Tava eu lá ontem, no centro do Rio de Janeiro, precisando arranjar algo para dar um tempo até esperar meu amor sair do trabalho. Quem conhece bem o centro velho do Rio sabe que lá não é o melhor lugar para passear... embora a arquitetura seja algo a perder muitas horas... e a praia esteja logo ali na frente. Mas não queria nem um, nem outro. Fui ao Cine Odeon, prédio lindo (quero voltar para comer lá) pegar o que estivesse em cartaz. E eis que me deparo com "Bellini e o Demônio".
Meu amor olhou pra minha cara, eu levantando bem as sobrancelhas e pensando "que porra é esta?". Vi que era um filme nacional e juro que achei que fosse um dos filmes do Mojica (olha o meu preconceito, justo uma cinéfila como eu).
Mas eu me dou o argumento de pensar assim, já que inteira de um cinema agora é muito caro e pagar R$20 por um filme que não agrada, melhor comprar um DVD, eu acho!
Porém a inteira era R$10 e estava começando uma sessão. Não li nada, sinopse, mal sabia que era nacional. Entrei.
Os que leem este blogue sabe que indico muitas vezes ver um filme sem saber do que se trata, pois é um verdadeiro exercício de desprendimento artístico, na minha humilde opinião. Exceto em Mostras Internacionais, onde tudo precisa ser pré-selecionado, em muitas vezes, é bom fazer isso.
Entrei e dei de cara com a carona barbuda do Fábio Assunção em cena. Cinema escuríssimo aliado a um filme escuro, sentei nas escadas para não perder o filme.
Com o passar dos minutos, olhos acostumados à escuridão, arranjei um lugar pra sentar e pra degustar o que diante de mim se prostrava. Tratava-se de um filme surpreendente! Um suspense que ecoava apenas na minha cabeça: David Lynch, David Lynch! Muito escuro, certos cortes, ângulo, câmeras cortadas em focos específicos nos diálogos dos personagens...
Entrei em êxtase! Filme ambientado em São Paulo, além de me dar uma saudade da terrinha, me lembrou como adoro filmes ambientados em SP. Acho -- ao contrário de alguns amigos meus-- que filmes ambientados em SP têm uma atmosfera única tanto como se estivesse sendo rodado em Nova Iorque. Brasileiro metido a cu doce tem mania de achar que nossas cidades não podem ser cenários. Não só podem como devem!!! Me lembro uma vez de ter visto (na Mostra Internacional de Cinema) um filme sobre lésbicas rodado no Rio Grande do Sul. Lembro que amei.
Não vou falar muito mais do filme para não estragar, mas ouçam esta alma que vos fala: VALE MUITO A PENA! Fiquei curiosa com o livro do Toni Belloto, quem sabe o leio? (o filme é baseado no livro do Toni) E VAMOS VALORIZAR O CINEMA NACIONAL!
Finalizando: agora pela manhã, fui acessar links do filme, para me informar mais... e qual não foi minha surpresa ao ver que o diretor se inspirou em David Lynch para fazer o filme? Rá!
PS: Fábio Assunção está inacreditável. Talvez seu drama pessoal tenha se misturado ao drama do personagem, talvez a desconstrução de um e a construção do outro tenham achado uma estrada em comum. Fato é que ele mostrou ser um excelente ator. Eu tinha lá minhas birrinhas com ele. Superadas, viu?
Clique aqui para ver o site oficial do filme.
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