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Um amor em bitucas de cigarros

São 17h32 de uma tarde
quase fim de véspera de seu aniversário
e enquanto eu observo
o mesmo sol se pôr
eu penso em como a vida é engraçada…
ah!
como a vida é engraçada.

O único calor
é o do cigarro aquecendo as pontas de meus dedos
e eu hoje eu lembro de você
que fica tão bem de vermelho…
e agora eu imagino você
sentada neste mesmo banco azul
uma cena de um filme
de David Lynch, Bergman, Kubrick ou Almodovar
como eu queria poder te fotografar.

Mas, eu estou sozinha sob esta mesma árvore
que um dia foi a única testemunha
de uma conversa tão íntima
quanto estranha…
agora, eu olho para o chão,
e vejo todos os cigarros que você fumou
mortos.

Eles são como todos os beijos
que eu não tive de você
tantos beijos em tantas bitucas de cigarro
um amor em bitucas
que dura o tempo… de um cigarro
como ironia, quase como um vício
eu estava viciada em você
terra sedutora… terra sedutora…

Mas, um dia, eu roubei um beijo seu
de uma bituca de um cigarro qualquer
no dia em que o nada testemunhou
a distância e a proximidade
a única coisa comum entre nós
e enquanto eu ouço Stereophonics
vou pensar em você
e como seria se ao invés de um, fossem duas.

E vou contar as bitucas de cigarro
a engraçada e cômica fotografia
do que tínhamos
um amor em bitucas de cigarros
que, mesmo diferentes,
ainda são partes de nós
as únicas partes
que permanecem firmemente juntas
no chão.

(13/09/2007)

A mesma estrada

Os olhos daquela mulher
estão pintados com a cor da luxúria
e esses mesmos olhos
que olham com outros olhos
a mulher da esquina
de cujos lábios gotejam palavras mudas
tentam ser desvendadas
por uma mulher que não olha nem fala
a mulher parada, estátua solitária
sob o silêncio de lembranças
sob as circunstâncias tão incompreensíveis
de sua única solidão.

Entre, atravesse as fronteiras
um outro-mesmo ser que respira ar
não há datas, nem há dias no calendário imaginário
que se desenha no cotidiano absorvido
de seres igualmente semelhantes e diferentes.

(02/08/2003)

melissa da manhã

A solidão é um fardo
construído ao longo de muitos desencantos.
O idealismo, um hiato,
um suspiro poético ao gosto de prantos.
A realidade, simples fato,
fotografia imutável.

Teus olhos neblinados,
capturam e dissimulam teu medo
por entre tuas unhas
e teu sorriso de medusa.

(09/09/2002)

Trilha sonora de hoje: Estranged

Esta música foi o meu principal "hino adolescente" nos anos 90. Ouvir "Estranged" no repeat one do meu walkman (nada de ipods) madrugada adentro, observando estrelas e estrelas cadentes era um passatempo de uma época solitária, vazia... ao mesmo tempo cheia de esperança, sonhos e desejos. Eu era, literalmente, uma garotinha de 14 anos com tanta coisa passando na minha cabeça... e essa música sempre me pareceu tão perfeita.

Os anos se passaram e nada mudou muito, não. Sempre que eu ouvia o refrão "Old at heart but I'm only 28 and I'm much too young to let love break my heart. Old at heart but it's getting much too late to find ourselves so far apart" eu pensava que Axl Rose tinha escrito a música da minha vida. Quando completei 28 anos, obviamente, ouvi essa música à exaustão. E lembro que foi um período de muito expurgo na minha vida.

Hoje em dia, "Estranged" ainda é uma música que mexe comigo. A melodia, os riffs cheios de dor e crueldade de Slash, o solo de piano e a letra... se eu tivesse de fazer um odioso top10 da minha vida, tenha certeza de que esta música estaria lá!

Sempre cacei versões demo para essa música e destaco (até onde consegui ouvir) o piano de Vika e a guitarra de Kobiba. Imagino se eles tocassem juntos... Aqui segue o vídeo de Vika, uma pianista talentosíssima da Islândia. Garota impressionante!


Miscelânea do dia

Hoje fui de madrugada cedinho pro centro do Rio de Janeiro e em poucas horas fiz muitas coisas. Aproveitei um dia que amanheceu fresco (sim, pessoas, fez 23ºC pela manhã, nem acreditei!) e com um sol lindão no horizonte. Passei ao lado da Cidade do Samba, onde aconteceu o acidente e vi os barracões queimados e ainda saindo fumaça. Almocei com meu amor, num novo restaurante japonês descoberto. O Rio de Janeiro tem me surpreendido muito ultimamente...


Tinha esquecido de compartilhar a foto do autógrafo da Myllena: uma das poucas coisas que consegui com aquele camarim muvucado...
Hoje, aproveitei para dar uma passadinha Caixa Cultural. Muita coisa boa por lá! Seleção de filmes com Ricardo Darín (eu vi XXY na Mostra Internacional em SP; O filho da noiva e O segredos dos seus olhos. Ainda dá pra ver O mesmo amor, a mesma chuva; Kamchatka, entre outros). Na Caixa ainda tem uma exposição sobre Direitos Humanos, com fotos desde o Brasil 1500 até os dias de hoje, traçando uma linha geral de como o Brasil lida com essa questão. Exposição de fotos contundente, gostei muito. Na fotinha ali, ainda dá pra ver que fui ao CCBB ver Cora Coralina e ainda preciso ver Escher.


Estas fotos aqui são para a minha amiga Sharlene, fã de Nightwish e fã de Tarja. Aliás, devo dizer que também sou fã da cantora que ela é e da voz que ela tem. Surpresa ela vir ao Brasil. E supresa ela dar uma entrevista ao jornal Destak, de distribuição gratuita. Ainda mais pelo tom da conversa... coisa meio incomum. Mas Rio de Janeiro tem essas coisas que eu gosto.