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O poder curativo do amor e da amizade

Enquanto eu estava no meio do olho do furacão, a minha querida Jana, a 600 km de mim, apenas me disse "se os testes ficam mais difíceis, a ajuda também aumenta. Você nunca está sozinha!". Como costumo fazer quando alguém me fala uma frase de impacto, eu fico quieta. E só vou me dar conta da sua veracidade algum tempo depois, quando finalmente digo :"Você estava certa!".

Ontem foi particularmente outro dia difícil... porque é difícil tomar uma decisão na sua vida, uma escolha definitiva que determina rumos novos. Mas era necessário. Eu sempre protelo ao máximo, mas quando a decisão acontece, um capítulo se encerra e outro se inicia. Simples assim. A vida não deve ser simples? Não é a gente que complica a vida, um pouco toda hora todo dia?

Além do fato de estar me sentindo sozinha, além da decisão tomada... confesso ter sido invadida por um certo desespero. Não um "leve desespero" mas um certo desespero mesmo. Dói muito ver todos os seus erros esfregados na sua cara com requintes de crueldade chinesa. Dói admitir que -- mais uma vez -- você errou. Sozinha, por conta própria, mas errou. Dói admitir meu lado mais canceriano-pisciano criando mundos cheios de ilusão apenas minha. Pouquíssimas pessoas embarcaram nesse mundo comigo e eu entendo isso, sabe? Mas, ainda assim, dói. Dói admitir minha vênus em oposição a netuno que literalmente fode comigo. Dói olhar para si mesma no espelho e ver que, trinta e quatro anos depois, tem tanta coisa que eu ainda não aprendi. E dói admitir que eu tenho uma personalidade peculiar... que atrai, repele, encanta, causa discórdia, reúne, separa, congrega e amaldiçoa.

Mas, esta sou eu. Nunca neguei isso. Quem me conhece, sabe MUITO BEM disso.
Então, ao meio-dia, fui meditar depois do almoço, algo que nunca tinha feito antes. Fiz minha prece, minha súplica para dissolver a nuvem negra que cobria meu coração. Adormeci. Despertei e fiz uma ligação. Na hora que desliguei o telefone, recebi outra ligação. E comecei a chorar como uma criança que apenas quer amparo... ironicamente, eram duas capricornianas que -- cada uma seu modo -- me doaram tanto amor que não tinha como começar a sorrir, chorar, sentir o doce alívio de ser compreendida.

E na parte da tarde, mensagens inesperadas de amigos que a gente julga "sumidos" surgiram no facebook, no email. Toda uma rede invisível de amor que me cercou e me deu o maior abraço... marquei vários encontros, quero ver todas essas pessoas este ano ainda! Quando a gente recebe algo assim do Universo, é obrigação devolver multiplicado infinitamente! É uma energia que precisa ser espalhada para tocar corações solitários e desesperados, como o meu ontem.

Ao contrário do que sempre fiz, desta vez não vou citar nomes. Esse auxílio anônimo continuará assim. Quem esteve presente sabe. Não precisa ler este blogue para se sentir homenageado, simplesmente sabe. Quem gosta de mim, sabe. Não precisa estar fisicamente ao meu lado todos os dias para reconhecer isso. Não precisa de convivência diária como defendem alguns para o sentimento nascer, se manter e continuar. Quem sente essas sentimentos puros cuida da plantinha, apenas.

Para finalizar, duas surpresas inenarráveis aconteceram ontem: IT e Myllena (até as duas!) falaram comigo. Vocês podem interpretar da maneira que quiserem, mas eu interpreto a brincadeira que IT fez comigo em pleno facebook como uma forma de dizer "para com isso e sorria!". E Myllena com a sua doçura e pureza impossíveis de explicar conseguiu deixar sua gota de eterna alegria e esperança no meu coração... para a vida começar agora! Para deixar o amor entrar na sua vida! Para deixar abertas janelas e portas para os acasos! Para sorrir e ser feliz! Ah... como poderia continuar triste depois de tudo isso? Como?

Obrigada a cada um de vocês que se manifestou e não se manifestou. O poder curativo do amor e da amizade é único, mesmo.

Trilha de hoje: Pontos Cardeais

Eis a canção perfeita para exatamente o que sinto hoje, agora, neste exato segundo.
Toda vez que ouço esta música, sei o que eu e Isabella Taviani temos em comum. E, admitir isso, dói, dói, dói, dói... dói tanto. Mas esta letra é tanto o que sou. Como negar isso? Como negar a parte mais carnal minha? A mais canceriana-pisciana? Não dá para negar, não nego. Posto esta música, digo quem sou, choro. E sigo a vida...

Trilha sonora de hoje

Pensei em várias músicas que têm composto minha playlist de maneira quase obsessiva. James Morrison, Radiohead, The Verve, Melissa Etheridge. Com destaque para James Morrison cuja voz e interpretação são simplesmente perfeitas para mim, agora. Mas, James Blunt (outro James! rs) com essa interpretação visceral de ir se despindo, materialmente, sentimentalmente... até se atirar. Ah!!! É a trilha de hoje.

