixar de sentir sozinhas. O primeiro amor está em se amar e se aceitar. O real amor que apenas existe por existir e independente de palavras  fáceis e vazias, lembranças oportunas e presentes falsos.

Amanhã postarei fotos e receitinha da ceia que eu e meu amor fizemos por aqui. Por hoje, fica essa reflexão, num país tão cheio de pluralidades, onde neopagãos e cristãos e evangélicos e judeus convivem...espero que uma única gota do real sentido de tudo tenha -- verdadeiramente -- sido plantada no coração de cada um dos seres humanos.