Há dias eu quero escrever um poema.
Mas não tenho tema, não tenho rima, não sei o que dizer.
Estes dias estão duros.
Estes dias estão paradoxais.
Estes seres humanos tão egoístas.
Eu nunca vi tanta loucura assim.
Eu que já achei que tinha escrito sobre tudo, me vi nua.
Eu que pretensiosamente me calei.
-- não consigo me calar. Meu coração não se cala. Meus olhos observam. Minha mente voa.
Há dias eu quero escrever um poema.
Porque eu sinto falta da sensibilidade honesta das pessoas.
Sinto falta do perfume natural da primavera.
Não sei mais reconhecer as pessoas.
Nem as próximas, nem as distantes.
Parece tudo uma confusão. E eu me calo.
-- mesmo sem conseguir me calar direito. Algo em mim se silenciou. Serei eu?
Há dias quero escrever um poema.
E eis que no dia 28 de novembro eu leio um poema.
É daquela menina mais doce que conheci recentemente.
Seu nome é Lilian Aquino. E eu lembro. Lembro e sua doçura me toca.
Suas palavras me invadem. Penso e repenso. Me deixo sentir.
Tento voltar a me reconhecer.
Será?
Então, acho que consigo escrever um poema.
Para os dias quase mudos que vivo diariamente.
Não sei mais conversar com as pessoas.
Não sei suprir suas necessidades e carências.
Não sei fingir. Por Deus, isso dói.
Não sei, talvez, agir como a sociedade exige.
-- seja lá o que isso for.
Não sei. E me calo nessa frase.
Mas, insisto. E eis-me aqui escrevendo. Porque não sei fingir.
Eu não sei fingir a melancolia que não sinto.
Eu não sei fingir a efusão adolescente tardia.
Eu não sei fingir gostar de brincar de vida virtual.
Eu não sei fingir. E isso me faz de mim uma farsante às avessas.
Porque simplesmente não entendo tanta coisa.
Não entendo as redes sociais.
Não entendo a vida social.
Não entendo a necessidade de afagar egos doentios.
Não entendo a necessidade de agradar o outro apenas para não ficar só.
Tentei resistir, não sei se consegui.
São algumas palavras...
(tentativa de poema totalmente dedicada à doce e querida Lilian Aquino).
Um comentário:
Cris,
estou verdadeiramente emocionada com seu poema. você é uma das pessoas mais cristalinas que conheço, não tem nenhuma parte sua que deixa de se expressar. com honestidade, com verdade. sim, você tem razão, isso é raro em tempos tão loucos. e eu entendo que quando não se encontra pares, o silêncio é quem faz companhia.
mas, veja, o silêncio em você agora só pode ser o da voz falada, do som das cordas vocais. porque você tem esse mundo de falas e vozes inquietas por dentro. e a escrita, a poesia, é um modo incrível de se deixar gritar.
e eu estarei sempre aqui pra ouvir, tenha certeza de que pode contar com isso.
eu amo você, minha amiga tão querida.
e muito, muito obrigada mesmo por esse poema e não calar sua sensibilidade.
beijos,
Lilian
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