Leap of faith

The answer to all my questions: it's a matter of leap of faith. How big can be my jump?
Começo das minhas retrospectivas de fim de ano. Estou reflexiva. Este blogue corre o risco de se tornar um diário... será que os xeretas de plantão vão gostar do que vão ler? ;-)

Este, com certeza foi -- e ainda está sendo --, o ano mais difícil de toda a minha vida de 34 anos. Acho interessante parar, agora, ficar de fora de mim mesma e olhar para o que eu sou, para o que eu me tornei. Quanta coisa eu perdi... quanta coisa eu ganhei. Quanta coisa eu ainda temo. Meu coração nunca esteve tão temeroso e tão corajoso ao mesmo tempo. É uma mesma medida: 50/50. Qualquer desequilíbrio e eu posso ficar mais corajosa ou mais medrosa.

Talvez eu quisesse mais inocência e ingenuidade de volta. Essas coisas, quando perdidas, não voltam e fazem uma falta danada. Tornam-se cicatrizes visíveis a qualquer um. E tem épocas que você tem orgulho de ostentar uma coisa triste que é ser uma pessoa que perdeu sua ingenuidade. Hoje em dia, parece que é mais bonito ser um coração frio do que um coração com fé.

Estou me sentindo mais sozinha do que nunca. Eu sempre achei que solidão era uma característica minha, na verdade, eu nunca soube lidar com a solidão -- e, ironicamente, ela sempre foi a minha amiga mais íntima. Sempre foi a solidão que esteve ao meu lado nos momentos em que mais precisei de um abraço, de um olhar. E este ano provou-se como aquele em que mais contei com minha solidão. Não dá para descrever o que é estar com a solidão quando o você mais quer é um abraço.

Este ano também foi o ano dos maiores desafios. Nunca tive medo de viver, de encarar o novo, de me atirar mesmo sem saber quais seriam os resultados. Tamanho sentimento destemido traz riscos de machucados maiores. Mas nada se compara à sensação de se achar impotente diante dos testes. Também sempre encarei os testes com coragem e braços abertos. Porém, é incrível ver que quando eu achava que tinha ultrapassado o teste mais difícil, na verdade, eu ainda nem sabia o que estava por vir. O nível de dificuldade aumenta infinitamente. Já passei faz tempo do nível hardest. Criei níveis novos, inventei desafios incalculavelmente imprevisíveis de serem superados.

Parece uma piada de muito mal gosto da minha própria vida... mas como diz a pessoa que mais me conhece, eu gosto do que é difícil, sempre gostei. Será que é para saborear os louros com mais gosto? Será que é resquício de uma mente condicionada? Será que são os meandros do destino que eu nunca poderei manipular? Não tenho respostas. É uma questão de fé. E nesses atuais tempos de 50/50 de coragem e medo, eu não sei qual a meia-medida que devo escolher e onde devo ficar. Vou vivendo. Amanhã é um outro dia e um novo desafio. 

Quem eu sou

Não gosto do radicalismo de precisar ver a foto de uma criança esquelética morrendo de fome na África para valorizar a minha vida. Não gosto de ver infinitos cadáveres mortos em todas as guerras civis para valorizar a minha vida. Não gosto de ver pessoas morrendo com a falta dos itens mais essenciais para a sua sobrevivência. Não gosto de ver, simplesmente. Me toca? Sim. Pesa na minha consciência? Depende.

Antes de alguém me tacar pedras, digo. Alguém tem dó do planeta Terra que está à beira da extinção por doar -- sem cobrar de volta -- todos os seus recursos naturais aos seres humanos? Alguém pensa nos animais que matamos a rodo todos os dias para alimentar os carnívoros? Ou alguém pensaria que trilhões no mundo se matam diariamente para manter o alto de padrão de umas dezenas por aí?

Acho que não precisamos navegar nos extremos para aprender a valorizar aquilo que temos. Desenvolver autoconsciência é um exercício tão árduo quanto aprender a andar. E deveria ser mais instintivo. Mas não deixamos nossa intuição atuar em nossa vida.

E acho que a lição mais difícil é encarar uma suposta lição aprendida. É estar de novo diante de um mesmo fato que te fez chorar lágrimas de sangue. Como você reage diante daquilo que mais te machucou um dia? Como você olha nos olhos? Como você encara? O frio na barriga, a lembrança, todos os detalhes? Você sorri ou se fecha?

Tem pessoas que lidam melhor com o novo. Outras lidam melhor com o passado. Outras, passam a vida inteira sem se preocupar com essas coisas. Outras, passam a vida inteira empatando a própria vida pensando nessas coisas. Quem eu sou? Quando eu mais penso que odeio cada pedaço do meu ser... algo surpreendente -- desconhecido e silencioso -- me lembra com sua simplicidade contundente que somos feito de amor, de felicidade, de luz e de esperança. Somos o que precisamos ter e temos o que precisamos ser. Sábio será aquele que conseguirá transitar entre seus próprios polos sem enlouquecer. O que não souber sequer se admitir não será digno de pena, ao contrário. É uma questão de escolha. Ao final, tudo é uma questão de escolha.

Então, como acabei de ler, somos resultado de todas as nossas escolhas. Mesmo me sentindo absurdamente solitária como estou me sentindo agora, o algo misterioso sempre cai diante dos meus olhos, uma ironia velada, de que sim, mesmo que eu não queira, eu sou uma privilegiada. Agradeço e aceito, secando minhas lágrimas, iluminando meu coração e compreendendo minha solidão. Ela sempre fez parte de mim.