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Infusão

(nulla virtute redemptum a vitiis - Juvenal)

Infundi teu sorriso
- fruto podre de minhas ilusões
em minha xícara de chá verde
e verti-te, como engolir saliva,
seca, dura, amarga.

Eis que tu eras meu espelho
hei-lo reluzente por sobre olhos
cegos e ignorantes.

Eis que tenho um par de globos
oculares doentes, que se exterminam
lentos, na solidão do dia-a-dia.

Infundi a tua simpatia
e no que restou não me reconheci
- sou um busto incompleto sem olhos
e sem a expressão dos imperadores
sequer imagino o que poderia ter sido.

(15/05/2003)

*** 2003 foi um ano especial na minha vida. Os poemas desse ano são únicos, talvez fruto do meu "encontro poético" com meu amigo Del Xênio, que me proporcionou fantásticas conversas líricas. Usei formas curtas, mais imagens do que descrições e, portanto, escrevi poemas imagéticos. Porém, com o tempo, eu voltaria ao meu estilo de escrever, uma humilde inspiração de Drummond meio Bandeira, com drama a la Clarice Lispector e pitadas de Ana Cristina Cesar. É... é assim que eu definiria os meus poemas.

Finalmente!

Não gosto de falar da minha vida pessoal, mas não tem como. De um ano para cá, mudanças -- literalmente -- inexoráveis começaram a acontecer. Mais uma delas: agora sou moradora da cidade de Niterói, no estado do Rio de Janeiro.

Os motivos não importam. O que importa é que há um ano, eu comecei a entrar num certo abismo de mim mesma.  Coisas que começaram a não dar certo como antes, o ímpeto idealista murchando numa crescente cada vez maior... assim, a realidade parece apenas refletir o que há por dentro. E eu estava cansada, vazia, sem objetivos.

Foi quando comecei as pequenas mudanças. Um passo por vez. Uma coisa por vez. Dia após dia, caí - levantei - caí de novo. Caí mais fundo. Mas fui arrancando uma força que parece tomar conta de mim nas horas mais improváveis. Chorei, entrei em depressão. Para todo mundo aí fora, sempre mantive um sorriso, porque não importa. Não importa fazer propaganda da própria tristeza. Você precisa ser forte para não cair no jogo da vítima. Você não precisa de nada disso.

E seguindo fui... dia após dia, mês após mês. Crises horrorosas e imaginado que não conseguiria. Consegui. Não há fórmula mágica, não há segredo. Por isso, o fato de estar morando agora em Niterói é apenas este outro presente que ganhei. E vou confessar: ainda vou voltar pra Sampa, minha terra de paulistanos mal-educados que eu tanto amo. São Paulo -- o lugar que eu ando em cada centímetro e parece sempre que estou em casa.

Assim, os últimos dias foram corridos, intensos, pacote, embrula, desempacota, guarda no lugar. Nada de postagens, sem tempo para nada além de frilar e empacotar. E, agora, frilar e desempacotar. Por isso, os poemas, que espero que tenham gostado. Andei anotando umas ideias de posts que pretendo desenvolver em breve.

Obrigada aos Deuses que nunca nos abandonam à nossa própria sorte, como muitos imaginam. E obrigada a cada um de meus amigos que me ajudaram como podiam, naqueles piores momentos. Esses -- e eles sabem quem são -- eu nunca vou esquecer.

horas desesperadas

Deixo as horas desesperadas
escorrerem entre meus dedos com calos
através de minha alma
ecoam os gritos silenciosos
das personas que vivem em mim
tudo bem… é apenas um outro segundo
nada que não tenhamos visto antes.

Deixo meus amigos invisíveis
fazerem marionete do meu corpo dolorido
já não me importo se as dores
confundiram-se com o que bebi ou comi
através de minha pele
exala o cheiro putrefato
de sonhos que morreram em mim
sem que eu tivesse percebido
tudo bem… como dizem
eu vou sobreviver.

Deixo a ansiedade, esta característica minha,
sorrir em meu lugar
mostrar a beleza que eu sei que existe
eu cumpro as obrigações
e eu estou ao seu lado, cúmplice,
eu sou o que você quer que eu seja
e deixei de ser
parte das energias cósmicas
uma estrela cândida e ingênua
tudo bem… não é sempre assim?

Deixo as horas desesperadas
invadirem os meus sentidos
tornarem-se meu guia
para este combustível de ansiedade
para responder às minhas perguntas
que nunca tinham sido respondidas
droga… eu apenas queria te conhecer
e saber que você seria minha
através dos tempos
ao longo de toda a existência… minha
unicamente minha.

E eu conto as horas desesperadas
que me perseguem em meus delírios esquizofrênicos
me estuprar, me deleitar, me destituir
eu quero cada segundo de cada hora
para simplesmente mostrar
que tudo está como deveria estar…
assim.

(21/04/2008)

O vazio infinito

Em uma tarde como esta,
você pode querer assumir todos os desejos
e distribuir sua libido entre estranhos desconhecidos
um pulo no infinito vazio e escuro
minha alma seria seu subterfúgio
e sua alma seria meu secreto relicário.

Em uma noite como esta,
eu vou querer ir além do óbvio do proibido
e furtar o pouco que resta de você
sou uma alma desesperada gritando no vazio
e não serei mais seu relicário.

Em uma tarde como esta,
não pedirei compreensão, mesmo que a precise
não estarei sozinha diante de meu próprio espelho
e não mais lembrarei de você
com o peso de minha franca consciência
não serei mais nada.

Em uma noite como esta, eu penso
como eu nunca pude sentir saudades suas
e como eu nunca tive nada além do que queria ter
nenhuma surpresa, nenhum susto
distribua seu desejo entre estranhos desconhecidos
e eu pularei no infinito vazio e escuro
de frente.

(14/01/2007)

Comentários breves e aleatórios

Os últimos dias têm sido muito corridos e em breve digo por aqui os motivos. Fato é que meu corpo tá podre, o calor carioca assola até o osso nessas horas e meu cérbero ainda precisa raciocionar com precisão. Welcome to real life!

Também aconteceram algumas coisas interessantes no plano internético e que merecem minha reflexão aqui fora. Vamos a algumas delas:

1-) notícias de pessoas que estão voltando a antigos empregos: me perdoa se alguma dessas pessoas cair no blogue e ler isto aqui. A vida é de cada um e apenas a própria pessoa pode julgar e dizer o que é bom ou ruim. Mas, eu tenho direito, aqui no meu blogue, de maneira anônima e sintética, dizer o que penso. E o que penso é o seguinte: entre seguir adiante numa estrada escura, sem iluminação, sem destino e sem saber de nada e voltar para uma casa que pode me dar abrigo, talvez mais conforto que antes e mais alimento que antes -- eu prefiro a estrada escura. Por que? Eu tenho essa mania de abrir caminhos com facas cegas, servir de inspiração e pensar: "eu posso e eu consegui". Muito pessoal e meio ególatra, mas eu sou sincera.

2-) para tirar belas fotografias não é preciso ter uma supermáquina com mega zoom, mega lentes e mega megapixels. Depois de ver as fotos de Grazy Pisacane ao longo de quase um ano, me certifiquei absolutamente disso. Ela tirou fotos desse mesmo show da Isabella Taviani (que tá todo mundo careca de tanto ver) e não ficou apenas tirando fotos e fotos e fotos do rosto dela (como vejo em muitas fotografias de máquinas com a descrição acima). Ela trabalhou o cenário, as luzes, as sombras, a fumaça de maneira tão bela que parecia um outro show!!! Fiquei impressionada e faço aqui mais elogios em público. Não puxo saco de ninguém gratuitamente, mas essa garota não apenas tem uma máquina boa e é fotógrafa: ela tem a sensibilidade de fazer outras imagens com a sua lente. É uma das melhores fotógrafas dos shows de Isabella Taviani que eu já vi. Moema Andrade é outra que muito me impressiona, mas faz tempo que não a vejo indo em shows... hehe.

3-) a diferença entre ser fã e ser louco: okay, eu sei que ser uma #DemôniaTwitteira significa ser louca. Mas não consigo. E todas as vezes que vejo fãs alucinados, não importa o artista, só me dá muita vergonha alheia. Eu gosto de ser essa fã assim... presente na hora certa. Ajudo na divulgalção do meu jeito, faço as homenagens no meu blogue, vou a todos os shows que posso ir... mas daí a roubar tudo que está no palco, tatuar nome no corpo, pegar toalha, ser indiscreto... me parece desnecessário. Mas, como hoje é dia de falar coisas desse tipo, perdoa se algum fã desse tipo cair aqui e ler este texto. É apenas a minha opinião, minoria absoluta.
E bora que o dia ainda está começando e não fiz quase nada!