Farei breves comentários sobre o filme Flores Raras de Bruno Barreto inspirado no livro Flores Raras e Banalíssimas -- livro que ainda não li e filme que vi no último fim de semana. Como todos sabem, o livro e o filme falam sobre o relacionamento intenso vivido entre Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop.
Adorei o roteiro, fiquei encantada com a atuação de Gloria Pires e Miranda Otto. A adaptação para o Rio de Janeiro nos anos 1950 e 1960 foi fantástica. O filme não carrega no tom dramático -- mesmo sendo um drama. Para mim, o único pecado foi a edição de algumas cenas. Especialmente quando o take era sobre Elizabeth Bishop. Dez segundos a mais seriam o suficiente antes de um corte brusco. Não vou me recordar as cenas exatas, mas me recordo do teor intenso e profundo de um take com Elizabeth Bishop sozinha. Um fala num curtíssimo monólogo. Mais dez segundos de câmera filmando seriam perfeitos. Porém, há o corte brusco. Cinco minutos depois, eu ainda refletia sobre a cena enquanto a história seguia.
O filme é bem contado, não se perde em si mesmo, tem cortes equilibrados. Eu diria que essas duas, três cenas foram pequenas falhas de comunicação entre diretor e edição. Não haveria exagero na carga dramática com mais tempo antes do corte. Mas o corte brusco -- a menos que seja proposital -- causa estranheza. As cenas seguintes passam despercebidas enquanto o eco da cena anterior ainda retumba. Pelo menos para mim.
Confesso que nunca me interessei pela história de Bishop e Lota. Confesso, mais ainda, que fujo de filmes cujo tema seja romance dramático entre duas mulheres. A produção cinematográfica sobre lésbicas (salvo exceções) costuma girar em torno da dicotomia amor x dor. E eu não acho que a apenas isso devesse ser filmado. Precisamos de mais histórias leves e comuns -- como toda forma de amor é. Mas, deixemos isso para um outro post.
Confesso que eu também andava fugindo dos dramas. Há anos evitava os filmes dramáticos -- com um motivo bem simples: minha vida estava bastante dramática. Talvez, por isso, tenha demorado a ver Flores Raras. Mas me rendi e fui.
E chorei... o pouco que vi sobre Elizabeth Bishop me remeteu a todas as dores que eu já senti como poeta. E, nisso, apenas os poetas entenderão. A intensidade nos versos, na forma de sentir e viver a vida, na maneira de amar... isso entrou como seringa quente nas minhas veias. Minha verve poética que considerei estar enterrada, ressurgiu tão forte. Eu me vi nua na tela do cinema. Num roteiro adaptado de um livro que eu não li e de uma história que eu desconhecia, eu me vi. Foi catártico.
Assim que eu tiver acesso ao filme, eu posto a fala exata que arrancou meu coração de mim. Enquanto isso, a quem não assistiu ao filme ainda e queira se emocionar com uma história de amor... vá ao cinema. Privilegia o cinema brasileiro! É um amor lésbico? É. Mas, no amor e na dor, na vida e na morte: não há gênero -- somos todos iguais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário